quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O torto sobretudo torto

O torto, sobretudo torto.
Em nosso site aparecem diversos tortos. Aquele que abordam temas relacionados ao direito. E a este digo: seja bem vindo. O torto que esbraveja quando alguém fala sobre fé. Este também é um bem – aventurado. O torto que está no meio do caminho entre religião e ciência, este é um feliz torto. Acredito nas idéias sejam elas quais forem. Claro que acreditar aqui é uma admiração pela capacidade humana de pensar. O que nos faz tortos é essa capacidade de manter viva uma postura crítica em um país que inibe de diversas maneiras as produções leigas. Não somos especialistas fora de nossas esferas acadêmicas, mas o torto é um atrevido de carteirinha, pois cutuca o bicho vivo de todas as formas que ele dispõe. O torto precisa ter a cabeça fria em não confundir a dureza da crítica com o pessoal. A crítica nesse lugar é esperada todas as horas, sem elas, o site torna-se insípido. Nosso torto João deve ver isso com atenção e continuar sua lida neste site. Não é nada pessoal. O torto é um cara de pau e não há problema nisso. Ninguém espere a mamãe dizer que você fez um bom dever de casa, pois nós somos víboras venenosas prontas a morder qualquer um, ou melhor, o que se diz. E o que é dizer, então?
O torto luta de diversas formas por uma originalidade de pensamento. Ele entende que o seu dito pode ser até certo ponto algo seu, portanto original, contudo não passa de um dito que pode ser de outro e de outra época. O torto entende que o discurso é sempre uma sucessão de discursos (ditos) ao longo da história do pensamento humano, e se tivermos sorte e capacidade quem sabe diremos algo novo.
O que interessa, então, é dizer com sobriedade o dito dos outros até que o dito seja um dito novo, uma luz que brilhará por algum tempo. Recentemente estudei as bases epistemológicas do pensamento freudiano. Suas descobertas foram amparadas por outros ditos, portanto, seu pensamento é uma contaminação discursiva de vários ditos. Onde está, portanto, o original? Na forma de usar os diversos ditos dentro de uma linha de raciocínio adotada pelo psicanalista. Ele falou com sobriedade os ditos alheios e os fez carne e osso em seus ensaios acadêmicos somando-os à suas abstrações e pesquisas.
Os ditos somam-se dentro de um todo discursivo que tende a dizer outro dito que pode ser dependendo do grau de abstração do pensador, algo dito pela primeira vez. E isto tende a durar por algum tempo até que outro torto o desminta. Tem algum mal aqui?
O que me chama muito à atenção é o em si na cadeia dos ditos. Os ditos inevitavelmente constituem a base de nossa subjetividade, logo, o em si, é o outro em nós, portanto, nada existe de original naquilo que chamamos de subjetividade, exceto, os traços ontogênicos ligados a cultura, e a família. Posto isso, digo que o que somos é a soma de tudo que temos consciência ou não dos ditos na cadeia discursiva dos homens.
Assim, meus caros, como já fora dito, existir precede o ser. Isso não sou eu quem o diz, é mais um dito, um dito existencialista. O que existe de original aqui são meus erros no vernáculo e a estética do meu dizer. Pobre homem que sou. Ainda não aprendi a falar partindo do meu em si. Tudo que sei é dos outros e não meu. O existencialismo me conforta quando me apresenta uma escolha no dito sobre meu existir. Posso dizer isso é fato. Posso dizer algo novo, isso também é fato, e assim quebra-se a cadeia temporariamente. Prossigo, então, rumo ao meu dito inspirando-me nos outros até que por insight, em um dado momento do meu existir, eu diga algo novo sobre o mundo. É claro que farei uso do que disponho: todos os ditos presentes no meu armário lingüístico.
O torto verdadeiro não generaliza, não cria categorias como, isso é belo, isso é feio, isso é certo, isso é errado. Afinal, estas questões ainda não foram solucionadas. Apontem-me, por favor, um belo e um feio. O não gostei, o não concordo são posições válidas para um bom torto, e eu atrevo-me a chamá-lo de torto puritano. A natureza do puritano se prende as formas, as estruturas que lhe foram colocadas pela “revelação”. Nós pobres tortos, perdidos em um mar de questões, sabemos que o ar é corrosivo assim como são as idéias.
O torto apreendeu que o sintagma é ideológico e este enquanto estrutura prima dos discursos não tem nada de ingênuo. Portanto para nós do movimento tudo se evapora pela força do ar. Tudo é idéia, é ideologia. A mais coerente de nossas afirmações se pauta na negação de tudo, até a negação de nossas afirmações.
Será o torto um estóico Pós-moderno? Não! O texto matéria etérea é uma prova disso! Os discursos da física clássica sobre o éter foram completados pela teoria atômica atual. Suas leis de nada adiantam no contexto quântico. Isso sinaliza uma reviravolta em nossos conceitos sobre matéria, tempo e espaço, as bases de todas as ciências construídas até hoje. Assim, o torto não diz que é impossível chegarmos a uma verdade sobre algo, o torto diz que a verdade é relativa, e dura enquanto outra não aparece. O resultado lógico disso é: devo refletir sobre tudo, escrever sobre tudo que tenha condições e ter humildade em não generalizar verdades que depois serão desmentidas. Isso é torto, isso é natureza, isso é razão pós-moderna. O torto adverte: Suas certezas podem ser quimeras, contos de fada, belas notícias, ditos e re-ditos que no fluxo da razão humana serão apenas gotas de água perdidas no imenso oceano chamado de filosofia. Seja um bom torto.

12 comentários:

  1. mais um texto Mundo fluído

    A sociedade de consumo, o medo e a expansão do sistema penal

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  2. "Assim, o torto não diz que é impossível chegarmos a uma verdade sobre algo, o torto diz que a verdade é relativa, e dura enquanto outra não aparece".

    Olhe, esse trecho do seu texto veio esclarecer os muitos ditos que tentei trazer em meus textos. É isso mesmo!

    Não é por que não acreditamos que uma verdade seja plenamente absoluta, que necessariamente não acreditamos que as nossas argumentações expostas em nossos textos não sejam para nós, verdadeiras. A diferença é que os tortos admitem que mesmo que as lógicas encadeadas por eles em seus discursos sejam coerentes em suas concepções, não necessariamente elas sejam de fato, a Verdade única do universo. Por isso que exercitamos em pelo menos termos o cuidado e o bom senso ao julgarmos a opção e as posturas alheias.

    Como você bem expôs, não somos nada além de uma sucessão e de um acúmulo de ditos retirados de todos os lados da realidade. Portanto, ao contruirmos nossas esculturas discursivas através de vários ditos escolhidos de acordo com a nossa vontade, posso dizer que somos autênticos; no entanto, por saber que o nosso dito não passa de um complemento de um repertório infinito de outros ditos, posso dizer que não somos originais. Somos uma autêntica paródia! hehehe

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  3. Mai um texo no mundo fluído

    Anotações sobe a Metafísica de Aristóteles I:

    "Ao se ler a Metafísica de Aristóteles se tem a impressão que ele explorará com precisão a questão do ser em si. Diante das propagandas iniciais do livro, das críticas à filosofia anterior, parece que o objeto em si, a substância, será captada com maestria. Surgem várias dificuldades. A primeira é - quero comentá-la nesse apontamento - como apresentar o objeto em si se ao apresentá-lo devo recorrer à linguagem. Embora essa seja uma dificuldade recorrente na obra, Aristóteles a todo tempo foge dela. Se o ser é qualidade das coisas particulares, é uma realidade determinada e una, como é que pode ser una e diferente ao mesmo tempo. Uma casa, um carro, são realidades por si e são diferentes ao mesmo tempo. Como o ser enquanto ser deve está em tudo. Se o ser deve ser uma realidade determinada, como é que o ser enquanto ser é algo uno. Como é perceptível a teoria de Aristóteles entra em algumas dificuldades. Voltando a questão da verdade e o modo de dizê-la, implícita na argumentação acima, é necessário investigar, de plano, o porquê Aristóteles dá tanta ênfase ao princípio da não-contradição."

    (continua)

    Anderson Eduardo do Couto

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  4. Destruir é fácil, o difícil é construir. O fascínio pós-moderno pela destruição rasteira - nele me incluo - é problemática. No mínimo uma assertiva de seu texto deve ser verdadeira, "a verdade deve ser relativa", mas se ela é também relativa porque devo concordar. O engraçado é que hoje quem se diz destruidor é o primeiro a levantar bandeiras. Hoje ser diferente é levantar a verdade contra àqueles que abraçam "verdade" do relativismo. Outra coisa, pra mim, exitem agumas coisas ditas verdadeiras. Por exemplo, "Todo homem é mortal". Será que o homem um dia construirá uma máquina, uma técnica para se livrar desse fardo. Já inventaram. A metafísica. O cristianismo. Mas elas não convecem. A morte é inexorável. rsrrsrrs

    O texto acima (sobre Aristóteles) tem algo haver com suas colocações nesse texto, leia Roosevelt!

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  5. Meu caro Anderson, O ser visto no meu texto talvés não seja o mesmo levantado por nosso amigo torto Aristóteles. Concordo plenamente com o amigo sobre a dificuldade do filosofo grego nesta questão. Tenho procurado a décadas entender o ser, mas quanto mais busco elucidá-lo, mais encontro entraves no caminho. O ser de Vigostsky, não é o mesmo do grego, nem é o mesmo do Neo platonismo cristão. Tomando como referência o ser enquanto instância subjetiva, ou seja o subjetivo/sujeito, o existencialismo o tornaria em algo fabricado pelas forças do meio, em Vigotsky seria um ente modelado pela história cujo carro-chefe seria a linguagem. O psicólogo russo para se safar desse determinismo do me diz: "o homem tem uma tendência inata ao social". Isto nunca foi novidade. Mas eu faço uma pergunta estratégica: Como construir-se uma subjetividade sobre zero subjetividade? Como construir-se uma personalidade sem uma pessoa? Não me envergonho em dizê-lo: A metafísica ainda está com a bola toda nessa pauta. O nosso amigo freud estudou o inconsciente humano com muita maestreza. Sabemos que epstemologia para Freud é o mesmo que positivismo. Freud jamais abriria espaço para o esotérico em seus textos. Contudo o médico de Viena se deparou com fatos psicopatológicos que o levaram a pensar numa vida anterior a vivida, ou uma memória mais distante da que nós usamos no cotidiano. Ele diz: "Na ontogêneses humana, teria que haver um mecanismo que garantisse a continuidade do psiquismo, senão a humanidade teria que recomeçar a cada geração". Então, meu caro, nosso amigo torto Jung retoma esta questão e cria a teroria dos arquétipos. Medite sobre estas coisas. Um abraço do torto.

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  6. O engraçado Rooselvelt é que a pós-modernidade realça a multiplicidade, o relativo, mas esquece que essa postura sempre foi presente na história da filosofia desde da antiguidade. Voltando ao nosso papo, essa questão da unidade do sujeito e do objeto faz parte da história do homem frente a morte, a perenidade. A própria substância é uma tentativa do homem de furtar as coisas do perecível. A metafísica é uma mentira que procura fugir da única verdade que temos: "a morte é uma dinvindade indiferente a dádivas". É a partir disso que procuramos outros mundos. Outras vidas. Criamos fundamentos. Buscamos origens. A busca de Deus é o correlato do medo da morte. Mas não nego que Deus foi, mesmo não aplacando a única verdade da morte, um alívio para o seres finitos. Ele instrumentalizou as dúvidas do homem frente a natureza. Feubarch dizia que o homem atribui seus predicados a dinvindade e que quanto mais atribui qualidades ao objeto, vive na existência do dia-a-dia, menos. Vejo pelo contrário, o homem atribui a Deus expectivas que não possui como ser finito, tem medo de morre e isso é um fardo. Mas não podemos com infantilidade dispensar a metáfísica como algo quimérico. Ela possui efeitos no real. Conduz nossas relações sociais. A própria atribuição de nomes as coisas parecem nos trazer a tona as mesmas intenções dos realistas racionalistas. A semântica extensional tem um fundo de razão. O homem é muito complexo. A metafísica esta inclusive em muitos brocardos populares. Através da religião que popularizou a metafísica antiga entrou de vez em nossas vidas.

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  7. Roosevelt,

    Tirando as preocupações Sartreanas implícitas nos seus textos, qual a diferença do que escreveu e as gozações de Zenão? respondo: Uma só, o tempo histórico! rsrsrsrsrsrsrsrs (é uma brincadeira para descontrair)

    abs

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  8. Vejo que o ilustre bacharel é muito versado na letras filosóficas. Isso pode torná-lo um homem aberto para o saber. O único problema que vejo nisso é uma negação implícita nos seus texto da divindade. O amigo citou Feubarch, e com certeza deve ter outras referências dessa natureza. Negar o divino baseado na visão reducionista da religião proposta pelos sábios iluministas é o mesmo que dizer que não gosto disso só porque não gosto. O empírico é um dado sobretudo relativo, como é a razão que nós chamamos de razão. É bom salientar que nossa razão é crida por nós como racional porque nós somos o que determinamos o que é racional ou não. Partindo deste princípio tudo qu não segue nossas epstemologias não seria racional. Ora, meu caro, a filosofia oriental estaria fadada a ser um conto de fadas, no entanto a Europa inteira se dobra ante o saber de Confúcio. O bom em tudo isso é que a razão é tão matreira que suspeita de si mesma. Tiramos os dados tempo e espaço e restou um oco no real. Nossa lógica foi parar no beleléu, e nossos filósofos são considerados de metafísicos. Bem, meu caro Anderson, se a matéria etérea é um fato como demonstram os estudos em física quântica, então urge um novo pensar sobre a empíria, pois toda a nossa razão foi construinda sobre variáveis como tempo e espaço, eóbvio a idéia que existe algo verdadeiramente concreto e objetivo no mundo. Um pequeno e frágio eletron desmente tudo isso com sua massa mínima e suas probabilidades de uma possibilidade de estar em algum lugar que ninguém poderá antever. Se isto não se assemelha a uma metafísica, então eu estou um tanto enlouquecido...

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  9. Isso deu lugar a epistemologia Popperiana. As teses quânticas deram um novo passo na epistemologia, isso é irretorquível, mas não deixam de ser históricas. Como disse o próprio tempo já era criticado em Zenão se não me engano, em Bergson também, o porquê esse fascínio por esse relativismo? Pra mim isso tem um quê de sociedade (sociabilidade). As teses quânticas não deixam de ser um saber positivo de síntese sobre o mundo. Um saber que procura demarcar, mesmo que limitado historicamente, o que é o mundo, até que outro surja para derrubá-lo. Até que ponto o real é essa construção do pensamento, seja ele subjetivo (idealista) ou objetivo (realista), é uma questão que a filosofia debate há muito tempo. Não nego Deus enquanto fenômeno impregnado nas relações e no imaginário social, lembre-se da Construção social da realidade de Berger. Deus possui efeitos reais na realidade. Tem representantes poderosos na terra. Empiricamente não podemos sentí-lo como matéria etérea mas podemos sentí-lo na proibição do aborto, do uso da camisinha. É nesse espaço de relação social imanente que ele existe. Não numa matéria etérea ou numa comprovação intelectual infalível. Essa matéria etéria é o último suspiro da religião para sobreviver dentro das brechas deixadas pela ciência que no ocidente sempre significou a morte de Deus. E não é porque o empirismo foi desmentido (isso ainda é discutido) que surgiu novamente a esperança de Deus. O relativismo de Enstein não enfraqueceu a ciência e seu poder de justificação do mundo, muito pelo contrário, ele o aumentou e muito. Outra coisa, o existencialismo tão utilizado por V. Sª. não combina muito com essa ânsia de comprovação dos desígnios de Deus na terra através das migalhas das teses quânticas. Outra coisa, o niilismo da religião que critiquei através do medo da morte que CAUSA MORTE NO PRESENTE (INIBIÇÃO E FRAQUEZA) é também comprovado empiricamente através do imaginário social dos praticantes desse etoterismo. Por final, não é só estudantes de outras áreas de conhecimento que são versados em filosofia. Nem todo estudante de direito é decorador de leis, nem todo doutor é "doutor"! rsrsrsrsr


    abs

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  10. Outro dia "papeamos" sobre isso. Prometo que farei uma texto sobre isso. Sobre minha idéia sobre Deus.

    abs

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  11. Até porque o especialista nisso é você, como tem demonstrado em seus textos. Estou somente incitando uma maior problematização. Espero que chegue a um denominador comum sobre suas opiniões teológicas. Sei que, como eu, vc anda tateando atrás de respostas.

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