Se buscarmos as causas primeiras do riso, podemos esboçar conclusões como “uma resposta à quebra lógica de uma cena”. Isto pode ser comprovado nas risadas que muitos não conseguem conter (e que eu não estou aconselhando que as contenha) perante as cenas das vídeo-cassetadas e congêneres, muito embora haja a possibilidade de um fator sádico que proporcione gozo ao assistir à desgraça alheia.
Ontem assistia a uma cena do programa de humor Chaves e pude constatar algo interessante. A cena era mais ou menos assim:
Questionado, em sala de aula, por não ter respondido bem à prova, Chaves tenta convencer o professor Girafales de que a causa do seu fracasso foi a fome, que não o deixara pensar em qualquer outra coisa que não comida. O professor argumenta que certo presidente mexicano passou fome quando tinha a mesma idade de Chaves e, no entanto, conseguira lograr êxito. Finalmente, Chaves dá a resposta que fecha a cena: “e na sua idade ele era presidente”.
Confesso que ri desta cena, mas ciente de que o meu riso viera da demolição do narcisismo que se fez obstáculo ao professor no sentido de tê-lo compelido a agir por senso comum, fazendo uma comparação de que ele mesmo não teria dado conta. Ou seja, meu riso, e o de todos que riram desta cena, foi do fracasso.
Outras cenas que muito fazem rir em Chaves são aquelas em que a personagem principal, sobretudo, não consegue simbolizar um enunciado, precisando, de forma um tanto psicótica, ir ao real, levar a mensagem “ao pé da letra”, não a decodificando. O engraçado é que até os mais adeptos do absurdo têm no mínimo um estranhamento com o desfecho de tais cenas, dos que riem aos que não, há um reconhecimento de algo contrário à ordem estabelecida pela nossa razão. Rir destas cenas é, novamente, reconhecer a quebra da lógica no que nos é sintomático.
Até mesmo as letras mais apelativas do forró duplo sentido revelam a face não tão obscura do humor sintomático; o riso vem por serem profanados os tabus, por se mexer com a ordem, mesmo que se pense em uma banalização da imoralidade. Temos um riso causado pela publicação do que por nós é diariamente recalcado. O que nos gera mal-estar, o que nos é, mais uma vez, sintomático.
Futuramente estenderei esta observação. Por ora, fica um conselho: leve o seu riso ao divã (hahahaha).
quarta-feira, 31 de março de 2010
Dona Flor e Tobias
DONA FLOR E TOBIAS.
Eles simplesmente se encontraram...
A lua estava alta naquela noite. O povo havia se ajuntado para prosear na calçada e enquanto isso tomava uma fresca. A Vila de Campos sempre foi quente o ano todo. As mulheres também, é claro, o ano inteiro. Não se sabe quem as enfeitiçou, mas, além de bonitas e elegantes, mulheres de porte, eram danadas para chamegar. A Vila de Campos era um lugar pacato. O povo amigo. Quase todos viviam de venda, compra, e troca, ou de umas poucas vacas leiteiras na roça. O chão não era muito bom para o plantio. A Vila de Campos foi a terra do saudoso poeta Tobias Barreto. Um belo dia, uma dona que atendia pelo nome de Flor foi à feira, era uma segunda-feira do mês de Santana, juro por todos os santos, que, o que falo é a mais pura verdade. Dona Flor saíra de casa cedo carregando uma sacola de feira e algum dinheiro para as compras. Andou entre os caminhos estreitos, de barraca em barraca, comprando o que precisava e o que o dinheiro curto desse. Em certo momento, não me lembro muito bem, acho que foi depois que ela conversou uma meia hora sobre o escândalo do Padre que fugiu com a moça de Riachão, que ela meteu a mão no bolso da saia longa que usava e percebeu que seu dinheiro já era. O rapaz da barraca ao lado disse: “Não quero me meter, mas, vi quando o galeguinho da Barroca passou devagarzinho e mexeu em você, fiquei calado porque não gosto de confusão”. “E agora moço?” “O que vou fazer para pagar tudo?” Disse dona Flor assustada. “Ói, mulher, num conte que foi eu quem falou, mas, o pestinha gosta de tomar umas naquele boteco perto do talho de carne”. “Muito agradecida moço”. Disse dona Flor rumando na direção do dito boteco perto do talho de carne. A antiga Vila de Campos foi sempre assim, no mês de Santana tem muita trovoada. A ruela estreita de feira, toda de paralelepípedo, se torna uma armadilha para as damas que insistem na elegância de um salto um pouco mais alto. Dona Flor tornou-se vítima de sua vaidade sentindo a força da gravidade que a empurrava ao chão. Ela caiu, e ali ficou alguns instantes até se recuperar do “azar”, como disse a mesma. Levantando-se toda sem jeito, perguntou a uma escrava onde era o tal boteco do talho de carne. A escrava disse que era logo aí, ou seja, ela estava bem defronte o tal. Vendo o boteco, dona Flor não pensou duas vezes, mesmo sabendo que não era uma boa investida aquela, entrou no recinto atraindo para si o olhar de todos os homens que estavam lá. Aproximou-se do balcão e perguntou: “O senhor conhece um galego que vem sempre beber aqui no dia de hoje?” Havia atrás daquele balcão um senhor de meia idade. Este usava um bigode bem grosso, por isso era conhecido pelo povo como “Seu bigodão”. Este lhe respondeu com certo tom de ignorância: “Num sei não. E aqui não é lugar para você, não”. Dona Flor entendeu que estava incomodando o lugar dominado pelos homens. Pensou consigo mesma: “Parece que voltei no tempo”. Enquanto a senhora distinta da Vila de Campos pensava em como reaver o dinheiro, um cavalheiro de voz grave e palavras finas aproxima-se e a convida para tomar um café. “Traz aí um café para dama, bigodão”. Disse o senhor desconhecido. Seu bigodão estranhou alguém pedir um café naquele lugar, afinal, as raparigas chegavam à tardinha. Todos os homens estavam, digamos, fazendo o aquecimento inicial.
- O que faz uma mulher branca, bem vestida, em um lugar como este? Perguntou o estranho.
- Fui informada que o ladrão que me roubou está neste estabelecimento. É um tal galego. Respondeu dona Flor.
- Não vejo nenhum galego aqui, e todos são conhecidos e suas esposas estão em casa. Continuou o estranho.
- Bem, quero pedir desculpas, acho que agi sem pensar vou embora. Disse Dona Flor com sinceridade.
- Espere moça, vamos terminar o café. Disse o moço de voz grave.
- Tem chovido muito em Campos estes dias, não?
- É, sim, este mês nunca nega fogo, a chuva cai com gosto. Respondeu ela. Dona Flor estava com as maçãs do rosto bem rosadas, era sinal que ela estava envergonhada.
- É, eu me lembro de muitas coisas desta terra. Sabe passei bom tempo em Pernambuco e depois fui para a Alemanha.
- Puxa eu nem imaginava em encontrar uma pessoa, digo, que sabe se expressar tão bem como o senhor. Dona Flor subitamente esquecera-se do dinheiro, e do ladrão.
- Não é isso moça, sou gente da terra. O que eu gostei mesmo foi do latim que aprendi em Estância. Gosto de Sergipe. Esta é minha terra de coração.
- Sergipe é um pedaço do céu, dizia meu finado pai, Deus o tenha, disse a moça.
- Seu pai já é falecido? Perguntou o moço.
- Foi a tuberculose. Respondeu dona Flor com um tom de tristeza. Neste momento o destino fez seus olhos se cruzarem, e ele sentiu que Dona Flor era uma mulher bonita que sofria. Tobias viu poesia no rosto da mulher.
- A tuberculose é provocada por uma bactéria. Disse o senhor.
- Que diabo é isso moço? Aprendi somente o básico.
As horas foram passando e dona Flor esqueceu-se de vez do dinheiro e do marido que naquele momento estava rodando o mundo à procura da mulher. A conversa entre os dois foi ganhando um rumo cada vez mais pessoal. Ela agora sabia que o homem era advogado e que escrevia com pessoas famosas, e estava visitando a terra natal. Os dois fizeram amor a noite inteira. Para Dona Flor, foi a noite mais feliz de toda sua vida. O homem cheirava diferente, sua forma de pegar em seu corpo tinha uma pitada, um tempero não muito tupiniquim. O homem era um gentleman. Suas fantasias de mulher apareceram como por encanto nas mãos do maestro que conduzira toda a ópera. Ao amanhecer, ele disse sussurrando em seu ouvido esquerdo enquanto ela estava em profundo sono:
“Já me vou pomba minha.
Bebi de tua fonte por toda a noite.
Minha alma não mais será mesquinha.
Nem meu coração viverá de açoites.
Ao teu regaço retorno, tão breve, tão logo, que não saberás que parti.
Doravante sou teu escravo voluntário.
Teu amante febril, teu amigo das horas incertas e certas.
Não mais correrás pelas estreitas vielas de Campos.
Pois serei para ti um porto seguro.
E tu para mim como a fé em todos os santos”.
Dona Flor acordou no quarto dos fundos do boteco de Seu bigodão. Não era uma pensão de primeira, nem de segunda, mas, os lençóis eram limpos, e os ratos não ousavam enfrentar a gata “piaba”. Era uma gata bem adestrada na captura de roedores insolentes. Ela desceu uma escada estreita e seu marido a estava esperando, embaixo, juntamente com o bigodão. Este havia contado que a mulher passara mal, e ele a socorrera deixando-a dormir a noite em seu estabelecimento até que alguém a procura-se como de fato ocorreu. Seu bigodão garantiu que todos foram de uma honra e dignidade extremada para com a senhora desfalecente. E acrescentou: “Dona Flor esteve aqui, um ilustre filho desta terra que estava além mar. Seu nome é Tobias Barreto de Souza Santos e ele sabendo que foste roubada resolveu te agraciar com esta quantia”. Bigodão passou o envelope para ela. O casal se foi. E ao chegarem a casa, o marido de Dona Flor abriu o envelope com um jeito de quem tem algo no ar. Nele havia cem mil reis. Os dois tomaram suas vidas como que nada tivesse acontecido. Como dizem os mais velhos, “o coração esconde segredos”. E o de uma mulher Deus quem o diga. Todas as noites de lua cheia, sempre, ela dava um jeitinho para pensar no boteco de seu bigodão. Aquela fora uma noite em Tobias, aquela de lua cheia, e o povo sentado na calçada para falar sobre o que se passa. O que houve depois, essa é uma outra estória.
Eles simplesmente se encontraram...
A lua estava alta naquela noite. O povo havia se ajuntado para prosear na calçada e enquanto isso tomava uma fresca. A Vila de Campos sempre foi quente o ano todo. As mulheres também, é claro, o ano inteiro. Não se sabe quem as enfeitiçou, mas, além de bonitas e elegantes, mulheres de porte, eram danadas para chamegar. A Vila de Campos era um lugar pacato. O povo amigo. Quase todos viviam de venda, compra, e troca, ou de umas poucas vacas leiteiras na roça. O chão não era muito bom para o plantio. A Vila de Campos foi a terra do saudoso poeta Tobias Barreto. Um belo dia, uma dona que atendia pelo nome de Flor foi à feira, era uma segunda-feira do mês de Santana, juro por todos os santos, que, o que falo é a mais pura verdade. Dona Flor saíra de casa cedo carregando uma sacola de feira e algum dinheiro para as compras. Andou entre os caminhos estreitos, de barraca em barraca, comprando o que precisava e o que o dinheiro curto desse. Em certo momento, não me lembro muito bem, acho que foi depois que ela conversou uma meia hora sobre o escândalo do Padre que fugiu com a moça de Riachão, que ela meteu a mão no bolso da saia longa que usava e percebeu que seu dinheiro já era. O rapaz da barraca ao lado disse: “Não quero me meter, mas, vi quando o galeguinho da Barroca passou devagarzinho e mexeu em você, fiquei calado porque não gosto de confusão”. “E agora moço?” “O que vou fazer para pagar tudo?” Disse dona Flor assustada. “Ói, mulher, num conte que foi eu quem falou, mas, o pestinha gosta de tomar umas naquele boteco perto do talho de carne”. “Muito agradecida moço”. Disse dona Flor rumando na direção do dito boteco perto do talho de carne. A antiga Vila de Campos foi sempre assim, no mês de Santana tem muita trovoada. A ruela estreita de feira, toda de paralelepípedo, se torna uma armadilha para as damas que insistem na elegância de um salto um pouco mais alto. Dona Flor tornou-se vítima de sua vaidade sentindo a força da gravidade que a empurrava ao chão. Ela caiu, e ali ficou alguns instantes até se recuperar do “azar”, como disse a mesma. Levantando-se toda sem jeito, perguntou a uma escrava onde era o tal boteco do talho de carne. A escrava disse que era logo aí, ou seja, ela estava bem defronte o tal. Vendo o boteco, dona Flor não pensou duas vezes, mesmo sabendo que não era uma boa investida aquela, entrou no recinto atraindo para si o olhar de todos os homens que estavam lá. Aproximou-se do balcão e perguntou: “O senhor conhece um galego que vem sempre beber aqui no dia de hoje?” Havia atrás daquele balcão um senhor de meia idade. Este usava um bigode bem grosso, por isso era conhecido pelo povo como “Seu bigodão”. Este lhe respondeu com certo tom de ignorância: “Num sei não. E aqui não é lugar para você, não”. Dona Flor entendeu que estava incomodando o lugar dominado pelos homens. Pensou consigo mesma: “Parece que voltei no tempo”. Enquanto a senhora distinta da Vila de Campos pensava em como reaver o dinheiro, um cavalheiro de voz grave e palavras finas aproxima-se e a convida para tomar um café. “Traz aí um café para dama, bigodão”. Disse o senhor desconhecido. Seu bigodão estranhou alguém pedir um café naquele lugar, afinal, as raparigas chegavam à tardinha. Todos os homens estavam, digamos, fazendo o aquecimento inicial.
- O que faz uma mulher branca, bem vestida, em um lugar como este? Perguntou o estranho.
- Fui informada que o ladrão que me roubou está neste estabelecimento. É um tal galego. Respondeu dona Flor.
- Não vejo nenhum galego aqui, e todos são conhecidos e suas esposas estão em casa. Continuou o estranho.
- Bem, quero pedir desculpas, acho que agi sem pensar vou embora. Disse Dona Flor com sinceridade.
- Espere moça, vamos terminar o café. Disse o moço de voz grave.
- Tem chovido muito em Campos estes dias, não?
- É, sim, este mês nunca nega fogo, a chuva cai com gosto. Respondeu ela. Dona Flor estava com as maçãs do rosto bem rosadas, era sinal que ela estava envergonhada.
- É, eu me lembro de muitas coisas desta terra. Sabe passei bom tempo em Pernambuco e depois fui para a Alemanha.
- Puxa eu nem imaginava em encontrar uma pessoa, digo, que sabe se expressar tão bem como o senhor. Dona Flor subitamente esquecera-se do dinheiro, e do ladrão.
- Não é isso moça, sou gente da terra. O que eu gostei mesmo foi do latim que aprendi em Estância. Gosto de Sergipe. Esta é minha terra de coração.
- Sergipe é um pedaço do céu, dizia meu finado pai, Deus o tenha, disse a moça.
- Seu pai já é falecido? Perguntou o moço.
- Foi a tuberculose. Respondeu dona Flor com um tom de tristeza. Neste momento o destino fez seus olhos se cruzarem, e ele sentiu que Dona Flor era uma mulher bonita que sofria. Tobias viu poesia no rosto da mulher.
- A tuberculose é provocada por uma bactéria. Disse o senhor.
- Que diabo é isso moço? Aprendi somente o básico.
As horas foram passando e dona Flor esqueceu-se de vez do dinheiro e do marido que naquele momento estava rodando o mundo à procura da mulher. A conversa entre os dois foi ganhando um rumo cada vez mais pessoal. Ela agora sabia que o homem era advogado e que escrevia com pessoas famosas, e estava visitando a terra natal. Os dois fizeram amor a noite inteira. Para Dona Flor, foi a noite mais feliz de toda sua vida. O homem cheirava diferente, sua forma de pegar em seu corpo tinha uma pitada, um tempero não muito tupiniquim. O homem era um gentleman. Suas fantasias de mulher apareceram como por encanto nas mãos do maestro que conduzira toda a ópera. Ao amanhecer, ele disse sussurrando em seu ouvido esquerdo enquanto ela estava em profundo sono:
“Já me vou pomba minha.
Bebi de tua fonte por toda a noite.
Minha alma não mais será mesquinha.
Nem meu coração viverá de açoites.
Ao teu regaço retorno, tão breve, tão logo, que não saberás que parti.
Doravante sou teu escravo voluntário.
Teu amante febril, teu amigo das horas incertas e certas.
Não mais correrás pelas estreitas vielas de Campos.
Pois serei para ti um porto seguro.
E tu para mim como a fé em todos os santos”.
Dona Flor acordou no quarto dos fundos do boteco de Seu bigodão. Não era uma pensão de primeira, nem de segunda, mas, os lençóis eram limpos, e os ratos não ousavam enfrentar a gata “piaba”. Era uma gata bem adestrada na captura de roedores insolentes. Ela desceu uma escada estreita e seu marido a estava esperando, embaixo, juntamente com o bigodão. Este havia contado que a mulher passara mal, e ele a socorrera deixando-a dormir a noite em seu estabelecimento até que alguém a procura-se como de fato ocorreu. Seu bigodão garantiu que todos foram de uma honra e dignidade extremada para com a senhora desfalecente. E acrescentou: “Dona Flor esteve aqui, um ilustre filho desta terra que estava além mar. Seu nome é Tobias Barreto de Souza Santos e ele sabendo que foste roubada resolveu te agraciar com esta quantia”. Bigodão passou o envelope para ela. O casal se foi. E ao chegarem a casa, o marido de Dona Flor abriu o envelope com um jeito de quem tem algo no ar. Nele havia cem mil reis. Os dois tomaram suas vidas como que nada tivesse acontecido. Como dizem os mais velhos, “o coração esconde segredos”. E o de uma mulher Deus quem o diga. Todas as noites de lua cheia, sempre, ela dava um jeitinho para pensar no boteco de seu bigodão. Aquela fora uma noite em Tobias, aquela de lua cheia, e o povo sentado na calçada para falar sobre o que se passa. O que houve depois, essa é uma outra estória.
terça-feira, 30 de março de 2010
A botânica do ser.
(Primeira dúvida)
A pele das árvores
Caminhando sinto o cheiro
O vento trás a matriz
Água terra solo
Sentidos construindo o selo da mata.
A tempos eu queria
Ser um desses
A morte não sobrepuja o cosmo
A transmutação me leva a pele das árvores
Que agora eu sou.
(Ênfase)
Pedra encostada no rio
Transmutação
O pássaro e seu ninho
Transmutação
O sapo a cobra a águia
Transmutação...
Queria meu bem eu queria
Ver a matriz de tudo
Mas quando penso em imaginar a vida
Nela já estou
Cantando a natureza que sou
Espinho e rosa.
(Parte para se ler baixinho)
Um ponto branco atravessa a mata, chega até um rio e a luz refletida no rio envolve o ponto:
Ação.
O ponto marrom atravessa a mata, chega até um rio e o rio multiplica a cor do ponto que não é mais marrom:
Vida.
E um outro ponto que não se vê faz a partir de si um mosaico:
Acaso.
A pele das árvores
Caminhando sinto o cheiro
O vento trás a matriz
Água terra solo
Sentidos construindo o selo da mata.
A tempos eu queria
Ser um desses
A morte não sobrepuja o cosmo
A transmutação me leva a pele das árvores
Que agora eu sou.
(Ênfase)
Pedra encostada no rio
Transmutação
O pássaro e seu ninho
Transmutação
O sapo a cobra a águia
Transmutação...
Queria meu bem eu queria
Ver a matriz de tudo
Mas quando penso em imaginar a vida
Nela já estou
Cantando a natureza que sou
Espinho e rosa.
(Parte para se ler baixinho)
Um ponto branco atravessa a mata, chega até um rio e a luz refletida no rio envolve o ponto:
Ação.
O ponto marrom atravessa a mata, chega até um rio e o rio multiplica a cor do ponto que não é mais marrom:
Vida.
E um outro ponto que não se vê faz a partir de si um mosaico:
Acaso.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Olhar torto sobre os filmes pornôs
Já que o olhar torto transita entre os opostos, harmonizando-se e conflitando-se entre eles, eu não poderia deixar de travar uma relação entre o instinto e a cultura, associando estes dois universos aos chamados filmes pornôs. Se por um lado o sexo faz parte de uma necessidade inevitável de qualquer espécie animal, por outro lado, o humano enquanto animal produtor de significados, constrói formas de sentidos para o ato do coito.
O sexo enquanto instinto se limita à necessidade da própria natureza. Essa natureza inclui qualquer espécie animal, seja ela considerada humana ou não. Em outras palavras, quando o animal pratica o ato sexual, não existe uma relação de escolhas estéticas, e, portanto, não há opções do que e melhor ou pior para o parceiro. Enfim, o sexo enquanto instinto é o “fode no fode” e pronto.
Já o sexo enquanto cultura, manifesta toda uma relação de desejos e de tabus em relação ao ato. Na natureza existem formas de organização, e, portanto, de cultura, porém, quando me refiro à cultura, estou querendo associá-la às construções sociais convencionadas pelos humanos. O sexo enquanto cultura humana diz respeito aos símbolos que cada individuo constrói de acordo com a sua subjetividade.
No sentido cultural, o sexo se torna uma poética, ou seja, o sexo se encontra diretamente relacionado às preferências de cada um. Para esclarecer melhor o que estou querendo mostrar, eu vou utilizar alguns exemplos: determinadas pessoas gostam de fazer sexo anal, outras já não gostam de fazer sexo oral, outras adoram ejaculações faciais, outras adoram trepar em lugares exóticos e por ai vai.
É bom lembrarmos que o sexo enquanto cultura, para se concretizar entre os parceiros, necessita de tramas, de enredos. Mesmo quando se opta em estabelecer apenas uma noite de sexo com o parceiro ou parceiros, o individuo precisa utilizar todo um ato de conquista, de negociações, assim como de situações que o levem a atingir tal ato, dentre outras circunstâncias.
Em relação ao filme pornô, eu gostaria de observar que em geral eu não encontro enredos que justifiquem a cena sexual dos atores. Não se trabalha com a subjetividade do elenco, não se criam situações que provoquem construções de fantasias, não existem diálogos. Se existe alguma motivação, essa motivação é construída não pela criatividade desejante do público, mas sim pelo simples ato mecânico do sexo.
A partir disto eu posso afirmar o seguinte: se as produções pornográficas focam o sexo no coito pelo coito, é por que de certa forma a cultura se encontra predisposta a aceitar esse tipo de cena, pois a produção pornográfica enquanto indústria do sexo, não se estimularia em focar o sexo por um outro ângulo, se soubesse que esse ângulo não geraria consumo, e, portanto, lucros.
Diante de um contexto caracterizado pela mecanização, o automatismo entre os homens enterrados na vazia produtividade do sistema industrializado é algo evidente. No sistema capitalista, o individuo se torna uma máquina da ação e esquece a sua condição enquanto uma subjetividade reflexiva. É esse público rotinizado que serve como uma boa isca para a lucratividade das produções pornográficas.
Obviamente que a necessidade de trepar é oriunda dos nossos instintos naturais, porém, sem querer ser moralista, eu acredito que é importante pensarmos também o sexo enquanto um ato cultural que implica sociabilidade entre os agentes, identificações, desejos e fantasias. Tratando-se de nossa condição humana, o sexo é uma mescla entre instinto e cultura, ou seja, entre a mera necessidade e o nosso desejo oriundo de nossas escolhas.
Eu acredito que por um lado, é pertinente enxergarmos a relação sexual como instinto, como forma de quebrarmos determinadas restrições culturais que não conseguem compreender o sexo enquanto necessidade inevitável da natureza, mas por outro lado, é importante pensarmos o sexo também enquanto cultura como forma de não perdermos nossa condição humana dotada de subjetividades, de aceitações e de repulsas.
O sexo enquanto instinto se limita à necessidade da própria natureza. Essa natureza inclui qualquer espécie animal, seja ela considerada humana ou não. Em outras palavras, quando o animal pratica o ato sexual, não existe uma relação de escolhas estéticas, e, portanto, não há opções do que e melhor ou pior para o parceiro. Enfim, o sexo enquanto instinto é o “fode no fode” e pronto.
Já o sexo enquanto cultura, manifesta toda uma relação de desejos e de tabus em relação ao ato. Na natureza existem formas de organização, e, portanto, de cultura, porém, quando me refiro à cultura, estou querendo associá-la às construções sociais convencionadas pelos humanos. O sexo enquanto cultura humana diz respeito aos símbolos que cada individuo constrói de acordo com a sua subjetividade.
No sentido cultural, o sexo se torna uma poética, ou seja, o sexo se encontra diretamente relacionado às preferências de cada um. Para esclarecer melhor o que estou querendo mostrar, eu vou utilizar alguns exemplos: determinadas pessoas gostam de fazer sexo anal, outras já não gostam de fazer sexo oral, outras adoram ejaculações faciais, outras adoram trepar em lugares exóticos e por ai vai.
É bom lembrarmos que o sexo enquanto cultura, para se concretizar entre os parceiros, necessita de tramas, de enredos. Mesmo quando se opta em estabelecer apenas uma noite de sexo com o parceiro ou parceiros, o individuo precisa utilizar todo um ato de conquista, de negociações, assim como de situações que o levem a atingir tal ato, dentre outras circunstâncias.
Em relação ao filme pornô, eu gostaria de observar que em geral eu não encontro enredos que justifiquem a cena sexual dos atores. Não se trabalha com a subjetividade do elenco, não se criam situações que provoquem construções de fantasias, não existem diálogos. Se existe alguma motivação, essa motivação é construída não pela criatividade desejante do público, mas sim pelo simples ato mecânico do sexo.
A partir disto eu posso afirmar o seguinte: se as produções pornográficas focam o sexo no coito pelo coito, é por que de certa forma a cultura se encontra predisposta a aceitar esse tipo de cena, pois a produção pornográfica enquanto indústria do sexo, não se estimularia em focar o sexo por um outro ângulo, se soubesse que esse ângulo não geraria consumo, e, portanto, lucros.
Diante de um contexto caracterizado pela mecanização, o automatismo entre os homens enterrados na vazia produtividade do sistema industrializado é algo evidente. No sistema capitalista, o individuo se torna uma máquina da ação e esquece a sua condição enquanto uma subjetividade reflexiva. É esse público rotinizado que serve como uma boa isca para a lucratividade das produções pornográficas.
Obviamente que a necessidade de trepar é oriunda dos nossos instintos naturais, porém, sem querer ser moralista, eu acredito que é importante pensarmos também o sexo enquanto um ato cultural que implica sociabilidade entre os agentes, identificações, desejos e fantasias. Tratando-se de nossa condição humana, o sexo é uma mescla entre instinto e cultura, ou seja, entre a mera necessidade e o nosso desejo oriundo de nossas escolhas.
Eu acredito que por um lado, é pertinente enxergarmos a relação sexual como instinto, como forma de quebrarmos determinadas restrições culturais que não conseguem compreender o sexo enquanto necessidade inevitável da natureza, mas por outro lado, é importante pensarmos o sexo também enquanto cultura como forma de não perdermos nossa condição humana dotada de subjetividades, de aceitações e de repulsas.
quinta-feira, 25 de março de 2010
O aborto de Fernanda
Aquele foi um dia muito especial para Pai Joaquim. Ele estava em nosso orbe, em Sergipe, bem perto de todos nós. O velho das Alagoas nutria um profundo amor pelo povo desta terra. A razão eu não sei. Contudo se podia ver por seus atos, sua caridade para conosco. Havia uma moça que atendia pelo nome de Fernanda. Todos os dias de segunda à sexta, ela esperava um carro passar às 08h30min da noite. Geralmente ela ficava defronte de seu prédio uns trinta minutos antes. Não falava com ninguém. Apenas ficava ali pensando em sua vida.
Pai Joaquim a vira várias vezes e muito sentia sua dor. Ele esteve ao lado dela umas três vezes conversando em seus pensamentos. Ela não percebia sua presença. Mas um diálogo começou a aparecer desenhado em sua mente perturbada. Fernanda estava mergulhada em um mar de incertezas. Aquele que ela esperava era pai da criança em seu ventre. Fernanda não sabia o que fazer: se deixava a criança continuar crescendo, ou se abortava.
Era noite de segunda-feira, quando o velho babalaô resolveu se aproximar de Fernanda. Ele trajava sua roupa de todos os dias, uma roupa de escravo de senzala. Fernanda esperava seu namorado chegar como de costume e estava pensando sobre o seu dilema.
“Puxa minha barriga está crescendo, só mais uns trinta dias e ela vai aparecer”.
Esse era o pensamento da moça quando o velho interferiu no seu destino. Pai Joaquim sentou-se ao seu lado, ela nem o percebeu tamanha era sua distração para o mundo real.
- A filha está cansada? Disse Joaquim.
- Não! Disse a moça.
- Mas parece. Falou novamente Joaquim.
- Estou?
- Bem, eu não sei o seu causo, mas parece muito pesado.
- Como sabe o senhor? Nem me conhece.
- É verdade! Não sei muito sobre você. Mas qualquer um quer passar verá uma tristeza em teu rosto.
- Como assim? Não entendo onde o senhor deseja chegar!
- Assim como o perfume das rosas se espalham no jardim, assim a tristeza se espalha no ambiente. Tudo é vibração.
- O amigo sentiu, então? Perguntou Fernanda mais calma.
- É isso. Respondeu Joaquim.
- A tristeza esconde muitas dúvidas. As dúvidas nem sempre são más. A dúvida é uma sirene nos convidando a pensar. A natureza se auto-regula, foi Zambi quem fez assim. Falou o velho essas palavras com muito cuidado.
- A natureza, disse o senhor, mas eu não sou a natureza!
- A moça ainda não se despertou para saber que a natureza está em tudo? Nada está fora da natureza. O homem é a natureza falando. Disse Joaquim.
- Eu sou um ser humano, meu amigo, a natureza está lá na floresta. Disse Fernanda novamente.
- A natureza está em sua barriga ganhando forma todos os dias. Falou Joaquim referindo-se ao seu problema.
- Como? O que? Perguntou a moça como que estivesse nua diante dos olhos do velho escravo.
Eh, uma criança é uma lei da natureza! E uma lei muito bonita. “A vida deve continuar”.
Essas palavras deixaram a moça mais confusa e um tanto desorientada. A sua ferida estava exposta.
- Mas, às vezes é melhor morrer de que viver. Se a vida for má para aquela pessoa e nós podermos evitar isso, não será isso certo? Perguntou Fernanda.
- Evitar a vida é eliminar todas as chances de se ver como ela será. Além do mais, a natureza ensina que a vida pela vida só se justifica se for cadeia alimentar dos seres, ou se for por defesa de si mesmo. Nenhuma vida é melhor que a outra. A cobra pica porque se sente agredida.
- E é justo trazer um doente para este mundo? Se uma mulher tiver um filho deficiente e puder evitar que ele nasça para não sofrer. Não seria isso ético? Perguntou Fernanda com muita ousadia.
- Filha, existem coisas que nossa imaginação não pode cogitar. E o sofrimento é algo um tanto relativo, você não acha? Pergunte a alguém que sofre se ele ou ela deseja morrer.
- E eu? E minha vida? Como direi aos meus pais que meu filho é de uma relação com um homem casado? Disse a moça com muita tristeza.
- A natureza nos diz que uma mulher tem a força de gerar uma vida. A moral é que impõe seus valores. A vida que está em você não sabe nada sobre isso. Que diferença há entre uma vida em forma de germe e uma em forma de pessoa? Ambas são vivas e devem seguir seu curso. Joaquim falou com muita seriedade.
- Não se pode parar o curso de um rio sob pena dele inundar nossas casas. E quando isso ocorre nos queixamos de Zambi. Mas a lei é clara, o rio deve correr, suas águas não devem parar. Continuou Joaquim.
- Teu pai e tua mãe não são melhores que você. Concluiu o velho Iorubá.
- O que o senhor quis dizer com isso? Perguntou Fernanda curiosa.
- A moral que se cobra dos outros não é a mesma que as pessoas cobram de si. O outro é objeto de nossas sanções, mas quando nós somos impactados pedimos clemência, não é assim?
- Em muitas eras e em muitos lugares os homens tiveram muitas mulheres, você não é a primeira a ser a segunda.
- Mas não suporto isso! Chorou Fernanda.
- Então tome seu filho e siga seu destino com ele em seus braços, será uma lembrança de seu amor. E ele ao crescer amará a ambos. A vida não é moral, é muito mais que isso.
- Vejo que o moço conhece muitas coisas. Sinto-me menos culpada.
- A culpa não deve ser teu norte. Faça teu norte o amor que ganha forma em você todos os dias, a criança vai ganhar forma e será a forma de teu amor.
- De quem é aquele carro que se aproxima? Perguntou Joaquim.
- É ele. Respondeu Fernanda.
O carro estacionou, e um certo Dr. Souza chegou-se a moça. “O que você decidiu? Não se preocupe, eu cubro tudo e ninguém vai saber”. Fernanda virou para o homem e disse: Estou aqui conversando com este senhor... O médico perguntou, “Que senhor?” “Não vejo ninguém”. Fernanda procurou por Joaquim, no lugar onde ele estava sentado, haviam vaga-lumes iluminando o jardim do prédio. Fernanda, então, entendeu que algo havia acontecido. “Sabe doutor Souza, eu decidir ter meu filho e nada vai mudar isso”. “Mas, Fernanda, vamos dar uma volta”. Disse o médico dirigindo-se para o carro. “Não”. Disse Fernanda com tom grave. A moça voltou para casa e contou tudo a seus pais. Seus pais, a princípio, ficaram muito tristes. O tempo curou as feridas e quando a criança nasceu a família foi visitada por uma profunda alegria. Um belo dia com a criança em um carrinho, a mamãe Fernanda caminhava pelo jardim do prédio, e no lugar de sua conversa com velho de Aruanda, flores e margaridas haviam nascido. A moça nunca mais vira o escravo das Alagoas.
Pai Joaquim a vira várias vezes e muito sentia sua dor. Ele esteve ao lado dela umas três vezes conversando em seus pensamentos. Ela não percebia sua presença. Mas um diálogo começou a aparecer desenhado em sua mente perturbada. Fernanda estava mergulhada em um mar de incertezas. Aquele que ela esperava era pai da criança em seu ventre. Fernanda não sabia o que fazer: se deixava a criança continuar crescendo, ou se abortava.
Era noite de segunda-feira, quando o velho babalaô resolveu se aproximar de Fernanda. Ele trajava sua roupa de todos os dias, uma roupa de escravo de senzala. Fernanda esperava seu namorado chegar como de costume e estava pensando sobre o seu dilema.
“Puxa minha barriga está crescendo, só mais uns trinta dias e ela vai aparecer”.
Esse era o pensamento da moça quando o velho interferiu no seu destino. Pai Joaquim sentou-se ao seu lado, ela nem o percebeu tamanha era sua distração para o mundo real.
- A filha está cansada? Disse Joaquim.
- Não! Disse a moça.
- Mas parece. Falou novamente Joaquim.
- Estou?
- Bem, eu não sei o seu causo, mas parece muito pesado.
- Como sabe o senhor? Nem me conhece.
- É verdade! Não sei muito sobre você. Mas qualquer um quer passar verá uma tristeza em teu rosto.
- Como assim? Não entendo onde o senhor deseja chegar!
- Assim como o perfume das rosas se espalham no jardim, assim a tristeza se espalha no ambiente. Tudo é vibração.
- O amigo sentiu, então? Perguntou Fernanda mais calma.
- É isso. Respondeu Joaquim.
- A tristeza esconde muitas dúvidas. As dúvidas nem sempre são más. A dúvida é uma sirene nos convidando a pensar. A natureza se auto-regula, foi Zambi quem fez assim. Falou o velho essas palavras com muito cuidado.
- A natureza, disse o senhor, mas eu não sou a natureza!
- A moça ainda não se despertou para saber que a natureza está em tudo? Nada está fora da natureza. O homem é a natureza falando. Disse Joaquim.
- Eu sou um ser humano, meu amigo, a natureza está lá na floresta. Disse Fernanda novamente.
- A natureza está em sua barriga ganhando forma todos os dias. Falou Joaquim referindo-se ao seu problema.
- Como? O que? Perguntou a moça como que estivesse nua diante dos olhos do velho escravo.
Eh, uma criança é uma lei da natureza! E uma lei muito bonita. “A vida deve continuar”.
Essas palavras deixaram a moça mais confusa e um tanto desorientada. A sua ferida estava exposta.
- Mas, às vezes é melhor morrer de que viver. Se a vida for má para aquela pessoa e nós podermos evitar isso, não será isso certo? Perguntou Fernanda.
- Evitar a vida é eliminar todas as chances de se ver como ela será. Além do mais, a natureza ensina que a vida pela vida só se justifica se for cadeia alimentar dos seres, ou se for por defesa de si mesmo. Nenhuma vida é melhor que a outra. A cobra pica porque se sente agredida.
- E é justo trazer um doente para este mundo? Se uma mulher tiver um filho deficiente e puder evitar que ele nasça para não sofrer. Não seria isso ético? Perguntou Fernanda com muita ousadia.
- Filha, existem coisas que nossa imaginação não pode cogitar. E o sofrimento é algo um tanto relativo, você não acha? Pergunte a alguém que sofre se ele ou ela deseja morrer.
- E eu? E minha vida? Como direi aos meus pais que meu filho é de uma relação com um homem casado? Disse a moça com muita tristeza.
- A natureza nos diz que uma mulher tem a força de gerar uma vida. A moral é que impõe seus valores. A vida que está em você não sabe nada sobre isso. Que diferença há entre uma vida em forma de germe e uma em forma de pessoa? Ambas são vivas e devem seguir seu curso. Joaquim falou com muita seriedade.
- Não se pode parar o curso de um rio sob pena dele inundar nossas casas. E quando isso ocorre nos queixamos de Zambi. Mas a lei é clara, o rio deve correr, suas águas não devem parar. Continuou Joaquim.
- Teu pai e tua mãe não são melhores que você. Concluiu o velho Iorubá.
- O que o senhor quis dizer com isso? Perguntou Fernanda curiosa.
- A moral que se cobra dos outros não é a mesma que as pessoas cobram de si. O outro é objeto de nossas sanções, mas quando nós somos impactados pedimos clemência, não é assim?
- Em muitas eras e em muitos lugares os homens tiveram muitas mulheres, você não é a primeira a ser a segunda.
- Mas não suporto isso! Chorou Fernanda.
- Então tome seu filho e siga seu destino com ele em seus braços, será uma lembrança de seu amor. E ele ao crescer amará a ambos. A vida não é moral, é muito mais que isso.
- Vejo que o moço conhece muitas coisas. Sinto-me menos culpada.
- A culpa não deve ser teu norte. Faça teu norte o amor que ganha forma em você todos os dias, a criança vai ganhar forma e será a forma de teu amor.
- De quem é aquele carro que se aproxima? Perguntou Joaquim.
- É ele. Respondeu Fernanda.
O carro estacionou, e um certo Dr. Souza chegou-se a moça. “O que você decidiu? Não se preocupe, eu cubro tudo e ninguém vai saber”. Fernanda virou para o homem e disse: Estou aqui conversando com este senhor... O médico perguntou, “Que senhor?” “Não vejo ninguém”. Fernanda procurou por Joaquim, no lugar onde ele estava sentado, haviam vaga-lumes iluminando o jardim do prédio. Fernanda, então, entendeu que algo havia acontecido. “Sabe doutor Souza, eu decidir ter meu filho e nada vai mudar isso”. “Mas, Fernanda, vamos dar uma volta”. Disse o médico dirigindo-se para o carro. “Não”. Disse Fernanda com tom grave. A moça voltou para casa e contou tudo a seus pais. Seus pais, a princípio, ficaram muito tristes. O tempo curou as feridas e quando a criança nasceu a família foi visitada por uma profunda alegria. Um belo dia com a criança em um carrinho, a mamãe Fernanda caminhava pelo jardim do prédio, e no lugar de sua conversa com velho de Aruanda, flores e margaridas haviam nascido. A moça nunca mais vira o escravo das Alagoas.
quarta-feira, 24 de março de 2010
O que também sou
Sou sujeito cognoscente
Facínora das coisas em detrimento das palavras.
As coisas, eu as executo para que renasçam em entrelaces simbólicos certos ou perdidos na alma, este compêndio de letras.
Será, pois, que me cabe a arrogância de julgar todas as possibilidades passíveis de compreensão?
Ter um dedo apontado ao que pode ser deus, e com toda soberba afirmar "não existes!".
A razão que cria a ordem nas coisas, que inventa seus próprios passatempos diante de sua inevitável angústia maior, condiciona, dentro de sua limitada capacidade, o que se faz apreendido por mim. Ou não?
Ver o outro lado? - Possível? - Talvez sim.
Ver todos os lados? - Possível? - Talvez não.
E ver o que não é lado? - Possível? - Com certeza não.
Do númeno para o fenômeno pode haver tanto que prefiro seguir tentando conhecer os limites de minha própria ignorância.
Facínora das coisas em detrimento das palavras.
As coisas, eu as executo para que renasçam em entrelaces simbólicos certos ou perdidos na alma, este compêndio de letras.
Será, pois, que me cabe a arrogância de julgar todas as possibilidades passíveis de compreensão?
Ter um dedo apontado ao que pode ser deus, e com toda soberba afirmar "não existes!".
A razão que cria a ordem nas coisas, que inventa seus próprios passatempos diante de sua inevitável angústia maior, condiciona, dentro de sua limitada capacidade, o que se faz apreendido por mim. Ou não?
Ver o outro lado? - Possível? - Talvez sim.
Ver todos os lados? - Possível? - Talvez não.
E ver o que não é lado? - Possível? - Com certeza não.
Do númeno para o fenômeno pode haver tanto que prefiro seguir tentando conhecer os limites de minha própria ignorância.
terça-feira, 23 de março de 2010
Corpo cansado.
Obs.: Queria justificar alguma coerência neste texto para o torto, mas creio que ele por se só com seus labirintos valorativos dão essa tônica torta. Falo brevemente, mas pretendo que esses versos reverberem.
Canto, sobretudo porque sofro
Sofro certamente porque vivo
Algo haver com alguma coisa casta ou carente
Certamente clamando perdão.
Dos dias que não são para lembrar
Sobra sempre essa maresia
Que lembra uma canção
Que chocam sons sem saber
O vento a pedra o mar...
E no final todos ficam assim
A bala culpando o revolver
O revolver culpando a mão
A mão culpando a cabeça
E por fim o tiro culpando o peito.
Quer saber o que está vendo na realidade?
Pergunte para um cachorro a razão do seu cansaço.
Canto, sobretudo porque sofro
Sofro certamente porque vivo
Algo haver com alguma coisa casta ou carente
Certamente clamando perdão.
Dos dias que não são para lembrar
Sobra sempre essa maresia
Que lembra uma canção
Que chocam sons sem saber
O vento a pedra o mar...
E no final todos ficam assim
A bala culpando o revolver
O revolver culpando a mão
A mão culpando a cabeça
E por fim o tiro culpando o peito.
Quer saber o que está vendo na realidade?
Pergunte para um cachorro a razão do seu cansaço.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Descaso com a música sergipana (revisado)
Artigo publicado no Cinform Online no dia 02 de setembro de 2008
Um tripé pode ser o responsável pelo descaso com a música sergipana. No entanto, cada universo que compõe esse tripé, tende costumeiramente a jogar a culpa no outro. Esses universos são: a sociedade em geral, os órgãos públicos e os artistas. O que há na verdade, é toda uma estrutura viciada e sem auto-estima que ronda o ar da produção musical local. Acredito que seja preciso construirmos um olhar torto para com isso, quebrarmos a covardia que cada uma categoria tem em empurrar a culpa para a outra. Devemos estabelecer uma perspectiva fluida capaz de comprrender e denunciar os acertos e as falhas de cada um desses universos.
A sociedade, se por um lado constrói um discurso apaixonante a favor da valorização da música “local”, por outro, não manifesta qualquer interesse em catalogar os trabalhos musicais produzidos pelos seus artistas, condenando a ausência de conhecimento a falta de divulgação dos órgãos fomentadores da cultura. No entanto, a Internet hoje em dia é um veículo que aproxima tudo de todos. Se houvesse realmente um interesse em se agregar um repertório da música sergipana, espontaneamente a sociedade catalogaria esse acervo.
Mas essa mesma sociedade que insiste no valor à música “local”, é a mesma que muitas vezes junta dinheiro por meses para ir a São Paulo ou a um Abril Pró Rock assistir ao show de algum artista internacionalmente reconhecido. Quero deixar claro que não sou adepto a um bairrismo a ponto de querer excluir outras produções que não sejam sergipanas. Todas as produções culturais, independentes do universo que elas se manifestem, são importantes e devem ser respeitadas. Minha crítica diz respeito a um super investimento valorativo para as produções de outros lugares e o descaso com a música sergipana.
Parece que como uma forma de deixar escondida a falta da valorização que tanto pregam, essa mesma sociedade atribui a culpa aos órgãos públicos que lidam diretamente com as produções culturais. E pra falar a verdade, em parte esses órgãos também são culpados, pois quando os artistas vão à busca de apoio, esses representantes pela divulgação da cultura, antecipam-se com uma retórica de escassez de orçamento, ao passo que os próprios artistas e a sociedade em geral, se esbaldam por entre as alegrias das multidões nas festas dos Cajus da vida, que, diga-se de passagem: investem pesadíssimo em artistas de fora.
Agora, entre as grandes contradições de discursos e práticas, o pior posicionamento é o dos próprios artistas. O grande problema é a falta de conhecimento dos artistas sobre a própria produção musical. Lembro-me que teve um período que comecei a catalogar dados com o intuito de constituir um painel extenso sobre a vida dos artistas sergipanos, assim como suas produções, anos de lançamentos de seus trabalhos, e uma das perguntas que eu fazia era: quais são suas influências musicais? Dos cinqüenta artistas que apliquei esse questionário, apenas quatro tinham algum artista sergipano influente em seu repertório musical. O artista não pode criticar a sociedade por não consumir a música sergipana, se o próprio artista não conhece o universo musical sergipano. Diante dessa condição, que direito tem o artista de condenar a sociedade por se distanciar da música que eles tanto pedem pra ser valorizada?
O que eu acho é que antes de ficarmos disparando erros para todos os lados, faz-se necessário abdicarmos dessa posição de vítimas e reconhecermos que se a música sergipana não consegue se projetar é por que todos esses lados têm sua parcela de culpa. Eu compreendo que os órgãos públicos só vão investir com vontade no cenário, se a sociedade e os artistas demonstrarem espontaneamente vontade de conhecer e consumir a produção cultural sergipana. Se os artistas ficam pedindo união com cada um em seu mundinho preocupado apenas em se projetar solitariamente diante da máquina competitiva do sistema, e a sociedade refinando o seu discurso de valorizar a nossa cultura, entusiasmando-se apenas em ir a shows de artistas fora do cenário sergipano, o resultado vai ser sempre esse: a música passando marginalmente pelo conhecimento de todos.
Um tripé pode ser o responsável pelo descaso com a música sergipana. No entanto, cada universo que compõe esse tripé, tende costumeiramente a jogar a culpa no outro. Esses universos são: a sociedade em geral, os órgãos públicos e os artistas. O que há na verdade, é toda uma estrutura viciada e sem auto-estima que ronda o ar da produção musical local. Acredito que seja preciso construirmos um olhar torto para com isso, quebrarmos a covardia que cada uma categoria tem em empurrar a culpa para a outra. Devemos estabelecer uma perspectiva fluida capaz de comprrender e denunciar os acertos e as falhas de cada um desses universos.
A sociedade, se por um lado constrói um discurso apaixonante a favor da valorização da música “local”, por outro, não manifesta qualquer interesse em catalogar os trabalhos musicais produzidos pelos seus artistas, condenando a ausência de conhecimento a falta de divulgação dos órgãos fomentadores da cultura. No entanto, a Internet hoje em dia é um veículo que aproxima tudo de todos. Se houvesse realmente um interesse em se agregar um repertório da música sergipana, espontaneamente a sociedade catalogaria esse acervo.
Mas essa mesma sociedade que insiste no valor à música “local”, é a mesma que muitas vezes junta dinheiro por meses para ir a São Paulo ou a um Abril Pró Rock assistir ao show de algum artista internacionalmente reconhecido. Quero deixar claro que não sou adepto a um bairrismo a ponto de querer excluir outras produções que não sejam sergipanas. Todas as produções culturais, independentes do universo que elas se manifestem, são importantes e devem ser respeitadas. Minha crítica diz respeito a um super investimento valorativo para as produções de outros lugares e o descaso com a música sergipana.
Parece que como uma forma de deixar escondida a falta da valorização que tanto pregam, essa mesma sociedade atribui a culpa aos órgãos públicos que lidam diretamente com as produções culturais. E pra falar a verdade, em parte esses órgãos também são culpados, pois quando os artistas vão à busca de apoio, esses representantes pela divulgação da cultura, antecipam-se com uma retórica de escassez de orçamento, ao passo que os próprios artistas e a sociedade em geral, se esbaldam por entre as alegrias das multidões nas festas dos Cajus da vida, que, diga-se de passagem: investem pesadíssimo em artistas de fora.
Agora, entre as grandes contradições de discursos e práticas, o pior posicionamento é o dos próprios artistas. O grande problema é a falta de conhecimento dos artistas sobre a própria produção musical. Lembro-me que teve um período que comecei a catalogar dados com o intuito de constituir um painel extenso sobre a vida dos artistas sergipanos, assim como suas produções, anos de lançamentos de seus trabalhos, e uma das perguntas que eu fazia era: quais são suas influências musicais? Dos cinqüenta artistas que apliquei esse questionário, apenas quatro tinham algum artista sergipano influente em seu repertório musical. O artista não pode criticar a sociedade por não consumir a música sergipana, se o próprio artista não conhece o universo musical sergipano. Diante dessa condição, que direito tem o artista de condenar a sociedade por se distanciar da música que eles tanto pedem pra ser valorizada?
O que eu acho é que antes de ficarmos disparando erros para todos os lados, faz-se necessário abdicarmos dessa posição de vítimas e reconhecermos que se a música sergipana não consegue se projetar é por que todos esses lados têm sua parcela de culpa. Eu compreendo que os órgãos públicos só vão investir com vontade no cenário, se a sociedade e os artistas demonstrarem espontaneamente vontade de conhecer e consumir a produção cultural sergipana. Se os artistas ficam pedindo união com cada um em seu mundinho preocupado apenas em se projetar solitariamente diante da máquina competitiva do sistema, e a sociedade refinando o seu discurso de valorizar a nossa cultura, entusiasmando-se apenas em ir a shows de artistas fora do cenário sergipano, o resultado vai ser sempre esse: a música passando marginalmente pelo conhecimento de todos.
quinta-feira, 18 de março de 2010
Natureza.
Os que nós construímos, também, podemos chamar de natureza. Todas as nossas produções são produções da natureza. O homem é natureza, esse é o ponto. As nossas realizações em todos os campos são realizações da natureza. É a natureza viva manipulando pela razão suas forças. Pensar diferente é dizer que o homem é uma natureza especial ou não é a natureza. Foi esse o raciocínio que nos levou no passado acharmos que nós éramos seres distintos dos outros e que a natureza era apenas uma paisagem no teatro de nossa história. As cidades, as ciências, as sociedades, as culturas e as filosofias, tudo que é chamado de humano, portanto, artificial é para este velho caboclo natureza, por isso natural. O que me faz angustiado é a crença que em nosso planeta existe algo que não tenha nenhuma relação direta ou indireta com a natureza. A natureza por sua força própria produziu uma espécie capaz de simbolizar o mundo, e esta simbolização transformou-se em uma força criadora de infinitas proporções. A antiga Grécia contribuiu muito com essa crença reducionista do homem. O homem reduzido ao humano, quase de plástico. Nossa retirada do mundo selvagem não deveria ter provocado este afastamento crônico de nossa verdadeira condição animal. O mundo Pós Moderno deve repensar isso: Onde estamos agora, e se é possível continuar nesse lugar. Pensar a política, a filosofia, o direito, as relações sociais sem pensar gravemente na nossa postura perante o espaço geográfico transformado em espaço natural, a natureza modificada por nós, é o mesmo que confessarmos que este planeta é uma embalagem descartável como de qualquer produto consumido por nós. A teologia criacionista dos judeus e dos cristãos produziu em nós a imagem de Deus – somos deuses, portanto, auto-suficientes. O homem é especial para estes pensadores e a natureza um acessório, ou como já disse um cenário belo de nossos conflitos. Meus caros, a natureza é viva e está em constante transformação, suas leis regulam nossa existência naquilo que é mais significativo: A vida. Se esta está ameaçada por nossas descobertas, se esta está em agonia pelo sistema sócio econômico criado por nós, esta na hora de repensarmos nossa razão. Qual é, então, a lógica da razão humana se a vida não é a maior de todas as necessidades? Onde falhamos? Falhamos em não pensar o mundo partindo do ponto mais lógico: O espaço natural e suas relações com o espaço modificado por nós. Se o que construímos também é natureza, então podemos sintonizar o que já existe com o que deve existir, um mundo onde a natureza possa ser ouvida. Ela tem muito a nos dizer. O progresso não deve ultrapassar os limites impostos pelo espaço natural sob pena de quebrarmos o vínculo maior e determinante de toda a vida – as relações de causa e efeito no sistema vivo natural. O capital não pode falar mais alto que o bom senso. Isso nos leva a uma inevitável crítica de nossas instituições e de nossa racionalidade. Como a razão não viu ou fingiu não ver que o mundo se esgotaria como um trabalhador sem descanso a séculos explorado e mal remunerado? E agora José, para onde vamos? Deixo estas questões para os colegas tortos continuarem o debate. Abraços.
Os que nós construímos, também, podemos chamar de natureza. Todas as nossas produções são produções da natureza. O homem é natureza, esse é o ponto. As nossas realizações em todos os campos são realizações da natureza. É a natureza viva manipulando pela razão suas forças. Pensar diferente é dizer que o homem é uma natureza especial ou não é a natureza. Foi esse o raciocínio que nos levou no passado acharmos que nós éramos seres distintos dos outros e que a natureza era apenas uma paisagem no teatro de nossa história. As cidades, as ciências, as sociedades, as culturas e as filosofias, tudo que é chamado de humano, portanto, artificial é para este velho caboclo natureza, por isso natural. O que me faz angustiado é a crença que em nosso planeta existe algo que não tenha nenhuma relação direta ou indireta com a natureza. A natureza por sua força própria produziu uma espécie capaz de simbolizar o mundo, e esta simbolização transformou-se em uma força criadora de infinitas proporções. A antiga Grécia contribuiu muito com essa crença reducionista do homem. O homem reduzido ao humano, quase de plástico. Nossa retirada do mundo selvagem não deveria ter provocado este afastamento crônico de nossa verdadeira condição animal. O mundo Pós Moderno deve repensar isso: Onde estamos agora, e se é possível continuar nesse lugar. Pensar a política, a filosofia, o direito, as relações sociais sem pensar gravemente na nossa postura perante o espaço geográfico transformado em espaço natural, a natureza modificada por nós, é o mesmo que confessarmos que este planeta é uma embalagem descartável como de qualquer produto consumido por nós. A teologia criacionista dos judeus e dos cristãos produziu em nós a imagem de Deus – somos deuses, portanto, auto-suficientes. O homem é especial para estes pensadores e a natureza um acessório, ou como já disse um cenário belo de nossos conflitos. Meus caros, a natureza é viva e está em constante transformação, suas leis regulam nossa existência naquilo que é mais significativo: A vida. Se esta está ameaçada por nossas descobertas, se esta está em agonia pelo sistema sócio econômico criado por nós, esta na hora de repensarmos nossa razão. Qual é, então, a lógica da razão humana se a vida não é a maior de todas as necessidades? Onde falhamos? Falhamos em não pensar o mundo partindo do ponto mais lógico: O espaço natural e suas relações com o espaço modificado por nós. Se o que construímos também é natureza, então podemos sintonizar o que já existe com o que deve existir, um mundo onde a natureza possa ser ouvida. Ela tem muito a nos dizer. O progresso não deve ultrapassar os limites impostos pelo espaço natural sob pena de quebrarmos o vínculo maior e determinante de toda a vida – as relações de causa e efeito no sistema vivo natural. O capital não pode falar mais alto que o bom senso. Isso nos leva a uma inevitável crítica de nossas instituições e de nossa racionalidade. Como a razão não viu ou fingiu não ver que o mundo se esgotaria como um trabalhador sem descanso a séculos explorado e mal remunerado? E agora José, para onde vamos? Deixo estas questões para os colegas tortos continuarem o debate. Abraços.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Sinapses líquidas ou Das noites líquidas de um obsessivo
Em mais uma das horas frívolas em que o sono era tudo que lhe faltava, portanto tudo que perseguia, deitou-se…
Roubou o fogo dos deuses, congelou em breu o mundo, e então, nas entrelinhas destes corridos minutos, conseguiu fantasiar um instante reflexivamente pacífico…
Mas os átomos todos em seus matizes vinham em sua direção, ganhando por cenário as paredes escuras que o fechar de seus olhos levantara, e aquilo era tudo de estonteante; surgiam tomates às suas ideias, zuniam as almas aos seus ouvidos, que agora eram tais qual liquidificador…
Toda matéria até então condensada de seus medos, de sua esperança, de sua forjada vitória, de sua certeira derrota explodia em !big bang! espalhando em vento infinito a poeira infinita que se faria matéria-prima de seus novos pesares…
“- Comigo dançarás?
- Não
- Mas, por que não?
- És o último da fila… Sai, tu não estás, não! Sai, tu não estás, não! És o Virgílio daqui! És o corcunda Virgílio daqui! Conta teu mito em outro lugar, ó, Virgílio daqui!
- Restam-me as penas, mas não só as com que escrevo… Restam me não só as penas, mas fúria, amor e medo. Restam-me penas e nunca brinquedos...”
Acordou.
Percebeu nem em sono livrar-se de si e de outrem. Pois, a matéria líquida dos sonhos alimentava a usina hidrelétrica de suas viagens psíquicas em arroubo mais que extático.
- O mundo é tão pleno de ideias que não mais respeita sequer ambientes oníricos.
Roubou o fogo dos deuses, congelou em breu o mundo, e então, nas entrelinhas destes corridos minutos, conseguiu fantasiar um instante reflexivamente pacífico…
Mas os átomos todos em seus matizes vinham em sua direção, ganhando por cenário as paredes escuras que o fechar de seus olhos levantara, e aquilo era tudo de estonteante; surgiam tomates às suas ideias, zuniam as almas aos seus ouvidos, que agora eram tais qual liquidificador…
Toda matéria até então condensada de seus medos, de sua esperança, de sua forjada vitória, de sua certeira derrota explodia em !big bang! espalhando em vento infinito a poeira infinita que se faria matéria-prima de seus novos pesares…
“- Comigo dançarás?
- Não
- Mas, por que não?
- És o último da fila… Sai, tu não estás, não! Sai, tu não estás, não! És o Virgílio daqui! És o corcunda Virgílio daqui! Conta teu mito em outro lugar, ó, Virgílio daqui!
- Restam-me as penas, mas não só as com que escrevo… Restam me não só as penas, mas fúria, amor e medo. Restam-me penas e nunca brinquedos...”
Acordou.
Percebeu nem em sono livrar-se de si e de outrem. Pois, a matéria líquida dos sonhos alimentava a usina hidrelétrica de suas viagens psíquicas em arroubo mais que extático.
- O mundo é tão pleno de ideias que não mais respeita sequer ambientes oníricos.
Borboletas no Estomago.
Obs.: O meu dia de publicar caros leitores foi ontem, mas pelo fato da ocorrência de algumas intempéries estou publicando hoje. Boa leitura!
Hoje senti borboletas no estomago, amei por um segundo. Eu tinha peito de bronze e palavras de louco. Candura é amar, um sofrer ninguém duvida que seja. Talvez mais uma forma de arrebanhar mamíferos, mas as palavras que falo são muito secas para falar do fenômeno que exponho, falar de amor muitas vezes é não falar, é se sentir bobo. Esse velho conhecido nosso é prova da nossa falta de tato, tateando no escuro nos séculos buscamos nos ater a explicações para ele. Mas que maravilha! Porque no fim da noite um ser ébrio e aparentemente desprezível derruba sua lacuna aos porcos e o amor lhe preenche sem ao menos ele falar uma palavra. Que horas? Diga-me que horas? O amor aparecerá? Que horas esse bêbado que é o amor chegará até mim?
Camarada sabe de uma coisa? Cheguei ontem a uma mulher e disse: sou um pobre fraco, mas te quero! Será que sou mulher, amigo meu? Como a cachaça que bebemos é límpida creio que não nasci sem cachos, mas a menina não acredita em uma casa sem muro alto, deveras. E aqui na amplidão da solidão tenho que prometer a eternidade e fortes músculos para pertencer a uma mamífera como eu, cheia de pobres inconstâncias, contudo, não que tenhamos menos amor por sermos mamíferos humanos, mesmo que o amor da chuva pela terra seja inefável e constante.
Agora amigo meu, te falo mais alguma coisa, por mais que não decifremos que peste é esse amor, uma coisa eu sei e sei deveras, que o amor não é um uníssono quieto e brando como quando a orquestra ouve o spalla dar a nota. O amor é samba, este nosso filho tão consagrado pelos mares do Brasil, mostra que se ama e se tortura e se cura... E além do mais, não quero saber o que é amar, eu quero um amor, só um, só um santo dia, quando o amor chegará descendo de uma nave como um projétil em meu peito. Amo sem amar ninguém meu caro, só tive borboletas no estomago minutos atrás. Porém vejo que amo o amor de amar, e por hora algumas moças me deixam assim, com borboletas no estomago!
Vejo que por mais força que coloque nos meus versos
A pirâmide do tempo é a mácula da palavra jogado ao vento
Anseio que aos ratos não seja jogada o sentimento desse mamífero que fala.
A pirâmide do tempo é a mácula da palavra jogado ao vento
Anseio que aos ratos não seja jogada o sentimento desse mamífero que fala.
Hoje senti borboletas no estomago, amei por um segundo. Eu tinha peito de bronze e palavras de louco. Candura é amar, um sofrer ninguém duvida que seja. Talvez mais uma forma de arrebanhar mamíferos, mas as palavras que falo são muito secas para falar do fenômeno que exponho, falar de amor muitas vezes é não falar, é se sentir bobo. Esse velho conhecido nosso é prova da nossa falta de tato, tateando no escuro nos séculos buscamos nos ater a explicações para ele. Mas que maravilha! Porque no fim da noite um ser ébrio e aparentemente desprezível derruba sua lacuna aos porcos e o amor lhe preenche sem ao menos ele falar uma palavra. Que horas? Diga-me que horas? O amor aparecerá? Que horas esse bêbado que é o amor chegará até mim?
A folha cai sem aviso
O morto vai sem aviso
O rio escorre sem aviso
A chuva chove sem aviso
O amor este chega de quina.
O morto vai sem aviso
O rio escorre sem aviso
A chuva chove sem aviso
O amor este chega de quina.
Camarada sabe de uma coisa? Cheguei ontem a uma mulher e disse: sou um pobre fraco, mas te quero! Será que sou mulher, amigo meu? Como a cachaça que bebemos é límpida creio que não nasci sem cachos, mas a menina não acredita em uma casa sem muro alto, deveras. E aqui na amplidão da solidão tenho que prometer a eternidade e fortes músculos para pertencer a uma mamífera como eu, cheia de pobres inconstâncias, contudo, não que tenhamos menos amor por sermos mamíferos humanos, mesmo que o amor da chuva pela terra seja inefável e constante.
Agora ela era a mais bonita
Borboletas no estomago
Que linda
Mas a água quando muito brilhante ofusca os olhos
Quem perderá é ela por não sentir o meu toque, o calor das minhas mãos.
Borboletas no estomago
Que linda
Mas a água quando muito brilhante ofusca os olhos
Quem perderá é ela por não sentir o meu toque, o calor das minhas mãos.
Agora amigo meu, te falo mais alguma coisa, por mais que não decifremos que peste é esse amor, uma coisa eu sei e sei deveras, que o amor não é um uníssono quieto e brando como quando a orquestra ouve o spalla dar a nota. O amor é samba, este nosso filho tão consagrado pelos mares do Brasil, mostra que se ama e se tortura e se cura... E além do mais, não quero saber o que é amar, eu quero um amor, só um, só um santo dia, quando o amor chegará descendo de uma nave como um projétil em meu peito. Amo sem amar ninguém meu caro, só tive borboletas no estomago minutos atrás. Porém vejo que amo o amor de amar, e por hora algumas moças me deixam assim, com borboletas no estomago!
segunda-feira, 15 de março de 2010
O torto: uma comodidade subversiva
Somos tão viciados com a visão dicotômica construída pelo maniqueísmo cristão, que algumas pessoas têm dificuldades em aceitar e entender a convivência caótica, e ao mesmo tempo ordenada do torto entre as situações concebidas como opostas. O que eu percebo é que geralmente o Movimento Torto é encarado ou como o cumulo da acomodação, ou seja, como algo conservador, ou como o cumulo da subversão, isto é, como algo revolucionário.
Na minha concepção, para o maniqueísmo, o fato de ser conservador está diretamente relacionado à extrema aceitabilidade dos padrões de condutas impostos pelos sistemas éticos e morais de uma sociedade. Nesse sentido, ser conservador, refere-se à necessidade de insistir pela manutenção da ordem. A posição conservadora se caracteriza por ter posturas tradicionalistas as quais expressam através de seus discursos, posições acomodadas.
Já os revolucionários estão associados à não-aceitação dos padrões de condutas e de pensamentos considerados oficializados pela sociedade. Portanto, ser subversivo se refere à insistência de querer promover mudanças nas estruturas até então consolidadas. A posição revolucionária se caracteriza por suas posturas críticas e vanguardistas, e expressam ao entendimento dos maniqueístas, posições subversivas.
O torto por um lado, assume um aspecto acomodado, uma vez que ele concebe que, mesmo tecendo críticas ao que ele não aceita, inevitavelmente ele deve respeitar os parâmetros legais e culturais da sociedade por ele saber que, assim como o outro, ele não só cria expectativas em relação a determinados parâmetros, como inevitavelmente se sente na obrigação de respeitá-los por ele se ver como um agente pertencente a uma sociedade.
Por outro lado, o torto assume uma posição subversiva, visto que ele entende que, mesmo sabendo da necessidade de se adaptar à sociedade, inevitavelmente ele é dotado de valores e de escolhas, e, portanto, sente-se no direito de criticar aquilo que ele acha errado. Além disso, por saber que as leis criadas são formuladas por humanos, o torto sabe que elas se encontram vulneráveis aos acertos e às falhas, e por isso mesmo, devem ser questionadas.
O torto pode se enfurecer com determinada propaganda política, e passar a questioná-la por criticar qualquer forma de manipulação. Nesse sentido, o torto pode parecer subversivo. Por outro lado, mesmo criticando essa propaganda política, o torto pode admitir pra si mesmo que, mesmo que o discurso propagandístico para ele seja falso, se parte da sociedade acredita nele, é por que de certa forma ele é reflexo do social, e, portanto, tem sua razão de ser. Nesse sentido, o torto manifesta uma comodidade.
O torto é comodamente subversivo. Ele acata determinadas decisões, mas não se deixa submeter de forma cega a essas decisões. O torto cospe no sistema por perceber a infinidade de problemas que existem nele, mas ao mesmo tempo ele quer pertencer a esse sistema. O torto aceita a crítica do outro por saber que o outro, assim como ele, possui valores, mas pode não aceitar a crítica do outro, pelo fato do torto saber que, por ser produto do meio, inevitavelmente ele cria expectativas sobre as opiniões alheias.
Na minha concepção, para o maniqueísmo, o fato de ser conservador está diretamente relacionado à extrema aceitabilidade dos padrões de condutas impostos pelos sistemas éticos e morais de uma sociedade. Nesse sentido, ser conservador, refere-se à necessidade de insistir pela manutenção da ordem. A posição conservadora se caracteriza por ter posturas tradicionalistas as quais expressam através de seus discursos, posições acomodadas.
Já os revolucionários estão associados à não-aceitação dos padrões de condutas e de pensamentos considerados oficializados pela sociedade. Portanto, ser subversivo se refere à insistência de querer promover mudanças nas estruturas até então consolidadas. A posição revolucionária se caracteriza por suas posturas críticas e vanguardistas, e expressam ao entendimento dos maniqueístas, posições subversivas.
O torto por um lado, assume um aspecto acomodado, uma vez que ele concebe que, mesmo tecendo críticas ao que ele não aceita, inevitavelmente ele deve respeitar os parâmetros legais e culturais da sociedade por ele saber que, assim como o outro, ele não só cria expectativas em relação a determinados parâmetros, como inevitavelmente se sente na obrigação de respeitá-los por ele se ver como um agente pertencente a uma sociedade.
Por outro lado, o torto assume uma posição subversiva, visto que ele entende que, mesmo sabendo da necessidade de se adaptar à sociedade, inevitavelmente ele é dotado de valores e de escolhas, e, portanto, sente-se no direito de criticar aquilo que ele acha errado. Além disso, por saber que as leis criadas são formuladas por humanos, o torto sabe que elas se encontram vulneráveis aos acertos e às falhas, e por isso mesmo, devem ser questionadas.
O torto pode se enfurecer com determinada propaganda política, e passar a questioná-la por criticar qualquer forma de manipulação. Nesse sentido, o torto pode parecer subversivo. Por outro lado, mesmo criticando essa propaganda política, o torto pode admitir pra si mesmo que, mesmo que o discurso propagandístico para ele seja falso, se parte da sociedade acredita nele, é por que de certa forma ele é reflexo do social, e, portanto, tem sua razão de ser. Nesse sentido, o torto manifesta uma comodidade.
O torto é comodamente subversivo. Ele acata determinadas decisões, mas não se deixa submeter de forma cega a essas decisões. O torto cospe no sistema por perceber a infinidade de problemas que existem nele, mas ao mesmo tempo ele quer pertencer a esse sistema. O torto aceita a crítica do outro por saber que o outro, assim como ele, possui valores, mas pode não aceitar a crítica do outro, pelo fato do torto saber que, por ser produto do meio, inevitavelmente ele cria expectativas sobre as opiniões alheias.
quinta-feira, 11 de março de 2010
O Niilismo Cristão ensinado pelo Protestantismo Atual
O esvaziamento do homem pela teologia cristã é evidente. Não se encontra outra forma de pensá-lo a não ser por este caminho no sistema reformista. Mas não acredito que a natureza nos conceda este direito. Esta é uma manifestação de Deus, por isso constitui-se em uma forma de compreendê-lo. A bíblia é a revelação divina que nos foi dada por seus escritores e que é inteligível à luz da razão, à luz da natureza, pois a razão não é uma realidade artificial, ela é cem porcento humana, portanto, cem porcento natureza. A razão européia construiu uma teologia sacrificando a natureza da razão. O esvaziamento do homem é, num primeiro momento, um sacríficio de sua condição de ser pensante por isso co-participante da economia divina.
“A altivez do homem que se insurge contra a tese de sua ascendência animal e que estabelece entre a natureza e o homem um grande abismo — essa altivez provém de um preconceito sobre a natureza do espírito e este preconceito é relativamente recente.”
Nietzsche
A filosofia de Nietzsche denuncia a arrogância do teólogo em se rebelar contra a natureza do homem pensando um homem que não existe. Este homem de Lutero e Calvino é idealizado, nem se quer entende o bem que faz o olhar da alteridade. O desconhecimento antropológico dos reformadores forjou uma ortodoxia de negação. O homem é agente apenas do mal. Para produzir o bem ele deve se esvaziar, logo, o bem é fruto de uma ação divina dominadora. Nas entrelinhas entendemos que tudo que é natureza é mal. O prazer é um mau inquestionável. Não devo colocar toda a culpa na falta de uma imagem mais complexa do homem no pensamento teológico reformista. A crença exagerada que tudo se explica pelas as escrituras e a forma como ela foi tomada para construir este pensamento é também responsável por esta visão mutilada de nossa realidade.
“Os judeus, que consideravam a cólera de um modo diferente de nós, declararam-na sagrada: é por isso que colocaram a sombria majestade que a acompanhava num grau tão elevado que um europeu sequer poderia imaginar: eles conceberam a santidade de seu Javé colérico segundo a santidade de seus profetas coléricos.”
Nietzsche
Como não temer o Deus do Antigo Testamento? Ele se manifesta de forma muito cruel. Sua intransigência é intragável quando se procura Nele alguma semelhança com Cristo. Cristo, no Novo Testamento, afirma que Ele e o Pai são um. Esta unidade é impossível pelo abismo que separam os dois seres em termos de comportamento. A alegação da condição dispensasional como forma de explicar a incompatilidade de personalidade entre Jeová e Cristo não consegue convencer as mentes curiosas. Parece uma contradição provocada pela tradição judaica e a necessidade de relacionar as duas alianças como complementos teóricos. O filósofo alemão viu que a cólera de Deus era uma invenção de seus profetas. Então, para Nietzsche a bíblia era uma criação nossa e não podia explicar a divindade. Isso é conclusão lógica de qualquer um, contudo não podemos, meus amados, negar a experiência vivida com Senhor! Alguns dizem que isso é um tipo de neurose, outros afimam que chegamos até aos limites da insanidade. Porém, também, sabemos que contra fatos não há argumentos, somos o que somos porque vivemos algo, temos um sentido na existência! Assim como o profetismo bíblico não pode ser negado, a experiência pessoal com Cristo não pode ser contestada. O filósofo não tinha este material em mãos para poder produzir um juízo de valor. A forma como a bíblia é lida e seu pré-texto passado pela cultura religiosa explica nossa tendência a esvaziar o homem e exaltar tudo que o torne oco de sua natureza. Mas fazendo assim destruimos as provas de nossa passagem pelo mundo e criamos uma metafísica de delírios.
“Em toda parte onde reina a doutrina da espiritualidade pura, ela destruiu com seus excessos a força nervosa: ensinava a desprezar o corpo, a negligenciá-lo ou a atormentá-lo, a atormentar e desprezar o próprio homem, por causa de todos os seus instintos; produzia almas sombrias, tensas, oprimidas — que, além disso, acreditavam conhecer a causa de seu sentimento de miséria e esperavam poder suprimi-la! “É no corpo que ela se encontra! E sempre ainda demasiado viçoso!” — assim concluíam eles, enquanto na realidade o corpo, com suas dores, não cessava de se rebelar contra o contínuo desprezo que lhe mostravam. Um extremo nervosismo, que se tornou geral e crônico, acabava por ser o apanágio desses virtuosos espíritos puros: eles só conheciam o prazer sob a forma de êxtase e de outros fenômenos da loucura — e seu sistema atingia seu apogeu quando consideravam o êxtase como ponto culminante da vida e como critério para condenar tudo o que é terrestre.”
Nietzsche
O esvaziamento do homem além de não ser possível, pois é um procedimento contrário à natureza, causa problemas e conflitos insuportáveis ao nosso psiquismo. Não podemos aumentar ainda mais a carga de castração sob pena de acentuar a libido e não podermos depois equilibrar psicologicamente estas forças. A tensão entre o deveria ser e o que de fato é seria muito grande e provocaria problemas e sintomas variados. Essa é a conclusão obvia de uma mente fecunda. Entretanto, meus caros, isso não se verifica em meio à comunidade religiosa. Existe uma grande manifestação da libido no meio cristão. A capacidade de re-significação do crente é muito grande e logo um objeto de prazer é trocado por outro. Mas isso não justifica a negação do homem. Pois o próprio agente negador é o homem. Ninguém pode negar o homem exceto o mesmo, logo negá-lo é afirmá-lo uma segunda vez. Como nós gostamos de criar sistemas? Como somos vaidosos? Eu me nego a mim mesmo! Este é um delírio que serve de catarse para alguns e para outros serve de alimento a curiosidade. Precisamos pensar Deus a partir da realidade, sem negar o determinante explicativo natural e construir uma teologia mais coerente com o que chamamos Homem, um ser bem muito mais complexo do que aquele apresentado pelo pensamento reformado europeu.
O esvaziamento do homem pela teologia cristã é evidente. Não se encontra outra forma de pensá-lo a não ser por este caminho no sistema reformista. Mas não acredito que a natureza nos conceda este direito. Esta é uma manifestação de Deus, por isso constitui-se em uma forma de compreendê-lo. A bíblia é a revelação divina que nos foi dada por seus escritores e que é inteligível à luz da razão, à luz da natureza, pois a razão não é uma realidade artificial, ela é cem porcento humana, portanto, cem porcento natureza. A razão européia construiu uma teologia sacrificando a natureza da razão. O esvaziamento do homem é, num primeiro momento, um sacríficio de sua condição de ser pensante por isso co-participante da economia divina.
“A altivez do homem que se insurge contra a tese de sua ascendência animal e que estabelece entre a natureza e o homem um grande abismo — essa altivez provém de um preconceito sobre a natureza do espírito e este preconceito é relativamente recente.”
Nietzsche
A filosofia de Nietzsche denuncia a arrogância do teólogo em se rebelar contra a natureza do homem pensando um homem que não existe. Este homem de Lutero e Calvino é idealizado, nem se quer entende o bem que faz o olhar da alteridade. O desconhecimento antropológico dos reformadores forjou uma ortodoxia de negação. O homem é agente apenas do mal. Para produzir o bem ele deve se esvaziar, logo, o bem é fruto de uma ação divina dominadora. Nas entrelinhas entendemos que tudo que é natureza é mal. O prazer é um mau inquestionável. Não devo colocar toda a culpa na falta de uma imagem mais complexa do homem no pensamento teológico reformista. A crença exagerada que tudo se explica pelas as escrituras e a forma como ela foi tomada para construir este pensamento é também responsável por esta visão mutilada de nossa realidade.
“Os judeus, que consideravam a cólera de um modo diferente de nós, declararam-na sagrada: é por isso que colocaram a sombria majestade que a acompanhava num grau tão elevado que um europeu sequer poderia imaginar: eles conceberam a santidade de seu Javé colérico segundo a santidade de seus profetas coléricos.”
Nietzsche
Como não temer o Deus do Antigo Testamento? Ele se manifesta de forma muito cruel. Sua intransigência é intragável quando se procura Nele alguma semelhança com Cristo. Cristo, no Novo Testamento, afirma que Ele e o Pai são um. Esta unidade é impossível pelo abismo que separam os dois seres em termos de comportamento. A alegação da condição dispensasional como forma de explicar a incompatilidade de personalidade entre Jeová e Cristo não consegue convencer as mentes curiosas. Parece uma contradição provocada pela tradição judaica e a necessidade de relacionar as duas alianças como complementos teóricos. O filósofo alemão viu que a cólera de Deus era uma invenção de seus profetas. Então, para Nietzsche a bíblia era uma criação nossa e não podia explicar a divindade. Isso é conclusão lógica de qualquer um, contudo não podemos, meus amados, negar a experiência vivida com Senhor! Alguns dizem que isso é um tipo de neurose, outros afimam que chegamos até aos limites da insanidade. Porém, também, sabemos que contra fatos não há argumentos, somos o que somos porque vivemos algo, temos um sentido na existência! Assim como o profetismo bíblico não pode ser negado, a experiência pessoal com Cristo não pode ser contestada. O filósofo não tinha este material em mãos para poder produzir um juízo de valor. A forma como a bíblia é lida e seu pré-texto passado pela cultura religiosa explica nossa tendência a esvaziar o homem e exaltar tudo que o torne oco de sua natureza. Mas fazendo assim destruimos as provas de nossa passagem pelo mundo e criamos uma metafísica de delírios.
“Em toda parte onde reina a doutrina da espiritualidade pura, ela destruiu com seus excessos a força nervosa: ensinava a desprezar o corpo, a negligenciá-lo ou a atormentá-lo, a atormentar e desprezar o próprio homem, por causa de todos os seus instintos; produzia almas sombrias, tensas, oprimidas — que, além disso, acreditavam conhecer a causa de seu sentimento de miséria e esperavam poder suprimi-la! “É no corpo que ela se encontra! E sempre ainda demasiado viçoso!” — assim concluíam eles, enquanto na realidade o corpo, com suas dores, não cessava de se rebelar contra o contínuo desprezo que lhe mostravam. Um extremo nervosismo, que se tornou geral e crônico, acabava por ser o apanágio desses virtuosos espíritos puros: eles só conheciam o prazer sob a forma de êxtase e de outros fenômenos da loucura — e seu sistema atingia seu apogeu quando consideravam o êxtase como ponto culminante da vida e como critério para condenar tudo o que é terrestre.”
Nietzsche
O esvaziamento do homem além de não ser possível, pois é um procedimento contrário à natureza, causa problemas e conflitos insuportáveis ao nosso psiquismo. Não podemos aumentar ainda mais a carga de castração sob pena de acentuar a libido e não podermos depois equilibrar psicologicamente estas forças. A tensão entre o deveria ser e o que de fato é seria muito grande e provocaria problemas e sintomas variados. Essa é a conclusão obvia de uma mente fecunda. Entretanto, meus caros, isso não se verifica em meio à comunidade religiosa. Existe uma grande manifestação da libido no meio cristão. A capacidade de re-significação do crente é muito grande e logo um objeto de prazer é trocado por outro. Mas isso não justifica a negação do homem. Pois o próprio agente negador é o homem. Ninguém pode negar o homem exceto o mesmo, logo negá-lo é afirmá-lo uma segunda vez. Como nós gostamos de criar sistemas? Como somos vaidosos? Eu me nego a mim mesmo! Este é um delírio que serve de catarse para alguns e para outros serve de alimento a curiosidade. Precisamos pensar Deus a partir da realidade, sem negar o determinante explicativo natural e construir uma teologia mais coerente com o que chamamos Homem, um ser bem muito mais complexo do que aquele apresentado pelo pensamento reformado europeu.
quarta-feira, 10 de março de 2010
, Os breves tortos,
Há mais de duzentos anos, Kant escreveu o célebre texto conhecido como Was ist Aufklärung? (O que é esclarecimento?) em que, já nas primeiras considerações, irá advogar a saída do homem de sua menoridade. Esta seria “a incapacidade de fazer uso do seu entendimento sem a direção de outro indivíduo” e, ainda segundo o autor, o homem seria o próprio culpado desta menoridade se “a causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.”
A brevidade de alguns textos do Movimento Torto é sintoma de uma produção vazia ou uma relação de sinceridade entre o autor consigo mesmo e com o leitor? Essa brevidade é fenômeno de uma acriticidade implícita?
Para começar, não defendo o velho conhecido sintoma pós-modernista do combate às narrativas longas. Aliás, enquanto amante da ópera, por exemplo, penso serem irreduzíveis as peças do “Ciclo do Anel”, de Wagner, ou, no campo da literatura, as elaborações poéticas do “Fausto”, de Goethe. No entanto, o que, para mim, justifica a extensão dessas obras é simplesmente a sua sinceridade. É, mais precisamente, o fato de seus compositores não precisarem se estender simplesmente para salvaguardar seus egos e disfaçarem sua incapacidade de andar com as próprias pernas, escondendo-se em erudição muito mais embasada no decorar que no desenvolver uma observação puramente sua, superdimensionando os tomos de seus escritos para vencer pelo cansaço seus leitores, conquistando assim respeito (leia-se medo). Aliás, nada melhor para coadunar com isto que se esconder atrás do que alguém disse: o famoso segundismo que permeia textos afora.
Vem-me agora à cabeça uma pergunta que a filósofa Márcia Tiburi fez ao ministro da educação Fernando Haddad: “com a implantação da filosofia nas escolas de ensino básico, o que se priorizará; decorar a história da filosofia ou aprender a pensar?”. É claro que a intenção de Tiburi ao fazer esta pergunta não foi depreciar o importante conhecimento da história da filosofia, e sim atentar para um grande problema vigente: a erudição por si, por mais gigante que seja, é atestado de senso crítico?
Daí, eu me lembro do que ouvi recentemente de um sábio e irônico professor: “vou ensinar-lhes a serem gênios; não leiam”, ao que eu adiciono: “não leiam, ou leiam muito e façam valer mais as palavras decoradas dos autores que as suas próprias”. Caso contrário, vira-se um ignorante torto como eu, que acharei que li pouco até o fim dos meus dias.
Atestar acriticidade no Movimento Torto é, além de na maioria das vezes leviandade de cunho pessoal, valer-se negativamente da sinceridade que até então tem deixado sucinta parte dos textos. Há neste site considerações responsáveis acerca das artes, há propostas gnoseológicas (que obvimente não vieram de achismos e que serão muito mais elaboradas com o passar do tempo), há até mesmo propostas de atitudes de reflexão aguda, por seu grande teor autocrítico, como é o caso dos textos de cunho político e sociológico.
Antes de concluir, ratifico que textos mais longos poderão e vão aparecer futuramente no Movimento Torto. Por ora, entretanto, à prolixidade repetitiva e cheia de argumentos de autoridade usada para forjar validez erudita, o Torto tem preferido tentar o caminho dos pulsares (estrelas de nêutrons): aterradoramente densos e compactos. E isto não é mera acriticidade ou rebeldia sem causa, e sim, sobretudo, sinceridade autocrítica. Que o público e a crítica nos entenda. A esta última: Sapere Aude!
A brevidade de alguns textos do Movimento Torto é sintoma de uma produção vazia ou uma relação de sinceridade entre o autor consigo mesmo e com o leitor? Essa brevidade é fenômeno de uma acriticidade implícita?
Para começar, não defendo o velho conhecido sintoma pós-modernista do combate às narrativas longas. Aliás, enquanto amante da ópera, por exemplo, penso serem irreduzíveis as peças do “Ciclo do Anel”, de Wagner, ou, no campo da literatura, as elaborações poéticas do “Fausto”, de Goethe. No entanto, o que, para mim, justifica a extensão dessas obras é simplesmente a sua sinceridade. É, mais precisamente, o fato de seus compositores não precisarem se estender simplesmente para salvaguardar seus egos e disfaçarem sua incapacidade de andar com as próprias pernas, escondendo-se em erudição muito mais embasada no decorar que no desenvolver uma observação puramente sua, superdimensionando os tomos de seus escritos para vencer pelo cansaço seus leitores, conquistando assim respeito (leia-se medo). Aliás, nada melhor para coadunar com isto que se esconder atrás do que alguém disse: o famoso segundismo que permeia textos afora.
Vem-me agora à cabeça uma pergunta que a filósofa Márcia Tiburi fez ao ministro da educação Fernando Haddad: “com a implantação da filosofia nas escolas de ensino básico, o que se priorizará; decorar a história da filosofia ou aprender a pensar?”. É claro que a intenção de Tiburi ao fazer esta pergunta não foi depreciar o importante conhecimento da história da filosofia, e sim atentar para um grande problema vigente: a erudição por si, por mais gigante que seja, é atestado de senso crítico?
Daí, eu me lembro do que ouvi recentemente de um sábio e irônico professor: “vou ensinar-lhes a serem gênios; não leiam”, ao que eu adiciono: “não leiam, ou leiam muito e façam valer mais as palavras decoradas dos autores que as suas próprias”. Caso contrário, vira-se um ignorante torto como eu, que acharei que li pouco até o fim dos meus dias.
Atestar acriticidade no Movimento Torto é, além de na maioria das vezes leviandade de cunho pessoal, valer-se negativamente da sinceridade que até então tem deixado sucinta parte dos textos. Há neste site considerações responsáveis acerca das artes, há propostas gnoseológicas (que obvimente não vieram de achismos e que serão muito mais elaboradas com o passar do tempo), há até mesmo propostas de atitudes de reflexão aguda, por seu grande teor autocrítico, como é o caso dos textos de cunho político e sociológico.
Antes de concluir, ratifico que textos mais longos poderão e vão aparecer futuramente no Movimento Torto. Por ora, entretanto, à prolixidade repetitiva e cheia de argumentos de autoridade usada para forjar validez erudita, o Torto tem preferido tentar o caminho dos pulsares (estrelas de nêutrons): aterradoramente densos e compactos. E isto não é mera acriticidade ou rebeldia sem causa, e sim, sobretudo, sinceridade autocrítica. Que o público e a crítica nos entenda. A esta última: Sapere Aude!
terça-feira, 9 de março de 2010
Afinal a culpa é de quem mesmo?
Ao contrario dos que muitos fazem que é projetar suas criticas para o Estado, desta vez irei fazer o inverso. Este meu questionamento começou quando neste final de semana os moradores do bairro que resido fizeram uma festa (como todo final de semana ocorre nos bares do entorno) sem motivo aparente e colocaram um aparelho de som na porta da casa deles com uma potencia de um trio elétrico. Muitos dos nossos leitores sabem que isso não é uma pratica estranha em nossa cidade Aracaju, porém uma coisa me veio à cabeça, será que o estado é tão produtor assim do nosso território ou será que o câncer que assola o nosso estado também não é produto do povo?
Pois então, esse questionamento me veio em mente por conta desta cena supracitada, uma vez que vi nisto uma grande prova de inconsciência no tocante a coisas como alteridade, respeito ao próximo, senso de pacto social e etc. Vejo que não só o nosso estado é fragilizado, mas que a nossa educação não nos trás nenhuma noção daquilo que seja sociedade. Só para apimentar mais ainda esta crítica, aconteceu na véspera desse dia ao qual ninguém conseguiu assistir TV no bairro, outra festa que varou a madrugada permeada de gritos e palavrões. Com isto pergunto: os milhões de donos de “som de porta da mala” que existem na nossa cidade não sabem que em uma rua existem idosos, crianças, enfermos e acima de tudo “cidadãos”? E o pior é que se chamar a policia não irá ocorrer nada.
Isso é uma noção básica, caros leitores, que qualquer um deveria estar ciente. O que precisamos fazer urgentemente é assumir o compromisso de educar nossas crianças para não criarmos pessoas que não se aproximam nem 1% daquilo que seria um “cidadão”. É isso que estamos criando uma sociedade estranha a si mesma, com uma necessidade de catarse absurda. Com que autoridade este mesmo povo cobra do Estado uma empatia com eles, se eles são estranhos ao que o estado representa ou pelo menos deveria representar? Sabemos que uma pessoa não precisa fazer filantropia necessariamente para se mostrar preocupado com a sociedade, mas o mínimo seria respeitar o território dos outros. Com isso quem está certo? Uma casta burguesa que vem desde o tempo da aristocracia no Brasil explorando as classes inferiores economicamente ou um povo que desconhece qualquer noção do que seja a palavra alteridade? Para concluir deixo essa grande incógnita aí ressaltando que nem si quer falei dos termineis de ônibus e dos diversos serviços da nossa cidade.
Pois então, esse questionamento me veio em mente por conta desta cena supracitada, uma vez que vi nisto uma grande prova de inconsciência no tocante a coisas como alteridade, respeito ao próximo, senso de pacto social e etc. Vejo que não só o nosso estado é fragilizado, mas que a nossa educação não nos trás nenhuma noção daquilo que seja sociedade. Só para apimentar mais ainda esta crítica, aconteceu na véspera desse dia ao qual ninguém conseguiu assistir TV no bairro, outra festa que varou a madrugada permeada de gritos e palavrões. Com isto pergunto: os milhões de donos de “som de porta da mala” que existem na nossa cidade não sabem que em uma rua existem idosos, crianças, enfermos e acima de tudo “cidadãos”? E o pior é que se chamar a policia não irá ocorrer nada.
Isso é uma noção básica, caros leitores, que qualquer um deveria estar ciente. O que precisamos fazer urgentemente é assumir o compromisso de educar nossas crianças para não criarmos pessoas que não se aproximam nem 1% daquilo que seria um “cidadão”. É isso que estamos criando uma sociedade estranha a si mesma, com uma necessidade de catarse absurda. Com que autoridade este mesmo povo cobra do Estado uma empatia com eles, se eles são estranhos ao que o estado representa ou pelo menos deveria representar? Sabemos que uma pessoa não precisa fazer filantropia necessariamente para se mostrar preocupado com a sociedade, mas o mínimo seria respeitar o território dos outros. Com isso quem está certo? Uma casta burguesa que vem desde o tempo da aristocracia no Brasil explorando as classes inferiores economicamente ou um povo que desconhece qualquer noção do que seja a palavra alteridade? Para concluir deixo essa grande incógnita aí ressaltando que nem si quer falei dos termineis de ônibus e dos diversos serviços da nossa cidade.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Negando eu me afirmo; afirmando eu me nego
Para mim, o humano é um jogo de disputas e de negociações de si próprio. Quando me refiro às disputas, quero dizer que o humano se confronta a todo instante com os seus valores; quando me refiro às negociações, quero dizer que o humano também é capaz de pelo menos em alguns momentos, harmonizar-se com os seus valores. No entanto, se o humano fosse uma coisa OU outra em cada momento, eu acredito que as coisas poderiam ser mais fáceis de serem resolvidas; porém, para mim, ser humano significa transitar entre as disputas e as negociações o tempo inteiro e ao mesmo tempo.
Muitas coisas as quais condenamos, não passam muitas vezes, de uma necessidade de tamponarmos nossas “verdadeiras verdades”; muitas coisas as quais aprovamos, não passam muitas vezes, de uma necessidade de preservamos as nossas mentiras que tanto nos interessam, como forma de evitarmos nos confrontar com os nossos medos. A dinâmica do nosso jogo é essa: conflitar-se harmonicamente e harmonizar-se conflitivamente. Vivemos entre a disputa harmônica e o confronto negociador em uma brincadeirinha chamada “te empurro pra frente, te puxo pra trás; te empurro pra trás, te puxo pra frente”.
Quando a dita esquerda radical condena o Movimento Torto dizendo que ele quer confundir as coisas, tentando com isso, evitar encontrar caminhos viáveis para a sociedade, e quando a direita radical condena o Movimento Torto por dizer que ele quer bagunçar as estruturas como forma de liquidar qualquer forma de ordem social, eu posso dizer tranqüilamente que não tiro a razão de nenhum dos dois, mas também posso dizer tranqüilamente que não aceito nenhuma dessas posições.
Se por um lado aceito a visão da esquerda radical, é por que admito que, a partir do momento em que o Movimento conflita os valores ditos “Verdadeiros”, inevitavelmente ele não vai propor UM caminho para as resoluções do mundo, uma vez que ele vai se deparar com um emaranhado de olhares, não chegando a nenhuma decisão concreta; por outro lado, acredito que o fato de exercitar se aventurar por vários olhares nos leva a uma concepção menos hierárquica e menos desigual diante das diferenças, possibilitando com isso, encontrar novos caminhos, quem sabe mais viáveis, para a sociedade.
Se por um lado aceito a visão da direita radical, é por que admito que, a partir do momento em que o Movimento propõe desnaturalizar as “Verdades”, inevitavelmente ele vai provocar nas pessoas uma relação de estranhamento diante da realidade que as cerca, desestabilizando a ordem; por outro lado, acredito que, a partir do momento em que as pessoas passam a compreender a dinâmica da contradição das coisas, elas vão aceitar a necessidade da ordem, visto que, ao admitir que o humano é contradição e indefinição, elas perceberão que a ordem é importante para o entendimento de suas relações com os outros.
São por essas opiniões que prefiro ficar na centralidade móvel das coisas, termo que eu adorei e que foi usado por Reuel em seu último texto publicado no Movimento. Eu prefiro trepar com a ordem e com a crítica a essa ordem, ao mesmo tempo aceitando repulsivamente e repudiando de forma aceitável a ordem caótica e o caos ordenado. Eu quero a paz E a guerra. A guerra a todo instante, estressa, e por isso mesmo, busco a ordem. A paz a todo instante é mentira, e por isso mesmo, busco modificar o que eu não aceito.
Quero tentar conhecer tudo, sabendo que ao buscar conhecer tudo, não atingirei a verdade plena; quero sentir o nada, sabendo que ao me hospedar no vazio, deparo-me com a necessidade de encontrar novas respostas para a realidade. Quero reprovar o que eu aceito; quero aprovar o que eu nego. Negando eu me afirmo e afirmando eu me nego. Quem quiser que me entenda, também se não entender, eu posso dizer com toda a sinceridade que não estamos em caminhos tão contrários...
Muitas coisas as quais condenamos, não passam muitas vezes, de uma necessidade de tamponarmos nossas “verdadeiras verdades”; muitas coisas as quais aprovamos, não passam muitas vezes, de uma necessidade de preservamos as nossas mentiras que tanto nos interessam, como forma de evitarmos nos confrontar com os nossos medos. A dinâmica do nosso jogo é essa: conflitar-se harmonicamente e harmonizar-se conflitivamente. Vivemos entre a disputa harmônica e o confronto negociador em uma brincadeirinha chamada “te empurro pra frente, te puxo pra trás; te empurro pra trás, te puxo pra frente”.
Quando a dita esquerda radical condena o Movimento Torto dizendo que ele quer confundir as coisas, tentando com isso, evitar encontrar caminhos viáveis para a sociedade, e quando a direita radical condena o Movimento Torto por dizer que ele quer bagunçar as estruturas como forma de liquidar qualquer forma de ordem social, eu posso dizer tranqüilamente que não tiro a razão de nenhum dos dois, mas também posso dizer tranqüilamente que não aceito nenhuma dessas posições.
Se por um lado aceito a visão da esquerda radical, é por que admito que, a partir do momento em que o Movimento conflita os valores ditos “Verdadeiros”, inevitavelmente ele não vai propor UM caminho para as resoluções do mundo, uma vez que ele vai se deparar com um emaranhado de olhares, não chegando a nenhuma decisão concreta; por outro lado, acredito que o fato de exercitar se aventurar por vários olhares nos leva a uma concepção menos hierárquica e menos desigual diante das diferenças, possibilitando com isso, encontrar novos caminhos, quem sabe mais viáveis, para a sociedade.
Se por um lado aceito a visão da direita radical, é por que admito que, a partir do momento em que o Movimento propõe desnaturalizar as “Verdades”, inevitavelmente ele vai provocar nas pessoas uma relação de estranhamento diante da realidade que as cerca, desestabilizando a ordem; por outro lado, acredito que, a partir do momento em que as pessoas passam a compreender a dinâmica da contradição das coisas, elas vão aceitar a necessidade da ordem, visto que, ao admitir que o humano é contradição e indefinição, elas perceberão que a ordem é importante para o entendimento de suas relações com os outros.
São por essas opiniões que prefiro ficar na centralidade móvel das coisas, termo que eu adorei e que foi usado por Reuel em seu último texto publicado no Movimento. Eu prefiro trepar com a ordem e com a crítica a essa ordem, ao mesmo tempo aceitando repulsivamente e repudiando de forma aceitável a ordem caótica e o caos ordenado. Eu quero a paz E a guerra. A guerra a todo instante, estressa, e por isso mesmo, busco a ordem. A paz a todo instante é mentira, e por isso mesmo, busco modificar o que eu não aceito.
Quero tentar conhecer tudo, sabendo que ao buscar conhecer tudo, não atingirei a verdade plena; quero sentir o nada, sabendo que ao me hospedar no vazio, deparo-me com a necessidade de encontrar novas respostas para a realidade. Quero reprovar o que eu aceito; quero aprovar o que eu nego. Negando eu me afirmo e afirmando eu me nego. Quem quiser que me entenda, também se não entender, eu posso dizer com toda a sinceridade que não estamos em caminhos tão contrários...
quarta-feira, 3 de março de 2010
Acerca do Projeto Ficha Limpa
*Quero propor um debate aqui*
Vi, recentemente, uma discussão entre os deputados José Genoino (PT/SP) e Chico Alencar (PSOL/RJ) no programa “Brasil em Debate”, transmitido pela TV Câmara, a respeito do projeto de lei que “altera a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato”. Trata-se do projeto “Ficha Limpa”, que cuidará de aumentar o tempo de inelegibilidade de alguns futuros candidatos.
Entre as idas e vindas do debate, José Genoino, em que pese todo o seu recente histórico de que temos conhecimento, soltou uma frase no mínimo intrigante. Algo como: “não estaríamos subestimando a capacidade de discernimento dos votantes?”. É, pois, neste sentido que eu gostaria de conduzir, uma vez que escrevo para o site do Torto, esta reflexão.
Lembrei-me da volta de Collor como senador. Apesar das intenções que patrocinaram seu impedimento, a famigerada Globo não já bateu na tecla do seu envolvimento com a corrupção? Independetemente da intenção subliminar, não foi a tão criticada, por ser “aparelho ideológico”, revista Veja que publicou a denúncia de Pedro Collor? Aliás, lembro-me muito bem de que num passado próximo a imprensa insistiu na divulgação da lista dos inelegíveis.
Eu não estou defendendo os “aparelhos ideológicos”, só para ratificar, eu estou apenas propondo a reflexão: será que os cidadãos trouxeram Collor, por exemplo, de volta ao poder porque não tinham acesso à informação de que ele teria se envolvido com corrupção?
Para correr ainda menos o risco da leviandade, lembro-me de que até mesmo William Bonner anunciou em tom de crítica a volta de corruptos ao poder.
Faço novamente a pergunta: até que ponto não nos queremos colonizados?
Recolheram 1,3 milhão de assinaturas dos cidadãos. Se eles são tão críticos a este ponto, qual o sentido, portanto, do projeto? Não se chega ao poder através do voto?
Vi, recentemente, uma discussão entre os deputados José Genoino (PT/SP) e Chico Alencar (PSOL/RJ) no programa “Brasil em Debate”, transmitido pela TV Câmara, a respeito do projeto de lei que “altera a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato”. Trata-se do projeto “Ficha Limpa”, que cuidará de aumentar o tempo de inelegibilidade de alguns futuros candidatos.
Entre as idas e vindas do debate, José Genoino, em que pese todo o seu recente histórico de que temos conhecimento, soltou uma frase no mínimo intrigante. Algo como: “não estaríamos subestimando a capacidade de discernimento dos votantes?”. É, pois, neste sentido que eu gostaria de conduzir, uma vez que escrevo para o site do Torto, esta reflexão.
Lembrei-me da volta de Collor como senador. Apesar das intenções que patrocinaram seu impedimento, a famigerada Globo não já bateu na tecla do seu envolvimento com a corrupção? Independetemente da intenção subliminar, não foi a tão criticada, por ser “aparelho ideológico”, revista Veja que publicou a denúncia de Pedro Collor? Aliás, lembro-me muito bem de que num passado próximo a imprensa insistiu na divulgação da lista dos inelegíveis.
Eu não estou defendendo os “aparelhos ideológicos”, só para ratificar, eu estou apenas propondo a reflexão: será que os cidadãos trouxeram Collor, por exemplo, de volta ao poder porque não tinham acesso à informação de que ele teria se envolvido com corrupção?
Para correr ainda menos o risco da leviandade, lembro-me de que até mesmo William Bonner anunciou em tom de crítica a volta de corruptos ao poder.
Faço novamente a pergunta: até que ponto não nos queremos colonizados?
Recolheram 1,3 milhão de assinaturas dos cidadãos. Se eles são tão críticos a este ponto, qual o sentido, portanto, do projeto? Não se chega ao poder através do voto?
terça-feira, 2 de março de 2010
Endoculturação ou aculturação?
O enfoque do embate mental é a hegemonia cultural. É notório e evidente que a mídia nos dá um pacote cultural pré-fabricado a ser consumido, muitas pessoas propalam que isso seria uma forma de aculturação generalizada, ou ainda uma alienação em massa. Contudo não pretendo discutir amiúde este problema. Temos como exemplo também a aculturação possibilitada pela Igreja evangélica. Essa instituição, por exemplo, “demoniza” a cultura negra e indígena na maioria das suas ramificações, pelo fato dessa instituição acreditar que essas culturas são sinônimos de selvageria, promiscuidade, misticismo, etc. Tendo um protecionismo forte sobre sua própria produção cultural como livros, música, mídias e outras produções, a cultura dita "branca" termina sendo visivelmente determinante nessa religião. Portanto, o branco colonizador ainda pertence ao ambiente simbólico dos países colonizados como o Brasil, e o protestantismo nos mostra uma adequação a esse ethos.
Mas mesmo diante desse poder hegemônico, vemos também uma maior fluidez cultural na mídia evangélica possibilitada, paradoxalmente, pela música gospel, que como dito anteriormente, mesmo tentando impor um padrão cultural, termina por se apropriar de vários ritmos agregando fontes culturais diversas. No entanto, tudo isso cria uma cultura consumista que reforça a cultura hegemônica de consumo, uma vez que possibilita uma adequação do seu produto a diversos públicos. O axé gospel do ex-integrante do Olodum o Lázaro, por exemplo, como poderíamos imaginar isso? Primeiro que a palavra Axé é uma palavra que significa energia e vem do Iorubá, língua africana que no Brasil é falada nos terreiros de candomblé. Com isso não queremos dizer que o evangélico perdeu a sua centralidade baseada em uma cultura eurocêntrica, calvinista e etc. Apenas que vem ocorrido uma adequação da sua estética para que pessoas que provem de uma origem afro-brasileira, de jovens roqueiros, pagodeiros, regueiros e etc. Possam se adentrar também na religião. Com isso podemos notar que essa abertura é sobretudo estratégica.
Porém, podemos aproveitar esse paradoxo e tomar medidas subjetivas, tendo em vista a força do individuo de desconstruir paradigmas e reformulá-los dentro de uma subjetividade valorativa. Entendemos como individualidade subjetiva, um estado de vivência existencial interligada, mas, no entanto, de certa forma preponderante diante da individualidade objetiva, coletiva e visível. Essa individualidade subjetiva tem o poder de desconstrução da individualidade objetiva. É por esse viés que podemos sinalizar uma decorrente retomada daquilo que a cultura do cotidiano nos mostra, ou seja, uma junção das várias culturas presentes no fluido do cotidiano, sem persistirmos no discurso de encarar certos tipos de culturas como culturas marginais ou de querermos sacralizar certo tipo de manifestação e a purificar por completo, afinal o cotidiano é esse negro que dialoga com o branco e que fazem trocas inconscientes (não querendo suprimir é claro as relações de poder que existem e que foram inclusive supracitadas). A individualidade objetiva é construída a partir do entorno ou do espaço vivido, e a sua desconstrução provocada pela individualidade subjetiva causa conseqüentemente uma mudança de lócus social e do espaço vivido, assim o individuo a partir dessa desconstrução, em tese consciente ou racionalmente, irá encontrar a sua centralidade móvel.
Mas mesmo diante desse poder hegemônico, vemos também uma maior fluidez cultural na mídia evangélica possibilitada, paradoxalmente, pela música gospel, que como dito anteriormente, mesmo tentando impor um padrão cultural, termina por se apropriar de vários ritmos agregando fontes culturais diversas. No entanto, tudo isso cria uma cultura consumista que reforça a cultura hegemônica de consumo, uma vez que possibilita uma adequação do seu produto a diversos públicos. O axé gospel do ex-integrante do Olodum o Lázaro, por exemplo, como poderíamos imaginar isso? Primeiro que a palavra Axé é uma palavra que significa energia e vem do Iorubá, língua africana que no Brasil é falada nos terreiros de candomblé. Com isso não queremos dizer que o evangélico perdeu a sua centralidade baseada em uma cultura eurocêntrica, calvinista e etc. Apenas que vem ocorrido uma adequação da sua estética para que pessoas que provem de uma origem afro-brasileira, de jovens roqueiros, pagodeiros, regueiros e etc. Possam se adentrar também na religião. Com isso podemos notar que essa abertura é sobretudo estratégica.
Porém, podemos aproveitar esse paradoxo e tomar medidas subjetivas, tendo em vista a força do individuo de desconstruir paradigmas e reformulá-los dentro de uma subjetividade valorativa. Entendemos como individualidade subjetiva, um estado de vivência existencial interligada, mas, no entanto, de certa forma preponderante diante da individualidade objetiva, coletiva e visível. Essa individualidade subjetiva tem o poder de desconstrução da individualidade objetiva. É por esse viés que podemos sinalizar uma decorrente retomada daquilo que a cultura do cotidiano nos mostra, ou seja, uma junção das várias culturas presentes no fluido do cotidiano, sem persistirmos no discurso de encarar certos tipos de culturas como culturas marginais ou de querermos sacralizar certo tipo de manifestação e a purificar por completo, afinal o cotidiano é esse negro que dialoga com o branco e que fazem trocas inconscientes (não querendo suprimir é claro as relações de poder que existem e que foram inclusive supracitadas). A individualidade objetiva é construída a partir do entorno ou do espaço vivido, e a sua desconstrução provocada pela individualidade subjetiva causa conseqüentemente uma mudança de lócus social e do espaço vivido, assim o individuo a partir dessa desconstrução, em tese consciente ou racionalmente, irá encontrar a sua centralidade móvel.
segunda-feira, 1 de março de 2010
A perspectiva estética do Rei Bosta
Depois de ter escrito alguns textos sobre a conceitualização do torto e sobre os objetivos do Movimento, assim como sobre a relação do torto com a sociedade e com a diversidade, resolvi postar essa semana um texto sobre a perspectiva do torto em relação ao foco estético, o qual resolvi chamar de Rei Bosta. O olhar estético pensado pelo torto, pelo menos como penso, transita, assim como todo o fluxo que percebo no Movimento, entre as relações tensas e harmônicas manifestadas pelo desejo e pela lei.
Ao mesmo tempo em que o olhar estético manifesta sentimentos que provocam rupturas nas limitações construídas pelo indivíduo, fazendo-o por um momento, sentir-se dono exclusivamente de seus desejos e liberto das convenções; a possibilidade de dar sentido a essa ruptura, decorre da inevitabilidade da existência da lei, ou seja, das limitações e das nomeações criadas por ela para dar sentido à realidade. Portanto, mesmo conseguindo por um instante se libertar, essa liberdade, ou seja, esse prazer, novamente volta a ser aprisionado pelos limites impostos pela lei.
A lei e o desejo, ao mesmo tempo em que operam as suas funções de forma diferenciada, mesclam-se de tal forma que, ao mesmo tempo em que se conflitam, negociam-se. A lei e o desejo são amigos em guerrilhas e inimigos em missões de paz. O que existe é um intermédio que transita entre a lei e o desejo, e é surgindo desse elo que se revela obscuramente o Rei Bosta.
Por que uma revelação obscura? Por que revelação quer dizer toda a capacidade do sujeito conseguir se emancipar por se superar dos seus problemas através de sua experiência estética; e obscura por que esse mesmo indivíduo, por ter a lei limitando e coexistindo com seus desejos, impossibilita-o de atingir a sua total emancipação. Por que Rei Bosta? Porque o Rei se sente dono absoluto do Império de seu prazer; e Bosta por que o indivíduo tende a se frustrar ao perceber que não consegue atingir o ápice da sensação desse prazer devido à lei.
Enfim, o Rei Bosta é um milionário pedindo esmola, e um esmole se gabando por seu excesso de fortuna. É por isso que o Rei Bosta, segundo a perspectiva do olhar torto pensada por mim, ganha o mundo perdendo-o e perde esse mundo ganhando-o. Ganha por ser capaz de se sentir esplêndido, mas a frustração em não atingir o ápice do prazer pleno, faz com que ele sinta sua decadência através de sua frustração; mas por não suportar conviver a todo instante com sua frustração, ele se supera buscando outra vez atingir seu Ideal, sentindo sua grandiosidade e o seu prazer novamente.
O Rei Bosta, portanto, encontra sentidos ao seu desejo por se ver submetido às limitações e classificações dadas pelas leis; mas não encontra respostas suficientemente esclarecedoras para os seus desejos, pelo fato de seus sentidos não passarem de meras fantasias construídas e limitadas por essas leis. O Rei Bosta vive entre um real aparentemente objetivo e dotado de sentidos, mas ao mesmo tempo, vive em uma carência de sentidos devido à subjetividade criada diante desse real.
Ao mesmo tempo em que o olhar estético manifesta sentimentos que provocam rupturas nas limitações construídas pelo indivíduo, fazendo-o por um momento, sentir-se dono exclusivamente de seus desejos e liberto das convenções; a possibilidade de dar sentido a essa ruptura, decorre da inevitabilidade da existência da lei, ou seja, das limitações e das nomeações criadas por ela para dar sentido à realidade. Portanto, mesmo conseguindo por um instante se libertar, essa liberdade, ou seja, esse prazer, novamente volta a ser aprisionado pelos limites impostos pela lei.
A lei e o desejo, ao mesmo tempo em que operam as suas funções de forma diferenciada, mesclam-se de tal forma que, ao mesmo tempo em que se conflitam, negociam-se. A lei e o desejo são amigos em guerrilhas e inimigos em missões de paz. O que existe é um intermédio que transita entre a lei e o desejo, e é surgindo desse elo que se revela obscuramente o Rei Bosta.
Por que uma revelação obscura? Por que revelação quer dizer toda a capacidade do sujeito conseguir se emancipar por se superar dos seus problemas através de sua experiência estética; e obscura por que esse mesmo indivíduo, por ter a lei limitando e coexistindo com seus desejos, impossibilita-o de atingir a sua total emancipação. Por que Rei Bosta? Porque o Rei se sente dono absoluto do Império de seu prazer; e Bosta por que o indivíduo tende a se frustrar ao perceber que não consegue atingir o ápice da sensação desse prazer devido à lei.
Enfim, o Rei Bosta é um milionário pedindo esmola, e um esmole se gabando por seu excesso de fortuna. É por isso que o Rei Bosta, segundo a perspectiva do olhar torto pensada por mim, ganha o mundo perdendo-o e perde esse mundo ganhando-o. Ganha por ser capaz de se sentir esplêndido, mas a frustração em não atingir o ápice do prazer pleno, faz com que ele sinta sua decadência através de sua frustração; mas por não suportar conviver a todo instante com sua frustração, ele se supera buscando outra vez atingir seu Ideal, sentindo sua grandiosidade e o seu prazer novamente.
O Rei Bosta, portanto, encontra sentidos ao seu desejo por se ver submetido às limitações e classificações dadas pelas leis; mas não encontra respostas suficientemente esclarecedoras para os seus desejos, pelo fato de seus sentidos não passarem de meras fantasias construídas e limitadas por essas leis. O Rei Bosta vive entre um real aparentemente objetivo e dotado de sentidos, mas ao mesmo tempo, vive em uma carência de sentidos devido à subjetividade criada diante desse real.
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