segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sobre o torto empenado

Antes que venham a fazer uma interpretação apressada do meu texto, julgando-o como uma tentativa de impor um padrão para o que seja torto, pela bilionésima vez eu digo que minha concepção do torto, obviamente está diretamente relacionada à forma como eu considero o torto. Sei que os membros do Movimento, assim como os leitores, farão suas próprias leituras sobre o torto empenado, aceitando ou negando minha concepção.

Existem indivíduos que eu chamo de tortos empenados por separarem determinadas realidades de forma opositiva como bem ou mal, fé ou razão, etc. Digo tortos porque buscam desnaturalizar as verdades legitimadas, mas chamo empenados por “desnaturalizarem” essas verdades, naturalizando por outro lado, novas “Verdades” e novos dogmas, negando enxergar a realidade como um fluxo, criando assim, novas classificações no lugar de outras.

Para o torto, o fato de se contradizer, não é entendido como algo condenável, pois ele não encara como absurdo o fato de vivenciar a realidade de algo que ele condena, assim como de negar vivenciar a realidade de algo que ele aprova. Para o torto, não necessariamente o que é determinado como certo ou errado, é de fato, certo ou errado. O torto tenta avaliar os prós e contras de todos os lados, transitando entre eles.

No torto empenado, a contradição é segregadora e estática, por ela não conceber a relativização, nem o dinamismo das coisas. A contradição do empenado, por não buscar questionar os pontos de vista que não condizem com suas expectativas, nega-se a transitar entre a diversidade de opiniões. A contradição do empenado não é uma contradição viva que se move por se afirmar e se negar; é uma contradição que se anula nela própria.

O torto tem consciência de que, a sua verdade, mesmo sendo justificável para ele, não passa de uma busca de encontrar um sentido para a realidade, por saber que ele não passa de um ser incompleto de si mesmo, incompleto assim como qualquer outro. Para o torto, todos os pontos de vista, mesmo com toda argumentação que tenham, não conseguem encontrar a verdade plena, uma vez que os pontos de vista são humanos, e, portanto, falhos.

Já o torto empenado, assume uma postura partidarista, aceitando um lado e excluindo o outro, sendo incapaz de perceber que a sua verdade é tão refutável quanto à do outro. O empenado tende a se fechar em seu egoísmo ideológico de tal forma que não percebe que, assim como o outro, a sua verdade é requestionada a todo instante. Diferente do torto, o empenado tende a acreditar que seu discurso traz a única verdade capaz de responder pelos problemas encontrados na realidade.

O torto vai se entortando em um constante movimento, tentando transitar entre todos os lados, admitindo que ele é tão faltoso de si mesmo, como o outro também o é, reconhecendo, portanto, que todos os lados possuem suas qualidades, assim como seus defeitos. Já o torto empenado, por se empenar, entorta e fica parado, assumindo posturas partidaristas, legitimando apenas um único ponto de vista como “Verdadeiro”.

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