quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O concreto (por Roosevelt Leite)

Quando entramos para a academia somos contaminados com discursos que, infelizmente, em outros cantos, já se foram, coitados de nós todos! O positivismo ainda é um vírus que contamina nossa mente e nos faz acreditar que só existe uma única forma de fazer ciências ou filosofia, e que a apreensão do real só se faz via razão cartesiana, kantiana, popperiana, etc. Não sou doutor em epistemologia, contudo, me atrevo a dizer que sua história é uma história de tentativas, de receitas, de fórmulas, de caminhos, de vitórias, e perdas, erros e acertos. O homem se relaciona com a realidade por meio de uma malha simbólica, o que nos faz sempre espectadores do passado e do não – sentido, como dizia o grande Lacan: O real é o não-sentido, pois damos sentidos a tudo, e quando nos deparamos com algo que num dado momento é real, o despojamos de todo sentido para obtermos o não-sentido, ou o sentido apreendido naquele momento. A relação simbólica que temos com o mundo fora e dentro de nós é feita por meio de códigos que necessitam de outros signos para serem entendidos por nossa máquina mental. Pensando assim, procurar o concreto, é continuar dormindo pensando estar acordado e sem perceber que sua atividade onírica está ali em sua ilusão de uma realidade concreta totalmente objetiva. Isso também é signo, é mera abstração nossa! É enfado! Mas nem por isso vamos parar por aqui. Pois o que move o homem é essa tensão entre o sentido e o não-sentido, entre o construir e o desconstruir, entre a ignorância e o saber. Nós somos, como dizia o velho Modin, um ser auto-transcendente. Superamos a nós mesmos, sempre buscamos algo e nunca o obtemos, pois sempre estamos amando e odiando, pois sempre somos humanos. A negação que faço do mundo é necessária. Afirmar e negar aqui é preciso, sem isso, o mundo continuaria sempre escondido de minha razão. Eu sei que estou diante de um computador, tenho certeza disso. Mas também sei que o que vejo diante de meus olhos é uma ilusão de meus sentidos imperfeitos. A imagem real do computador não é inteiramente igual ao que eu vejo com meus olhos. Os sentidos enganam assim como as verdades concretas e matemáticas enganam. Fazer ciência, o que nunca fiz, é re-simbolizar o dito com um não-dito até então, ou seja, até que o que eu disse seja inevitavelmente consumido por outro dito. E aí a malha continua rumo ao infinito de símbolos e ilusões, o que chamamos na atualidade de ciência ou filosofia. Até um mal dito conta nessa imensa rede simbólica que dialoga com o que chamamos por convenção de presente e passado. Tudo conta, meus caros! Nada se perde. É aqui onde entra o torto. Ele nunca termina o que tem a dizer, pois sua conclusão sempre deixa algo para depois, para fora de hora, para a rua, e sai de sua sala, ou cospe no Macdonald sabendo que adora seu hambúrguer. E daí se creio Nele? Sou limpinho...


(Roosevelt Leite)

5 comentários:

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  2. Um chute nos "cunhão" do exatismo acadêmico! De seu fenomenologismo covarde! Bravo!

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  3. Putz, esse texto realmente foi fantástico! Essa relação do dito e do não-dito, do sentido e do não-sentido, foi esclarecedora demais para o entendimento do que seja torto. Bom, pelo menos como EU concebo o torto (para evitar qualquer leitura que ache que eu estou querendo impor um torto para todos).
    Como eu tenho dito pelas ruas, esquinas e botecos da vida, temos que começar a avaliar a relação das coisas por um prisma horizontalizado, e não hierarquizado com graus de melhor ou de pior.
    O que eu quero dizer com isso? Ao invés de buscarmos encontrar a Verdade de forma classificatória, separando as coisas como certas OU erradas; deveríamos analisá-las como motivações interacionais provocada por agentes, que, se ao mesmo tempo se agregam entre si, por outro lado, entram em conflitos.
    Enfim, devemos pensar o jogo da verdade nesse fluxo que faz/refaz incessantemente. Pensando dessa forma, acredito que perceberemos que mesmo achando que nossa postura seja a mais segura, no final das contas, essa nossa postura não passa de uma mera necessidade da fraqueza humana de querer se acomodar da tempestade da natureza imprevisível da vida.
    Pensando dessa forma, teríamos como impor qualquer concreto? Como bem expos o Edizero em sua música "Alquimia": ... "e o concreto, seria quem sabe então, uma miragem no deserto da percepção"
    abraços

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  4. Com certeza meu caro Vina, que frase legal do Ed... Creio que esse faz/refaz que vc fala nos ajuda a agregar mais informação ao nosso arcabouço de ideias, contribui mais do que uma simples ojeriza daquilo que negamos (por mais que não concordemos). O negocio é escrever e deglutir ideias, absorver... afinal quem sabe não tenhamos que retirar o "concreto" (que não provém da unicidade da fé, por isso como o ed fala é uma miragem) daquela ideia empuerada que jogamos fora? Ou não... kkkk (REUEL)

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  5. A melhor parte do filme de TortoVina foi o Beijo q ele mandou no fim. kkkkkkkk.

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