quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Acerca da campanha “Ler também é um exercício” da Rede Globo

Por volta de 2003 ou 2004, perdoem-me a imprecisão da data, a Rede Globo desenvolveu uma campanha de incentivo à leitura, chamada “Ler também é um exercício”.

Antes que me crucifiquem os que enxergam “Além do Cidadão Kane”, não pretendo, com a discussão que tentarei suscitar adiante, inocentar a rede de televisão de todo o sensacionalismo declarado, dos conluios criminosos e outros atributos tão familiares a várias multinacionais mundo afora. É importante, entretanto, contribuir com um debate que, inevitavelmente, será mais explorado ainda neste blog em outros aspectos também culturais; até que ponto nós nos queremos colonizados também?

Antes de começar a redigir este texto procurei vastamente na internet posições variadas, sobretudo de blogs independentes, em relação à campanha. Houve muito reconhecimento pleno, e, claro, o reconhecimento com poréns, aqui houve, inclusive, leviandade das famosas patrulhas das conspirações. Argumentos do tipo “Essa frase não ajuda muito para incentivar a leitura, pois ela passa a idéia que a leitura é algo difícil e desgastante, que deve ser feita, mas não é agradavel” são prova de leviandade, dado que a leitura tem grande característica de exercício físico, uma vez que reserva o aspecto progressivo do costume do ato e traz possibilidades cientificamente comprovadas de uma dignidade no envelhecimento cerebral. Fora que, no contexto em que era disseminada a iniciativa, a frase é totalmente aceitável.

Minha observação, pois, é bem menos cruel em relação à alusão que o título da campanha faz. Lembro-me de ver, como parte da campanha, no famoso "show do intervalo", a Globo exibir cenas em que jogadores de futebol liam trechos de livros e falavam sobre a importância da leitura. Parafraseando Lobão, podemos afirmar que no "país da fofoca" jogador de futebol pode ser formador de opinião (independentemente dos aspectos bons ou ruins desta assertiva). Portanto, até que ponto não deveríamos ver, neste e naquele momento, nossos jovens sonhadores fornindo o conteúdo dos ônibus, das favelas, das coberturas luxuosas e etc de livros abertos?

Não subjugo o poder do colonizador, mas me sinto obrigado a questionar até que ponto o colonizado contribui com a sua colonização, reconhecendo, lógico, que apesar de não ter muito de inédito o meu questionamento, o problema mora em ele ter que reaparecer.

Até que ponto a Rede Globo, em que pese todo seu poder maléfico, sugerindo uma grande vacina ao seu poder zumbificador não estaria investindo uma atitude de confiança numa certa necessidade de ser dominado em seus telespectadores? Um teste? Alea jacta est...

11 comentários:

  1. Com o perdão da palavra, mas esse tipo de texto só firma a posição mumificada da nossa crítica. Coaduno de sua posição ao olhar de soslaio as intenções da globo - que não intencionam nada senão a validação de sua própria imagem, tal qual uma religião muito rica que sente a necessidade de sempre estar adequando o seu império ao tempo presente, com a tautologia dos holofotes que repetem sempre o mesmo verbo.

    Eu acho interessente contudo é a posição do público formador de opinião, pois estes me fazem pensar, a cada dia com forças redobradas, que o tempo pregresso na veradade não passou, e o que há é só o processo natural de morte nossos corpos, restando - fazendo uma sincronia com as idéias do Roosevelt - sempre as sombras de nossas consciencias, que não morrem.

    Ora, certa vez ouvi Vina me criticar por defender uma posição que, segundo ele, evidencia vários traços Iluministas. Sendo assim, vos pergunto: o que há de mais coerente senão iluminarmos o nosso pensamento para que a ordem que, desde sempre, tem sido prescrevida por uma burguesia suja e que compromete as liberdades, corroborando com o rompimento de uma possível mudança nos trejeitos ordinários da sociedade, levando ao jazigo de suas moléstias as pretensões dos que sonham com coisas boas, venha a calhar? Se a Globo é assim é porque os mandriões, donos do mundo por excelencia, querem. A única coisa de importancia que a burguesia faz é sempre dar um passo adiante para que ela possa se perpetuar no poder, fazendo ecoar já há mais de séculos uma ordem que merece a nossa saliva que não negligencia nada. Pois a burguesia é discarada, de tempos em tempos muda a sua forma de atuação, procura novas formas de subir no lombo da massa e, com a desenvoltura dos chavões filosóficos e axiomas políticos, se escondem sortunas nas esquinas onde dormem as chances de ascensão e mudanção para os pobres.

    JP

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  2. Meu caro João: Este discurso de burguesia e iluminismo como algo que ilumina já é ido. O colega anda um pouco atrasado no pensamento. Estamos na pós-modernidade. Estamos no projeto de mente multidisciplinar. Não se concebe mais uma explicação do mundo com base nos postulados iluministas, embora, muitos ainda insistam em fazer isso.

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  3. Desculpe-me, meu caro Roosevelt, esqueci-me que é importante se falar sobre o incosnciente do pensamento da massa que padece nas filas dos hospitais, subjugada ao trato descompromissado da política enferma, fomentada, não sem aviso, por nossos burgueses kardecistas que, desamparados pelo torvelinho de suas consciencias pesadas, recorrem ao divã da psicanálise para aprenderem a lidar com o pandemonio que eles mesmos criam.

    João Paulo

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  4. Mais uma vez meu caro João comete um impropério: "Fala sobre o que não faz a menor idéia". Meu caro a generalização de sua pessoa apenas invalida suas posições porque demonstra uma parcialidade. Você ainda não entendeu que para analisar determinados objetos é necessário que se prive de seus preconceitos. Você coloca tudo num balaio de gato. Entendo, é a falta do que falar. Chamastes os Kardecistas de burgueses, o que há de mal em ser burguês na sociedade atual? Será que o ser burguês hoje é o mesmo que o ser na época de Karl Marx? Já superamos essa fase da revolução industrial, e acredito que se seu mestre estivesse no mundo de hoje ele repensaria muitas de suas teorias sobre a relação homem/mundo. Você precisa atualizar suas referências bibliográficas, elas estão um tanto atrasadas. Até que entendo seu negativismo, isso faz parte de nossa relação com a realidade sempre contraditória, porém, isso não precisa extender-se ao extremo. Não estamos mais cogitando sobre a exploração de 18 horas trabalhadas, e mais valia. O pensamento complexo tende a unir a crítica das ciências humanas à razão da ciências, ditas como exatas. O que urge hoje em termos de escola e educação é o diálogo entre os diversos saberes. No que se refere ao humano, sempre estamos aprendendo. Não existem postulados válidos eternamente. O pensar é um fluxo contínuo, uma tensão constante entre o saber e o ignorar. O amigo coloca a dialética Marxista do século XIX como a última resposta filosófica sobre epistemologia. Leia Popper!

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  5. O amigo precisa avaliar sua colocações, pare um pouco e reflita sobre o seu texto criticando a mim e o torto Josué: "da massa que padece nas filas dos hospitais, subjugada ao trato descompromissado da política enferma, fomentada, não sem aviso, por nossos burgueses kardecistas..." O amigo chamou todo um seguimento da sociedade de burgueses kardecistas, e os culpou pelo desconforto que há em nossa sociedade. O amigo quis dizer que a dívida social que o Brasil tem é devido aos religiosos, inclusive os Kardecistas. Sua explicação para os problemas brasileiros se resume a esta proposta argumentativa? Será que você mesmo acredita em tamanho impropério? Qualquer aluno de nível médio que estudou seriamente sabe que os problemas brasileiros se explicam tanto nas razões endogênas como exôgenas de nossa gêneses enquanto nação. Não se explica o Brasil com tanta facilidade como o colega propõe. Fazendo assim, o amigo se contradiz, pois defende o pensamento histórico materialista de Marx, ou será que amigo ainda não o entendeu? Por isso, proponho o amigo que antes de ofender todo um grupo religioso, busque de coração livrar-se das amarras de seus preconceitos e seja um torto, dialogue com tudo, buscando em tudo uma contradição. O que o colega tem feito é apresentar verdades prontas, isso é empenação.

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  6. Qual o fato empírico que o amigo possui para dizer em rede mundial que os religiosos possuem: "desamparados pelo torvelinho de suas consciencias pesadas". Será que todo religioso tem a consciência pesada? Será que o não religioso não a tem? E qual a prova material que o amigo apresenta para justificar o que diz? O fato de ser um religioso, que segundo seus textos é um desprovido de cérebro, significa ter problemas de consciência? Eu por enquanto pergunto: A luz da filosofia psicanalítica quem não é neurótico? Quem não tem problema na consciência? ou melhor no inconsciente? Estudar a religião para falar sobre ela é um caminho que pode em muito aliviar certas consciências empenadas.

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  7. "tem sido prescrevida por uma burguesia suja e que compromete as liberdades, corroborando com o rompimento de uma possível mudança nos trejeitos ordinários da sociedade, levando ao jazigo de suas moléstias as pretensões dos que sonham com coisas boas, venha a calhar?" Solicito ao colega que releia este texto de sua autoria. Você chamou a burguesia de suja. Isso me faz lembrar a militância dos anos 80 quando eu estava no seminário teológico. Todos estavam feverndo com o marxismo teológico de Leonardo Boff, "A teologia da libertação". Boff pregava uma releitura doas escrituas, uma releitura pela lente Marxista. Toda teologia que se preza se apoia em uma filosofia. Teologia nada mais é do que uma leitura da escritura pelo olhar de uma filosofia. Mas o que me chama a atenção é: O discurso do amigo ainda divide a sociedade em classes como se cada classe esteivesse presa a um nincho próprio. Hoje a gente entende que a sociedade é bem mais complexa qdo que essa visão Marxista. O que é ser burguês para o amigo? Eu o classifico como pequeno burguês. estuda em uma universidade de burgueses, aprende com os textos de burgueses. Eu fico a pensar o que seria da filosofia se não houvesse burgueses no mundo. As classes sociais são tão distintas e tão imbricadas na atualidade que posso dizer que o indivíduo pode morar debaixo da ponte e não ter nada para comer e ser um burgu~es de coração. salve o torto. Pense nisso!

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  8. Eu queria que voce me esclarecesse alguns pontos: em qual parte dos meus comentários eu cito o marxismo? Marx foi o primeiro a falar sobre burguesia? Eu acho interessante que o burgues de Rousseau é parecido com o burgues de Marx, assim como também é parecido com o homem em estado de natureza de Hobbes, sendo este muito parecido com os homens do meu tempo. Cabe uma leitura de Eco, assim evitamos a superinterpretação. Deixemos política e teologia de lado. Mais: Hanna Arendt é um bom conselho, A condição humana; veja as diferenças entre política e caridade cristã. Quanto ao fato da complexidade da sociedade, não descarto os seus argumentos e em nenhum momento falo que ela seja tão simples quanto esboçara Marx. Mesmo submetidos a um poder comum, estamos dispostos num descampado onde todos se encontram sensitivamente, ou seja, a aflição que sinto um burgues também sente, pois, assim como eu, ele também é humano. No entanto, não podemos descartar a recorrencia e as condições sob as quais isso acontece. É muito mais fácil se entristecer estando abrigado debaixo de uma ponte que dormindo sob lençóis quentes e afáveis, tendo a certeza de que não faltarão comida nem afeto. Aí voce pode me dizer: ah, mas se eles chegarem onde estamos também farão o mesmo. Posto isso, eu lhe refuto: mas quando a burguesia deu um bom exemplo? A política do Leviatã fomentada por Hobbes e do poder divino dos reis ajudaram muito para que hoje sejamos assim. A igreja é uma mácula na nossa história, só de pensar nela me recresce uma vertigem misturada a uma raiva imensurável.

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  9. Maldito,

    Já que você se posiciona de forma dicotômica em muitos de seus comentários, eu não vou me preocupar em utilizar uma opinião simplista sobre o que eu entendo sobre suas posturas tão irritadas, uma vez que eu acho que, quem assume opiniões muitas vezes encarando apneas um lado da moeda, obviamente que não vai se incomodar com o discursos apresentando apenas um lado da moeda do outro.

    Pois bem: pelo que eu entendi, simplesmente você associa a nocividade da globo, por você vê-la como associada aos comandos da burguesia. No MSN, você, como forma de tentar sustentar um discurso que sabe que é incapaz de sustentar, veio utilizando argumentos reducionistas me chamado de burguês.

    O que eu posso dizer é o seguinte: não digo que a burguesia é santa, porém,o que eu faço é requestionar sobre o porquê, mesmo a burguesia sendo criticada, ela ainda se mantem enquanto classe prestigiada.

    Eu não busco perpetuar um discurso pobre que se limita a entender a relação de forma maniqueista como opressor x oprimido; prefiro optar por uma ótica mais complexa, observando as negociações estabelecidas entre os agentes para entender o porquê que uma globo da vida, mesmo sendo o monstro que você e muitos dizem que é, ainda se sustenta, e ainda é consumida pelo coitado do povinho tão abraçado pelos discursos bons samaritanos dos militantes. Realmente reduzir uma relação emissor-receptor em uma perspectiva de culpados OU inocentes, para mim é muito vazio e futil.

    Outra coisa: dizer que a burguesia não fez nada de bom? Sinceramente, eu acho que a sua raiva não condiz com suas práticas cotidianas. Logo você que escuta tanto um Tom Jobim da vida! Deixe de ouvir tom jobim, pois isso ai é o retrato mais fiél de uma burguesia carioca, ou admita que, mesmo criticando a burguesia, você não deixa de consumir o que foi feito por ela. Ta vendo como ela fez algo de bom pra vc tb? e OLha que esse é apenas um exemplo! Se eu fosse elencar mais exemplos, eu teria que lançar um livro só desse comentário

    Pra finalizar, a sua visão critica em relação a psicanalise associada à burguesia, não só foi muito pequena, como demonstrou que você ainda tem a capacidade de apenas reproduzir clichês sem qualquer espécie de fundamento. Desculpe-me, mas o que eu acho é que muitas dessas suas críticas se voltam mais por suas frustrações de classe, do que por argumentos sustentáveis.

    bjs do burguês

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