terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Amar o destino

"O amor está aí para quem quiser amar"
Com grandiosa desatenção nos incubimos de pensar uma sociedade, sempre apegados a pretensão sonhada de que tudo pode ser melhor e de que devemos reclamar por isso. Tão sonhadas chegam a ser as nossas vidas que pressupomos haver, por detrás das instituições, a finalidade que pleiteamos confortavelmente para o nosso bem estar, tendo tudo que se há no mundo de circunscrever, por obrigação, a rota dos nossos imponentes egos, sendo que essa finalidade nada mais é que o estarrecimento do nosso tato de realidade, como se devêssemos sempre ser amparados por algo que nunca nos amparará e, assim, com as nossas faculdades acadêmicas, que promovem em nós a risível cara emburrada e séria da crítica, dissonantes àquilo que nós mesmos fomos educados a ser – pois educação não é só escola e se pesa mais a sedimentação das bases nas quais estamos erigidos, em outras palavras, a família –, damos cabo de levar a um grau sempre mais elevado as necessidades que não temos, facultando mais importância a se viver a metalinguagem de tudo que pensamos ser do que se estar na vida somente por estar.

Depõe-se sobre o outro as expectativas daquilo que desejamos para nós, assim como fazem os nossos pais quando nos jogam por cima das costas uma infinidade de responsabilidades que não existem, como também se refletem nas burocracias impostas para que se perpetuem as amizades tão sinceras, e se frustra e se vive integralmente por isso, pela necessidade boba de se dizer, quando em idade próxima a da morte, que se deveu à labuta constante e ao esforço sem fim tudo que fora construído apenas em virtude de uma velhice menos caduca, onde, desamparados pela nulidade da nossa idade avançada e enferma, se tem uma enfermeira respeitosa para nos levar um penico à cama e nos passar sobre as gofadas que deixamos escorrer pelos lábios um pano limpo, tal qual um bebê pequeno e levado, bondosa e mercantilmente resguardado pelo amor efêmero dos seus pais.

Chega a ser jocoso estar na vida, pois as probabilidades de sermos o que se calcula, estando fora das nossas cogitações as fadas e os sonhos, são muito grandes, quando passamos evidentemente a olhá-las, às nossas vidas, não com a importância que sempre remetemos à elas, mas quando as olhamos como algo mesquinho e que procrastina, malogrando a lucidez, a bestialidade. Um passo a mais é como se deixar parado e não pensar que esse passo é só um passo a mais; nada resiste a brutalidade do tempo senão ele mesmo, que, da pequena janela onde se tem a visão de toda a cela da existência, assiste com risada escarnada ao definhamento dos nossos corpos na asfixia dos pensamentos longos e da labuta séria.

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