terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Defloração Torta 2

Antes de suscitar os pensamentos mais profundos, devo prefaciá-lo com a admissão simples de que ele é produto da mais débil fraqueza. Se assim não fosse, ele não estaria sendo redigido como quem põe o coração pelas narinas em horário tão importuno, que é a alta hora onde o mundo se silencia pois é madrugada. Tenho pensado se é pior morrer de fome não tendo noção de que viver é um tédio, ou morrer de tédio pensando que, além de tudo, há a fome e outras tantas virilidades que fazem da terra este paraíso tão masturbado pelos cristãos, como se se tratasse de um prédio alto que fosse construído numa avenida privilegiada onde, com a vista, se alcançasse ao mesmo tempo todas as belezas das sete maravilhas do mundo. Não me dou à obrigação de ir mais além do terreno não tão raso que implica esta indagação, uma vez que pensar, além de cansar, é sem limites, não concretiza nada, e só nos traz a frustração de saber que fechamos uma questão para abrirmos outras vinte. Por isso, porquanto, prefiro viver de perguntas, como um asno que, por ter sido colocado dentro de uma casa com o seu monte de feno de modo que o sono pudesse ser leve, se perguntasse, por não ver as taipas do curral, onde pode dormir sem impacientar aos seus donos. Quem exige respostas, submete a sua vida ao desconforto do achar que sabe não sabendo de nada, circunscrevendo a sua pouca felicidade que desconhece o mundo em carne-viva a que nos trouxe a filosofia, com o lápis escuro das dúvidas nunca ausentes. A educação, creio, seria melhor se nos fossem ensinados os passos de como tornar os nossos cérebros em organismos nulos, atrofiados devido ao uso excessivo dos mecanismos que nos foram dados pela natureza como se fossem dados a quem tivesse traído Medeia; decerto que seriamos menos infelizes, olharíamos o céu não como um poeta doente que precisasse tirar das nuvens a música de suas poesias, mas como um céu tão certo quanto certeza de que dentro de nossas bocas há dentes e de que os religiosos são seres idiotas por serem religiosos e não descrentes. Durante anos longos depus confiança em deus mas, para minha sorte inglória, tive de abandoná-lo como se fizesse da recíproca verdadeira a única lei que pudesse conjurar a nossa relação, tendo eu como servo idiota a dar-lhe lágrimas e orações sem fim, objetando, mais a frente, uma redenção promíscua, por ser tão poeirenta ante a necessidade científica que tenho pelo tátil, algo que é próprio ao homem; e ele, o grande pai, objeto sexualizado pelas massas, saudado e prodigalizado todas as noites na hora em que se reza, o anti-herói, que vendo-se além do bem e do mal pôs, por vontade opulenta do seu ser atroz, erva daninha como um legume da salada para que nos deleitássemos com tal paladar mortífero. Pensar em deus me frustra, pois, apesar de ser tão distante a realidade que nos é imposta pelo império cristão desde o nosso leito de nascença, é um fator que serve de divisa nas nossas vidas, a ética que nos enclausura nas ponderações daquilo que se é esperado de mim o que de mim mesmos nunca esperei. Viver me cansa tanto quanto ter de ouvir as lamúrias de uma jovem moça que, por ter sido largada pelo seu belo amante, maldiz a sorte do pobre por não ter agüentado os impropérios de sua prolixidade e redundância excessivas. Viver me cansa, porque não tem motivos, poderíamos estar mortos e descansados, mas, não, há causas e efeitos a mensurar os fatos com uma régua imprecisa, com a geometria equivocada do conhecimento. Acabo assim, nesse parágrafo mesmo, como se tratasse de uma idéia que tivesse sido excretada em forma de bloco pela mente: concreta, como uma corrente rija que não pudesse ser transmutada e, ao mesmo tempo, absorvente, como buchas com as quais se lavam pratos, afinal, isso somos nós: ortodoxos e abelhudos. E morrer, somente, não basta; é preciso a morte e a vida ao mesmo tempo.

16 comentários:

  1. O autor deixou traços claros de uma epistemologia positivista, aquela que só admite real, o concreto, como se o que parece concreto fosse concreto necessariamente. O concreto na visão complexa do pensamento só pode ser explicado por caminhos vários e isso permite a religião dialogar com a sociedade esclarecida. Religião, hoje, não pode ser confudida com o animismo de tempos primitivos. Nem Freud encerra toda a reflexão sobre esse fenômeno. Nem se pode desconsiderar o somatório das subjetividades que o experimentam e ganham outros sentidos existenciais e melhoram como pessoas passando a viver uma vida, embora puritana, mais feliz. A arrogância materialista cega-lhe os olhos para valorizar o ético e estético, o moral e o psiquico como entidades que se completam no mesmo discurso. Fazer ciência, de certa forma, é o mesmo que fazer metafísica. É uma tentativa como outra qualquer, uma criação nossa e necessária. O autor confunde Deus e religião e cria uma única natureza para duas coisas diferentes. Deus é um objeto, a religião outro. criticar a Igreja ou o Cristianismo é uma coisa, negar a existência de Deus é outra. Assim como há alguém que chora e nunca ser atendido existem milhôes que não se envergonham de confessar que encontraram Deus de forma viva e atuante. E agora, quem tem a razão? Estamos falando de subjetivismo. Quem precisa provar que Deus não existe é o ateu. O onus da prova é dele. Deus, como sempre digo, tirou férias, não está nem aí para sua lágrima, esta, é teu problema. Contudo, se olhares para o estudo sério da dimensão humana chamada de religião, existe um longo caminho a percorrer e muita coisa para há de ser dita. Salve o torto.

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  2. Primeiro: esse comentário diz respeito a que texto?

    Segundo: que garantia me dá a certeza de que a realidade não é tão concreta quanto penso? Por acaso, quando invoco algum espírito ou consigo falar com alguém que já morreu, estarei livre da doença e da morte e de todas as fatalidades da vida?

    Terceiro: se o ónus da prova é de deus, qual a finalidade de se estudar teologia?

    João Maldito

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  3. Que merda argumentos simplistas pra caralho...Meu jovem vc deveria estudar mais sobre o fenômeno animico na historia, entenda que Deus é um conceito que varia para cada experiencia daquilo q seria ele, a natureza já nos impelio a sua dialetica (dor e prazer, morte e vida), acho q nenhuma religião vai te dar a chave de um super-homem sem chagas e sem maculas (por mais que isso esteja implicito na teologia de algumas). Replica totalmente idiota kkkkkkk

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  4. Além do mais, já saimos do positivismo onde tudo em tese podia ser mensurado, já chegamos na idade da nanotecnologia, dos quantas, eletrons, pós-modernidade, fragmentação discursiva. Será que essas coisas são tão tateis assim???

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  5. O categorismo de alguns comentários seriam aproveitáveis, se não viessem de baixo. Um homem que alega a chegada da era da fragmentação discursiva e se mostra desrespeitoso em relação ao comentário de outrem não merecia ganhar sequer uma palavra desse a quem ele atinge. Voce deveria ler com mais cuidado tanto o comentário que fora feito quanto a minha réplica, que se pauta unicamente em duas questões: se o ónus da prova é de deus, por que a experiencia malgradada de sua criação recai sobre mim, que vivo? E mesmo que eu tenha um lado espiritual desenvolvido, que garantia isso me dá em relação a inconstancia do meu conhecimento diante das fatalidades da vida?

    Saiba que uma pessoa, que presta a dar vazão a suas idéia num ambiente permeado pelo discurso intelectual, não deve se apropriar do baixo calão para atingir o discurso alheio, uma vez que isso atesta o pouco refinamento de quem agride com as palavras. Eu poderia ser peremptório e lhe agredir com meia dúzia de verbetes infames, de modo a desrespeitar-lhe o comentário desrespeitando, também, a sua pessoa. Mas embora me mostre agressivo com os aspectos universais da vida, prefiro por conservar a minha educação e ser pacifista no meu discurso escrito. É uma lástima saber que comentário de tal estipe provém de um academico que sempre está em contato com a ordenação do método e, futuramente, quem sabe?, poderá ter galgado os degraus que o separavam da academia e vir a ensinar na mesma. Entretanto, como o ónus da prova é de Deus, talvez ele entenda por qual motivo muitos fazem questão de "ordinarizar" o conhecimento fazendo deste uma arma para excretar, tal como quem defeca, as suas críticas vazias.

    João Maldito

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  6. Bem vc me fez duas perguntas que se atrelam estritamente a fé, como vou responder? Posso dizer que creio ou não, se o ônus da prova de Deus é dele, como posso provar q isso me afeta? E quem disse que um religioso não se afeta com as mazelas da natureza, não chora, não sofre, não morre? E por fim, para aqueles q são críticos nenhum Deus não concebido por homens seria um oráculo que resolverá toda nossa falta de tato para com a realidade... A experiência de Deus é estritamente subjetiva e vc já deveria saver disso, agora, acho q num esáço como esse não se deveria estar se discutindo "fé", que feio isto, uma coisa tão subjetiva, como a própria dor q sentes, acho q um acadêmico não deveria estar fazendo tais ilações neste âmbito... kkkkkkk Acho q este espaço não é dos Tortos não, mas sim da coerção lingüística acadêmica. De qualquer forma me desculpa pela petuláncias, que eu acho q vc já deveria sacar q foi uma forma boba de me auto afirmar, pois sou um merda tb kkkkkkkkkkkkkk

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  7. Correção:...nenhum Deus concebido por homens seria um oráculo...

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  8. Bem, Reuel, uma vez que vejo nesse seu segundo comentário um amontoado de verbalismo, contendo nele indagações que foram esclarecidas, por mim, com outras duas indagações, acho viável dizer-lhe que a atenção que pleiteava ao comentares por uma segunda vez outra uma coisa que já havia sido dita na minha réplica ao seu post, já lhe fora dada. Passar bem. João Maldito.

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  9. Legal, não sei se por acefalia da minha parte ou por outro motivo não me sinto respondido. Flw

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  10. Cabe a mim escrever e sugerir idéias, não criptografar o que não é entendido por parte de quem le. JM

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  11. Correção: O categorismo de alguns comentários seria aproveitável, se não viesse de baixo.* JM

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  12. Querido bendito Maldito,

    "os religiosos são seres idiotas por serem religiosos e não descrentes".

    Por exemplo: se eu me refiro a você assim:- João, você é um idiota porque é um descrente! Como você reagiria? Será que você seria um idiota por simplesmente não compartilhar de uma doutrina religiosa? Ai eu novamente pergunto: será que os indivíduos que comungam com determinadas crenças tem que ser necessariamente idiotas apenas por não compartilharem das coisas que você acredita?

    Quando você me fez a critica chamando atenção de que a minha concepção do torto se encontrava muito idealizadora por eu não enxergar a possibilidade de um torto humano, ou seja,de um torto capaz de quebrar as regras e as posturas que ele mesmo condena; eu posso dizer que a partir desse seu texto, eu percebi que, se você encara o torto como um humano, eu encaro o torto como um humano e como um cidadão.

    Digo isso porque eu realmente admito que o torto não está livre em se perder em suas próprias convicções e ser classificatório, afinal, ele é produto do meio e tem infiltrado nele valores, padrões de condutas, etc. No entanto, eu acredito que, mesmo se frustrando consigo mesmo, o torto, busca ser sensato e perceber que, mesmo se ele nega determinada concepção de vida, cabe a ele, no minimo, compreender que determinada concepção pertence a um mesmo lugar no qual ele habita chamado Terra, e que, portanto, não cabe a ele, cuspir palavras de repudio a ninguém, mesmo que esse alguém compartilhe de algo que ele não acredite.

    Sabe por que? Por que o torto tem consciência de que, sendo cientista, religioso, artista, etc, nada passa de uma necessidade angustiada do bicho-homem de passar seu tempo para evitar ao máximo se colidir com a falta de certezas plenas que existem dentro deles. Tudo não passa de fantasias construidas pelo medo inevitavel da incerteza sentida por toda a espécie humana.

    A intolerância, a segregação, o desprezo, o ódio, o preconceito são coisas que admito que o torto tem, até por que, o torto, assim como qualquer indivíduo da espécie humana, necessita sentir e viver o próprio erro, porém, esse erro sentido, pode até algumas vezes, por falha do torto, invadir o espaço alheio, no entanto, eu posso te afirmar: o torto, mesmo que seja depois do ato, vai ter a preocupação de repensar o seu deslize, pois o torto sabe que, apesar de toda a raiva e de todo o preconceito que ele possa ter, ele, assim como qualquer outro, não passa de um individuo fracassado e desgastado e emperrado em suas próprias lacunas.

    Como eu te disse, o torto para mim é humano, mas busca o minimo de sensatez, afinal, ele também como produto do meio, sabe que, se ele é capaz de ferir, é capaz também de ser ferido por trazer expectativas de padrões de condutas da sociedade, assim como qualquer outro ser social.

    O pior é que sei que você não escapa dessa. Se escapasse, não responderia tão ofendido ao comentário de Reuel Astronauta ao dizer que sua réplica foi IDIOTA, assim como você denominou aqueles que não te provocam interesses, e pelo que parece, nem você muitas vezes tem o minimo de maturidade em saber olhar algumas diferenças com uma alteridade maior.

    Tenha cuidado com esse seu torto, pois esse tipo de torto já está muito banalizado de tão comum que ele é.

    DESCULPE PELA CARTA-COMENTÁRIO, MAS É QUE REALMENTE ACHEI MUITO PEQUENA A SUA POSTURA. PALAVRAS DE AMIGO

    Abraços

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  13. Vina,

    A progressão do meu comentário será descontínua, no entanto, procurará abordar os aspectos princiapais do seu comentário.

    Não só condeno literalmente a atitude de Reuel, como não posso conceber o seu comentário fazendo um paralelo entre o idiota de que falo e o idiota que ele aborda em reprimenda ao meu comentário. O idiota de que falo é aquele que, mesmo sendo visível aos seus olhos questões como essa "Tenho pensado se é pior morrer de fome não tendo noção de que viver é um tédio, ou morrer de tédio pensando que, além de tudo, há a fome e outras tantas virilidades que fazem da terra este paraíso tão masturbado pelos cristãos", insiste em continuar na cegueira e, logo, se amputa de querer perceber o paradoxo! Ele, não, diz que os meus comentários são idiotas quando, na verdade, estou abordando lacunas que vi no comentário do Roosevelt(eu acho que é dele).

    Sinceramente, segundo as suas considerações sobre o que é ser torto, eu não consigo me encarar como tal, uma vez que, em certas questões, não consigo ser sensato e faço jus a minha condição de humano pendendo totalmente para o crivo emocional. Isso é filosofia? Não seI, mas também não me importo. Não me importo porque a espécie da qual faço parte é mesquinha e, quando damos por isso, o isolamento em relação ao mundo parece sim o paraíso! Isolados, pelo menos, nós não corremos o risco de esquentar a cabeça com comentários como os do Reuel.

    No mais, como o próprio nome indica, e como tinha já tinha falado com voce sobre, que me parece que ao tecer seu comentário se esqueceu, isso é uma Defloração, categoria textual onde se valoriza o expurgo das frustrações, o deixar-se levar pelas próprias melancolias.

    O estatuto, pelo que vejo, está mesmo se erigindo...

    João Maldito

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  14. Vamos escrever! Nos degladiando ou não, vamos escrever! Um folego a mais...a proposito concordo que sou um idiota mesmo, agora também sou inteligente e falo palavras complicadas. Devo estar me deflorando como o João mesmo fala, mas e daí? Eu quero é falar, quem tem olho pra ler que leia, quem não tiver, deve estar fazendo alguma cosia mais produtiva.

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  15. Cara, o que é que você entende por estatuto?
    Eu, sendo até mesmo bastante redundante, tenho dito sempre que ninguem manda no movimento. Acho que você bem sabe disso.
    Portanto, o que seria um estatuto pra você?
    Se você acha que existe estatuto por que eu me sinto a vontade em criticar algumas de suas idéias, entenda que essas idéias refletem meu ponto de vista, o que não significa dizer que eu estou querendo impor uma verdade para o seu torto.
    Se para você, o movimemto está virando um estatuto pelo fato de eu acreditar que, por mais que o torto seja capaz de falhar, ele inevitavelmente está de certa forma submetido aos padrões, tenha certeza: você ou qualquer um de nós, é o próprio estatuto de si.
    Portanto, novamente te pergunto,e por favor me esclareça: o que leva você a dizer que o movimento está virando um estatuto?
    Seria o fato de eu não acreditar em uma anarquia desmedida?

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  16. O texto não diz que o ônus da prova é de Deus. Este pertence ao ateu, quem tem que provar para o religioso que Deus não existe é o ateu, pois o religioso não precisa de provas, ele vive sua fé, e isso lhe basta. O torto deve ler com mais atenção.

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