segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Entre a classificação e a relatividade

Duas vias de pensamento tendem a persistir em nosso dia a dia. Uma dessas vias está relacionada aos indivíduos adeptos à postura classificatória, e a outra via se refere aos indivíduos voltados a uma postura relativa. O torto nega essas duas tendências e ao mesmo tempo aceita as duas.

Poderia o leitor se perguntar: por que o torto nega essas duas tendências?

Na tendência classificatória, geralmente os indivíduos têm uma necessidade de agrupar determinados pontos de vista considerados como válidos ou inválidos, como se essa classificação fosse aceita por todas as pessoas. Para o torto, essa é uma posição difícil de admitir, visto que para ele, não somos capazes de determinar o que é melhor e o que é pior. Para ele, é impossível hierarquizar a subjetividade de cada um, uma vez que, o que é reprovável para um, é aceitável para outro.

No que se refere à perspectiva que tende a encarar a relatividade das coisas, o torto também tece suas críticas, visto que nela, geralmente os pontos de vista parecem se interagir de forma tão anti-classificatória, que eles tendem a assumir uma postura sempre harmônica em sua relação com os outros pontos de vista. Porém, para o torto, os indivíduos possuem escolhas, e por isso mesmo, muitas vezes esses indivíduos não se encontram dispostos a compartilhar com outros valores.

O leitor agora poderia se perguntar: por que o torto aceita essas duas tendências?

Em relação à via classificatória, o torto aceita sua postura, uma vez que ele acredita que os valores que temos como bons e ruins são inevitáveis, e que por isso mesmo, o ato classificatório inevitavelmente pertence a todos. No que se refere à via relativista, o torto também admite o seu discurso por acreditar que a subjetividade é inerente a qualquer indivíduo. Não é por acaso que o torto admira e se degusta da pluralidade provocada por essas subjetividades, buscando conviver da melhor forma possível com a diferença.

Como se nota, o torto aceita a relativização, mas por outro lado, por se ver como produto do meio, ele encara essa relativização como ingênua ou cínica, visto que para ele, mesmo admitindo ser importante aprender a relativizar e a conviver com a diferença gerada pela diversidade de opiniões, inevitavelmente temos nossas escolhas e, portanto, nossas classificações. É devido a isso que o torto aceita a perspectiva classificatória, mas ao mesmo tempo ele também critica a prepotência classificatória, visto que essa perspectiva tenta impor uma única classificação, como se essa classificação fosse aceita e desejada por todos.

6 comentários:

  1. Chega em uma hora essencial este texto. Cada vez mais nos distanciamos de uma proposta vazia. Texto claro, eficientemente didático e que merece ser bastante divulgado.

    Abração!

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  2. Meu caro Vina torto,
    A angustia desse torto amigo seu, e adepto da tortura é exatamente essa. Caímos em uma posição, ou caímos na outra. Mas, entendo que isso é humano, tem muito a ver com a maneira como fomos condicionados a encarar os fatos. A educação, creio eu, contribuiu muito com a formação de uma mente que oscila entre estes dois pontos. Se obsevarmos atentamente estamos fazendo uma coisa ou outra. Por isso que sempre reflito sobre o dito no âmbito de um pensamento mais complexo. Edigar Morin coloca isso muito bem em sua obra"complexidade do pensamento". Ele entende que em face de um mundo cada vez mais complexo, urge uma educação que forme mentes interdiciplinadas, que sejam aptas a pensar o mundo por um caminho que envolva diversos focos explicativos. Aprender a pensar assim, creio eu, nos daria uma epistemologia com poder de fogo maior.

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  3. Muito bem observado, seu Roosevelt!
    Trazendo para uma dimensão mais simples, que seria a educação no Brasil, vejo uma lamentável guerra de egos entre os estudantes das diversas áreas de conhecimento. Não se dão conta de coisa simples que o próprio Caetano canta em uma de suas músicas "que as coisas conversam coisas surpreendentes, fatalmente erram, acham solução". Eu exercito achar tudo em tudo e tenho me dado por satisfeito até então.

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  4. Continuando o raciocínio, quero tomar por exemplo a posição da ciência positivista quanto à religião. Para seus teóricos, a religião era instrumento ideológico do Estado, ópio do povo, neurose, etc. O que levou esses pensadores a refletir dessa forma foi a visão fragmentada conferida por uma epistemologia que só considerava válido os fatos concretos. Até as ciências sociais, e a própria filosofia foram taxadas de quimeras humanas. Hoje, o mundo acadêmico sério, tende ao diálogo entre todas as manifestações humanas, pois são humanas, e como tal são objetos da análise racional. Fato é que a profecia positivista não se cumpriu, e a ciência para algumas mentes xiitas transformou-se em uma explicação fundamentalista da realidade. Contudo para outros, inclusive o torto, tudo conta, pois está aqui,podemos observar, portanto criticar, refletir. Jogar pedras sem fundamentação teórica sobre qualquer coisa é mero enfado e gastar tempo desnecessário. O fenômeno religioso está aí, e carece ser explicado em suas mais diferentes variáveis. O Nosso torto maldito aida não entendeu que Deus e religião são coisas distintas e que para se abordar um tema tão amplo é necessário leitura especializada. Apenas jogar pedra nessa vidraça, não o levará a lugar algum, exceto á uma excrecência na bunda. Assim, digo: religião é ópio, é instrumento de alienação, e outras coisas mais, porém não se resume a isso; ela mexe com a sociedade e a mente das pessoas de uma forma tal que, apesar do materialismo exagerado dos nossos dias, as igrejas nunca estiveram tão cheias contando com adeptos portatores de intelectos tão fecundos. Então pergunto: O que faz um doutor em filosofia em uma tenda de Umbanda? Isso vi muitas vezes! O que tem a religião de tão especial? Qual a lógica que norteia tal comportamento? Salve o torto.

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  5. Roosevelt, quando sua pessoa diz que transitar entre um valor e outro é algo inevitavelmente humano, eu concordo com sua pessoa. É por isso que costumo dizer que para compreender a coerência contraditória do torto, devemos primeiramente nos reconhecermos como humanos. Nos reconhecendo enquanto tais, não ficaremos presos às dificuldades que ando percebendo que as pessoas andam tendo.
    As dificuldades que percebo que as pessoas andam tendo, refere-se à necessidade obssessiva de colocar o torto em UM lado, considerando-o ora apenas subversivo, ora apenas acomodado.

    Porém, não concordo com a sua pessoa quando diz que a educação contribuiu com a formação de uma mente que oscila entre estes dois pontos, até por que, como bem observou nosso torto Josué Maia, o que percebemos é uma "lamentável guerra de egos entre os estudantes das diversas áreas de conhecimento".
    Mesmo admitindo que a interdisciplinaridade é a melhor condição critica que o individuo pode atingir, infelizmente o que percebo é um ranço maniqueista se revelar de forma muito mais evidente entre as pessoas.
    A necessidade de querer encontrar UMA característica definitiva e precisa para o torto, por exemplo, é uma prova clara disso. Ainda guardamos a velha necessidade de acharmos que uma coisa só pode ser uma coisa OU outra.
    Apesar de expormos discursos referentes à diversidade, a inclusão às diferenças, aos sincretismos religiosos, às fusões musicais, etc, nossa educação ainda se limita a hierarquizar os pontos de vista como "falsos" ou "verdadeiros", como se pudéssemos elencar esses pontos de vista em graus crescentes em uma fria hierarquia.
    O torto vai ser demorar para ser degustado. Admitir e compreender que somos tudo e nada e que não somos nem o nada, nem o tudo, é muito dificil em uma cultura que tem ainda como hábito, dividir seus personagens sociais em culpados OU inocentes, como se houvesse de forma divorciada e definitiva o bem OU o mal.
    Ainda somos incapazes de compreendermos que, no jogo de interesses construidos na cultura, as disputas entre os agentes transita entre um fluxo absurdamente vulnerável, e que esses agentes também ganham perdendo e perdem ganhando.

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  6. um fluxo da vontade de não viver me recobre a alma
    como um balde entornado que depesja o líquido
    sobre a superfície sólida e depois,como o meu desejo,
    também escoa.
    o amargo cômico da vida alça asas sobre a minha imaginação,
    e do despenhadeiro do meu tédio,numa infinita METAFÍSICA DO SOCIAL,
    cá estou eu por entre sonhos pensando se,caso a vida não fosse a vida,
    como tudo seria mais digesto ao meu estomago doente
    que divide espaço,no mesmo corpo,com a alma de quem
    estivesse em porre para chefedar o fim.

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