segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Conversa com Mané Reto sobre o torto

Mané Reto: - Vina, lendo os seus textos publicados no site, o que percebi é que para você, o torto não aceita levantar bandeiras. Levando-se em conta que o torto acredita que nenhuma forma de ideologia ou de crença possui uma verdade segura sobre as coisas, eu poderia dizer que o torto aceita toda e qualquer opinião, certo?

Vina:- Certo, porém, faço questão de esclarecer que, não é por que o torto aceita todas as opiniões, que necessariamente ele concorde com todas as opiniões. Você tem que entender que, apesar do torto admitir que ninguém é capaz de possuir a verdade definitiva sobre a realidade, o torto também possui sua própria forma de conceber a realidade, e que por isso mesmo, inevitavelmente possui opiniões do que acha certo e do que acha errado.

Mané Reto:- Aproveitando essa sua observação, eu queria te perguntar mais uma coisa: sabendo que o torto, mesmo admitindo que todos têm suas próprias razões, e que o torto, apesar de reconhecer isso, não está livre em ir de encontro a uma determinada postura, como você diz que o torto aceita qualquer opinião?

Vina:- O fato de aceitar qualquer opinião, não anula a possibilidade de determinadas opiniões serem criticadas pelo torto. Uma coisa é o torto saber que qualquer argumentação não passa de uma tentativa frustrada de encontrar a tão procurada verdade, outra coisa é o torto saber que inevitavelmente ele possui seus pontos de vista, e que, portanto, sente-se livre em aprovar ou reprovar determinada concepção.

Mané Reto:- Levando-se em conta que o torto pode aprovar ou reprovar determinada concepção, você já chegou a pensar que um dia, determinada concepção possa não agradar ao torto, e ele, incoerentemente, mesmo dizendo aceitar qualquer opinião, venha a agredir aquele a quem ele não aceitou a opinião?

Vina:- Tenho consciência de que muitas vezes isso pode acontecer.

Mané Reto:- Mas como!! Então o ser torto seria uma espécie de adepto à pluralidade, mas com o velho ranço da intolerância?

Vina:- O fato de alguém ser ateu e se sentir ofendido com a opinião de um religioso doutrinário e se defender em suas opiniões, por exemplo, não implica dizer que necessariamente esse ateu vá desrespeitar a rotina desse religioso. Volto a dizer que o torto, por também reconhecer a inevitabilidade de sua relação com os valores impostos socialmente, ele, assim como qualquer outro indivíduo, possui suas morais e seus tabus.

Mané Reto:- Vina, e se o outro agredisse as propostas do torto? Como o torto reagiria?

Vina:- O torto também necessita se auto-afirmar em suas opiniões sobre a realidade, visto que ele, por se encontrar também submetido aos padrões sociais, necessita da aprovação do outro, uma vez que o outro é a projeção dele mesmo, e por isso mesmo, se ele achar determinada opinião agressiva ou não condizente com o que ele acredita, ele se sente no direito de responder como ele acredita que deve responder.

Mané Reto:- Desculpe-me, mas tenho que lhe dizer uma coisa: um torto que aceita a diversidade de opiniões, mas que ao mesmo tempo, sente-se no direito de negar algumas opiniões que não lhe convém, para mim não passa de um torto com uma postura contraditória.

Vina:- Pois é, fico feliz em saber que você chegou ao espírito do Movimento. Triste eu ficaria se eu percebesse que você tinha encontrado alguma essência paralisada nas opiniões do torto. Porém, entenda uma coisa: ser torto não significa ser o oposto ao não-torto. Ser torto é saber se entortar, e quem tende a se entortar, tende a ser contraditório, uma vez que, não só aprova o que acha certo e reprova o que não acha, como também reprova algo que aceita, como aceita algo que ele mesmo reprova.

Mané Reto:- Novamente me desculpe, mas eu não dou créditos a quem não busca encontrar uma verdade das coisas. Inevitavelmente, é nosso dever nos apoiarmos em alguma ideologia.

Vina:- E quem disse que o torto não possui suas verdades? A diferença é que ele percebe que as verdades não passam de lapsos momentâneos. Para mim, tudo, mesmo que não queira é torto. De reto, só o cu, e mesmo assim por que nos disseram que é reto, mas se olharmos nosso buraco por dentro, veremos que nem ele é tão reto assim. No final das contas, somos todos manés.

8 comentários:

  1. Brilhante!
    Tomara que os manés que nos tacham de niilistas positivistas (?) leiam...

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  2. ops, assinei como Josué Maia, mas era pra colocar "Mané Maia"! aeuaeuheahaeuhae

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  3. Evitemos o "Mané", minha gente. Creditemos valor ao que nos opõe, a espúria também tem o seu viés de poeticidade; no altar da poesia cabem todos os credos e santos. Bom texto, Vina. João Maldito

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  4. Epa, os tortos vêem o valor poético, crítico e etc de quem não compartilha de suas concepções.
    O próprio Vina diz que somos TODOS manés no fim do texto. Leia-se: somos todos frustrados tentando validar nossas concepções neste mundo líquido.

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  5. Evitar Mané!!! Maldito, primeiramente eu quis associar o Mané a qualquer Manuel, assim como Zé se associa a qualquer José. Se fiz uma brincadeira fazendo o mané assumir uma dupla denotação, foi para justamente admitir a minha condição de idiota, assim como a condição de qualquer outro.
    Mesmo assim, é engraçada essa sua necessidade em fazer observações sobre o Mané, ressaltando a importância em creditarmos o valor que nos opõe. Querido bendito Maldito, logo você que preza tanto pelo homem revoltado? Logo você, o cara que se sente no direito de invadir o espaço do outro porque apesar de pensar o torto, diferente de mim, não acredita em relações harmônicas? Logo você, o cara que admite sem medo algum que julga politicos porque em politica é parcial e que por essas coisas, me tece criticas por eu ser um idealizador por me utilizar de negociações com os opostos? Logo você que diz que religiosos são idiotas porque não são descrentes?
    É por essas contradições que cada vez mais eu acredito em minha perspectiva torta, afinal, se por um lado ela admite que tenta negociar, por outro, ela admite que quando a negociação não lhe convém, o torto as vezes também se descontrola e chuta o pau da barraca; e ao mesmo tempo que chuta o pau da barraca, o torto se culpabiliza por ele também ser a projeção do outro, e por ser projeção, necessita da aprovação do alheio

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  6. O Movimeto Torto têm alguma influência no Torquato Neto? Na conracultura? Na pós-modernida

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  7. Caro Vinicius, se eu disser que não possuo uma longa experiência com referencias bibliográficas relacionadas à pós-modernidade, eu estaria mentindo.
    No entanto, para evitar qualquer necessidade das pessoas (não estou me referindo especificamente a você) quererem forçar o pós-moderno como a bandeira levantada pelo torto, eu prefiro dizer que pelo menos eu, tenho sim influências, mas que não entenda essas influências como uma tendência que se queira instituir no movimento.

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  8. Este texto encerra por si só o que o torto poderia ser se fosse um torto particular. Contudo entendo que o torto vai além do além, transpondo os limites, quem sabe, dos anos, ou anus.

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