segunda-feira, 11 de abril de 2011

O medo do divã

Muitas vezes alguns indivíduos por não quererem expor o medo de enfrentar um divã, usam discursos carregados de críticas à psicanálise. Muitas dessas críticas são infundadas. É óbvio que existem os críticos que possuem argumentos elaborados e é claro que não é proibido ser contrário aos métodos das clinicas psicanalíticas, até por que esse discurso de crítica e refutação é uma perspectiva defendida pela própria lógica da psicanálise.

Um dos receios ocorre por que somos educados a esperar diagnósticos dos profissionais. Na análise, o analista não assume o lugar do saber, mas sim o próprio analisando que passa a resignificar seus próprios sintomas. Tanto é que na psicanálise, o termo paciente é descartado, pois implica passividade. Na clinica, a autonomia é do analisando, tendo este a liberdade até mesmo de determinar o momento de se finalizar a sua própria análise.

O outro receio em encararmos o divã, é que nós insistimos em acreditar que todo profissional tem que nos dar uma resolução definitiva para os nossos problemas, pois estamos habituados à cultura do mestre. Para a psicanálise, o analisando ao fazer análise, já vem inundado de conflitos, e se o inicio da terapia surge com o conflito, não há por que se terminar sem ele. A diferença é que o analisando vai se encontrar mais capacitado em resolucionar seus problemas.

Também tememos o divã, pois, por estarmos em um contexto marcado pela extrema rapidez de produtos para serem consumidos, não estamos dispostos a aceitar projetos que impliquem tempos longos. Como na clínica os indivíduos não buscam resolucionar seus problemas simplesmente fazendo uso de medicamentos, e sim, confrontando-se com suas próprias contradições, obviamente que as suas resoluções serão gradativas e não resolvidas da noite para o dia.

Essa dificuldade em esperar resultados de longo prazo, faz com que a gente se adapte a um modelo prático de viver, fugindo dos nossos próprios problemas, afinal, se perder nos emaranhados das contradições, faz a gente “perder” tempo. Ora, em um ambiente como a clinica onde o analisando é quem busca desvendar suas próprias contradições, é mais que óbvio que muitos prefiram a tarja preta para esquecer seus problemas.

Outro ponto se refere ao nosso etnocentrismo corriqueiro. Ao fazer análise, eu busco resolver questões que me desagradam. Nem sempre essas questões são visíveis aos outros, e os problemas que os outros enxergam em mim, não necessariamente são problemas que eu enxergo. Os outros, por acharem que os problemas que eles enxergam são os problemas que devem ser resolvidos, acham que a análise não surtiu nenhum efeito em minha vida.

Os críticos classificam a clinica psicanalítica de burguesa por acharem que o objetivo dela é uma mera adaptação do analisando ao contexto. No entanto, a análise, reflete-se em um caminho de emancipação e de auto descoberta. Classificam a clinica de elitista pelo preço das análises, mas em qual profissão não existem profissionais que cobram caro por seus trabalhos? Sem contar que existem tembém projetos de analises populares.

Se esses críticos não gostam da clínica por dizerem que a psicanálise é burguesa, assim como os burgueses, eles adoram a hierarquia e o poder ao selecionar e legitimar apenas alguns como donos do saber. Ao não suportarem a dor das próprias contradições em uma análise, adaptam-se ao modelo adorado da burguesia ao preferirem o complô com a sociedade de consumo fazendo uso de medicamentos por terem pressa, afinal, tempo é dinheiro.

VISITEM:

Blog Pensando a Educação: www.pensandoaeducacao.blogspot.com

Blog de Vina Torto no Cinform sobre Música e Sociedade
www.cinform.com.br/vinatorto

6 comentários:

  1. Acreditar em Deus sai bem mais barato.

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  2. Que nada, Anônimo. Roosevelt poderia dizer que a Umbanda sofre preconceito similar, pois o indivíduo temeria descobrir "espíritos" indesejados habitando seu "incosciente". Me corrijam se for o caso, as aspas são por desconhecimento dos termos.

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  3. Meu caro Vina, vou pedir licença para lançar apenas um elogio. Afinal, concordo plenamente com todas refutações e afirmações, sem tirar um ai. Destaco a maestria do primeiro do quinto e do último parágrafo. Brilhantes! Texto ótimo!

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  4. Eu diria que o que se destaca nesse texto é a dor; o medo do divã está principalmente em que "se perder nos emaranhados" dos nossos conflitos dói, e não é pouco! E no fim das contas, não é que não queiramos sentir dor ou angústia (por vezes as buscamos subrepticiamente), mas que hoje em dia nos sentimos proibidos de senti-las. E haja ansiolíticos e antidepressivos!
    E quanto ao lugar do divã, não precisamos defendê-lo; às escondidas e quando nada mais funcionou, ele acaba encontrando nosso caminho.

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  5. É Carol Souza, é??


    Ela comentoooou!!!!! ATÈ QUE ENFIM!!!!!!!!!!!!!!!!

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  6. Vina! Querido amigo, que saudade!
    Tem tempo que estou sumida, mas queria elogiar seu texto, mais uma vez, com questões muito bem colocadas. Adorei esse trecho: "Para a psicanálise, o analisando ao fazer análise, já vem inundado de conflitos, e se o inicio da terapia surge com o conflito, não há por que se terminar sem ele." Parece-me que o conflito é intrínseco a condição humana e me remeteu a uma analogia com uma ideia budista, de que ele (budismo) só se faz necessário durante a travessia do rio; ao chegar na outra margem, abandone-o. Não necessariamente, esse outro lado é livre de conflitos ou angústias, mas certamente é um outro lugar, espaço de uma outra subjetividade.
    Acho que você pontua bem as questões sociais para o contexto: "Divã, não, muito obrigado!", mas percebo que uma questão importante para tantas justificativas contrárias ao divã é algo simples e com nome: resistência! Há um medo em se descobrir e há um visão moral sobre a clínica psicanalítica, de que ela só serve aos loucos, perturbados, problemáticos, histéricos, neuróticos e tantas outros conceitos mal entendidos pela sociedade e mal explicados pelos próprios parteiros da alma. Entretanto, essa visão distorcida da psicanálise e da psicologia em geral, alimenta o próprio processo de resistência, "salvando" o indivíduo de seu próprio enfrentamento. Esse ponto só pode ser rompido com a crise, cuja angustia é mais forte que o conceito moral, levando-o por fim, a ceder. Não é lindo? É aí, que independente dos argumentos usados, o individuo assume sua condição humana e isso exige muita coragem!
    Parabéns pelo texto amigo!
    Grande beijo!
    Dani

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