domingo, 24 de abril de 2011

A morte e o amor: O retrato da vida (Por João Paulo Corumba)

Quando o homem compreende realmente que está ligado à vida? Eu diria que parte de dois princípios: O princípio do se amar, amar o outro e ser amado e o princípio do saber que está perto de morrer seja pelo impacto causado pelo envelhecimento, ou seja, por uma notícia de uma doença fatal. Diante desses princípios citados, costumo refletir que o homem passa pela vida de maneira despercebida, e só depois que os seus desejos não são apenas desejos e sim direcionamentos, sentimentos, é que o homem se compreende um ser vital.Não costumo pensar sobre as necessidades fisiológicas, como a fome por exemplo, como uma estrutura primordial/inicial como pensa Maslow, que nos fazem sentir em contato pleno com a vida, mas sim como uma segunda parte de um processo para a construção dos impulsos que nos levam a tal pulsão de vida, pois a primeira parte desse processo é o próprio impulso para satisfazer as necessidades fisiológicas.

Analisando deste modo, é possível penetrar na infinita complexidade do ser humano, não totalmente, mas conseguir abordar algumas partes desse infinito humano que se classifica emocional e racional. A emoção existe por si só, não há esforço que lhe construa, não necessita de nada, possui uma vida por conta própria, enquanto para a racionalidade, o indivíduo precisa de um esforço para que possa emergir a um grau empírico que seja definitivamente válido. Diante da morte refletimos sempre sobre a morte do outro, e nunca sobre a nossa morte. Sigmund Freud, já dizia sobre essa nossa limitação para se pensar em nossa própria morte, pois se pensarmos ou sonharmos com a nossa morte, não poderíamos relatar tal pensamento/sonho, pois o que morre perde a voz, logo, não seríamos o protagonista da morte, mas sim espectadores dela, desse modo, jamais podemos pensar, sonhar com a nossa própria morte. Podemos então dizer que diante da afirmação dita acima, podemos provar que desde o primeiro pensamento sobre a morte (do outro) significa que já nos encontramos ligados à vida? A essa indagação, parte do segundo princípio dito no começo, o princípio do saber sobre a própria morte por meio do envelhecimento ou por uma doença fatal. O indivíduo como diz Freud, jamais conseguirá pensar/sonhar em sua própria morte, sempre que ele diz ter pensado/sonhado em sua própria morte, ele não tem consciência plena disso, porque no fundo o que ocorre é de fato um assassinato, e não um “suicídio”. Então, partindo desse pressuposto, o que se pode notar é que pensar na morte já é se sentir ligado à vida, mas por um meio muito vago se não levarmos em consideração sobre o sentimento do amor próprio, e os investimentos amorosos para um objeto.

O investimento libinal de objetos não aumenta o amor-próprio. A dependência do objeto amado tem efeito rebaixador; o apaixonado é humilde. Alguém que ama perdeu, por assim dizer, uma parte do seu narcisismo, e apenas sendo amado pode reavê-la. Em todos esses vínculos o amor-próprio parece guardar relação com o elemento narcísico da vida amorosa(FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo, 1914, p.46).

O fato de perdermos uma parte do nosso narcisismo quando estamos investindo em outro objeto, é de certo modo gratificante do ponto de vista de uma transformação no sentido evolutivo do ser humano, isto é, podemos então garantir um sentido a nossa existência por meio do que nos sugere a sobrevivência, um contato de dependência, pois é justamente pela dependência dos outros que sobrevivemos. Segundo Sigmund Freud, “quem não ama, adoece”, e é justamente nesse adoecer que o que nos liga à vida, se desconstrói, e uma nova realidade assume o nosso comando, sendo que esta por sua vez, possui um acesso a não-vitalidade. A reunião de seres humanos na própria existência constata que o olhar do outro é o espelho da nossa vida, pois é a partir do outro que nos orientamos, o outro nos serve como um mapa para o nosso estabelecimento no aqui, no agora. O amor nos garante a cura para suportar a vida, sendo assim, a possibilidade de ligação para com ela, e o saber sobre a própria morte por intermédio de uma aprendizagem vicária diante daqueles que já morreram. Estamos ligados à vida, quando estivermos convictos que a morte existe através da razão, e quando estivermos convictos que o amor em nós existe, através das sensações de perda de uma parte ou diminuição do amor-próprio, e de conquista pelo objeto desejado.

Blog: www.alusaoaodesencanto.blogspot.com

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