segunda-feira, 4 de abril de 2011

BBB11: entretenimento e subjetividade

Eu sei que esse papo sobre até que ponto um meio massivo de comunicação como a rede globo pode produzir senso crítico ou não, parece ser um tema um tanto cansativo, no entanto, por eu ouvir de forma cotidiana a insistência em apenas visualizar emissoras como a globo de forma reprovativa, atrevo-me a insistir acerca desse debate perguntando: até que ponto os telespectadores assíduos das mídias comerciais podem ser reduzidos a alienados e repetitivos?

Ouço de forma bastante freqüente um discurso que já se tornou um lugar-comum referente à capacidade de escolhas dos telespectadores. Esses telespectadores são classificados de alienados, que priorizam o consumo ao invés de uma escolha mais subjetiva. Para mim, o telespectador, antes de ser pensado como alguém que só aceita programações semelhantes e repetitivas, deve ser visto como alguém que possui autonomia suficiente para aceitar ou não o que é enviado para ele.

Por exemplo: Nina Ramos em seu texto “Opinião BBB 11: Maria, simples assim”, opinou que a semelhança das provas e a repetição da Banda Jota Quest no último dia do programa, como uns dos fatos para justificar a queda de audiência do último BBB. Leo Dias no site Pronto, Falei! diz que segundo dados prévios do Ibope em São Paulo, o BBB 11 marcou 30 pontos. Já o primeiro BBB teve 59 pontos! Pergunto: se o telespectador quisesse apenas o óbvio, o BBB 11 teria queda de audiência?

Outro ponto se refere a atual campeã do BBB 11. Esse fato me instigou a pensar sobre uma questão: o telespectador é tão previsível assim? Muita gente sequer imaginou que Maria ganharia. Ao comentar sobre o resultado final, Ale Rocha fez a seguinte observação sobre suas hipóteses: “Wesley poderia vencer. Afinal, ele atendia aos requisitos do macho-alfa brasileiro (branco, jovem, bonito, heterossexual), típico vencedor de BBB.

Mesmo com esses atributos, a vitória foi de Maria. Os leitores podem dizer que Maria é uma garota que possui padrões estéticos previsíveis para ganhar o BB, mas querendo ou não, os votos não caíram nas hipóteses de Ale Rocha e de muita gente que acreditou que a vitória seria de Daniel. Não que não haja valores previsíveis, mas sou da opinião de que as escolhas dos telespectadores implicam questões muito mais subjetivas do que uma simples manipulação.

Também acredito que não podemos negar que a mídia tende a ser repetitiva em suas programações, e que se ela se sustenta, é por que parte do seu consumidor dialoga muitas vezes com o mais do mesmo, mas que apesar disso, o consumidor necessita também de coisas que tragam novas perspectivas. Como disse Bial: o conservadorismo da audiência brasileira não sumiu da noite para o dia. No entanto, como disse o próprio Bial, “as coisas são mutáveis!”.

Não podemos insistir na natureza previsível do telespectador dos meios de comunicação privados, afinal, eles são humanos cheios de vida e não seres inanimados. Acredito que mesmo que se prepondere o discurso clichê da mídia, quem a assiste são sujeitos dotados de escolhas, de gostos próprios, e que isso não pode ser negado. Se pudesse, como explicar a queda da audiência de um programa popular como o Big Brother Brasil?

E como explicar as várias telenovelas que saíram do ar por falta de Ibope? Não insistem que as novelas expõem sempre a mesma trama? Não nego o previsível enredo delas, mas acho que ao invés de nos acomodarmos com discursos classificatórios e reducionistas, deveríamos avaliar esse tipo de fenômeno por um viés que implica um jogo que envolve uma malha muito mais complexa e contraditória de identidades e de valores sociais.

Referências

DIAS, Leo. 'Big Brother Brasil' termina com a pior audiência de sua história. Disponível em: Acesso em 30 de março de 2011

RAMOS, Nina. Opinião BBB 11: Maria, simples assim. Disponível em: Acesso em 30 de março de 2011.

ROCHA, Ale. Maria e minha dose de otimismo. Disponível em:

12 comentários:

  1. Eu ainda acredito nos cinco neurônios sóbrios do cérebro do brasileiro. Convenhamos, porém, que na época do BBB o Orkut ainda não tinha reconhecido sua ascensão e A fazenda ainda não existia para dividir a atenção dos brasileiros. Se bem que havia a pífia Casa dos Artistas...

    Rapaz, esse desgaste apontado por você, Vina, foi muito bem explicado pelo próprio Bial. Eu discordo, contudo, dos que acham que ele se deu porque os brasileiros se tornaram mais críticos. O fato de eles mudarem de canal, a meu ver, não diz nada. A alienação está muito além disso e ganha forças de maneira silenciosa. Prova disso é que esse povo que deu pouca audiência ao BBB, em vez de fazer jus ao seu desenvolvimento crítico mostrado agora no começo do ano, pôs o PT no poder de novo e acredita, por ter o crédito ampliado e estar sempre noticiado de que faz parte de uma nova burguesia, numa falsa sensação de segurança. Mas ele deve muito, ainda ganha pouco e continua sendo explorado, com a diferença de que agora há os oásis onde ele pode reconfortar o seu lado subjetivo, como, por exemplo, regozijando-se com o seu crédito largo. Enfim, ele sorri enquanto está sendo roído por um capitalismo parasitário. Mudar de canal, ratifico, não diz absolutamente nada, até porque esse processo, embora venha acontecendo mesmo, esperou onze anos para entrar em culminância. Onze anos!

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  2. É, rapaz. Entre gato, cachorro, galinha e papagaio... não há grande diferença.

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  3. João,

    Suas observações, pra variar, foram de uma pertinencia incrivel. Muito obrigado pelos complementos críticos que você vem trazendo.

    No entanto, eu não disse que o fato de não assistir ao BBB significasse que os telespectadores estivessem MAIS críticos. O que eu quis dizer é que, apesar de serem vistos como massivos e homogêneos, os telespectadores possuem especificidades, exigências e gostos próprios.

    Concordo com voc~e quando diz que a alienação é um fenômeno muito mais complexo que apenas assistir ou não ao BBB. Porém, vamos convir que, como eu disse mais acima, apesar de tudo, os telespectadores possuem subjetividades.

    Longe de mim a intenção de querer assumir uma postura de entender as midias massivas como as midias das grandes intenções politicas, mas gostaria muito que os discursos, ironicamente a uma boa parte dos ditos defensores dos oprimidos, deixassem de lado a eterna necessidade de associar o povo sempre a uma espécie de palermas e incapazes de pensar o mundo de sua forma.

    abração

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  4. Sim, subjetividade e escolhas próprias todos temos. Apesar de eu e minha mãe sermos cristão, ela gosta de assistir à canção nova e eu não. - Deus queira que igreja um dia não se torne uma extensão daquilo. hehe

    Eu estou, sendo sincero, esgotado de discursos metafísicos e idílios de realidade. Por isso, para gerar a dialética com o seu último ponto, citarei um constatação de que tomei parte hoje:

    A situação do transporte público em Aracaju é alarmante, tanto do ponto de vista do preço cobrado pela passagem bem como do ponto de vista do serviço prestado por essas empresas.

    Hoje, depois de uma desgastante aula de filosofia, direcionei-me ao terminal do Campus. Para variar, estava lotado. Quando o Padre Pedro-Campus chegou, como de costume, todos trocaram socos e empurrões para subir no ônibus e garantir o seu lugar. Depois de entupido, conforme pede as conveniências, todos começaram a demonstrar os seus resíduos de bom-senso, afastando-se para dar passagem a alguém que desceria antes de chegarmos ao DIA e segurando os cadernos de quem não conseguiu se sentar. O meu susto nasce, portanto, desse movimento todo. Pensei: supõe-se que na UFS há uma massa crítica e que se atém a questões pontuais da realidade. Ora, mas esse ônibus é prova viva de que essa suposição é puramente falaciosa, uma vez que, para se subir nele, há um dispêndio insensato de forças e dentro dele transbordam membros pelas janelas. Como os passageiros, em uso constante da razão, poderiam aceitar a condição arbitrária a que agora estão submetidos? Ou seja, ali, incluindo-me à minha própria crítica, havia jovens cheios de Freuds, Eagletons e Platões na cabeça, porém, à revelia de uma atitude ideal, todos se mantiveram em silêncio e seguiram conformados até suas casas. A condição desagradável do ônibus, mesmo que evidente, tornou-se a todos um hábito, de forma que elementos básicos para a composição de uma vida digna no agora são encarados como moedas de troca com a promessa de uma abundância convencional no futuro. Todos ali não pensavam no ônibus enquanto um objeto que transportará, por quem sabe séculos, gerações e mais gerações, mas como um nível da vida a ser superado com a aquisição de um veículo.
    Dessa forma, segundo penso, as pessoas trocam de canal da mesma forma que escolhem um novo autor para ser lido. Ou seja, é uma mudança que não diz nada.

    abraço, JP

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  5. É rapaz. Entre a vida, a morte, a ciência e o senso comum... Não há grande diferença.

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  6. João

    Veja: de fato, uma mudança não diz nada. No entanto, há de convir que a massa telespectadora não é essa massa a-histórica, descontextualizada que dizem por ai. Apesar dela frequentemente pender para a predisposição à repetitividade das coisas, ela também cansa, ESCOLHE outras coisas. Vale lembrar que eu não insisti em dizer que a massa por ter cansado do BBB agora é critica, mesmo admitindo que todos carregam um pouco de criticidade, mas o que eu disse é que a massa não é unicamente homogenea como insistem em dizer determinados discursos.

    Concordo também que nós temos um repertório imenso dentro de nossa cabeça, mas que esse repertório nos serve apenas de enfeite, porém, eu gostaria de saber qual é a estratégia que você encontrou em pôr na prática a grandeza de teorias que eu sei que você também tem. Como você tem feito para criticar a condição dos transportes públicos saindo apenas do mundo da elucubração? Como você anda fazendo para se libertar dessa maldita metafísica?

    Se for participando de caminhadas a favor da redução do valor da passagem, isso os militantes já fazem e não resolvem nada. Pelo contrário, acho que os militantes em sua maioria tem muita ação e pouca teoria e não mudam esse cenário em quase porra nenhuma.

    Diga-me ai, pois por enquanto, eu só reclamo mermo e corro atrás de minha vida pra ganhar meu dinheiro, fazer meu patrimônio e criticar a desigualdade brasileira e dizer que sinto muito pelos pobres.

    abração e obrgado pelas observações

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  7. Há toda uma discussão sobre o transporte público de Aracaju. O problema é que o governo e as empresas não são idiotas. Geralmente, se você observar, o aumento da passagem, que é onde culmina a revolta dos cidadãos, ocorre no período em que os estudantes estão de férias. Se é difícil mobilizar uma quantidade considerável de pessoas quando estamos em aula, imagine mobilizá-las quando em período de recesso das atividades acadêmicas oficiais? Aqui temos uma das principais causas para o insucesso dos atos puxados pelos coletivos que agem contra os absurdos do transporte público em Aracaju. Uma das alternativas para amadurecer ainda mais essa luta é que seja criada uma célula, composta tanto por representantes da classe estudantil como da classe trabalhadora, para pôr sob suspeição as medidas tomadas por empresas e governo, concernentes ao transporte público da capital, ao longo do ano. Isso ajuda na antecipação das mobilizações e na efetivação dos fins em virtude dos quais elas existem.
    Sobre a minha contribuição, posso afirmar que eu participo dos atos, das discussões e arrogo contra todo e qualquer discurso que pretenda fazer com que a população padeça à inércia, conformando-se com o peso da bota de uma burguesia asquerosa que lhe pisa a cara. Falo em nome do socialismo.
    O que me deixa alarmado não são os estudantes que têm muita práxis e pouca teoria, mas justamente os que têm muita teoria e pouca práxis. Frente a estes últimos, num lapso de questionamento, costumo me perguntar: que extraíram eles dessas páginas todas? Qual finalidade de continuarem lendo?


    abs, JP

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  8. João

    Você condena a apatia e tenta encontrar argumentos capazes de justificar a apatia daqueles a quem você criticou.

    Acredito que mais vale ter uma porrada de teorias e sabermos como lidar, por via dos nossos comprometimentos éticos, com as alternativas e caminhos para uma possivel resolução das coisas através de uma estratégia individual; a ter que ouvir blá blá blá de muitas das pessoas que levam a vida como um eterno feriado prolongado e que saem gastando as custas do imposto que eu pago como trabalhador, em seus encontros de UNES E PICAS da vida carregados de camisinhas e de muita cachaça.

    Acredito no copromisso individual e no meu senso critico, pois sei que em minha função profissional, tenho muito mais ética e dignidade do que muitos que se encontram nas salas de professores criticando o sistema com aquele arzinho insuportável de socialismo de merda só para no final das contas, reclamarem de seus salários com seus interesses privados com aquele ar de que estão de fato se interessando com a comunidade.

    Corro atrás de miha vida, admito meus interesses e nem por isso deixei de pensar no social. A diferença é que busco conquistar as coisas sozinho sem discursos enfeitados de gente fingindo grandeza de espirito. Adoro o capitalismo, apesar de reconhecer suas imensas falhas.

    Ah, quanto a burguesia asquerosa, é o que a maioria dos ditos preocupados com a podridão do sistema quer ser. É a velha questão: revelamos por via da consciência, aquilo que nos afoga diariamente em nossa frustração kkkkk

    Tomara que melhore as passagens e aumente o numero de onibus. Tenho muita pena dos meus queridos cidadãos quando os vejo abarrotados no buzão...

    abraços e mais uma vez, obrigado pelas contribuições.

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  9. Eu não estou tentando justificar a apatia de todos. Afinal, quando estive presente nos atos contra o aumento da passagem, quem estava ao meu lado, seja para o bem ou para o mal, eram esses "socialistas de merda", inclusive aqueles de dentro do movimento que têm grana e andam de carro.

    Vina, eu creio na sua 'convicção torta' e não descarto a maturidade do seu discurso. Mas vejo que você ainda não conseguiu se livrar de algumas posturas do passado que são, por si mesmas, desagradáveis. Às vezes penso que você quer me convencer a base do riso.

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  10. João,

    Infelizmente não vou poder respondê-lo pois você não deixou explicito quais são as ditas posturas do passado. Só tenho a dizer que agradáveis ou não, todas as opiniões, independente se comungarem com as minhas ou não, vão tender a cair em qualquer um dos lados e até mesmo nos dois lados, ou seja, no agradável ou no desagradável.

    abração

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  11. Ok, Vina. Esse debate já deu. Encerro minha participação por aqui. Não vou ficar forçando a barra para convencer ninguém. abs

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  12. João

    Concordo contigo, já deu. Até por que ambos exuseram seus argumentos de forma elaborada e cabe a outro leitor, querer coplementar ou refutar um dos lados ou ambas as partes. Porém, volto a dizer: obrigado mesmo pela sua colaboração ao complementar e tecer suas criticas acerca do texto. Para mim, a grande riqueza do torto está ai: na costante reelaboração de ideias.

    abração

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