quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mais uns Parágrafos

Às vezes as linhas nos correm tão livremente, tais quais os sonhos e os sonhadores, que quase nos esquecemos do ponto final. Doce prazer pueril era o de tentar reter a água do mar com as mãos. Impressionante como lutava por isto, mesmo em plena consciência acerca da efemeridade do meu êxito. Doce prazer que transcende barreiras etárias é dormir tarde, ainda que façamos grosso esforço para esquecermos o suplício que é acordar cedo. O sol nos surpreende na cama como se fosse uma verdade absoluta. Tal qual é a realidade e todo o seu vigor. Para informar que todo prazer será finito e toda loucura castigada.

Eu penso coisas tão bonitas, e do alto desta beleza que é toda minha e para mim, consigo emanar um brilho que se fragmenta com direito a desvios padrões e arredondamentos, mesmo que me pretenda o mais exato possível para o outro, este nunca sorverá até a última gota do cálice que ofereço e se embriagará o suficiente a ponto de sermos cúmplices.

O pior é não conseguir ser efusivo, nem tampouco introspectivo ao ponto de demarcar uma característica suficientemente decisiva ao meu respeito. Interagir com outras subjetividades é tão arriscado quanto brincar de roleta russa, mas amadurecer é mais lindo e gratificante que isto tudo; ou se torna cada dia mais sincero ou cada dia mais fechado em si. Como somos animais políticos...

Creio, então, que trazer para a vivência coloquial o luto inerente a cada simples esvaziamento de uma garrafa de vinho, é estar cada vez mais ciente da volta para casa, e aceitar de peito cada vez mais aberto o percurso que faremos na hora do ponto final final. E para isto devemos estar cada vez mais plenos de nós mesmos, afinal, a viagem só a nós pertence.

2 comentários:

  1. Josua,

    O grande lance é que nossas experiências ao longo da vida nunca são totalmente retiradas de nós. A plena e frustrante fase auto-erótica que nós tinhamos de nós que nos dava sensações de plenitude em nossa infância, mesmo sendo cortada pela Lei do Grande Outro, pelas limitações da cultura, pelas proibições, ela não saiu por todo. É tipo um arquivo que você joga pra lixeira do computador e exclui da lixeira, mas que ainda se guardam residuos na capacidade de arquivo no computador.

    Digo isso pois ao acharmos que estamos cientes dos nossos embaraços, novamente caimos em outro embaraço. Mesmo achando que sabemos lidar com o ponto final final, achando que sabemos como lidar com a vida enquanto esse momento não chega, nós não sabemos porra nenhuma. Voltamos as indagações, tentamos resolve-las por outros caminhos, e quando menos esperamos, olha o ponto final nos esperando!

    É por isso que sempre seremos frustrados, pois temos capacidade de criarmos projetos a ponto de sermos infindos mas temos consciência da nossa limitação, da nossa nature finda. Aceitamos a finitude, mas queremos a infinitude e por isso mesmo negamos a finitude. Aceitamos a infinitude, mas temos que aceitar a finitude e por isso tememos não saborear sequer mininimas migalhas dessa infinitude.

    um ótimo texto

    abraços

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