quinta-feira, 1 de março de 2012

VIVA A VIDA

Recentemente conversando com um irmão de fé protestante ele me falou de um indivíduo que seria enforcado no Irã por que não negou a Jesus. O irmão queria saber de mim, se eu estava triste com o fato e se, certamente, eu ainda esboçaria aquele sentimento de engajamento com o movimento proselitista Protestante. Infelizmente, o rapaz deve ter ficado engasgado com minhas novas idéias.

Atualmente o meu engajamento é com minha existência que a cada dia fica mais misteriosa e conflitante; descubro a cada instante de minha curta vida que eu não posso fazer uma escolha como o iraniano por que não posso abrir mão da única coisa objetiva que tenho: Eu mesmo. Entendo que abrir mão de mim, em um quase suicídio, seria a maior besteira de minha vida. Hoje, por meio do estudo da História das Religiões, pude ver que Deus se manifestou de tantas formas quantas são as possibilidades humanas de produzir sentidos. A cultura modela o pensamento religioso, e este devolve à mesma, a expressão religiosa cultural.

Na verdade, a idéia que faço de Deus não me permite mártires! Os mártires evangélicos Protestantes têm muito a ver com as pulsões sexuais reprimidas, e sentimentos de autopunição. A relação com o “Grande Pai” explica muito bem isso. Como um ser onisciente pode esperar de mim, um ser temporal e frágil um ato de suicídio que glorifique seu nome como dizem os crentes fundamentalistas que crêem que isso deve ser assim? Morrer por Jesus é o lema daqueles que levam a Fé Protestante às últimas conseqüências, infelizmente!

Mas, refletindo sobre o fato percebi que havia uma queixa do crente. Ele parecia revoltado com a atitude do Governo e do povo iraniano por que iam arrancar a cabeça do crente fora. Eu o lembrei que a atitude do Irã é tão cultural quanto foi cultural a atitude do governo Inglês junto com a Igreja estatal da época na “Caça as Bruxas”, no século XIX. Morreram milhares de pessoas esotéricas em nome da pureza do evangelho e do nome Santo de Deus. A igreja condenou a forca e a fogueira milhares de cidadãos britânicos! A mesma igreja que matou no passado não consegue perceber que as ações ocorrem nos eixos tempo e espaço e que essas ações são sobre tudo influenciadas pela cultural local, logo, no Irã, ser cristão é crime, e daí? Ele foi julgado pela lei local! É lamentável, mas, é fato!

A igreja Protestante do Brasil pratica a inquisição midiática contra as religiões minoritárias, de preferência, as de matiz afro-brasileiras e espíritas. As rádios, os jornais, as revistas, os programas dos pastores eletrônicos, os sites na internet, etc., possuem matérias que fazem uma má fama para essas religiões, e isso deixa bem claro que: “A Igreja Evangélica do Brasil pretende suprimir da nação, caso seja poder, essas religiões ‘minoritárias’”. Isso ocorreu na Inglaterra na caça as bruxas e nos Estados Unidos. Curiosamente, foram esses dois países que investiram maciçamente na ação missionário do Brasil no início do século XX.

Ora, matar os outros em nome de Deus não é pecado? Quantas pessoas o protestantismo matou? Para o mulçumano iraniano, matar um cristão deve ser um serviço a Ala. É uma questão de fé para eles assim como igreja no passado.
Para mim, a vida é o que interessa e ela está acima de qualquer confissão de fé. Se o rapaz tivesse negado a Jesus de mentirinha, todos acreditariam e Jesus na sua onisciência o condenaria apenas pela mentirinha. Não se pode negar a Deus, isso é um absurdo, um desconhecimento total do ser divino, que nunca se engana com nada!

Uma vida se foi por nada. Os Estados Unidos aproveitam para fazerem propaganda anti Irã. Os evangélicos fazem o marketing; “Ainda há pessoas capazes de morrerem por Cristo”. Cristo não quer que você morra por Ele! Ele, na verdade, quer que você viva sua existência plenamente; e você não precisa sustentar uma fé a trancos e barrancos no formalismo absurdo da lei. Viva a vida!

8 comentários:

  1. fantástico texto, geralmente o pensamento torto se distancia de alguns textos, porém, esse foi um grande exemplo de visão torta!

    nunca vi pedidos por aqui, mas, seria muito pedir um texto com sua visão, que é um tanto teológica, sobre homossexualidade?

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    1. Anônimo,

      Realmente não entendi quando você falou que as vezes os textos se distanciam da visão torta. Pelo menos como eu venho pensando o torto, eu acredito que a postura torta é a postura que se entorta, que muda de caminhos, que afirma, que nega, que aceita sem querer aceitar e não acieta aceitando. Enfim, não existem critérios rígidos para definir o que de fato seja uma visão torta.

      Obrigado pela contribuição

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  2. Meu caro anônimo eu te prometo na outra semana um texto sobre esse tema, que aliás, o orto está devendo. Abraços!

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  3. Roosevelt,

    Demorei para construir este comentário, mas é por que um tipo de texto desses faz a gente refletir bastante sobre muitas coisas.

    Pois é. O que eu vejo nas religiões, principalmente nas ditas religiões mais populares do ocidente, é uma necessidade de afirmar uma fé cega para as suas doutrinas. Ao invés dessas instituições estimularem o transito de ideias, o diálogo com a diversidade de crença, o que elas fazem é matar a humanidade em prol de uma bandeira a ser levantada.

    Apesar de eu náo ser um conhecedor das religiões, mas eu penso que uma de suas tantas finalidades sociais é possibilitar a comunhão entre os homens independente de sua fé, e não separá-los em campos de batalhas. Seria muito bom que as religiões esquecessem seus marketings e partissem em busca de estratégias que permitissem aos homens um aprimoramento de caminhos para se chegar ao reino do céu aqui na terra a partir do reconhecimento da importância que deve se haver no respeito ao outro.

    O que podemos notar nessa situação é que um fato que poderia trazer questões referentes aos direitos humanos, à liberdade de expressão e ao etnocentrismo religioso, termina sendo serviente aos interesses pela legitimação de um discurso que se quer descaradamente hegemônico. De um lado uma falsa democracia inconveniente que se mete em todas as culturas por se achar dona do mundo como a cultura norte-americana; do outro uma religião que se orgulha dos fanatismos religiosos.

    O que você atentou sobre o absurdo que a execução nos causou, também foi muito bom. Pois é, se os terráqueos já se acham etnocentricos por achar que só nesse pontinho invisivel do universo chamado terra existe vida, os ocidentais são os etnocentricos desse imenso etnocentrismo. Ora, como você bem atentou, quantas condenações e execuções foram feitas em nome do deus das religioes cristãs?? Ah, e não precisamos ir para longe. O fato de evangelicos aceitarem a execução de um fiél só por ele ter se negado a voltar a sua fé anterior, não seria uma forma de continuar a acreditar que tudo vale pela fé, inclusive a possibilidade de tirar uma vida?

    Um ótimo texto

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  4. Realmente Vina. Expus minha visão de uma maneira egoísta, adotando apenas a minha maneira de enxergar as coisas, e se por acaso não encontrei nada de torto em algum texto foi porque tal texto encaixou-se muito bem ao meu modo de pensar, logo não o julgando torto.

    E Srº Roosevelt obrigado pela resposta!

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  5. Eu acredito que o olhar torto é subjetivo, portanto, cada um ver seu torto ou seu reto.

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    1. Rooosevelt,

      O olhar torto é tão subjetivo que o que eu acho acho sobre o torto, amanhã posso não achar e depois de amanhã aceitar alguns pontos pensados sobre o meu torto hoje, alterado e complementado com o meu torto de ontem, o que me levará a construir uma outra forma de ver o torto amanhã, afinal, vou entortando.

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