sexta-feira, 9 de março de 2012

Au, au, au!

Os cães estão aí, nas ruas, instruindo-nos sobre a vida. Diferente de nós, sapiens sapiens, encontram-se limitados aos seus instintos, ao reconhecimento olfativo do quadrado em que habitam, absolvendo-nos da culpa pelo pontapé incontáveis vezes dado, qual raça superior incapaz de guardar o remorso e o ódio pelo mal sofrido, pelo vilipêndio de que fora alvo. Que eu tenha conhecimento, até aqui, não engendraram, como um pacto formal, um compromisso sério que os livrasse da incessante cobardia alheia. Desde o princípio, quando a mais alta patente do escalão filosófico foi comparada a eles, a Vossa Excelência Diógenes, são os proscritos do convívio social convencional, que dormem e se higienizam, respectivamente, em álgidos cantos abandonados e sujas poças de água inerte e encarnada. Não trouxeram para a sua redoma os estatutos complexos, os códigos romanos que muito asseguram e no mundo real pouco valem, sendo senão anárquicos à sua maneira, livres de uma forma que nunca seremos, respeitáveis como não é o nosso homem mais honesto. Incondicional, sobretudo incondicional, é o amor expresso deles nos momentos mais díspares, nas situações mais conflituosas em que, recatados a uma doçura infantil e poderosa, testemunham a bondade sendo ternos, arrancando do coração mais amalgamado e frio a disposição necessária para uma carícia amistosa, o subsídio fundamental para que seja suscitado o último sorriso. - Ah, cães, como os invejo por tudo o que são!

2 comentários:

  1. João,

    O pior é que o humano é um animal tão arrogante por ter criado e acreditado de forma absoluta na sua mísera razão que termina sendo o mais irracional de todos devido a sua prepotência de se acreditar enquanto racional.

    É engraçado, mas nós humanos somos tao etnocêntricos que acreditamos que só nós sentimos gozo, só nós somos capazes de salvar qualquer porra nesse mundo. Castramos nossos cachorros por mantermos nossa posse por eles e fantasiamos o argumento que os quibas dos caninos não tem finalidade alguma para eles pois eles não reconhecem o prazer de um coito.

    O negócio é a gente ligar pra carrocinha e jogarmos todos nós, caninos bipedes para evitarmos maiores perigos nas ruas para os outros animais com nossas mordidas e nossa raiva hehehe.

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  2. Ser humano, um cao desalmado. Figimos serem humanos numa humanidade totalmente habitada por canibais de ego.

    Abraco

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