quinta-feira, 22 de março de 2012

SÍMBOLOS E HOMOSSEXUALIDADE – UMA ABORDAGEM DIALÓGICA

Permitam-me meus caros tortos este breve ensaio sobre a homossexualidade. Estamos abertos às discussões.



Todos nós estamos acostumados com construções simbólicas como a=b e, o inverso é válido. Sabemos que um mesmo objeto não pode ser diferente dele mesmo nas mesmas condições físicas. A água, por exemplo, é gelo, e é vapor, pois, as condições físicas foram alteradas. Contudo a água terá sempre a mesma forma nas mesmas condições.

O ser diferente, o mudar o comportamento, o exibir uma suposta subjetividade volátil, é coisa do bicho homem. O simbólico é tão mutável quanto o seu criador – O homo sapiens. Esse animal devido às condições as quais se submeteu ao longo de sua filogênese e ontogênese conseguiu uma capacidade imensurável de significar a realidade. Digo, sem medo de pecar, que nós somos os deuses do signo gerador de sentidos.

De meras impressões na massa encefálica, principalmente, após o aumento do peso do encéfalo, o homo sapiens conseguiu realizar sinapses de alta complexidade, e deu vida a tudo isso criando um código fonético, que é representado por signos morfológicos estruturados em ligações sintagmáticas. A materialização do pensamento foi, na minha compreensão, o maior feito do homo sapiens – O silêncio do mundo terminou. O pensamento soa as partículas de ar pelo aparelho respiratório que o homem tomou emprestado da natureza.

Assim, falamos com o mundo, e falamos com nós mesmos. Somos, ao mesmo tempo, emissor e receptor de nossa fala. Há quem diga que a fala interior é fundamental para o aprendizado. No entanto, quando falamos conosco, nem sempre somos fiéis a nós mesmos, pois, o bicho homem é tão misterioso que consegue enganar a si mesmo. Bachelard acreditava que a realidade é mais onírica de que empírica. Ou que o que consideramos objetivo, não é tão objetivo quanto pensamos. Nossa capacidade de nomear é infinita, porem, o inominável persiste em nossa caminhada.

Muitas pessoas atiram pedras no gay, ou bicha, ou mona, ou viado, ou sapatão, ou homossexual. Veja que há tantos nomes para dizer a mesma coisa, e que todos os nomes nem sempre dizem da verdade – “o sujeito cuja energia sexual sai do sentido comum da sociedade”. Primeiro, temos que entender que somos nós que inventamos tais termos, e que eles refletem julgamentos morais. E se há julgamento moral, há, também, um valor moral construído pelo senso comum – me permitam dizer assim. Mas, por que senso comum?

No processo de hominização, nossa espécie viveu a homossexualidade com profunda intensidade. Os antropólogos podem falar sobre isso muito mais do que eu. As relações entre os homens, no que diz respeito ao sexo, não estavam tão presas às verdades religiosas como na sociedade contemporânea. Além do mais, o prazer não tinha sido revestido por uma roupagem moral como agora – O prazer no mundo atual tem de ser merecido e de acordo com as regras – isso, digo eu, não está totalmente errado, contudo, o prazer reprimido é causa de um profundo mal-estar nas sociedades contemporâneas.

O que mais me chama a atenção na análise da homossexualidade é sua relação com a formação do sujeito no mundo – o que alguns chamam de ontogênese. A criança nasce sem conhecer seu corpo. Isso nos leva a acreditar que a apropriação do corpo pelo sujeito está relacionada às variáveis simbólicas a que o sujeito foi submetido. Ou seja, é o meio sociocultural e psíquico que determina a direção de uma determinada sexualidade. O prazer é energia animal, a forma de obtelo é cultural, portanto, a mesma sociedade que execra o homossexual, é a mesma que o cria. Sendo assim, devo acreditar que o “sentido homossexual” enquanto signo pertencente a nossa cadeia de signos está tão presente na alma humana quanto qualquer outra forma de representar o mundo. O homem homossexual representa o mundo ao seu modo que é também nosso – indissociável de todos nós.

O estudo das mucosas nos remete a crença que elas são de alta sensibilidade ao tato e portadoras de grande erotismo, principalmente, naqueles que foram constituídos psiquicamente pela identificação com o signo feminino – o que não significa o ser mulher. Ser mulher é uma coisa, ser feminino é outra quando estudamos os signos. A explicação reducionista de que a homossexualidade é perversão ou patologia cai por terra quando nos deparamos com nossa alma feminina falando em nossos atos falhos, e que reprimimos com medo tão somente da censura. Freud estudou a fisiologia da homossexualidade e comprovou o que os machos têm erotismo anal, e que isso está ligado à cadeia de signos de cada indivíduo. Portanto, não é uma questão de escolha, ou de moral, mas, de ser sujeito, e se é sujeito foi construído pelo mundo histórico social.

No mundo dos sentidos a = b não significa necessariamente b= a. Assim, o mundo dos sentidos é tão diverso quanto as sexualidades humanas.

4 comentários:

  1. Roosevelt

    O texto foi lindo, lindo, lindo!

    Seria bom que ele passasse a ser lido por muitos falso moralistas que encontramos por aí, principalmente por muitos ditos religiosos que dizem que o importante é amar ao próximo, desde que esse próximo se comporte de acordo com as hipocrisias valorativas deles. O problema é que a necessidade de se manter na ignorância, faça com que muitos sequer processem, interroguem, requestionem o que esse texto tentou passar.

    A classificação rígida entre macho e fêmea serve apenas como forma da sociedade estabelecer um código entre seus membros, possibilitando a eles uma maior compreensão das diferenças. Contudo, essas diferenças não sao tão determinantes. Nosso aparelho psiquico com sua dubiedade, é formado por esses dois universos. A diferença é que existe apenas uma cultura externa a nós que dita que o azul é para menininhos e o rosa é para menininhas.

    Sim, revelamos essa ambiguidade em nossos atos falhos o tempo inteiro, e geralmente aqueles que se dizem "machos de verdade", são os primeiros a recorrer aos blocos dos homens vestidos de mulheres no carnaval como forma de "brincar" na festa.

    Apesar de saber que mesmo que muitos que afirmam que a homossexaulidade e normal, não conseguem muitas vezes aceitá-la devido a toda uma educaçao provocaa pela classificação de gênero imposta pela sociedade, admirei bastante o seu texto. É um pé na bunda de quem acredita que as coisas são estáticas e separadas umas das outras.

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  2. Fantastico! O que e mais lamentavel roosevelt, e que nesse mundinho de ordem e progresso, computamos a=b e b=a como sendo a mesma coisa. O mais interessante e qe a conjuntura da sociedade mudou sensivelmente, e muitas vezes, o preconceito e grupos pertecentes aos bolsoes marginais persistem, como se o mundo pertencesse ao seculo retrasado, no tempo vitoriano.Freud detectou as relacoes esse mal estar, numa civilizacao hipocrita e cheia de atos falhos, a qual tentava deturpar os nossos enigmas e instinto. A heterosexualidade e tao normal como a homossexualidade, mas a normatividade impede que qualquer simbolizacao lgitime isso. Insistimos n tecla de que somos seres ideais e perfeitos, somos a nata da filogenia anacronia. Digo isso pq as nossas sombras apontam para uma vontade de poder semelhante a selvageria demoniaca dos bichos. O homem nasceu para mulher, apenas como tentativa de organizacao do Estado Burgues, uma forma de controle disciplinar , criando um modelo de familia em micro-estados e proliferacao descabida de seres humanos. Na minha concepcao, qnto mais incentivode proliferacao dos humanos, mais bestial e essa politica.
    Nos tempos dito pos-moderno, o desarranjo e imenso, temos uma mania de inclusao, de democratizar os desvalidos e ao mesmo tempo excluimos. A sexualidade , atualmente, transita entre a pos modernidade louca e a repressao emburrecida da epoca vitoriana. Usamos o corpo, a sexualidade para expormos, na mesma medida que o sacralizamos, como snta no altar.
    Opcao sexual ou determinacao, seja ela genetica ou cultural, que seja. Assim como a heterossexualidade e legitimada, uma tendencia dos genes ou uma estrategia de controle da civilizacao desordenada.


    um abraco

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  3. Isso minha cara Maíra. Não podemos, simplesmente, fechar os olhos para um fenômeno tão presente na sociedade por questões unicamente morais. A regulação do viver deve partir de uma compreensão racional de toda a fenomelogia humana. Acredito eu que se a moral fosse menos tabu e mais racional muita gente não estaria no limete entre o sano e o insano, nem os laboratórios de ansiolíticos não ganhariam tanto dinheiro acalmando o bicho homem, a velha cidreira resolveria o problema. Abraços tortos!

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  4. O senhor então acredita, chegou a conclusão, que a homossexualidade é determinada pelo meio social ?

    João

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