segunda-feira, 19 de março de 2012

Amor: Um desastre Humano

O amor e uma prova da super complexidade humana. Nao sei se os bichos amam, pelo menos tenho a certeza que nao amam na mesma intensidade dos humanos. Amar da trabalho, pois sempre estamos em processo de regressao psicologica. Aquela que nos abandonou, figura materna, deixou uma ferida cronica e incuravel, precisamos incessantemente de alguem. Um outro que nos reflete na nossa imagem narcisica, um traco que nos provoca incomodo e dai nos atrai.

Isso e amor, possessao e propriedade. Um outro que em questao de segundos torna a nossa prioridade em propriedade. Para que uma relacao se estabeleca, um circuito afetivo e criado pelas antipodas carnivoras do nosso ego. Quero voce porque projeto todas as minhas insegurancas, meu desejo e meus fetiches incuraveis. Consigo ver no outro, um outro pertencente a mim, como parte da minha anatomia o qual provoca dor e desespero. Amor e carnivoro, um fenomeno antropofagico, mas nao admito. As relacoes humanas sao estranhas e essencialmente hipocritas. Creio que seja um mecanismo de defesa egoico e sociologico que necessita de regras para sobreviver a essa relacao agressiva.

Esse sentimento humano que nos desumaniza, revela a essencia difusa do ego: queremos posse, mas nao podemos por ferir os preceitos utopicos do livre-arbitrio do outro. Usamos a palavra respeito para legitimar a relacao amorosa como sendo pura, denominamos o amor como o sentimento mais sublime, para ocultar a sua sombra egoista. Amor nao e virtude, e sim um vicios descontinuo que impoe-nos a prova de fogo perante os acordos civilizatorios. Dai, a culpa nos oferece como consolo inconsolavel, como diria Roland Barthes, em Fragmentos do Discurso Amoroso "Como homem ciumento eu sofro quatro vezes: por ser ciumento, por me culpar por ser assim, por temer que meu ciúme prejudique o outro, por me deixar levar por uma banalidade; eu sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum."

Entao para que amar o proximo? Imagino que esse amor ao proximo nada mais e que desastre, e quando se coloca em uma perspectiva social, cria-se uma anomia, pois nenhuma lei pode ser estabelecida para controlar os coracoes nervosos dos humanos.
O amor envolve o odio, e dai afirmo que sao sentimentos bipolares que se harmonizam. Nao existem formulas quimicas, pensadas por pretensos pensadores, que sintetizem o jogo amoroso. Nem discursos biblicos que proliferam o amor gratuito ao proximo. Adaptacoes ja foram tentadas para tentar entende-lo, pos- modernos afirmam amar livremente, desprendidos do apego. O erro nao esta no apego, mas nele, no infortunio amoroso. Ele estraga as nossas pretensoes de liberdade, ou seja, se amo, abdico o meu inexistente espirito livre.

Mesmo que algum espirito livre tentasse evitar esse desarranjo egoico, ele nao conseguiria, pois o desespero em buscar do traco perdido e mais forte. E uma busca obsessiva- compulsiva, pois buscamos se nao temos para evitar o vazio existencial, se temos, queremos a liberdade que promete a calmaria.

Somos eternos orfaos, desacalentados do amor incondicional materno. O amor puro foi uma promessa falivel que nos provocou uma falta, uma clivagem irrestauravel. Amar o meu proximo e um erro inominavel, que vejo nesse outro um objeto de desejo, de posse e submissao as minhas vontades.

14 comentários:

  1. Maira,

    Um excelente texto!

    Sim, atualmente andamos insistindo no discurso do amor livre, no entanto, esse amor livre não existe, pois justamente criamos o sentido do amor como forma de amenizarmos a nossa profunda ferida provocada pelos nossos mais remotos sentimentos de perdas e de abandonos da figura materna. É a velha castração que apareceu para tirar de nós aquele gozo absoluto de super-proteção que tinhamos ao ser O objeto visado com toda a exclusividade por aquele que prezavam por nossa segurança.

    Que pode existir amor livre, até eu acho que pode, mas tenha certeza de que não é amor (no sentido que damos como cultivo de um sentimento), e sim, um desapego que temos com alguém e que bscamos esse alguem apenas para nossos prazeres imediatos. Construir um amor por alguem, sinceramente, eu acho que na prática nao se concretiza esse tal amor livre.

    E engraçado, mas mesmo quando temos um discurso bem elaborado acerca da liberdade do outro, é muito dificil colocarmos esse discurso plenamente em nossa prática diante das experiências vividas por nós em relaçao ao outro. O ciúme e a insegurança sempre existirão pois como você bem expôs em seu texto, o amor é resultado de uma estratégia que criamos como forma de tentar reestabelecer a nossa frustração provocada pelo sentimento de perda e de abandono da figura que se dedicava a nós o tempo inteiro. O ciúme e a insegurança nada mais é do que o receio de rememorarmos esse momento dificil de nossas vidas do qual não temos acesso pela via linguistica. São só sinais de um tormento provocado por nossas fantasias infantis.

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  2. O amor como tudo mais do humano é coisa de bicho. O amor do bicho ganhou sentidos tantos que tentamos explicá-lo e nos perdemos em nosso discurso por que nosso coração nos trai na primeira esaquina - eu nego o amor até que ele me seduza e faça fazer todas as coisas que eu detesto. O amor, instinto humano psiquificado é a coisa mais animal e humana que o bicho gente já construiu culturalmente. Ele é tão forte como a morte. Tão iluminado quantoa vida, tão horrendo quando ferido quanto a língua da bruxa má. Mas, eu pobre existencialista, diria, fazer o que numa vida tão insípida? Melhorar é me aventurar no amar, de prefência a mulher de minha terra tão quente quanto as chamas do amor. Belo texto minha linda, saiba que no final, as melhores lembranças são as do amor...

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    1. Roosevelt,

      O amor foi criado devido a uma necessidade emergencial que o bicho-homem precisou construir para abafar ao máximo possivel a sua grande frustração decorrente da sua perda. Sim, o corpo total, o corpo misturado com os ideais plenos da nossa infancia primeva foi justamente o corpo frustrado por se ver limitado a poder se usufruir dessa tamanha totalidade. Temos em nosso imaginário a ideia de um corpo que foi despedaçado, um corpo reduzido a uma intensa frustração em volta de um mundo fragmentado, recortado e inconciliável. Ficamos com a fome da outra banda da maçã e carregaremos essa vontado ao longo de toda a nossa vida. Tentativa vã de conquistá-la novamente, pois a ideia de acreditar na re-apropriação do todo não passa de uma mera fantasia construida por nós. Nunca fomos totalidades, mas a vontade de termos parte nossa de volta... ah, por essa a gente ri, chora, luta, desanima, ama, acredita e morrer de tormento e de amor.

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    2. Vina,

      E isso mesmo, sempre estamos a procura da nossa doce fantasia de amor total, perdido na infancia. Nao que ele existia, em realidade, mas havia uma alienacao nessa realidade: de que poderiamos corporificar em nos aquilo que amamos. Depois da ideia de castracao, sofremos a ameaca de perda e a perda de fato e dai vivemos de ideal sempre buscando no outro esse traco, para preencher esa lacuna. Uma lacuna que nunca se preenche, uma vez a banda da maca perdida, ela nao pode ser recuperada. Acredito que o amor nao seja criacao para nos defendermos dessa perda, ate pq se perdemos e pq amamos anteriormente, mas algo incutido na complexidade humana, um sentimento que nos identificar como seres crueis e condenados a sofrer por el, o amor.

      bjos

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  3. Vina,

    Concordo com suas palavras quanto a ideia do amor livre. Acredito que essa ideia tenha influecia direta dos pos-modernos. Apesar de vivermos em um mundinho de faz de conta de ordem e progresso, captamos bem essa influencia, reafirmado pelos hippongas da revolucao dos 60. Amor livre esta na moda, soa estranho sermos obssecado por alguem, antes de tudo, antiquado. Ao mesmo tempo, vejo que o amor livre e uma reacao a essa complexidade, e um suspirro contra o desacordo entre a dor do gozo e a liberdade. Amor nao e compartilhamento e sim juncao daquilo que nao temos e nos esforcamos para te-los. E uma alteridade familiar, o estranho e o reflexo de os mesmos. Irei complementar quanto a sua afirmacao acerca do amor sendo um ecanismo de defesa contra o abandono. Vejo que o amor, antes do abandono materno, sempre existe, mas numa conjuntura diferente. No primeiro momento, havia uma forte alienacao de que o corpo materno pertencia ao nosso corpo tambem, a partir do momento que nos damos conta que o principio de realidade esta fora desse prazer oceanico, sofremos a castracao e o desespero compulsivo de ir em busca daquilo que nos falta. Esse sentimento de pertencimento do outro e o que denomina o amor, uma falta eterna e ao mesmo tempo possessao imensuravel daquilo que acredito que seja meu.


    Um abraco

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  4. So complementando, usamos o amor como essencia, como sentimento para nos defendermos, mas o discurso amoroso no qual coniste um sentimento cristao e sublime em que usamos ele para estarmos em paz com o outro. Nao passa de uma estrategia para conter a agressividade desse outro. Um aordo civilizatorio para conter o homem- bicho.

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  5. Roosevelt,

    Sim, as melhores lembrancas sao as do amor, acredito que seja porque ele provoca dor, desconforto e ameaca de perda. O amor nos trai, faz no sentirmos ridiculos perante ao nosso bom senso, com ele desconhecemos a nossa èssencia`de humanos civilizados.O amor foi convertido de selvageria para um sentimento nobre, sublime. Aquilo que nos idetifica como bicho e cautelosamente lapidado para nos fazermos mais humanos numa civilizacao desgracada.

    um grande beijo

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  6. Minha cara maíra,
    Concordo plenamente com você, até mesmo por que a única vez que te vi pessoalamente, vi tanto amor em você, vi tanta vida amorosa retida em tua carcaça abençoada por zambi. O amor fluirá de você como correntezas que te levarão as mais estranhas loucuras e a realização de teus sonhos mais ocultos. O amor te fará pari mais vida. e salve o véio!

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  7. E espero roosevelt! e espero tb que ele nao me destrua porque ha uma forcairreversivel entre as pulsoes de vida e de morte.Ao mesmo tempo que o amor constroi imperios, o mesmo e capaz de devastar uma humanidade inteira. Um grande abraco.

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  8. Hi Maira,

    Good to see you as enthusiastic and positive as ever. Whoever you are with must be having the right impact. Only Joking! I Really enjoyed the article it captures the complexities and dynamic nature of love. In relationships people confuse love with obsession, possession, desire and necessity, which you distinguish well in your article. Love has so many different traits and features that makes it hard to define and analyse. Love begins with instant intimacy, a feeling of ecstasy and uncontrollable desire. Love creates insecurity, uncertainty, fear of rejection, a need for reciprocation, possession and inevitably jealousy. Love is dependent on imagination and often manipulation, where there is always a constant struggle between the two elements. The ironic thing about love is when the romance is over and the love is lost it, it is replaced with hatred and rejection. Love is an overwhelming experience and is probably the most important feeling in life. Love makes us happy but also makes us suffer sometimes. Love can be debilitating and damaging but it is a necessity. It makes us give up everything in our pursuit of it and sometimes clings on to any shred of hope. Like the Beatles song “All you need is Love”, Yes it may be a bit naïve and cheesy but whether people like to admit or not, it is what we strive towards, what we build our future around and sometimes in certain cases all people have in their lives.

    Take care,

    Liam.

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  9. Hello Liam,

    I liked your comment because you addressed that love has many faces. Not only in a negative conception. I do not believe that we confuse love with obsession, as you approached, because love is manifested in the form of obsession. Everbody is terribly obsessive. I think we need to feel full as someone who enjoys reading books dares masturbating in front of the mirror. Love gives us a need to commit unforgivable sins.
    Even the lyrics of the Beatles seem to be cheesy, they are accurate. All you need is love. Love forces your body to convulse violently on top of someone in bed, set off a bomb to end up destroy the planet or kill a fly.

    Take care,

    beijo, xero e tchau tchau.

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    1. Maira

      Tudo bem, eu até entendo quando você diz que o amor é a própria obsessão, mas eu acho que às vezes essa obsessão atinge um nivel extremamente nocivo em uma relação entre duas pessoas. Tá, a obsessão faz parte da ação de amar, mas existem certas obsessões que extrapolam a capacidade do individuo em separar uma fantasia de uma maldita paranóia.

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  11. Sim, sim. Sem duvidas. Acho que Liam abordou um ponto muito bom, sem cair nas concepcoes empobrecidas de amor, como um sentimento mais lindo do mundo. Precisamos sim do amor para nos sentirmos plenos, mas vejo que cada um administra de modo como pode. Tentei expressar nesse texto o amor em sua suposta, digamos assim, essencia. Uma essencia mais humana, doentia, se voce comparar com os conceitos do amor cristao. Se conseguimos tirar essa roupagem de bondade, seremos imensamente mais humanos, expondo a alheia crueldade humana.

    bjos

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