segunda-feira, 6 de junho de 2011

Reencontrando Josellen Bolucha

Só depois de uma semana que minha querida amiga Josellen Bolucha me procurou. Aproveitei e a convidei para tomar umas no Traseiro da Estratosfera. No bar, ela teceu alguns comentários acerca do texto que postei no torto sobre os gordos intitulado “Preconceitos e hipocrisias”. A partir de suas indagações, eu resolvi dar continuidade ao tema só que falando sobre a condição do gordo nos discursos referentes às categorias marginalizadas.

Em nossa conversa, detectamos coisas muito pertinentes. Bolucha me questionou:- nós sabemos que os gordos, como todas as categorias excluídas da sociedade, sofrem preconceitos e têm que conviver com os discursos e com as ações hipócritas do politicamente correto, mas não será a categoria do gordo, a categoria que mais sofre opressão em nossa sociedade? Refletindo sobre sua indagação, concordei e encontramos algumas hipóteses.

Vejamos: vivemos atualmente em uma cultura que tem a obsessão de falar sobre a saúde. Nesse sentido, os gordos se encontram na contra-mão do Ideal intentado pelo nosso contexto atual. Óbvio que não podemos descartar as questões hereditárias que fazem alguns indivíduos se apresentarem à sociedade com suas estéticas de banha, no entanto, o que não podemos negar, o fato de ser gordo remete automaticamente a idéia de não ser uma pessoa saudável.

Enfim, o gordo termina sendo a resposta mais opositiva a uma sociedade atormentada pelo zelo com a beleza e com a saúde. É fato que ser gordo implica uma certa irresponsabilidade com a educação alimentar e com os hábitos referentes a atividades físicas, e é nesse sentido que as baleias, seja por falta de cuidado com a saúde ou com a não preservação de um corpo legitimado esteticamente, tendem a ser colocadas na condição de culpadas e de patológicas.

Aproveitei a décima rodada de cerveja no bar e comentei com Josellen Bolucha acerca de um papo que eu tive com minha amiga Uyara. Para Uyara, o discurso voltado a encarar o gordo como culpado é tanto que ao se falar sobre a anorexia, os noticiários encaram o fenômeno com um olhar de piedade. Quando esses noticiários se referem à condição dos gordos, eles rapidamente os colocam na posição de irresponsáveis e culpados pelos seus corpos.

O mais irônico é que se tratando das categorias socialmente marginalizadas, o discurso tende a ser colocado ou como excesso de vitimização ou como excesso de fetiches. Nesses dois casos podemos citar como exemplo os pretos. Se observarmos bem, eles são coitadinhos e a sociedade recebe críticas por segregarem-nos, mas também os pretos são objetos de cobiças sexuais. Já as baleias não são nem coitadinhas e muito menos cobiçadas sexualmente.

Quando minha alma baleia começou a ficar bastante atormentada, Josellen Bolucha me fez uma observação que amenizou minhas dores: os boluchos pertencem a um grupo marginalizado com possibilidade de reverter seus quadros, afinal, o gordo pode emagrecer, mas reconhecemos que é justamente devido a essa possibilidade de reverter nosso quadro que a condição de nos colocar como culpados assuma tamanha força em relação aos outros excluídos.

Depois desse argumentou eu perguntei a minha querida cachaceira bolucha:- mas e os pobres? Eles não podem um dia se tornar ricos? Eles não podem reverter seus quadros? Por que eles são colocados como vítimas? Segundo Bolucha, a diferença é que no caso dos pobres, a culpa recai no sistema econômico em geral. Já no caso das baleias, a sociedade as encara como culpadas, pois só depende delas a possibilidade de se tornarem as sereias idolatradas.

Nós temos que convir que outras categorias que não são vistas de forma reprovativa pela sociedade já atingiram o estágio pelo menos da hipocrisia discursiva. Isto é, mesmo que no fundo, assim como os gordos, os excluídos dessas categorias não se admirem entre eles por serem educados socialmente a classificar etnias, opções sexuais, etc, eles têm ao menos a admiração da sociedade e podem autoafirmar seus valores de grupos.

Bolucha estava de olho em um macho não-gordo no bar, mas ele estava de olho era no traseiro estratosférico da garçonete preta e não-gorda do bar Traseiro da Estratosfera. Contudo, a garçonete Maria Café tinha quatro irmãos. Dois deles presos, um viciado em crack e outro desempregado. Socialmente nada se alterou, mas todos queriam comê-la. Josellen Bolucha? Pagou a conta e foi para casa assistir as gostosas balançarem seus rabos na TV.



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TEXTO DA SEMANA: FIM DAS DISTINÇÕES MUSICAIS?

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8 comentários:

  1. Uma análise sociológica com um humor direto e eficiente e até mesmo certa dose lingüística.
    Enfim, caro Vina, nada mais tenho a dizer senão que aceito plenamente a argumentação, apesar de assumir nunca ter problematizado tão a fundo o problema da exclusão (com injeções de culpabilização e congêneres) dos obesos.

    Abraço!

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  2. kkkkkk

    Esse ai é o tipo mais digno de louvor por ser capaz de conviver com a mediocridade santa da sociedade cheirosa do politicamente correto

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  3. Pode crer! Eu não ia querer está na banha, digo, na pele de uma dessas, opa, de um desses. Tenho sorte por acharem meu aspecto cadavérico atraente (ou não).

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  4. A questão é que há quem ache "a banha" atraente. E não estou falando de poucos não...

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  5. Lou,

    Apesar de reconhecer que os gordos se encontram em condições excludentes, compactuo com as palavras de Josué, até por que esses que estão sentindo na banha a exclusão, muitas vezes pegam mulheres e homens de perfis identicos às dos não-boluchos. Muito idênticos!

    um abração sincero do seu amigo-picanha hehehe

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  6. É. Então não há tanta exclusão assim... Depois, relacionamentos podem se basear em uma série de outras idealizações que não estritamente envolvidas com o aspecto físico e econômico.

    Da série: não coadunando com o 'discurso positivista' acadêmico que analisa ignorando os desvios padrão na demonstração de uma análise macrocosmica.

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  7. Lou

    Veja: não é por que as baleias podem se relacionar com perfis parecidos com os dos cadavéricos ou os gostosos que necessariamente a gente pode afirmar que não haja tanta exclusão. Em uma certa frequência, o balofo e a balofa recebem exclusões da sociedade, o que não significa dizer SEMPRE.

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