quinta-feira, 2 de junho de 2011

o clérigo

O Clérigo
14 de julho de 2008

Estava escuro na terra grande.
Todos andavam de mãos dadas e mentes separadas.
Todos buscavam a luz.
Toda manhã era noite e o dia nunca terminava.
Todos os meninos cantavam nas praças.
E todas as casas estavam abertas com as portas fechadas.
O clérigo bateu à porta,
Ela não se abriu
Então ele a arrombou.
Os pardais não são brasileiros.
Eles são bichos importados.
Todos os pardais cantam como sabiás.
Todos os brasileiros são como pardais.
A gente sente e não entende;
A gente chora porquê sente;
A gente canta como pardais;
Nas praças, nas árvores, todo dia...
Estava escuro na terra grande...

2 comentários:

  1. Roosevelt,

    Uma belíssima forma de se descrever a forma como nós brasileiros estabelecemos com as coisas. É como ja conversamos, no Brasil tudo se chega de forma inversa. Copiamos um modelo que dá certo em tal lugar e afoitos, esquecemos que temos nossa singularidade histórica, que temos um processo histórico diferente dos outros. Nosso "descobrimento" foi assim, nossa "independência" foi assim, nossa "república" foi assim, nossa "abolição" da escravatura foi assim, e foi assim muitas coisas que se eu fosse elncar, daria um bom livro hehehe. Como atentou nosso eximio e poeta Cazuza "são caboclos querendo ser ingleses". Tudo que fazemos aqui é uma apropriação mal feita das coisas. Pensando nisso, não é de se estranhar essa nossa relação estranha com o público, com a arena politica, com o Estado, com nossa história, pois foi tudo imposto e muito pouco surgiu de nossa espontanea vontade. Tudo foi feito por criações. Brasil é um pais da fantasia frustrante do planeta hehehe.

    "Todos andavam de mãos dadas e mentes separadas". Isso foi de arrepiar.

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  2. Continuando...

    Este poema também me remeteu a uma outra indagação que se refere ao processo hipócrita e alienante de muitas religiões. Religiões que externam discursos referentes ao respeito à diversidade, mas que no entanto se prende em sua propriedade privada, religiões que pregam o desapego material, mas que empiricamente se degustam de suas ambições, religiões que condenam os humanos por falsos testemunhos, mas que se acha no direito de classificar arbitrariamente as atitudes que não lhe convem. Enfim, religiões que respeitam os outros como irmãos, mas que se acham no direito de arrombar a porta daqueles indispostos a suas palavras. A imposição, a tirania, a falta de amor, a falta de respeito, dentre outras coisas. Enfim, deste poema eu tirei muitas coisas a mais...

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