segunda-feira, 27 de junho de 2011

Músicas e excessos de metáforas

Neste texto eu gostaria de desenvolver as seguintes indagações: o que faz a MPB ser tão consumida entre o setor médio universitário? Quais são as características que contém essa música que justificam a grande intensidade de consumo dela em meio a esse setor? Acredito que a complexidade temática é o maior fator que leva esse setor a se identificar com a MPB, mas por que é justamente essa complexidade que produz essa identificação nesse setor?

Uma classificação convincente é bastante complicada, mas quando falo de setor médio universitário, refiro-me ao setor que possui certo prestígio social por ter capital escolar e não se encontrar na condição inferior da pirâmide, mas não possui a riqueza da elite econômica, pois apesar do certo prestígio, os indivíduos desse setor são trabalhadores assalariados. Um setor que detém de um prestígio social, mas que não possui a maior riqueza econômica.

O que leva o setor médio da sociedade se atrair por repertórios que contêm letras complexas e com excessos de metáforas? Acredito que o fato dos setores médios se encontrarem no meio da pirâmide social obriga-os a aprender a viver experiências ambíguas em seus cotidianos, pois ao mesmo tempo em que não são subalternos e possuem o poder, também não possuem o poder, pois não são extremamente ricos por não pertencerem a elite.

Os indivíduos dos setores médios ao refletirem acerca das experiências sociais pelas quais passam cotidianamente, fazem eles viverem uma rotina conflitiva, pois possuem boas influências tanto do lado da elite econômica, quanto do lado dos setores mais subalternos da sociedade, mas ao mesmo tempo não possui poder nem em um lado, nem em outro. São pobres querendo ser ricos, são ricos sendo pobres, são pobres e ao mesmo tempo também são ricos.

O indivíduo da classe média transita perdido em sua condição intermediária tentando atender tanto o lado mais fraco por ele necessitar do apoio desse lado por ser também mão-de-obra assalariada, mas ao mesmo tempo busca atingir o apoio da elite, afinal, mesmo o setor médio da sociedade não possuindo o prestígio material dessa elite, esse setor está consciente que diferente dos setores periféricos, ele se encontra em situações sociais menos precárias.

Podemos encontrar essa ambivalência nos discursos construídos pelos setores médios. Por um lado eles valorizam as ditas músicas críticas da MPB por dizerem que se preocupam com a realidade social e com os setores subalternos da sociedade, o que não deixa de ser verdade, pois o próprio setor médio sofre conseqüência dessa realidade por não pertencer à elite, mas por outro lado descarta as construções textuais populares aceitando apenas os modelos elitistas.

Enfim, dizem odiar os ditos burgueses, mas admiram os modelos elitistas, afinal, o setor médio, por se encontrar no intermédio da hierarquia, recebe as influências estéticas da elite; mas por outro lado, defendem os desprivilegiados, uma vez que, por fazer fronteira com esse setor, também recebe os valores dele. É por isso que o setor médio se alia com os subalternos e com a elite e ao mesmo tempo se nega a defender tanto a elite quanto os subalternos.

Essa é a realidade dos setores médios da sociedade. Fazem aliança com os dois lados, mas também desfaz aliança com os dois lados. Essa inevitável condição de assumir esses dois lados da moeda sem pertencer a nenhum, faz com que os indivíduos dos setores médios agreguem em seus repertórios, canções de teores ambivalentes, afinal, essa ambivalência nada mais é do que o reflexo político e social vivido cotidianamente pelo indivíduo médio da sociedade.

Como a música é a expressão de uma dada realidade, nada mais justo do que entender o porquê dos setores médios adorarem canções de difíceis traduções e de zombarem tanto das ditas canções simplórias do povão, afinal, para atender seus interesses confusos, o setor médio se reveste de milhões de metáforas, afinal, ele não pode se apresentar apenas para um lado. A melhor forma de o setor médio expor um sentimento é expressando-o em várias direções.

61 comentários:

  1. O público universitário, hoje, é bastante heterogêneo. Ouso dizer que os ouvintes das músicas complexas compõem uma parte minoritária, da qual não podemos alijar o seu olhar cada vez mais receptivo para com os músicos da grande indústria fonográfica. Constato também que essa situação se reflete na vida política das universidades: geralmente os consumidores dos pagodes baianos da vida encaram a universidade como uma escola técnica, prescindindo o seu aspecto mais orgânico, e os consumidores da música refinada e metafórica são ou os indiferentes, solipsistas - meu caso -, ou aqueles que compõem o débil movimento estudantil hodierno. Mas há ainda uma outra categoria, composta por aqueles que pretendem justificar as músicas da grande indústria, geralmente mascarados com as pretensões de uma estranha luta por uma democratização e tolerância cultural, mas que não compartilham dos valores presentes nesse tipo de música, nem de como tal cultura opera nos subúrbios onde ele está mais arraigado.

    JP

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  2. Depois dê uma lida nessa entrevista do eminente músico Rômulo Fróes. Acho que ele, nela, fala de maneira verdadeiramente inteligente e pouco emocional, expondo com clareza as questões realmente pontuais do mercado fonográfico:
    http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/928919-cantor-romulo-froes-fala-sobre-idiossincrasias-de-sua-geracao.shtml

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  3. "Mas há ainda uma outra categoria, composta por aqueles que pretendem justificar as músicas da grande indústria, geralmente mascarados com as pretensões de uma estranha luta por uma democratização e tolerância cultural, mas que não compartilham dos valores presentes nesse tipo de música, nem de como tal cultura opera nos subúrbios onde ele está mais arraigado."

    Pois é, rapaz...

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  4. João

    O que é que impede uma pessoa lutar pela democratização e pela tolerância musical sem aceitar certos aspectos de determinadas canções? Eu posso dizer que o pagode é tão válido para as relações sociais quanto a MPB e odiar o pagode. Sim, para você perceber que nesse sentido, está havendo a tolerância. Não podemos confundir tolerãncia com apenas gostar de uma música. Tolerância é você poder não gostar de determinada música mas entender que existe quem gosta.

    O que não podemos insistir é em criar classificações precipitadas e cegas de ódios acerca de determinadas apropriações estéticas de setores sociais. Por exemplo: existem indivíduos de setores periféricos que se quer imaginam o cotidiano de um individuo da elite econômica e se acha no direito de tirar conclusões definitivas e universais como vice e versa.

    Aí é onde se encontra o velho problema da intolerância e por isso mesmoeu acho válido se questionar e criticar é a monopolização dos gostos musicais das midias massivas, assim como as prepotências de alguns dos não-massivos que ja chegaram a mim a ponto de afirmar que o público é para os não-massivos já que os massivos têm os meios de comunicação de massa pra se entreter.

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  5. Continuando...

    No mundo acadêmico de fato existe uma heterogeneidade visível, mas eu ainda acredito que a frequencia de consumo para canções marcadas por complexidades temáticas ainda se concentre mais nos setores universitários e mesmo quando muitos não gostam de canções classificadas de "alto nível", para se sentir pertencidos ao ambiente acadêmico, eles constróem discursos compensatórios para justificar sua opção por outras músicas para se livrar da "baixaria periférica". Portanto, apesar da heterogeneidade, existe ainda a distinção entre ambiente social e classificação cultural.

    Entretanto, reconheço que em meu texto eu coloquei de uma forma como se a universidade fosse composta apenas por indivíduos consumidores das canções ditas complexas. Foi realmente falho da minha parte não ter atentado para isso. Obrigado pela observação.

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  6. Uma pergunta aos colegas: onde termina a música simples e começa a complexa?

    Abraço

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  7. Josua,

    Veja bem: não podemos também descartar a objetividade das coisas. Por exemplo: sabemos que as leis são feitas através de projetos em mãos de representantes que em sua maioria não está nem ai para os setores periféricos, entretanto, mesmo não sendo a lei dos periféricos, não significa dizer que eles não busquem agir de acordo com o que a estrutura determinou como coerente para as nossas ações. Bem assim podemos comparar a questão das músicas: mesmo sabendo que a inferioridade, superioridade, fealdade e a beleza não se restringem a modelos musicais, com uma certa regularidade, princiaplemte para quem tem o dominio técnico da música, certas estruturas composicionais são menos desapegadas e até mesmo desconhecedoras de arranjos que OBJETIVAMENTE entendemos como complexo. Agora se culturalmente a gente cria distinções pejorativas para a opção de escuta de um público, aí sim eu posso dizer que é bastante questionável, até por que uma música convencionada como complexa, pode não atingir um outro que se esbalda na simplicidade da outra música. Em se tratanto de "verdades" nas expressões, nós temos que de fato exercitar com mais cautela a subjetividade das coisas.

    abraços

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  8. "certas estruturas composicionais são menos desapegadas e até mesmo desconhecedoras de arranjos que OBJETIVAMENTE entendemos como complexo"

    Caro Vina, então é preciso que se discorra sobre o que é objetivamente complexo no sentido da música..
    Veja, não estou desafiando os colegas. É uma pergunta sincera, mesmo.

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  9. Em tempo, eu já participei de debates com estudantes e estudiosos da música que não consideravam sequer Rossini complexo, e olhes que eles explicavam isto em termos técnicos.
    Se Rossini for simples, certamente não vai ser Chico Buarque, por exemplo, o complexo.
    Enfim, não estou colocando isto de forma final.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Josué, talvez devêssemos valorar a complexidade de determinado músico tomando como referência critérios básicos, como o contexto em que sua arte foi desenvolvida e o tipo de música que ele se propôs desenvolver. Talvez Rossini, no âmbito da música erudita, tenha a mesma relevância que Maria Gadu tem para a nossa MPB. Acredito que os jogos de linguagem concernentes à arte de cada músico, em casos como esse, nos preserva de termos os juízos barrados pela lógica de seu argumento. Assim, por exemplo, talvez a música de Chico Buarque corresponda à de Sabotage, pois, dentro do contexto artístico a que pertencem, ambos podem ser tidos como complexos.

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  12. Mas só pra constar: usei o termo "música complexa" me baseando na argumentação de Vina.

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  13. Josua,

    Mas eu não estou levando como zombaria não. Você sabe muito bem do quanto eu me nego a aceitar hierarquizações discriminatórias. Utilizei o termo complexo do simples como uma forma até mesmo de avaliar o julgamento que nós fazemos dos tipos de música. Bom, como você bem sabe não sou músico, não conheço técnicas de música, campo harmônico, escala e essas coisas aí. Tomei a definição da forma como eu já ouvi falarem para mim. Inclusive, não se se você já leu, mas na minha dissertação, no momento das entrevistas, eu entrevisto os estudantes de música da UFS e consensualmente eles se referiram a música brega como uma música construida de forma simples. Enfim. Agora, em se tratando de julgamentos do que é bom ou não, aí a coisa muda para mim, afinal, nego-me a aceitar a visão que muitos ditos oponentes do sistema resumem ao dizer que quem ouve cultura de massa é alienado, manipulado. Quanto a isso eu acho que não preciso mais frementar essa minha opinião que por sinal, você já conhece muito bem. Quanto ao objetivamente em caixa alta, eu só quis reforçar a comparação dos meus exemplos. Tranquilidade

    abração

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  14. Caro Vina,

    Eu entendi que foi sério, querido. É porque pode ter soado arrogante de minha parte a pergunta, quando quero, de fato, discutir e começar a construir uma opinião mais sólida sobre este ponto que me atormenta.

    abraço

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  15. João,

    Sua observação foi interessante, no entanto, puxa outras problemáticas. Por exemplo, a atenção que você chamou para o contexto, utilizando o exemplo de Maria Gadu para a MPB, fez-me pensar na questão do gênero.
    Daí vemos outra questão nascer, os artistas se predispõem a soar como MPB? Ou para cada compositor temos um contexto diferente, portanto sendo qualquer comparação débil? Afinal, o que tem a ver o trabalho de Djavan com o de Tom Zé? - Muito Pouco. No entanto, os dois estão presentes em quaisquer enciclopédias de MPB.
    Sei que o exemplo de Maria Gadu e Rossini foi meramente especulativo, mas só pra registrar, este compositor tinha o louvor estético do próprio Wagner, este sim sempre exaltado em rodas de discussão.
    Mas voltando à questão do contexto, se pegarmos artistas com trabalhos aproximáveis ao de Chico, teremos João Bosco e Edu Lobo, diante dos quais a obra de Chico , em termos musicais, ao meu ver, fica consideravelmente simples, o que não tira a grandiosidade deste artista, lógico.

    Já se o contexto for dado temporalmente, aí já era. o que são, tecnicamente, as músicas de Chico pra as de Frank Zappa?

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  16. Josua

    Inclusive eu tenho que dizer que essa sua indagação está me inspirando um tema para o cinform da próxima semana. Pra variar, os debates que você traz provoca muitas problematizações enriquecedoras.

    Vamos lá: enquanto eu lavava meu corpinho com meu sabonete cheiroso, eu fiquei a indagar acerca dessas questões e cheguei a seguinte conclusão: as classificações são inevitáveis. São positivas quando ela nos norteia em nossas escolhas. Elas são negativas quando a partir dessas classificações, elencamos as coisas de forma crescente, ou seja, o melhor e o pior.

    Como eu tembém disse, apesar da diferença entre simples e complexo nos remeter aquela ideia do rustico, ignorante e do civilizado, gostaria de colocar o segunte: tratando-se de elaborações, podemos dizer que Ramones é tão mais dificil de ser tocado que Mozart? Enfim, talvez a ideia do complexo me venha com esse sentido, ou seja, de não ser algo que você possa manusear a curto prazo, o que isso não quer dizer que por isso Mozart seja melhor que Ramones.

    Enfim, o lance pe saber que inevitavelmente classificações e adjetivações são feitas mas que não necessariamente precisamos dizer com isso que elas possam ser julgadas como inferior ou superior. Permita-me esclarecer essa minha afirmação, utlizando-me de um trecho do seu comentário a João: "se pegarmos artistas com trabalhos aproximáveis ao de Chico, teremos João Bosco e Edu Lobo, diante dos quais a obra de Chico , em termos musicais, ao meu ver, fica consideravelmente simples, o que não tira a grandiosidade deste artista, lógico". Perceba que mesmo você deixando claro a impossibilidade de você retirar a grandiosidade de Chico, inevitavelmente você a coloca como mais simples em relação ao que você acha dos trabalhos de Bosco e Edu Lobo.

    Vamos continuando esse debate pois está me instigando muito.

    Abraços

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  17. Não olvidei que esse tipo de comentário fosse surgir...

    A distinção dos jogos de linguagem a que pertencem os artistas fica a critério de quem os analisa, podendo haver, desse modo, um mesmo tipo de avaliação para duas obras completamente diferentes, como o fiz ao mencionar Chico Buarque e Sabotage. Apesar de você ver uma aproximação entre Chico e Edu Lobo, cujos trabalhos foram tidos por você como aproximados porque complexos, a sua preferência se dá mais pelo trabalho do último do que pelo do primeiro. Assim, a complexidade ficou preservada e o que sobressaiu foi somente a alteridade, que, apesar de exercida, não fora posta em questão à toa, tanto que você elegeu como exemplos para a sua argumentação dois músicos consagrados, e não um deles e a banda Aviões do Forró.

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  18. Mais vale dizer que não acredito que haja, ainda hoje, essa coisa da complexidade. Como disse no primeiro comentário, a música que se tem produzido, assim como os consumidores dela, é marcada por seu caráter heterogêneo. Os Leprechauns estão aí e todo mundo gosta.

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  19. Opa,

    Não aproximei a obra de Chico e Edu por serem as duas complexas, e sim pelo fato de se assemelharem muitas vezes esteticamente, a ponto de os dois serem grandes parceiros musicais, inclusive.
    A obra de Chico pra mim é simples perante a de Edu Lobo. Não à toa no último disco de Chico que ouvi - Carioca - há uma música que explora absurdamente a dissonância, fenômeno musical muito caro tecnicamente, e quem norteou a composição? - Edu Lobo.
    Já perto da obra de Jota Quest, minha mente tende a colocar a obra de Chico como mais complexa.

    Chamo a atenção para a fluidez de um pretenso estatuto de complexo ou simples em si mesmo.
    Porém, eu não estou dizendo que em minha cabeça não existe o simples e o complexo, apenas quero perquirir sobre a solidez da fronteira entre as duas características.

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  20. Para que possamos enfim admitir que, no final das contas, a classificação pode vir da música pra fora, mas é muito mais de fora pra a música (poder).

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  21. Josua

    É disso que eu estou falando. Quanto ao complexo e o simples, você sabe que não é minha intenção colocá-los como estatuttos em si mesmos. Entretanto, reconheço também que uma abordagem mais aprofundada para o leitor que não conhece minha posição sobre isso ficou falha em meu texto. Sim, muito mais pelos outros leitores mesmo. Vamos agregando mais ideias pois isso é muito importante inclusive para o meu enriquecimento acerca de meu objetoi de estudo que é a música brega.

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  22. Eu, em particular, conheço pouco do trabalho de Edu Lobo, mas, só para demonstrar como opera o meu juízo sobre tais imbróglios, afirmo sem receio que o tato para a música de Caetano Veloso é muito mais refinado e rico que o de Chico Buarque. No entanto, talvez por motivações ideológicas, ou mesmo por preferência estética, gosto mais de Chico do que de Caetano.

    Perquirir sobre a solidez das duas características, semelhante a tudo que ousamos esmiuçar, por vezes nos faz pôr a quantidade de forças que despendemos para retorcer a barra firme das convicções estabelecidas em detrimento do óbvio - essa coisa tão abjeta para os acadêmicos. Por isso, pelo menos na minha leitura, a grande tônica do pagode baiano é esboçar, para nós que assistimos essas discussões acerca da cultura de longe, o gráfico dos esforços gastos tanto para justificá-lo quanto para repreendê-lo enquanto o mundo dá suas voltas obscuras indiferente a todas essas querelas.

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  23. João

    kkkkkkkkkkkkkkkkk Cara, essa sua análise realmente foi genial! Eu já cheguei a pensar nisso várias vezes. O que eu acho é que os setores geralmente advistos dos contextos intelectualizados das universidades brasileiras muitas vezes ficam só de blá blá blá e pronto.

    Vou te dizer minha opinião: para os setores mais pauperizados da sociedade sem capital escolar, sem condições viáveis em participar de uma educação de qualidade, os intelectuais ficam com suas lógicas assustadoras e intraduzíveis para esse setor. Em se tratando da elite economica, o setor médio por se encontrar em uma condição de merda no pais subdesenvolvido, fica a esperar seus longos anos de graduação se acabarem para recer o canudo e atender aos interesses de quem ele enquanto agente dos campus universitários sempre criticou. Será uma mão-de-obra sumbetida aos mandos dos donos do capital econômico hehe

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  24. hahaha, eu concordo e não guardo ilusão alguma sobre possíveis melhoras. Se a universidade logrou, em relação a mim, nalgum aspecto, foi no de ter brochado todas as minhas aspirações e utopias. Hoje, talvez, aceito-me como vítima dos imperativos contemporâneos, e não carrego qualquer vontade de escapar ao báculo certeiro do século 21. Essas alternativas de mudança chegam às minhas narinas recendendo um cheiro pobre e insuportável. Mas admito a necessidade da existência de todos esses caracteres para formação de um sentido mínimo que possa adornar essa existência vazia.

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  25. Nem direita nem esquerda são coadjuvantes. Representam, antes, o papel de mocinho.

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  26. A complexidade pode ser medida pelo número de caracteres distintos empregados que estejam interconexos entre si e produzam um sentido final inteligível. A inteligibilidade pode ser reconhecida a partir da reprodução independente de um outro sujeito que tenha conseguido discernir os efeitos através da leitura do método (técnica) de quem a criou.

    Quanto mais complexa for, mais difícil será sua leitura, e, consequentemente, sua reprodução.

    Essa leitura pode ser obtida por linguagem, instrumental (partitura) ou sensitivamente (ouvido), senão ambos. A cultura e/ou a estrutura psíquica dum dado indivíduo pode influenciar na pré-disponibilidade que este tenha para adquirir tal ou qual aprendizado com menor ou maior facilidade.

    Daí, poderia classificar e elencar hierarquicamente: melodicamente, por exemplo, clássica superaria afroxé; percussivamente, o oposto. Isso, claro, quando não se vê unidos elementos de ambas, bem como de uma série de quaisquer outros formatos, o que forçaria, temporal e progressivamente, a novas classificações, e terminaria por, paulatinamente, dirimir a "pressão" hierárquica.

    Admito, contudo, que para isso é construída uma base de pressupostos que poderia, sim, não precisar elencar como superior ou inferior tal ou qual, ainda que isso não faça diferença alguma.

    Pessoalmente, sou da ideia de que essa balbúrdia descriteriosa só me faz crer que há de causar mais empobrecimento, pela ausência de parâmetros fixos, que enriquecimento, pela diversidade aleatória.

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  27. Lou

    Esse é um debate que já foi muito travado por nós, seja aqui no torto, seja nos nossos encontros.

    Acho que essa tendência de pensarmos o simples como menor é fruto já de uma longa história das culturas etnocêntricas que nos foram impondo valores hierarquicos pras coisas. Por exemplo: os antropólogos e etnógrafos, observaram que as sociedades ditas simples tinham uma abrangência de códigos e de ritos tão prolixos quanto as outras sociedades. Portanto, compactuo com Josua quando ele atenta para o fato da relatividade entre os dois universos. No entanto, o que não podemos taxar é o simples de inferior e o complexo de superior.

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  28. O que não podemos MESMO tomar é o simples por complexo, independente de superior ou inferior. Posso estar enganado, mas não tiro da cabeça que tal como me aparenta ser mais complexa a manufatura de uma bomba de nitrogênio que dum arco e flecha, me é também mais simples a execução de uma canção de sertanejo que duma erudita, tal como do tempo e do aparato técnico-teórico necessários para seu aprendizado e execução.

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  29. Caro Lou, esta questão do complexo relacionado com a dificuldade da execução foi um bom viés, aliás, já trazido por Vina.
    Eu não estou afirmando que não se deva utilizar de critérios - não, não e não.
    Estou atentando apenas para a pouca solidez no que certas vezes ousamos colocar como um dado final.
    Gostaria, primeiro, de fazer algumas considerações de teor musical sobre o que você usou como exemplos a fim de comparação. Lógico que de posse do pouco domínio que tenho sobre o assunto.
    Em primeiro lugar, uma observação pouco relevante: do ponto de vista MELÓDICO, até mesmo uma canção de arrocha pode ser mais complexa do que uma música “clássica”. Já HARMONICAMENTE, sim, GERALMENTE , a música “clássica” é mais complexa.
    Em segundo, acho que há, sim, músicas “clássicas” que são mais complexas percussivamente que a música percussiva africana. Na obra de Carl Off temos passagens caras aos percussionistas. E isto não é influência africana consentida não. O teor percussivo da música europeia já se faz presente há muitíssimo tempo, e se for para se objetar “é influência de tal região”, eu desafio qualquer um a me mostrar um ponto em que um estilo de arte de algum modo não tenha surgido de uma conversa de culturas – é raro não haver. Basta ver a própria formação da cultura grega mesmo em sua gênese (não precisamos nem ir ao período da miscelânea helenística).
    Para finalizar, utilizando-me do seu exemplo comparativo entre a execução de uma música erudita e uma sertaneja. Ainda temos problemáticas. Por exemplo, você, bom cantor que é, sentiu dificuldades imensas – e eu tb- na execução da música Amo noite e dia em relação à parte vocal. Justamente porque o cantor original consegue o grande feito de dar um pulo em termos de tessitura e ainda assim cantar confortavelmente. Para mim, isto foi extremamente complexo. Muito mais do que muitas músicas “eruditas” (vamos colocar música erudita como música de câmara), até mesmo árias de ópera do século XVI. Quando você vier aqui, eu te mostro, caso queira, trechos de óperas de Monteverdi, por exemplo. Aliás, não precisarei ir tão longe, viu?

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  30. Voltando à observação sobre o estatuto da complexidade. Gostaria de alertar para o fato de que, apesar da sua ótima dissertação, para mim, ainda não resolveu o problema do que é complexo por si. Só consigo enxergar níveis de complexidade. E aqui, parafraseando, o ministro Carlos Britto, você terá que dar um salto triplo carpado hermenêutico pra me provar o contrário.
    Afinal, se você der uma partitura de Vivaldi para que um spalla de qualquer grande orquestra execute, tenho certeza PLENA de que ele a executará sem maiores dificuldades. Já no caso de algo escrito por Paganini, a história mudará completamente seu rumo.
    Agora pergunto, você acha a execução de uma partitura de Vivaldi, no violino, simples, meu caro? Mas perto de Paganini, a coisa fica simples ou complexa? Só penso ser muito foda achar um nível para definir ONDE começa a complexidade. Que há coisas complexas é algo que nunca foi negado no meu discurso. A pergunta que ainda continua é: onde termina o simples e começa o complexo?
    Ah, e outra! O exemplo da bomba de nitrogênio foi meio complicado pra mim, pois na arte há fatores imagéticos, semióticos, como queira, que perpassam o material do qual ela emana. De modo que para mim é muito mais complexo desvelar a opacidade do discurso de Chico Buarque, de como ele coloca uma representação para cada acorde e faz conversar a harmonia e a melodia com a letra da música, do que interpretar as músicas do Angra, onde a preocupação harmônica geralmente é com colocar o máximo de notas dentro de um compasso – e ganhar adeptos do malabarismo.
    Só pra ratificar tudo isto:

    “A complexidade pode ser medida pelo número de caracteres distintos empregados que estejam interconexos entre si e produzam um sentido final inteligível.”
    R: Exato. Portanto, TODA produção tem sua complexidade. Daí, teríamos que toda produção é, de uma forma ou outra, complexa?

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  31. "Pessoalmente, sou da ideia de que essa balbúrdia descriteriosa só me faz crer que há de causar mais empobrecimento, pela ausência de parâmetros fixos, que enriquecimento, pela diversidade aleatória."

    Já pensou se na hora de compor "Jesus, Alegria dos homens" Bach fosse pensar que toda boa música devesse implicar uma execução altamente difícil? (parâmetro fixo).

    http://www.youtube.com/watch?v=d9EN27Zh_vg&feature=related

    Já estes daqui, utilizam um parâmetro fixo para suas músicas (colocar mil notas dentro de um compasso só):
    http://www.youtube.com/watch?v=Ywxm6zLEjFY

    Talvez a música deles deva ser mais rica que a de Bach, né.... Quem sou pra afirmar qualquer coisa neste sentido...

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  32. Mas veja, no final das contas, até os compositores de arrocha (estou colocando o arrocha por ser o gênero mais criticado, geralmente pelo elitismo cultural) observam parâmetros fixos. Think about it...

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  33. 1. Melodia e harmonia: certo. Eu disse uma coisa pensando em outra, por ignorância.

    2. Da complexidade, foi exatamente o que eu disse: há maior e menor. Daí, pode-se dizer que Paganini é mais complexo que Vivaldi. Eu não preciso necessariamente sair da Europa pra fazer uma comparação. Aliás, eu nem sei quando escrevi isso.

    3. O exemplo do sertanejo não voga. Não é uma questão de complexidade, mas de potência. É nítido como fazê-lo, mas fazê-lo se torna impraticável por questões fisiológicas: não sou sequer um alto barítono! Depois, talvez, com algumas aulas de canto, a coisa se tornasse menos difícil pra mim.

    Eu quis ali, na verdade, me ater à questão de tradução do som, e não às potencialidades individuais que cada um possui. Até me esqueci de elencar essa variável fisiológica, como destreza nos dedos ou potência vocálica.

    Aliás, nem foi uma crítica direta a nenhum comentário: foi mais uma complementação.

    4. Da imagética, da subjetividade, da arte de brincar com símbolos e misturá-los de maneira que o sentido direto fique escondido numa nuvem de lógica, isto está mais para o campo temático que teórico-técnico. Desta instância de análise eu preferiria me abster, mas como estamos aqui, entremos. Eu posso ver lógica no que eu bem entender, desde que haja um sentido implícito antes anunciado. Posso fazer um tratado para representá-lo e a partir daí divulgar uma nova base de pressupostos que direcionem tal ou qual discurso.

    Exemplo: sempre que houver um lá menor seguido de um ré com sétima no segundo verso da terceira estrofe, haverá uma personagem que sofrerá de vazio existencial por conta da ditadura ter vilipendiado seu parceiro comunista e obrigado ele a sair do país.

    Eu sou um tanto indiferente a isso; é subjetividade feito agulha num palheiro.

    5. Vejo critérios em ambos. Não vejo é nesse aqui:

    http://www.youtube.com/watch?v=2lkBFpyo1Mc

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  34. Pessoas,

    Eu acho que uma coisa é colocarmos DETERMINADAS situações em que uma música traga uma certa dificuldade, outra coisa é reconhecermos que existem músicas que FREQUENTEMENTE nos trazem maiores dificuldades em executá-las. Se não partirmos por esse lado de analisar qual a maior frequencia de dificuldade, cairemos ou no maniqueismo do simples OU complexo ou no relativismo que abdica de classificações quando na verdade nós sabemos que classificação é algo inevitável e importante uma vez que confere uma certa identidade a determinados artistas e canções.
    Talvez essa discussão toda acerca do complexo e do simples, por sinal, muito bem desenvolvida por todos, ficasse melhor se colocássemos o seguinte: determinadas músicas com maior frequência são caracterizadas por melodias arrnjos e temáticas mais coloquias, mais conhecidas; enquanto em outras músicas, haja uma maior tendência em se utilizar de uma linguagem menos convencional e menos esperada. É devido a isso que com uma certa frequência, é mais rápido aprendermos a tocar uma música do arrocha a uma música de Edu Lobo.

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  35. “O exemplo do sertanejo não voga. Não é uma questão de complexidade, mas de potência. É nítido como fazê-lo, mas fazê-lo se torna impraticável por questões fisiológicas: não sou sequer um alto barítono!”
    Perdoe-me discordar frontalmente, ok? Respeito sua opinião. Mas acho que um pulo tessitural é algo muito difícil pra quem tenha qualquer extensão. Trata-se, no caso do cantor sertanejo, de uma ótima utilização do belting.
    “Depois, talvez, com algumas aulas de canto, a coisa se tornasse menos difícil pra mim.”
    Logo, menos complexa? Porque, meu caro, também me é nítido como tocar a introdução de Carry On, do Angra, na guitarra. Se quiser, eu toco devagar pra vc (duplos sentidos à parte). Já na hr de tocar na velocidade original, é-me extremamente complexa a técnica do arpejo, embora eu compreenda perfeitamente do que se trata, sabendo, inclusive, identificar na partitura.
    “Da imagética, da subjetividade, da arte de brincar com símbolos e misturá-los de maneira que o sentido direto fique escondido numa nuvem de lógica, isto está mais para o campo temático que teórico-técnico. “
    Discordo mais uma vez. A poética musical é algo que pode ser tão teórico a ponto de Igor Stravinski ter lançado um livro (teórico) só sobre ela. Sinceramente, não entendi a questão “temática”. Poderia-se falar nisto se, por acaso, Chico Buarque fizesse uma música abordando as isoquantas. A música poderIA já ser complexa, aí sim, pela questão da escolha do tema.
    A questão não é tão subjetiva quanto você pensa não, meu caro. Eu iria dar inúmeros exemplos aqui, mas fico com uma indicação simples e bem mais confiável, pra vc que gosta de ciência:

    http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/dEsEnrEdoS_2_-_artigo_-_Alfredo_Werney.pdf
    “5. Vejo critérios em ambos. Não vejo é nesse aqui:

    http://www.youtube.com/watch?v=2lkBFpyo1Mc”

    Aí eu te respondo com uma frase do seu próprio discurso:

    “Eu sou um tanto indiferente a isso; é subjetividade feito agulha num palheiro.”

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  36. Só pra reforçar o ponto 1. Você TEM todas as notas necessárias pra a execução da música, tanto que já a cantou várias vezes. Portanto, pense bem se é uma mera questão de tessitura.

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  37. Ah, sim! Eu concordo tanto com Vina, quanto com lorenzo na questão da "maior regularidade", apenas quis chamar a atenção para o fator particular, pra q n utilizemos de me´todos preconceituosos de generalização e quebremos a cara.

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  38. "Trata-se, no caso do cantor sertanejo, de uma ótima utilização do belting."

    "Depois, talvez, com algumas aulas de canto, a coisa se tornasse menos difícil pra mim."

    -

    "Logo, menos complexa? Porque, meu caro, também me é nítido como tocar a introdução de Carry On, do Angra, na guitarra. Se quiser, eu toco devagar pra vc (duplos sentidos à parte). Já na hr de tocar na velocidade original, é-me extremamente complexa a técnica do arpejo, embora eu compreenda perfeitamente do que se trata, sabendo, inclusive, identificar na partitura."

    "Não é uma questão de complexidade, mas de potência. É nítido como fazê-lo, mas fazê-lo se torna impraticável por questões fisiológicas."

    Se sabe, sabe. Se não consegue, treine até ganhar destreza. Se misturarmos os termos, ficará difícil chegarmos a um consenso. Mas tudo bem, eu disse técnico-teórico (teoria acerca dos procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm como objetivo obter um determinado resultado), talvez tenha confundido com técnico-prático. Não sei se são termos acadêmicos consolidados na área da Música e por isso ponho abaixo qualquer crédito que meu comentário possa vir a ter, de antemão.

    -

    "A poética musical é algo que pode ser tão teórico a ponto de Igor Stravinski ter lançado um livro (teórico) só sobre ela. Sinceramente, não entendi a questão “temática”."

    "Eu posso ver lógica no que eu bem entender, desde que haja um sentido implícito antes anunciado. Posso fazer um tratado para representá-lo e a partir daí divulgar uma nova base de pressupostos que direcionem tal ou qual discurso."

    "a) Toda melodia é uma espécie de texto;

    b) Logo, deve existir uma afinidade estrutural elementar entre
    (pelo menos) dois domínios semióticos: o verbal (logos) e o
    musical (melos);

    c) Podemos e devemos nos servir da meta-linguagem da
    lingüística para apreender essa afinidade estrutural; (p. 13)"

    -

    "A música poderia já ser complexa, aí sim, pela questão da escolha do tema.
    A questão não é tão subjetiva quanto você pensa não, meu caro."

    Por que meu avô, ao ouvir Vivaldi, sente paz e ao ouvir Schöenberg, agonia, e eu, o oposto (ainda que não raro eu inverta essas sensações). Não há quem me prove que não é subjetivo. Eu não consigo associar notas e sensações. Não consigo ver claramente a relação entre melos e poesis.

    -

    "Falamos em melodia apenas quando reconhecemos essa cadeia como um produto de ato semiótico que faz ser o sentido, instaurando uma relação entre uma expressão e um conteúdo."

    Isso é construído culturalmente! Não?

    -

    "Uma seqüencia de notas tocadas aleatoriamente ao piano por uma criança não produz um efeito e melodia porque é “arrítmica, desordenada, desconexa, incoerente, não direcional e, conseqüentemente, não pode apresentar transformações” (Carmo, 2007, p. 16)."

    Não? E caos, não existe? O engraçado foi que a "semiótica" do meu avô viu os mesmos traços na música de Schöenberg. É provável que meu avô esteja hierarquicamente num grau menor de conhecimento musical, em termos técnico-teóricos, que Carmo.

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  39. Lou,

    Realmente você tocou num ponto que me impacienta bastante que diz respeito a essa lóica do caos e da ordem. Porra, a influência cristã com seu maniqueismo, o evolucionismo previsivel do iluminismo e a obsessão do perfeito, do simétrico vistos como belos foram valores que se arraigaram bastante em nós e pra nos desvincularmos deles é bastante complicado. Como você expos, o caos tá ai e a vida se não tivesse a desordem, não seria esse constante recriar pois teriamos sempre as mesmas ideias.

    Spo estou achando bastante interessante você trazer esse requestionamente sobre até que limite deveríamos negar o caos se ele existe, quando me lembro que você caiu em cima de criticas ao meu texto do moleque Daniel Peixoto justamente por eu avaliar que o caos também deveria ser trazido a tona.

    Por isso que eu acredito no MEU torto kkkkk: hoje sou uma coisa. amanhã sou a mesma somente alterando pequenos pontos de hj, modificando os de ontem e amanhã voltando ao de ontem ou fazendo outros a mais, afinal, antes da nossa br existencial ser sempre asfaltada e constantemente direta, ela é cheia de curvas, é oscilante, é imprevisível, cheia de buracos que nos obrigam o tempo inteiro nos desviar para não furarmos nossos pneus kkkkkkkkk

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  40. Veja, eu neguei o fato de não produzir um efeito. Não disse que esse efeito era bom ou que me agradava. Meu avô odeia Schönberg por estar condicionado a melodias "retas". O músico criou uma vertente melódica/harmônica chamada dodecafonia que é, normalmente, intragável, por ser atonal. Para meu avô, independente de ser tão complexo quanto Mozart ou Brahms, é um disparate inaudível que nem deveria ser tido por música. Opinião que tenho acerca de Daniel. Aliás, nem tenho, apenas sou indiferente.

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  41. Lou

    O que está em discussão aqui não é o fato de você achar Daniel inaudível, é o fato de você ser menos extremo a ponto de dar uma possibilidade de você mesmo requestionar a validade que podemos encontrar também no caos. Sendo assim, continuo com a minha afirmação.

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  42. É isso, queridão: não vejo validade. Eu tenho a ideia de superior e inferior, mas cá pra mim. Como sei que seria brutalmente rechaçado, e com razão, preferi me ater apenas a complexo e simples.

    Eu concordaria com Carmo se ele dissesse que nele e na maioria dos ouvintes a ordem produziria um efeito mais sublime. Não concordo, contudo, que não vá produzir um efeito qualquer em quem quer que seja.

    Por exemplo: o efeito que a música daquele amigo carioca do Josué produz em mim é puramente tragicômico.

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  43. Lou,

    Bom, pra quem gosta de Agnaldo Pereira a ponto de sair distribuindo links por msn e comentários de blogs, não me parece que você condene tanto o caos assim não hehehe. Ou talvez então você seja um daqueles que gostam do que se encontra badalado no youtube, o que eu não acredito (pelo menos até agora).

    Quanto a questão do ter pra você o superior e o inferior, isso não é só um mérito seu não. Todo mundo tem. Eu quero saber se existe alguem que diga que ache todas as músicas, generos e artistas do mundo boas. Sempre vai haver aquele que a gente não goste, que goste pouco, que odeie, que ame.

    O que é necessário é pelo menos exercitarmos o ato de sabermos vivenciar com a coletividade e compreender que o seu mau gosto não é o gosto do outro, assim como fazem alguns conhecidos meus que vivem a condenar o arrocha dentro do campus universitário como se a universidade não pudesse dialogar com outras tendências. Aí sim: nesse caso já não é apenas olhar como superior ou inferior pra si, e sim, inferiorizar o outro como se a escolha do que está criticando fosse A superiora. Aí é babaquide classista, etnocentrismo, intolerância.

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  44. "Bom, pra quem gosta de Agnaldo Pereira a ponto de sair distribuindo links por msn e comentários de blogs, não me parece que você condene tanto o caos assim não."

    Eu não condeno, reitero pela terceira vez. Quando não sou indiferente, me causa riso. Tão só e apenas.

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  45. Não entendi colocações deste tipo:
    "Trata-se, no caso do cantor sertanejo, de uma ótima utilização do belting."

    "Depois, talvez, com algumas aulas de canto, a coisa se tornasse menos difícil pra mim."

    Você está insinuando que isto é refutação?
    Então voltamos ao mesmo dilema, se eu consigo compreender mas não consigo executar é simples, né? Então eu entendi. Todo spalla de orquestra (das mais academicistas, pelo menos) entende uma partitura de Paganini. Logo, Paganini é simples, né?
    Com umas aulas de Canto a técnica do belting ficaria MENOS COMPLEXA pra vc e logo a execução da tal música também. É assim que eu entendo e não consigo ver algo diferente disto até aqui.

    "A poética musical é algo que pode ser tão teórico a ponto de Igor Stravinski ter lançado um livro (teórico) só sobre ela. Sinceramente, não entendi a questão “temática”."

    "Eu posso ver lógica no que eu bem entender, desde que haja um sentido implícito antes anunciado. Posso fazer um tratado para representá-lo e a partir daí divulgar uma nova base de pressupostos que direcionem tal ou qual discurso."
    1) Mais uma vez refutação alguma. Quanto à questão temática:
    “Poderia-se falar nisto se, por acaso, Chico Buarque fizesse uma música abordando as isoquantas. A música poderIA já ser complexa, aí sim, pela questão da escolha do tema.”
    O exemplo da criança ao piano dado pelo autor do artigo foi generalista e por isso mediocre – nada é perfeito, né? Mas continuo com a minha posição com que você acabou compactuando, as coisas não são infinitamente subjetivas como você colocou. Se há a regularidade no que Schoenberg passa, a subjetividade com que isto deve ser tratado, embora deva existir, não é tão completa ao pontod e determinarmos como aporia e, por ignorância, passarmos a ser indiferentes.
    “"Falamos em melodia apenas quando reconhecemos essa cadeia como um produto de ato semiótico que faz ser o sentido, instaurando uma relação entre uma expressão e um conteúdo."

    Isso é construído culturalmente! Não?”
    R: Não entendi esta. Se é construído culturalmente deve ser tratado como algo tão subjetivo a ponto de dever passar indiferentemente?
    Vamos a um exercício:
    O que te remete mais ao suspense, esta trilha sonora:
    http://www.youtube.com/watch?v=4icPTcQZacE&feature=related
    Ou esta?
    http://www.youtube.com/watch?v=bONeCoik1Ts

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  46. Se a resposta foi a segunda, eu te parabenizo pela peculiaridade e peço que se submeta a testes nos grupos de pesquisa de neurociências para estudar este fenômeno aterrador.
    Se foi a primeira, infelizmente você reagiu como a maioria de nós mortais, e creia, há uma combinações melódicas “motivos” voltadas para gerar esta situação de tensão em nós.
    Portanto, que isto é subjetivo EM NENHUM MOMENTO eu neguei, mas que é tão subjetivo que se deva tratar com a indiferença que você descreveu, eu discordo frontalmente.
    Aliás, isto não é uma peculiaridade da estética, da semiótica ou das ciências humanas não, viu? Até nas ciências voltadas ao operacional do nosso ordinário há impasses deste gênero, graças a Deus os cientistas não se comportam indiferentemente por isto.
    Agora, ainda assim seria mais interessante que você refutasse a análise feita,sobretudo em relação ao uso das consoantes daquela forma.
    Reforço ainda que quando em sua música “Perdeu” Caetano Veloso escreve:
    “Surgiu, vagiu
    Sumiu, escapuliu
    No som, no sonho
    Somem”
    É difícil acreditar que a aliteração que este trecho apresenta, através da insistência na consoante S, não quer provocar um efeito acústico que reforce o verso. A ideia de obliterar pouquíssimo a passagem do ar, utilizando-se, aliás, de uma das consoantes que mas expulsam o ar, para ratificar a ideia do que passa, do que some.
    Ainda que isto não fosse confirmado como intenção objetiva do autor, várias pessoas podem chegar a esta conclusão, acredite. E mesmo que ele não tivesse feitod e propósito, que noc asod e Caetano, tenho certeza de que fez, ainda assim haveria a possibilidade (remota ou não) do que nãoe stá de imediato na consciência. Afinal, o que me diz das palavras que nasceram de onomatopeias, por exemplo? Elas remetem a uma GRANDE CONVENÇÃO (pra entrar oficialmente na língua...) acerca da recepção de tal fenômeno.

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  47. Enfim, discussões paralelas à parte, para mim, ainda continua extremamente mal-resolvida a questão do que é simples por si e do que é complexo por si.
    Sendo perfeitamente possível o "simples" ser tomado como "complexo", e vice-versa.

    Abraços a todos!

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  48. Em tempo: Schoenberg QUIS causar estranhamento com sua música. Quis romper com padrões.E não é que conseguiu? Não foi só com seu avô não, viu meu caro? Foi com centenas de milhares de pessoas contemporâneas do autor.
    Né que há alguma coisa de objetiva nisto? kkkkkkkk

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  49. Não há refutações, amiguinho. Só estou dizendo que estávamos a falar o mesmo.

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  50. vina

    esperi mais do seu texto. acho q vc des lizou bastante em seus paragrafos articulando dobre a classe media. Mas confesso que no final, vc foi inteiramente interessante qndo fez uma analogia das metaforas e a classe media. E. Definitivamente concordo com vc que a classe media e totalmente orfa de partido, mas que por vezes faz questao de arrancar elementos elitista. Vejo isso qnto o estilo musical MPB. Percebi por muitos, que eleger MPB e chique. Vemos tb a influencia que o maneco, em suas novelas das 8, enche o enredo de fundo musical mpbista.Afinal, so o Mpb traz um gosto refinado. Acredito que as intencoes dos caras e resgatar a cultura brasileira, mas acredito que eles por vezes se afunilam muito no seu estilo bossa nova de ser. Assim como a classe media, como vc mesmo colocou, o mpb e dualista e muito ambivalente. Trazem proposta de integracao dos excluidos embora construa uma linguagem bastante refinada. Por esse lado, nao critico essa dualidade porque vejo que se a linguagem "refinada" e politica que escancaram a realidade brasileira e que muitos brasileiros se ocultam por o samba, as mulheres, o futebol ou o funk da tati quebra barraco seja melhor. Po se a linguagem e "elitizada" rebusca de algum entendimento mas refinado ou melhor critico e pq no minimo existe uma intertextualidade com o livro, romance ou noticiario. Confesso que esse lado do MPB e bastante interessante. Se de modo bem geral e grosseiro, uma parte nao entende e porque se oculta entender.vejo que muitos deles escancaram nessa linguagem rebuscada um significado mais aberto que deixam nas entrelinhas muitas de suas intencoes criticas. Por exemplo, " o que sera que sera" do chico buarque, fazendo citacoes criticas qnto a condicao brasileira na ditadura, o que sera deles nesse e depois do regime ditatorial. Da mesma maneira e de modo mais descompromissado do Caetano Veloso, em " alegria, alegria" que em seu trecho" caminhando contra o vento sem lenco sem documento, o sol de quase dezembro... eu vouu" sai da boca de muitos brasileiros inclusive os pertecentes da piramide mais alargada. Por que nao? por que nao? O mpb, acredito piamente, assim como "vou ficar atoladinha" ecoa em nossas cabecas fortemente. Mas acredito que o atoladinha demora mais por questao do ritmo dancante. Qntas vezes nos pegamos dizendo "po essa musica e uma merda, mas gosto por causa do ritmo". Digo isso, pq nunca vi ninguem dizer nada parecido com "as mulheres de atenas" de chico buarque. No primeiro momento que ouvi essa musica, eu estranhei bastante.enfim, se ouco Vaca profana, uma das musicas que acho incrivel do caetano Veloso, creio eu que alguns estranharao. Vejo que ela traz um estilo que exige algum conhecimento, digo pela minha experiencia, acredito que essa musica introduz uma simpatia pelo que estar em suas linhas.Considero bem surrealista, um mosaico de intercalacoes artisticas entre gaudi, espanha, metropole, sao paulo e cotidiano. Apesar de ter um fundo pintado por artistas de vanguarda e intrmedios de citacoes em castelhano o que prevalece e a VACA PROFANA. "VACA PROFANA POE SEUS CORNOS PRA FORA E ACIMA DA MANADA, EEEEE, VACA DE DIVINAS TETAS, DERRAMA O LEITE TODO EM MINHA CARA E NA CARA DOS CARETAS".
    Vaca profana tem muitas por ai que triunfa sempre sobre a manada. Aposto que vc conhece em varios momentos do seu dia a dia sem ao menos a vaca profana pronuncia um discurso rebuscado de codigos de classe A.

    um bjao meu querido

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  51. Daqui a pouco jogarei minha super crítica aos "S" do Caetano.

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  52. Maíra,

    Uma análise perfeita em parte do que eu quis expor. Entretanto, tenho algumas observações: a linguagem justamente por ser refinada é que não escancara com a realidade. Ao contrário. Quanto mais cheia de metáforas, mais necessitamos ocultar o que não queremos revelar para nós mesmsos. Onde pra você o samba e o funk ocultam a realidade? Longe de mim aceitar essa afirmativa, até mesmo por que eu acho esse tipo de olhar muito classista, assim como reducionista demais. Sei lá me soa aquele discurso de futebol é alienação e pronto. Ah, também não acho que ser crítico se associe a livros não. Evidentemente que eu não estou dizendo que os livros e as leituras em geral não sejam importantes para nós, no entanto, eu vejo tanta gente cheia da teoria e incapaz de enxergar a vida de forma sábia e critica!!!! Quebra Barraco também faz parte da cultura e reflete uma realidade, e diferente dos requintados, essa escancara a realidade mesmo kkkkk

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  53. ola vina,

    acho tb classista dizer q o funk, samba e futebol seja alienacao. Citei esses exemplos como forma de pontuar o q e generalizado no Brasil. Sim, a tati quebra barraco e cultura e arte tb. Vejo q qndo pontuamos ou valorizamos aspectos da elite, automaticamente surge um alguem para apontar que estamos desconsiderando a arte mais popular. Sinceramente, isso nao passa de um discurso defensivo revolucionario.Enfim, o que quis enfatizar e que muitas vezes criticamos a linguagem "refinada" por nao dar acesso ao povo, mas que no entanto vejo que o grande povo pode estar muito desinteressado. qnto as metaforas n vejo como forma de ocultar a realidade social, mas ampliar sentidos para as suas significacoes. Sabemos que o modo que mexemos com a linguagem vem da familiaridade dos meios, seja na tv , no noticiario ou no livro. ninguem critica ou reflete sobre, sem uma leitura previa de algum dos meios, valendo ate a interliguagem aberta de bebados em boteco.

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  54. Maí,

    Sem querer colocar o povo na condiçõa de vítima, até por que se tem uma coisa que eu odeio é condição de vítima, mas eu acredito que a falta de oportivilegiados têm com relação à leitura do que necessariamente um mero desinteresse.

    A escola, por exemplo, e quando digo escola me refiro muito mais aos professores, muitad vezes criticam os alunos pelo desinteresse, mas não percebem eles que a escola, diferente dos meios midiáticos que fazem parte da vida desses alunos, não traz nemhuma forma de entretenimento. Ao contrário. A escola parece uma industria laboriosa e assustadora sem qualquerr espécie de entretenimento nem de ludicidade. Estou dizendo isso, pois as vezes dizemos que o desinteresse existe em uma parte, mas por outro lado nós não pensamos se o que leva ao desinteresse pode ser algo muito mais forte em relação a esse desinteresse criticado por nós. Obviamente que não podemos descartar o desinteresse, mas esse desinteresse vem muito mais pela própria falta de habito e da forma também como impomos. Porém, nem sempre o que impomos é de fato o caminho almejado pelo outro. O Ideal e o melhor muitas vezes pode ser fruto do nosso olhar.

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  55. Continuando...

    "qnto as metaforas n vejo como forma de ocultar a realidade social, mas ampliar sentidos para as suas significacoes."

    Não, eu quis dizer que os setores médios de fato querem criticar uma realidade através das músicas da MPB. O que eu quis dizer é que essa faculidade de jogar com as metáforas e do público amar a MPB justamente por esse jogo de metáforas, é fruto do reflexo de sua condição politica na sociedade devido a sua condição intermediária na pirâmide que o obriga a atender o lado pobre e o lado rico, mas que o obriga a negar os dois ao mesmo tempo. Essa condição faz com que esse setor pra viver cotidianamente em meio a um numero de negociações na esfera pública, aprenda a não assumir e nem querer posturas diretas, até por que ele, diferente do setor perico que sabe que com certeza é pobre e a elite que com certeza é rica, ele fica cambaliando de um lado para o outro e por isso mesmo, se tem uma coisa que o setor médio sabe fazer e viver é na ambiguidade, até por que a própria ambiguidade é refletida inevitavelmente em seu cotidiano.

    Só pra fechar, gostaria de me utilizar de um exemplo corriqueiro e que me parece ser mais simples: um namorado ou namorada quando resolve dizer para o outro ou outra que quer finalizar o relacionamento ele roda, roda, roda, roda e o outro diz: seja direto! Mas pq ele roda, floreia, fermenta argumentações? PÕ, ele ou ela sabe que a pessoa a qual está querendo acabar tem um sentimento, ele fica com medo que ela vá se ferir, ele tem uma divida q faz com q ele tenha mais zelo. Isso é o que o setor médio faz no plano politico e social. Ele arrodeia pois ele tem rabo preso para os dois lados que ele precisa. Enfim, não se se me fiz entendido

    Saudades minha linda. Quando vem aqui na terra dos tupiniquins?

    bjs

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  56. breve, muito em breve! Ainda preciso deles. um grande beijo

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