quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fiasco

Fiasco: eis a mais adequada palavra para o meu desempenho naquela noite preguiçosa, de olhos aos ventos vermelhos de tédio.

Diante de um público que só pareceu dar-se-me conta no momento em que meus afins inauguraram tímidos aplausos. Cantava eu já a quinta ou a sexta canção.

A voz já quase rouca – aquela noite já há muito havia começado-, a assistência parecia diluir cada nota entoada a contragosto. De iguarias, as mesas fartas. Para tais, olhos cerrados.
Hora da ceia! Aproveitei para sair pela tangente, e já desligava o sistema de som e embrulhava improrrogavelmente meu microfone quando me surgira abrupta intervenção.

– Espere!
- Pensei tratar-se de uma escusa, ainda que tardia. Uma tentativa quase simpática de me pedir que bisasse uma das músicas. Uma maneira de dizer: não foi lá tão maçante ouvir tua voz!

Enganei-me. O homem de estatura mediana, pele parda e cabelos brancos pedia-me apenas o microfone para fazer algumas breves considerações que julgava cabíveis à solenidade, antes que se iniciasse a refeição noturna.

A audiência se esforçava para conter suas conversas paralelas e a irrupção do desejo que só conduzia seus olhos letárgicos à mesa de iguarias. Com esforço, houve alguma hilaridade nas piadas mais-que-forçadas do discursante.

Ao fim da ceia, voltaram todos para casa assim: com mais uma noite de conversas ordinárias no currículo e os estômagos abarrotados por horas em detrimento de alguns minutos de prazer.
E eu, diante daquilo tudo, sei que não ganhei, nem perdi.

5 comentários:

  1. Josua,

    Querido, se esse caso foi passado em ambientes daqui de Aracaju, imagine que esse artista ainda é um sortudo kkkkkkkkkk. Pelo menos tocou enquanto os outros animais rechonchudos de testas vermelhas e boca suja de arroz arrotavam o peito de frango servindo como percussão para o acompanhamento de sua "exposição". Enquanto as respirações ofegantes engolem ansiosamente o macarrão, o ilustre artista está ali esquecido. Misturado a música, os ruidos das vozes corridas e barulhentas preocupadas ao ligar para os celulares dos filhos se o pintos apareceu para pintar o portão ou se o dog ou o cat comeram a ração. Viva a arte na cena musical de sergipe. É um orgulho só.

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  2. Hahaha! Na realidade é um caso fictício, caro amigo. Não se trata de um caso espaço ou temporalmente concreto.

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  3. Sim, eu entendi. Apenas me remeteu a péssima lembrança da condição do artista daqui.

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  4. Excelente!!! Publica um livro? Nem que seja só p/ mim... :)

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  5. Óia, Pri!

    Brigado, queridíssima! Bj!

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