sábado, 12 de maio de 2012

Parmênides

O Ser parmenídico é imóvel, homogêneo, indivisível e a tudo abarca. Ele é a totalidade repousada em si mesma: todos os eventos desencadeados no mundo das opiniões, sobre os limites da vida terrena, não lhe são indiferentes, pois, ainda que na atitude pouco conscienciosa dos bicéfalos não se desvele fé verdadeira, uma vez que o saber deles é delineado segundo dicotomias que lhes restringem o acesso às vias loquazes do real conhecimento, também a imperfeição e a indigência são partes necessárias e constituintes do Ser. A lógica que perfaz o caráter absoluto do Ser parmenídico, a mesma que faculta-lhe o poder de afixar em si tudo o que é, funda-se na necessidade irrestrita do Ser em se revelar, de modo tal e tão radicalmente que, mesmo ao ruminarmos com o ímpeto mais profundo sobre o não-ser – isto é, sobre aquilo que não existe –, a imagem à qual chegamos a partir de tal reflexão é a do próprio Ser se revelando. Posto isso, na medida em que apalavramos o não-ser de acordo com os resultados das reflexões levadas a termo, instituímos sobre ele caracteres verbais e imagéticos cuja existência é abarcada pela intrepidez do Ser, sendo-nos impossível, em virtude da abrangência imensurável deste último, discernir a sua origem ou calcular o seu tempo de duração: o que nasce e morre está estritamente ligado ao não-ser – e o não-ser, não podendo não ser, é aquilo que não há, “é uma trilha inteiramente insondável”. Portanto, o Ser é contínuo, acabado e não carece de nada: é ingênito, imperecível, solitário, íntegro e sem meta. E quando o pensamento o alcança assim, em sua totalidade e autossuficiência, afasta-se, através do carro puxado pelas éguas, do ocre mundo dos mortais e, guiado pelas filhas do sol em sua evasão da Noite, adentra a morada da Deusa, residindo na última etapa de todo esse processo de elevação do indivíduo ao verdadeiro exercício filosófico os fundamentos da afirmação parmenídica “...o mesmo é a ser e a pensar”.

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