segunda-feira, 30 de abril de 2012
Ate onde alcanca as cadeias Pos-modernas
Nao tentarei definir o pos-modernismo ate porque a propria palavra demanda uma cadeia infinita de significados. Tentando simplificar, ou melhor, colocar apenas uma otica sobre ele, pos-moderno e aquilo que esta a frente do moderno. Toda estetica, momento historico e cultura sofre uma mudanca devido a uma saturacao do significado que a sociedade toma como representacao. O modernismo se esgotou nos anos 50 e deu a luz ao pos-modernismo. Ele e o seu filho mal criado, ele e um parto indesejado fruto de uma gestacao conturbada. Derrubado foi o castelo de cartas para que a partir dele fosse reconstruido pelo avesso: impossivel se solidificar, impossivel identificar qualqer estrutura reparavel. Esse e o pos-moderno depois da decada de 60 o qual foi colocado para repensar na estrutura falida que nao cabia mais ter alguma continuidade.
No entanto, as sombras modernas aparecem para escurecer essa manifestacao viva e antropofagica. Colocando em termos praticos, algumas miticas revolucoes aconteceram, a entrada dos sutias no mercado de trabalho, a ascensao do partido gay nas avenidas, o homem tecno-robotizado imprestavel como estilo de vida. Esse ultimo e lamentavel, definitivamente um erro no codigo genetico dos nossos dias, um atentado a um ataque cardico no coracao ululante pos-moderno. A socidade nao da conta da imensa complexidade do humano esquizoide, fraturado pelas demandas do tempo. Por isso, ela apela para que ele seja enquadrado pela mofada esteira da linha de montagem fordista.
Modelo para entrevistas de emprego e um erro, uma tentativa de enquadrar aquilo que nao se enquadra. Esperar uma possibilidade de humano workholic infalivel e uma invencao que esta preste a acontecer no seculo seguinte. Ao mesmo tempo que, tentar abrir um leque de personalidades possiveis para que assim levante a bandeira de respeito as diferencas, e um desrespeito a burrice. Todos estao de olho naquilo do que e altamente possivel. Altamente possivel para o lucro, para a beleza, para o poder e , nao mais, para a estupidez. Todos estao numa ninharia de estupidos. Cegos por uma perspectiva sem qualquer projecao.
Pos-modernismo nao cabe ao mictorio de Dechamps ou a verborragia simbolica dos planos cinematicos de David Lynch. Esse pos esta nas ruas desconcertantes onde as pessoas passam sem se tocar. Ele esta no mosaico de Gaudi o qual debocha dos arranha-ceus das grandes cidades metropolitanas. Ele esta na ordinaria diferenca social entre os Primeiros e Terceiros Mundos, que alguns paises vivem de Mac Donald, Channel e Hollywood, enquanto outros se alimentam de moscas. Assim, ele esta. Na micro-biotica, na inteligencia artifcial e nas celulas- troncos, enquanto que muitas velharias permanecem vivas e congeladas no tempo.
O pos-modernismo e um ideal de anti-seguidamente-frustrado, o qual e esperado ansiosamente pelos olhos e desesperadamente afastado pelas maos. Sonha-se em carros voadores, traficos de avioes, espaco-naves e edificios gigantes que tocam o ceu. Felizmente, esse sonho sem qualquer proposito de unilateralidade, so existe na imaginacao de Fritz. Fritz Lang.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Mai,
ResponderExcluirPuta que pariu! Nunca mais havia lido um texto tão formidável no torto. Meus parabéns!!
Essa coisa de pós-moderno é como um filho rebelde que quer peitar os pais, sugerir uma independência, mas que no final das contas, não quer se desapegar a eles, pois é um mimado e dependente financeiramente. É tipo aquela frase do Renato Russo em "Pais e Filhos": "quero colo/ vou fugir de casa (...) estou com medo, tive um pesadelo/ só vou voltar depois das seis". Ou seja, quer ser um revolucionário, mas se vê incapaz de jogar fora os valores caretões de seus genitores Modernidades da Silva.
O que eu acho é que o pós-moderno, apesar de trazer pelo menos enquanto discurso, características que pelo menos para mim são instigantes, não deixou de ser mais uma peripécia da sociedade do consumo. Ele surge em um contexto histórico no qual os EUA invadem o mundo com seu capital leve, especulativo, neoliberal.
A sociedade de consumo é uma tentativa ansiosa de fazer diferente sem sair do lugar. É a moda que nos mostra "museus de grandes novidades". É tudo diferente em seu constante mais do mesmo, afinal, o publico tem que se manter de certa forma estático para se gerar o lucro certo né.
Criam-se rótulos para tudo. Hoje é moda dizer que é hibrido, mas olhando nossa volta, veremos que o que existe é uma insistência em delimitarmos o mundo de forma estrutural, segregadora, imutável. Isso é o pós-moderno, pelo menos na forma como ele foi apropriado pela sociedade de consumo, ou seja, um moleque que faz coisas novas e que vive entendiado por não encontrar nenhuma brincadeira que o retire da rotina morgada do seu dia a dia.
Vina,
ResponderExcluirVejo que o pos-modernismo , como voce elucidou, e 'um museu de grande novidades' que tenta inovar o velho e que por isso se torna mais envelhecido. Somos seres capturados por um tempo que esta desconexo com o nosso tempo. Um movimento que potencializa a nossa subjetividade, que ao mesmo tempo nos aliena, nos deixa fora da rotacao desse dito tempo. Similar a reacao do modernismo, mas que esse agiu numa diretriz contraria. Moderno e ordem e progresso para nos humanos bestializados por uma horda de selvagens.
O pos moderno nao e universal, ele nao abraca todos os continentes. Tenta infiltrar em todas as veias continentais, mas alguns estao presos ao retrocesso historico. A falta , ou melhor, a revolucao tardia em alguns setores impede que o pos modernismo atue de modo totalitariamente abrangente.
Exemplificando, Brasil e um pais subdesenvolvido mas que toma altas doses de modernidade alheia. Pela sua conjuntura hibrida, vivemos numa miscelania de estilos. A constituicao esta mofada pelos carimbos dos marechais, mas as complexidades industriais fervem em seu solo. A Irlanda e um mito. Desconsolada pelos patrocinios britanicos, ela vive em uma constante crise de identidade. Ruas tomadas pelas multinacionais que apagam a memoria irlandesa, mas que seu hino reverbera na burocracia empobrecida pelos papeis vitorianos.
Neoliberalismo atinge as cadeiras dos dragoes economicos, mas simultaneamente tenta assaltar o cocar nas terras dos indios.
Somos seres despedacados pela realidade imperativa sobre nossa vontade distorcida. Nem sabemos ao certo do que queremos, pois somos filhos de uma anarquia desgovernada.
bjos
Mai,
ExcluirAproveitando que você falou acerca da relação do Brasil enquanto modernidade alheia, eu vou deixar aqui algumas palavras.
O dito "pós-moderno" no contexto brasileiro não passou de uma mera farsa, assim como foram todos os seus períodos enquanto uma nação pertencente ao etnocentrico ocidente.
Vejamos: vivemos um Império que tentava copiar a todo custo a idéia liberal montando de forma tosca uma idéia ridícula de uma espécie de parlamentarismo ao modo inglês, ao mesmo tempo em que se firmava numa economia escravocrata.
Assistiamos em meio a isso tudo um hamburguer misto estragado, fundindo ideais burgueses como autonomia do indivíduo, impossibilitando ese mesmo indivíduo de ser autônomo devido ao acesso de bens impossiveis de serem adquiridos; apropriamo-nos da idéia burguesa de cultura desinteressada em um contexto no qual a relação entre uma enfadonha, mas viva aristocracia fazia suas estratégias "de favor" com os setores despossuídos.
Chegamos ao século XX com uma intelectualidade que antes de lutar por uma revolução e fazer uma crítica mais severa ao capitalismo, se utilizava do discurso anti-hegemônico, aliando-se ao lado de uma burguesia dita nacional voltada aos ideais modernizantes, burguesia essa que rouba o conceito de nacionalismo para acalentar o povo em meio a uma politica extremamente aristocrática.
Hoje vivemos uma "pós-modernidade" ainda insistente em sobreviver em uma realidade marcada por fortes doses de caraterísiticas "industrias", porém, arcaicas.
Essa descombinação teve um lado positivo pois fez emergir na vanguarda brasileira um movimento chamado Tropicalista que nos fazia engolir a nossa hipocrisia de indepentes colonizados; fazia-nos engolir uma realidade em que gritamos "viva Iracema/ viva Ipanema; viva a bossa, viva a palhoça" O nosso olhar diante de um monumento grandioso em meio a uma criança feia e morta que em ruelas nos estendem a mão.
Esse é o Brasil da pós-modernidade onde vemos "tv a cores na taba de um indio programada só pra dizer sim". Este é o Brasil que não mostra sua cara e a gente é que paga pra viver assim hehehe.
Continuando...
ExcluirMai,
No que diz respeito à ideia de pós-modernidade, não sei se você já leu, mas recomendo um livro de Linda Hutcheon chamado " Poética do pós-modernismo.
Neste livro, a autora atenta para o fato de que a própria pós-modernidade não tinha como interesse se desvincular da modernidade. Esse movimento pós buscava mesmo era re-apropriar de todos os valores modernos considerados por ele como obsoletos como Razão, História, etc, para através de suas parodias e pastiches, fazer uma re-leitura crítica acerca da modernidade, atravessando essa tal modernidade a partir de posturas sarcásticas e negadoras dos ditos Valores Supremos.
Claro que como você mostra, no caso principalmente como o de países subdesenvolvidos como o Brasil, essa pós-modernidade antes de assumir um projeto mais parecido com o Kitsch, ou seja, de uma apropriação traduzivel das criticas, isto é, de uma re-significação dos valores industrializados a partir da aceitação repulsiva desses objetos industrializados; o Brasil é antes de tudo um país brega como disse Carmen Lúcia Jose em seu livro " O brega e o emergente", ou seja, um país que se apropria das ditas ideias rompedores dos valores ditos tradicionais, não como forma de produzir uma re-codificação do sentido, mas sim, por simplesmente querer atingir o que ela chama de "Altar do gosto".
O grande lance é que o Brasil, por se encontrar em meio a uma conjuntura desapropriada para uma sociedade de consumo mais eficaz, devido ao seu nivel altíssimo de desigualdades de acessos, tende a agregar esses valores de forma descombinada, pois ao invés de torná-los novos símbolos de resistências, apenas se apropria de forma assimétrica, anacrônica, desconexa, em outras palavras, brega (em seu sentido mais estético do termo).
ola vina!
ExcluirIncriveis apontamentos! Sim, o pos-modernismo nao tinha e nao tem nenhum interesse em se desvincular do modernismo. Acreito que todo estilo que tenta debochar de um outro, precisa se apropriar de alguns ponto-de vistas para que dai possa critica-los. O brega e um bom exemplo, e totalmente senso comum, kitsh e altamente debochado. Capaz de atrair as massas, ao mesmo tempo que provoca asco por ser brega. O pos-modernismo nao e autentico em sua essencia. Ele e copia de algo ja produzdo. E uma reproducao barata de qualquer manifestacao em que qualquer um pode ser autor de uma obra ja criada.
Quanto ao Brasil, e um pais pos-moderno. Cheio de modernismo sem modernidade. Vontade de progresso, mas sedento por modelos ja vencidos. Pais difuso, de questionavel identidade. Discursos contraditorios em que nao se pode identificar facilmente as suas reais intencoes. Bossa Nova
, Tropicalia... os quais criticam uma sociedade vazia, a qual nos pertencemos, sem senso critico, pois somos aqueles que veem tv a cores na taba de indio programada para so dizer sim`, ao mesmo tempo que nao se desvencilham dos interesses burgueses. Os movimentos vanguardistas por aqui se pronunciaram em sua autencidade ja proclamada pelos europeus. Grande exemplo, Glauber Rocha, autor que patrocinava o nacionalismo e o anti- imperialismo, ja manifestado pelos cineastas franceses e italianos.
Tudo e fruto de copia, essa e uma afirmacao que autentifca o pos-modernismo. Por isso, plagio ja nao e mais um erro, mas uma virtude. Se relativizarmos demais, se formos muito longe, nada e autentico.
Mai
ExcluirApesar de compartilhar com Hutcheon acerca da continuidade às avessas do pós-modernismo em relação à modernidade, eu acredito que apesar de todas as criticas que são feitas ao pós-moderno, devemos reconhecer que de certa forma ele nos traz elementos inovadores. Por exemplo: a ideia do diálogo entre macro/ micro; a descanonização dos valores supremos; a relativização da verdade a qual passa a ser vista muita mais como resultado de interesses políticos de determinado contexto histórico, ao invés de algo detentor de uma essência, dentre outros.
Também acho que ser autêntico se diferencia demais de ser original. Para mim, original pressupõe uma origem, um ponto zero, e, portant, não acredito que haja, uma vez que os resultados materiais e simbólicos produzidos pela cultura de determinadas sociedades são resultados de trocas, conflitos, hibridações, contaminações de diversos ditos como nos chama atenção Roosevelt.
Por outro lado, ser autêntico é algo possivel, pois por mais que a autenticidade não esteja desvinculada de influências anteriores a ela, o agir autenticamente significa produzir seu próprio discurso tendo inevitavelmente referências precedentes. Ser autêntico é ser próprio, ter uma marca própria, mesmo sabendo que essa marca é resultante de uma rede infinita de influência.
Por isso que eu acho que relativizando veremos que de certa forma todos possuem autenticidade, mesmo aqueles que tentam a todo custo copiar algo, pois inevtavelmente todos nós possuimos uma hist´ria singular e trazemos em nosso repertório nossas escolhas, influências e gostos, sem contar o mais importante qúe é a nossa presonalidade.
Concordo com voce, Vina. O pos-modernismo e inovador quanto a reversao de conceitos. Ele nos proporcionou pensamentos ambivalentes os quais nos forcam a pensar sob um prisma diferente. A relativizacao e essencial em que um dos pontos e autencidade do ser sem origem. Um autenticidade pertinente a nos encontradas nas copias, onde a pintora perde o seu valor original e o autor se torna plural onde o espectador e ativo em sua autoria.
ResponderExcluir