As pessoas sao ridiculas. E as pesquisas tambem. Enquanto eu estava indo para Dublin, no onibus, lendo o jornal do dia, nao porque acredito no que esta escrito nas linhas, mas porque preciso aumentar o meu vocabulario. Nao sei se sou estupida, pois moro na Irlanda ha um ano e meu ingles nao e brilhante, ou se entender uma lingua e mesmo um trabalho dos diabos, pois e tanta expressao, tanta contextualizacao que a minha sensacao e que nunca sei de nada. Mas nesse dia, eu estava entendendo tudo, pois a materia que lia, falava sobre relacionamento. Fui associando ao que ja li, ha uns tempos atras, na Veja, IstoE e por ai vai.
Especificamente, tratava-se de um estudo cientifico que abordava relacionamento nos dias atuais. As pessoas estao preferindo o primeiro contato numa sala virtual, pois assim podem compartilhar de maneira mais direta os seus gostos, desejos, afinidades e ,inclusive, frustracoes. Nada contra voce tirar um domingo inoperante para fazer coisas inoperantes, como passar o dia no computador tentando encontrar nao uma alma gemea, mas alguem que possa compartilhar algumas bobagens do cotidiano. Mas o que me intriga, e que a tentativa de nos irmos diretamente para sala de bate-papo, apenas, forcosamente, para tentar enconrar um alguem que possa ser a sua suposta alma gemea e piada. A necessidade de ser feliz e construir um relacionamento virou moda, pois antes mesmo de expormos as nossas expectativas, perguntamos ao alguem que esta no outro lado, sua altura, peso, cor de olhos, tamanho da boca... para que dai possamos avaliar se estar nos padroes requerentes de felicidade abobalhada eterna (tudo isso nao passa de ilusoes criadas pela nossa ridicula cultura contemporanea que faz apologia ao belo). Gosto de voce porque voce fez bonito na vitrine, assim como meu casaco de pele. E bem por ai que funciona.
O que se torna mais ridiculamente esdruxulo e quando as vozes cientificas tentam legitimar esse circulo de bobagens. Talvez, por um momento pensei em ser mais um artificio para arrecadar dinheiro, arrancar os olhos dos leitores sobre as telinhas. Ja que eles nao se interessam mais em discursos razoavelmente mais inteligentes, produziremos o senso do comum senso para que assim os jornais voltem as ruas. Enfim, nao sei por que colocam fatos que todos ja estao cansados de saber ou que nao se da mais para acreditar, afirmados por grandes cientistas da Harvard, Cambridge sei la mais de que merda isso saira. Para que ser um grande cientista, estudioso de anos em uma faculdade renomada para repetir o que ja nao tem mais sentido, utilizando formulas mirabolantes pertecente a um desconhecido codigo genetico.
Se gosto de voce porque gosto. Se sinto atraida por um alguem porque sinto atraida. Claro que ha uma explicacao que cabem aos psicologos, sociologos, antropologos e mais aguns Ologos, pois eles precisam dissecar a estupidez humana para arrancar alguns trocados nesse mundinho ordinario. Mas tentar incutir que eu gosto do meu oposto e automaicamente, na mesma direcao besteirologica, um outro autor afirmar que gosto do meu semelhante, e uma tentativa absurda de cativar a burrice humana. Infelizmente, muitos de nossa especie acreditam nessas proezas. Talvez porque, como afirmava o sociologo ingles, Giddens, a sociedade anda sob trilhos em um trem desgovernado onde ninguem sabe ao certo de nada. Nao podemos prever o futuro antes, inimaginavel agora, pois a cada dia esse futuro se torna vago e escorregadio. Por isso utilizamos pesquisas vazias,cartoamante e astrologos para nos direcionar um futuro inexistente.
Nao sei por que insistimos em acreditar no mito do Primeiro Mundo como se tudo aqui, Europa e America do Norte, fossem mais desenvolvidos e plausiveis, se em pequenos textos jornalisticos nao informa nada que possam nos acrescentar.
Mito.
Uma merda vazia dentro de um vazo de vidro que se pode deslocar para qualquer lugar.
Maira,
ResponderExcluirUm texto muito bom e de um sarcasmo extremamente bem colocado.
Sim, acredito que hoje, mais do que em tempos antecedentes, existe uma necessidade de expormos quem nós escolhemos para nos relacionar para ostentarmos o nosso poder. É como você disse: "Gosto de voce porque voce fez bonito na vitrine, assim como meu casaco de pele".
No entanto, como sociólogo, acredito que essa relação do padrão vinculado ao belo é uma consequencia de cada contexto em particular. Acredito que em todos os momentos da história os humanos decretaram seus padrões estéticos, morais e de conduta, assim como sempre se auto-afirmaram em seu meio social por possueirem aquilo que a sociedade do seu tempo legitimava.
Não acho que essas prescrições sejam referentes apenas ao contexto marcado pela comercialização de tudo. Sim, acredito que a necessidade da ostentação pode ter se intensificado bastante, afinal, vivemos em uma cultura que mais do que nunca tende a priorizar a imagem em detrimento de qualquer conteúdo.
O que eu achei muito interessante foi essa necessidade de buscarmos primeiramente o outro em uma telinha. Acredito que isso se deva ao fato dos humanos atualmente não se encontrarem mais capazes de olhar nos olhos do outro. Penso que isso seja resultado de uma cultura marcada pelo consumo, geradora de infinitas violências e que só tem produzido uma humanidade assustada com os seus. É isso: os laços estão cada vez mais diluídos, as trocas mais perigosas e desnecessárias. Somos zumbis que falamos em cidadania e senso de coletividade.
Voltando a questão do padrao estético: prefiro que admitam a exclusão ao invés de encherem minha cabeça de cocô com frases feitas e de posturas lindas que estão além da capacidade do humano de pô-las em prática.
Ola Vina,
ResponderExcluirConcordo que a concepcao do belo e uma variante eterna. Sinceramente, falar do belo merece um texto, ou muito mais, para abrir uma discurssao plausivel. Nao cabe ser absoluta, colocando-o em um contexto estritamente estreito, assim como a agua pode se adequar a um recipiente, ela pode muito bem se apropriar de outros cantos. Sim, o belo nao se restringe nas perspectivas do consumo, ate porque essa concepcao, neo-capitalista neo liberal, e muito recente. Assim como vce bem colocou, ha outras inumras questoes, e uma delas, muito importante , a cultura.
Tive a intencao de postar esse texto, devido a umairitacao constante. Se voce se irrita facilmente com as pessoas ao seu redor, e as vezes, procura alguma ideia solta ou ate uma boa sacada, nao acha. Boas ideias parecem esta cada vez mais rara, sejam elas na televisao, nos jornais ou revistas. Usar formulas para predizer o comportamento humano como se fosse Eureka, repito, e patetico. Mais patetico e a crenca do enorme numero de leitores. E achar que meia duzia de paisesditos desenvolvidos podem fazer uma gande contribuicao para o mundo.
Bjo meu caro.
Adoro quando você traz essas experiências vivenciadas por você no dito primeiro mundo. Isso é muito válido para que nós tupiniquins não tenhamos mais a necessidade de nos inferiorizarmos por sermos terceiro mundo. Amanhã eu postarei aqui no torto um texto sobre vanguarda e cultura de massa e abordarei sobre essa submissão. É muito válido, pois temos a infeliz tendência de sempre querermos copiar os modelos pensados por nós como perfeitos. Porra nenhuma! O mundo em geral é uma idiotia só. Isso eu tenho visto bastante em seus textos. Se pode haver alguma diferença entre terceiro e primeiro mundo é o fator econômico (o que inclusive você já refutou ao falar acerca das condições de trabalho por aí), pois o que vejo claramente é que à nível de predisposições, tanto o primeiro quanto o terceiro são bestializados e vivem cagando na batata. Estamos sendo mortos cada dia mais com um veneno da sociedade de consumo chamado entretenimento. Acabo por aqui pois vou cagar. Bj
ExcluirSim Vina, o mundo e uma merda so. Lamentavelmente, essa definicao nao se incute a nos terceiro-mundistas. Aqui, ao menos na Irlanda e Reino Unido, talvez pela patetica influencia da rainha que esta viva aos cacos e que se esqueceu de morrer, e bem clara a concepcao classica eurocentrica. O modelo se aplica ao quem tem bom gosto e , principalmente, recursos. Como o terceiro Mundo carece de Infra-estrutura, so nos resta os quintais dos imperialistas. Tudo que eles produzem e de grande valia , modelo para se seguir. Quando tocamos no ponto cultural, essa definicao se articula de outra maneira. Cultura e cultura, claro que existem influencias de todos os cantos, mas nao cabe impor umj modelo se no minimo ha diferencas estruturais, politicas, economicas e sociais. Cultura e historia, nao um ramos solto das `linearidades historicas` a caminho do progresso descontextualizado.
ResponderExcluirO que valorizo fortemente no perfil terceiro mundista e uma reacao contraria a essa politica totalmente descontextulzada. Se nao temos recursos, criamos alternativas nao para supri-los,mas para criar um novo olhar a nossa historia. Infelizmente e um movimento, mesmo que longo, ainda embrionario.
bjos