terça-feira, 10 de abril de 2012

O velho feliz

Fazia tempo que ele não sabia o que era se sociabilizar com as pessoas. Durante mais de um ano, sua rotina era tomar conta de sua amada esposa que definhava a cada dia que se passava. Após o falecimento dela, ele continuou a não freqüentar os espaços públicos.

Certo dia ao se acordar, resolveu abrir a janela e se deu conta do quanto grandiosa era a vida. Apesar de ele reconhecer a falta que sua esposa fazia todos os dias, ele determinou para ele que sua vida deveria prosseguir.

Ao completar seus vinte e dois aninhos, seu neto resolveu reunir a família inteira em um restaurante. Na mesa se encontravam seus filhos, genros, noras e seus demais netos. Ao servirem um drinque, ele fez questão de se levantar da cadeira para fazer um brinde ao seu neto aniversariante e à vida.

Fez um discurso que emocionou a todos que estavam na mesa. Relembrou dos tempos de juventude, da ganância em realizar projetos para o mundo, mostrou a todos os netos o quanto a vida valia a pena ser vivida, mesmo quando ela presenteava com circunstâncias nem sempre agradáveis. Falou sobre a falecida esposa e tirou lágrimas de todos.

Porém, em um tom firme, falou que era necessário se esquecer das tristezas da vida, afinal, para os que se encontravam naquela reunião, a vida continuava. Pediu a todos para que soubessem se usufruir da vida do aniversariante e não da morte daquela que todos amavam.

Brincou, cantou, bebeu, conversou como nunca mais havia conversado. Seu ânimo era tanto que ainda levou seu neto mais novo para brincar no parque que havia dentro do restaurante, conversou com seus netos adolescentes sobre suas ex-namoradas e discursou sobre política, religião, dentre outras coisas.

Ele queria tanto aproveitar a vida depois de tanto tempo cuidando de sua falecida esposa que prometeu ao filho mais velho terminar o dia em um clube. Ficou entusiasmado ao saber que no clube teria uma seresta daquelas que só ele sabia amar com tamanha intensidade.

Dentro do carro, resolveu passar em casa para tomar um banho antes de ir ao clube. Entrou em casa e logo se deparou com a fotografia da esposa. Respirou fundo, olhou o mundo da janela de seu condomínio, abraçou a moldura com a foto entre o peito e chorou como nunca mais havia chorado.

Depois de muito chorar, entrou no banheiro, olhou-se no espelho e viu como o tempo já havia desgastado a sua fisionomia.

Seu filho que o esperava no clube, começou a ficar impaciente com a demora do pai. Ligou para o celular dele e nada.

Resolveu ir ao apartamento. Chegando lá teve a sorte de encontrar a porta da frente sem a chave. Entrou no quarto a procura do velho, passou pela cozinha, pela área de serviço e nada. Ao ver a porta do banheiro fechada, bateu e só conseguia ouvir o barulho da água do chuveiro. Chamou bastante o pai e não obteve resposta.

Resolveu chutar a porta do banheiro e ela se abriu. Lá dentro encontrou o seu velho.

6 comentários:

  1. O último canto do cisne. Bela história.
    João.

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  2. Obs: eu nunca comento sem estar logado. Portanto, que fique claro que, quando houver comentários assinados por um João que não aparece numa foto com o seu cachimbo, não sou eu que estou comentando.

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    1. João

      Não se preocupe. Para que eu precisaria saber e qual necessidade você tem em fazer uma observação para dizer se foi você mesmo ou não quem postou o comentário sobre meu texto? Se um anonimo postasse um comentário e abaixo colocasse o nome Vinicius, sinceramente eu não precisaria ter que justificar nada pra você.

      Não se preocupe que você tecendo elogios ou não, eu não vou tirar a ideia que faço acerca de você e de suas opiniões. Você não será nem melhor, nem pior em elogiar ou me criticar.

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  3. Desculpa pelo mal entendido, não foi essa minha intenção!
    o outro João.

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  4. Realmente Vina, os sentimentos fluem tão rápido, passam tão desapercebidos por nossas veias, que realmente quando nos atentamos para explora-los da melhor forma, nos vemos em xeque com nossa própria existência.

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