Desde minha infância eu fui convidado a ter um imenso prazer com a música. Na verdade, até o meu nome já traz a música, pois é inspirado no compositor e poeta Vinicius de Moraes. Meus pais sempre me estimularam a vivenciar esse caminho. Quando pequeno, se havia algo que me imobilizava por muito tempo eram as músicas, principalmente do projeto de Vinícius de Moraes chamado “A arca de Noé”. Por vezes também me vinha de forma angelical a voz de minha tia Raquel Leite que atualmente canta em cerimônias de casamento e que ainda continua se apresentando em eventos musicais. Por sinal, tive a felicidade de vê-la interpretar uma composição minha e de meu querido Guga no festival do Sescanção chamada “Barvigulina”.
Ao longo de minha vida, eu fui crescendo e tendo contato com músicas bastante populares. Apesar de meus pais terem sido pessoas vitoriosas por terem conquistado um patamar privilegiado na hierarquia social, eles são oriundos dos setores periféricos da sociedade. Portanto, suas bagagens de repertórios musicais eram provenientes desses meios. Fui ouvindo artistas como Paulo Sérgio, Waldik Soriano Os Incríveis, Roberto Carlos, The Fevers, Luiz Gonzaga, Golden Boys, etc. Com tamanha freqüência com estes artistas, eu fui pegando gosto por eles. Minha mãe vez ou outra comprava para mim aquelas fitas cassetes e me apresentava caras como Alceu Valença, Belchior, Geraldo Vandré, mas realmente apesar de me apresentar essas músicas ditas da MPB, não me recordo de ter ouvido essas músicas com regularidade em minha casa.
No decorrer do tempo, ao chegar a minha pré-adolescência, eu tive o imenso prazer de passar um mês em São Paulo sob a companhia de Edê que na época tocava com a banda “Sampa Crew” e com o seu tio Waldir Celestino, conhecido como Dadi. Mesmo tendo Edê com um envolvimento muito mais intenso com a música, foi com Dadi que eu passei a ter meus primeiros contatos com a música e com a arte em geral. Poeta, Dadi me apresentou muitas poesias suas e de outros poetas, assim como me abriu um leque imenso com a música. Dadi também tinha um grande acervo de músicas instrumentais e tinha uma influência muito forte com a chamada belas-artes. Dali eu acredito que tenha começado a me surgir um estímulo em gostar de curiosar a dita música que tendemos a denominar de clássica.
Eu me lembro que antes de encontrar com Dadi em minhas férias em Sampa, eu já trazia em minha mala o meu velho walkman com algumas fitas dos Paralamas do Sucesso, Gabriel, O Pensador, Lulu Santos, etc. Foi se passando o tempo e meu contato com a música foi se ampliando. Lembro-me que estando de volta em Aracaju, eu ia à CD Club e locava cd´s do Metallica, Nirvana, Lobão, Megadeth, Legião Urbana, Sepultura, Black Sabbath, Raul Seixas, Ramones, Engenheiros do Hawaii, Ira!, Screaming Trees, Guns and Roses, etc. Lembro que nesse meu momento da adolescência, eu passei também a ter contato com rock and roll mais sujo e pesado principalmente através de Neila, minha primeira namorada que morava na Barra dos Coqueiros, sem contar meus contatos com o rock brasileiro.
Por outro lado, não curtia estudar, nem buscar conhecimento. Só queria ouvir músicas, rabiscar os cadernos com frases furiosas de um menino que se deliciava com a violência por naquele momento ainda não ter vivido de fato a verdadeira violência que é a existência adulta diante da vida. Vivendo o meu segundo grau do ensino médio, minha situação referente às minhas notas era lamentável. Para tentar melhorar minha situação, tive aulas com Kelliton meu querido Cérebro, hoje meu grande amigo. Kelliton me levou a um universo jamais imaginado por mim. Estou falando não só do prazer em buscar conhecimento e de reconhecer a importância da prática científica, mas das doideras da vida. Andando com Cérebro, eu me via em festas universitárias, em discussões acadêmicas e aos poucos fui tomando gosto pela coisa.
Ao entrar na universidade eu trazia comigo dois grandes prazeres: a arte e a ciência. Além de eu ter tido toda uma influência de músicas super populares através de meus pais, ao viver o mundo acadêmico e me deliciar com inúmeras teorias sociológicas, antropológicas, filosóficas, históricas, passei a aprofundar meu repertório musical dito mais alternativo. Frequentando a AAU (Associação Atlética Universitária) na UFS, matando aula para jogar tênis de mesa, ouvir um bom rock and roll, tomar umas cervejas e dar uns agarros pelos labirintos do Campus, conheci uma turma que foi me trazendo mais referências musicais. Juntando essa nova experiência, fui conhecendo a chamada música de vanguarda. Eu me extasiava com as propostas opositivas da vanguarda, com seu discurso de relatividade, de quebra dos modelos tradicionais.
A partir dessas experiências eu fui formando minha postura musical. Ou seja, fui preservando na minha memória as músicas de minha infância, agregando as experiências e a valorização das artes ditas clássicas devido ao meu querido Dadi, também fui agregando minhas influências pelas músicas extremamente populares através de meus pais, assim como outras produções musicais da dita MPB apresentadas por minha mãe. Além disso, agreguei o rock and roll pesado através de Neila e meus infindáveis contatos com o rock brasileiro, terminando por me apropriar das músicas alternativas e as mais experimentais como as de vanguarda na universidade, justamente por encontrar nestas músicas incessantes reflexões que passei a ter depois de ter aprendido a gostar de navegar no universo da ciência com Kelliton (Cérebro).
É devido a toda essa experiência que minha influência musical se passa por muitas referências. Não existe uma delimitação clara em mim no que diz respeito ao erudito, ao popular ou ao massivo. Sou todos eles e adoro todos eles. Outro ponto que eu gostaria de ressaltar se refere ao olhar que eu faço entre a ciência e a arte. Por eu ter vivido situações com pessoas que souberam me estimular a dialogar com os dois universos, não acredito que o universo artístico esteja divorciado do universo científico. Gosto de transitar entre os dois. Acredito que posso através da arte produzir conceitos científicos, assim como posso fazer ciência sem me desvincular de toda uma postura estética que faço dela, afinal, arte e ciência pertencem ao mundo da poética do olhar de cada um, seja no se emocionar ao ouvir uma música, seja no se admirar com mais uma nova descoberta.
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