quinta-feira, 12 de abril de 2012

EDUCAÇÃO E MEMÓRIA

Nos dias atuais, os profissionais de educação abordam seus alunos com metodologias novas, que com toda certeza fizeram efeito em outras realidades. No momento, minha preocupação não é fazer julgamentos sobre essas metodologias, até mesmo porque não conheço a fundo todas elas. Alguém disse em um evento sobre educação que nossa realidade de muitos fracassos e poucos progressos não tem como causa as teorias. De certa forma discordo.

A experiência de sala de aula nos diz que, pelo menos, duas coisas acontecem ao usarmos determinadas teorias. A primeira é a apropriação errada da teoria. O profissional deseja aplicar uma teoria que deu certo em certa realidade, mas, não percebe a conjuntura de nossa realidade. Isso é o mesmo que dizer que um meio sócio cultural diferente exige, pelo menos, uma adequação da teoria à realidade em que ela se manifesta.

Em segundo lugar, nossa estrutura educacional não nos dá chances para a aplicação das teorias adaptadas devido a sua fragilidade. Nossas verbas são poucas, e nossa sociedade quase em sua totalidade é pobre de capital simbólico formal o que torna o ingresso do educando na escola muito mais complicado, pois, o eixo família/escola – pilar de uma educação mais interativa está empobrecido.

A relação escola/sociedade é uma relação de contradições. A escola é reprodutora de modelos, o que não está totalmente errado. No entanto, quando ela reproduz o modelo de exclusão social quando entende que a teoria é tudo e que não necessita dialogar com a realidade do aluno para suprir o que em casa ele não teve em termos de conhecimentos mínimos como saber reconhecer o título de um texto, ela não enxerga o todo, fala para uma massa hegemônica. O aluno é tratado como povo, sem rosto, sem história.

A falta desses pequenos saberes, que em outros países, em outras realidades ou em outras classes sociais, se aprende em casa, dificulta muito a aplicação das teorias. Isso na maioria dos casos nos lança no fracasso escolar. Fica claro aqui que o problema não se encontra na teoria em si, mas, em sua aplicação ou adequação. Portanto, acho correto pensar que temos problemas com as teorias sim.

Um exemplo que deixa a questão muito clara é o rompimento com memorização dos rudimentos, digamos assim, da aritmética. Pequenas coisas como 9x5, por exemplo, que muitos alunos do fundamental não sabem. E não sabem por que o profissional de educação rompeu com a antiga memorização da tabuada em nome de uma critica da realidade ainda muito precoce. O mesmo ocorre com verbos no português e regras morfológicas em nome de uma linguística que faz do texto o objeto maior, contudo, não existe texto sem palavras.

Não quero aqui dizer que as novas teorias do ensino da matemática ou do português estão erradas, digo apenas, que elas, na sua maioria, foram construídas para outras realidades, muito estranhas a nossa. Nosso país é muito pobre, embora rico culturalmente, no que diz respeito a cultura livresca e escolar. Tenho visto que a velha tabuada e os paradigmas verbais fazem efeito. Que o ditado pode muito contribuir com o letramento do aluno que teve ao longo de sua história de vida pouquíssimo contato com o mundo escolar e intelectualizado. Penso como Freire, no entanto, saiu um pouco de seus modelos usando-os como estratégias para fazer o aluno aprender e depois apreender a realidade pelo olhar de uma lente mais dialética.

A necessidade de crescer o vocabulário em uma determinada faixa etária, às vezes, impõe uma abordagem behaviorista do ato de ensinar. Existem crianças que necessitam com mais urgência construir um corpo mnemônico de vocábulos para uma maior recepção e transmissão de sentidos. Se o mecanismo de apreensão da realidade perpassa o cognitivo e penetra no biológico; o processo de julgamento dos dados e classificação das coisas depende de uma máquina psíquico orgânica. Assim, necessita de estímulos externos para fortalecer sua capacidade de meta-cognição.

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