Seria Hitler um
esteta implacável? Admirador febril da arte, Hitler utilizou seus dons artísticos para desenvolver a
política do belo, imprimindo em seus discursos o totalitarismo para manobrar a
massa* oprimida e devastada pela 1ª Guerra Mundial.
A Alemanha revivia tempos de horror
no final da guerra, a economia paralisada, a política desgastada e um cenário
falido onde corpos moribundos transitavam desordenadamente nas ruas de Munique.
Em meio dessa instabilidade política, econômica e social, utilizar palavras
promissoras que almejem a ordem, o novo e o progresso soou prudente para
reativar esperanças no povo alemão.
Antes de ser uma política, o nazismo
foi estético, uma arte fielmente moldada nos rígidos contornos da ordem. Como
relata no documentário de Peter Cohen (1989) “ Arquitetura da destruição”,
Hitler arquitetou um novo modelo de homem para Alemanha. Embora, o gosto
hitleriano tenha um toque aristótélico do belo, a sua influência romântica não
podia ser desprezada. Poderíamos conciliar o belo, para Hitler, como algo “ na
ordem, na simetria e numa grandeza que se preste a ser facilmente abarcada”
(Poet., 7, 1450 b 35 ss.; Met., XIII,3, 1078b 1 apud Abbagnano, 1961) unido a
criação espontânea do artista como parte da atividade criadora do Divino
(Abbagnano, 1961).
Nesse documentário, o belo e arte
parecem se conciliar para Hitler, assim como no séc. XVIII em que as noções de
arte e belo mostram
vinculadas, como objetos de uma única investigação, essa conexão foi fruto do
conceito de gosto, entendido como faculdade de discernir o belo, tanto
dentro quanto fora da arte (Abbagnano, 1961).
Assim,
como foi ressaltado no documentário, o belo na propaganda nazista era
evidenciado pela sua própria natureza em si, estava impresso no gene da raça
ariana. A beleza dessa raça estava explícitas nos olhos azulados, cabelos
aloirados, na altivez e na juventude dos
rostos alemães. Somente eles poderiam trazer o progresso e a vitalidade
para a Alemanha, os que não correspondiam com esses moldes eram considerados
meros dejetos que desestabilizavam a ordem totalitarista.
Os médicos alemães foram
instrumentos diretos no projeto arquitetônico de pureza racial de Hitler, como
declara Cohen (1989) “ A maquiagem do culto nazista à beleza, encontrou seu
caminho na câmara de gás”. Foi tempos de “sanitarismo antropológico” em que o
assassinato em massa se estabeleceu como , utiliza o autor, melhor forma de terapia para exorcizar a
espúria incômoda da Alemanha. Programas de eutanásia, uso letal do monóxido de
carbono foram suficientes para esterilizar a massa degenerada, formada por
judeus , deficientes e doentes mentais, a fim de “preservar o corpo do povo”.
1-massa-
considerei o termo para denominar o povo alemão na
determinada época. Essa termo foi empregado para denominar pessoas
despersonalizadas, massificada por
sistema em vigor.
Referencia:
Dizionario di filosofia
(1961). Em português, Dicionário de
Filosofia, Martins Fontes, São Paulo.
O conceito de belo, em seu sentido aristotélico, é um sentido até hoje usado pela maioria das pessoas, inclusive aquelas ditas questionadoras dos modelos aristotélicos. A noção do bom, do simétrico, serve como uma ferramenta de exclusão para tudo aquilo que é pensado como "não-belo". A sociedade é aristotélica. Os direitos humanos estão aí, mas nosso olhar é aristotélico. A diferença é que hitler acabou com milhões de vidas, mas assim como a sociedade, hitler apenas reproduziu valores elitistas, racistas e excludentes, fazendo de sua política, um ato de estética.
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