terça-feira, 5 de junho de 2012

Cultura e diversidade nas salas de aula

Devido às experiências que tenho me deparado com os meus alunos, eu tenho sentido a obrigação de repensar alguns de meus conceitos acerca da cultura de massa. O que posso dizer de antemão é que, o que tenho constatado de forma bastante clara, é que o público-consumidor dessa cultura assume muitas vezes uma posição bastante cômoda acerca do uso que ele faz dela.

Mesmo admitindo essa nítida postura acomodada diante desse universo estético, eu ainda acredito que esse público é capaz não só de fazer uma re-leitura acerca da produção cultural que ele consome, mas também é capaz de fazer uma leitura bastante crítica no que diz respeito a algumas estéticas que tendem a não ser recorrentes em seu cotidiano cultural. Mas como fazer isso?

Algumas questões referentes ao uso da cultura de massa têm me provocado muitas inquietações. Pretendo neste texto, tentar propor um caminho capaz de mostrar o quanto o educador pode fazer com que esse público assuma uma condição atuante diante da cultura massiva, mas para isso, preciso responder uma questão: o que faz com que esse público se comporte de forma passiva?

Para isso, elaborei as seguintes questões: será que é o caráter excludente das indústrias que não possibilita aos consumidores um acesso a outras linguagens? Será que essas indústrias conseguem educar o público impondo seus valores? Ou a comodidade desse público é fruto de uma cultura marcada pela repetitividade que tira todo o senso de curiosidade por parte dele?

Sabemos que a cultura de massa peca bastante em seu caráter segregador. Ao entrarmos em contato com um meio de comunicação massivo, o que notamos é a redução de produções culturais em sua programação. A cultura de massa se preocupa em encontrar um tipo médio de consumidor. Por isso ela tende a excluir uma infinidade de outras linguagens que compõe a cultura em geral.

Essa afirmação poderia justificar o porquê do público consumidor da cultura massiva tender a insistir em se negar a aceitar outras linguagens. Contudo, eu pergunto: mas não teria esse público um acesso maior a outras fontes como a internet, emissoras televisivas ou de rádios mais alternativas que possibilitariam a eles entrarem em contato com outras tendências culturais?

O outro ponto diz respeito à imposição ideológica da mídia. Posso dizer que acredito bastante no poder de imposição midiática, mas ainda me debato com a seguinte problemática: uma emissora daria certo em sua grade de programação se houvesse um público que optasse em conhecer outras linguagens? Seria que o público-consumidor da cultura massiva de fato é tão apático assim?

Pensar assim, seria afirmar que o público-consumidor da cultura de massa seria sem subjetividades. Que o grande empresariado tem o grande poder de disseminar seu discurso, isso não tem como negarmos, mas esse público não pode ser visto como um mero objeto manuseado. Ele tem uma história, valores estéticos e morais apreendidos em suas experiências cotidianas.

Por fim, poderemos pensar no ponto referente à cultura repetitiva na qual o público-consumidor se encontra submetido. Sabemos que o sistema capitalista, por se resumir ao lucro, e, portanto, à excessiva produtividade, tem feito do cotidiano uma mera rotina mecanizada. A pressa, o automatismo burocrático tem impossibilitado o homem de se alimentar da contemplação da vida.

É a partir dessa contemplação da vida que o homem vai necessitar buscar outros caminhos, nunca vai esgotar-se em sua busca pela mágica que permeia a vida. Um homem não submetido a uma rotina serializada e produtiva é um homem que, por pensar sobre si, e portanto, se reconhecer como parte da realidade, sente a necessidade de revelar, ou seja, de conhecer outras realidades.

Portanto, apesar da cultura de massa ser segregadora e ter uma intencionalidade ideológica marcada por características paternalistas, a falta de curiosidade do indivíduo em buscar se adentrar em outras linguagens não se reduz a elas. Não existiria segregação, nem ideologia, nem paternalismo certo se o indivíduo atuasse em um contexto aberto para a poética e para a reflexão.

Depois de tentar mostrar o que leva o público massivo a ser acomodado às linguagens massivas, cabe pensarmos na seguinte questão: como o educador pode fazer com que esse público busque reconhecer a importância de se aventurar em outras linguagens além da cultura massiva? Quais são os caminhos que possibilitarão com que esse público-consumidor chegue a esse ponto?

Em se tratando da questão excludente da cultura massiva, o educador deveria se utilizar de uma ferramenta tão cotidiana da maioria dos alunos que é a internet. Mostrar que nela existem blogs, sites que disponibilizam outras músicas e demais produções artísticas, e que o mundo da cultura consumida por eles não se reduz apenas às rádios e emissoras comerciais de televisão.

Mostrando a outra face da internet, os discentes perceberiam que a internet é um mundo que apesar de ter seus perigos, traz muitas riquezas. Pedindo que esses alunos encontrassem em casa produções que estão fora do circuito massivo, o educador possibilitaria com que os alunos aprendessem a pesquisar e a conhecer outros mundos relegados por eles.

Pedindo para trazer músicas e vídeos excluídos do sistema oficial das mídias massivas, caberia ao educador propor que os alunos produzissem textos acerca deles. Com isso, o educador permitiria ao aluno perceber que ele pode ser um agente atuante e construtor de opiniões. Isso estimularia a subjetividade e evitaria com que os alunos se submetessem meramente à onda do momento.

Outro ponto seria a metodologia aplicada pelo educador em suas aulas. Ao invés de fazer do espaço da sua disciplina, apenas um espaço reprodutor dos modelos produtivistas, ele deveria fazer com que esse espaço fosse aberto às novas formulações de idéias e às trocas como um caminho para a prática da democracia e de um verdadeiro exercício com a cidadania.

( TEXTO POSTADO NO DIA 31 DE MAIO NO BLOG PENSANDO A EDUCAÇÃO- www.pensandoaeducacao10.blogspot.com )

3 comentários:

  1. A proposta de educação e diversidade na sala der aula não é coisa recente. A atual ldb já prevê isso. Contudo, a visão dialogista de educação não. A educação enquanto diálogo com o mundo, portanto, com o diverso, não é idéia antiga. Essa é uma idéia que nasce de uma antropologia bakthiniana: O homem está em situação de diálogo, portanto ele assume dois papeis - o primeiro de emissor (produtor de discursos), o segundo receptor (o decodificador de discursos). No segundo papel está a base do primeiro - Só se produz discursos decodificando os discursos do mundo - isso exige uma apredizagem com multiplas abordagens, com muitos intercruzamentos, ou seja com muito diálogos - assim, uma vez submetido aos generos vários da cadeia discursiva, o aluno se torna apto a dizer do mundo...

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    1. Roosevelt

      Muito interessante a sua observação. É fato que a idéia do diálogo não se concretiza no cotidiano escolar. Falamos muito de diversidade, mas não sabemos conectar essa diversidade por via do diálogo. Até a apresentação de outras linguagens (quando raramente acontece), e feita de forma unilateral.

      O grande problema disso tudo é que os alunos e os próprios docentes, não se vêem capazes de dar conta dessa pluralidade dialógica. Vivemos em meio a um contexto industrial que, apesar de ser caracterizado pelo excesso de informações, mas ele não nos dá a possibilidade de produzirmos sentidos a essas informações. Isso acontece por vivermos em meio a uma realidade na qual prepondera a necessidade do consumo, deixando de lado a produção. Resultado: o que encontramos é a re-produção.

      A educação tem que tentar possibilitar ao aluno uma capacidade de abarcar essa diversidade signica, assim como fazem as midias, com a seguinte diferença: capacitar o receptor a germinar novas significações, faz-se presente no contexto, estar aqui e agora, ou seja, fazê-lo desmembrar seus afetos e libertá-los às descargas dos seus desejos, de suas necessidades, abrindo com isso, as portas para os seus mundos. Enfim, a educação deve fazer com que a diversidade de linguagens, seja fomentadora de porquês e de re-conscientização do olhar do sujeito para a construção do mundo.

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