Toda
leitura tem sua história. Ela oferece ao leitor, significados que podem ser
traduzidos em o determinado momento que esse se insere ou até mesmo amplia os
requisitos dos seus significados dependendo do contexto sócio-histórico. Cada
época a leitura tem a sua importância, não que ela perca com o passar do tempo
ou não tenha fundamento no momento presente, mas ela adquire uma ótica
diferenciada dos acontecimentos de diferentes épocas. Isso foi ilustrado pela
passagem histórica do sujeito religioso (medieval) para o jurídico (do
capitalismo).
Assim,
podemos perceber que a leitura é um meio formador de opinião, antes mesmo de
ser didático, traz em si um discurso, um teor ideológico que remete ao
indivíduo valores, crenças no seu contexto social. Embora, na contemporaneidade
o sujeito tenha como expressão máxima a liberdade, as inúmeras possibilidades
de informações, por diversos meios de comunicação, ele está preso nos poderes
“estreitos” do discurso, pois, como argumenta Pêcheux (1997, p. 68), “ O
sujeito objeto de estudo da análise do discurso não é senhor daquilo que diz,
não é a origem do que diz por uma razão dupla: ele é um sujeito constituído
fora do consciente do indivíduo. Essa constituição é sempre efeito de uma
anterioridade, de uma memória que nossa lembrança não alcança. Uma memória fala
em nós pelo inconsciente, por isso o sujeito é assujeitado”.
Discurso esse,
na concepção de Foucault em “A ordem do
discurso” (2004) em que a ideologia é dita como verdade insidiosamente
universal que, no entanto, não existe uma vontade de verdade, mas uma
prodigiosa maquinaria destinada a excluir. Ainda com o autor (2004, p. 6) , “Evidentemente
que há outros procedimentos de controlo e de delimitação do discurso. Aqueles
de que falei até agora exercem-se, de algum modo, a partir do exterior;
funcionam como sistemas de exclusão; dizem respeito sem dúvida à parte do
discurso em que estão implicados o poder e o desejo”.
Nesse contexto, o discurso que
atravessa o sujeito da atualidade seria pela ideologia neoliberal. O
neoliberalismo foi um momento histórico ocorrido a partir da década de 1960 que
tinha como principal lema a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à
intervenção estatal sobre a economia. Desse modo, a influência do Estado se
reduziria diante do novo cenário mundial, ele e suas relações interestatais não
são mais o único pivô de ordenamento do mundo. O sujeito, então, se encontra
imerso num caldeirão de informações e comunicação sob leituras diversas e
difusas com seus fluxos invisíveis e imateriais que escapam às antigas
territorialidades (SANTAELLA, 2005).
O que
isso implicaria na sociedade, principalmente no âmbito da leitura, seria novas
formas de concepção do conhecimento, tanto didático como informativo, para o
indivíduo. Assim, vivemos em um mundo freneticamente veloz em que a informação
se renova a todo instante, então a leitura sofreria grandes modificações nesse
momento atual. Desse modo, como afirma Massimo Cavenacci (2007), o indivíduo se
amplia para essa multiplicação perceptiva, ou seja, seria um tipo de linguagem
que influencia um tipo de comportamento principalmente nos indivíduos que vivem
nas cidades metropolitanas. Tudo ocorre, a todo momento, inúmeras informações e
conteúdos nos informes publicitários, na Tvs, na internet. É o cotidiano
acompanhado de perto, sem que lhe escape os míninos detalhes. Nesse sentido, o
indivíduo não seria mais aquele encontrado nos conceitos da antiguidade grega, o indivíduo é a última parcela social
que não é mais possível dividir. Mas ele se aplica ao conceito de multi-
indivíduo na contemporaneidade, como afirma o autor Cavenacci “O conceito de
multivíduo, para mim, é um conceito mais flexível, mais adequado à
contemporaneidade. Por que significa que multivíduo é uma pessoa, um sujeito,
que tem uma multidão de eus na própria subjetividade. Isto é, o plural de eu,
não é mais nós, como no passado. O plural de eu, como eus. Isso pode
desenvolver uma multiplicidade de identidades, de eus, que é o multivíduo, isto
é, em parte, fazer uma co-habitação flutuante, múltipla, de diferentes selves,
se poderia dizer por exemplo, a palavra em inglês, plural de self, que
co-habitam, às vezes conflictuam, às vezes constroem, uma nova identidade,
flexível e pluralizada. Acho que o multivíduo é esse tipo de possibilidade, de
potencialidade. Eu espero que o multivíduo seja a potencialidade conceitual
adequada à metrópole comunicacional”.
Portanto, podemos perceber que
atualmente surgem novas medidas, que aparentam ser um “movimento” contrário a esse
fenômeno mundial que atinge todas as regiões, em diversas latitudes, espaço e
tempo. São as perspectivas de nacionalidade, em que o Estado- através dos seus
representantes políticos, principalmente em tempos de eleição- tenta no meio
televisivo conceber ao individuo uma sensação de territorialidade, de cidadania
entre seus mais variados discursos ideológicos, que no mais só dá continuidade
aos aspectos que reiteram os ditamente da globalização, ou em outros termos, a
política neoliberal.
Referências:
ORLANDO,
E. Discurso & Leitura. Campinas, São Paulo, Ed. Cortez: 1988.
SANTAELLA,
L. Novos Desafios da Comunicação. Lumina- FACOM/UFJF- V.4, n.1, p. 1-10,
JAN/JUN 2001.
http://www.overmundo.com.br/overblog/entrevista-com-pensador-massimo-canevacci
http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoliberalismo
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