sexta-feira, 29 de junho de 2012

Solidão de Lúcio

Série contos urbanos Lúcio morava em um Conjunto habitacional em Aracaju. Seus pais moraram lá até que Deus os levou. Primeiro foi seu Filó, depois dona Dulcinéia. Lúcio herdou a casa e a banca de revistas na Praça da Bandeira. Lúcio cursou o segundo grau até o segundo ano. Os pais ficaram velhos forçando-o a trabalhar na banca. Ele era filho único e muito amado por sua família. Os vizinhos até hoje comentam: “Esse menino era o xodó de Dulcinéa”. E era verdade. Lúcio quando ia à escola, sua mãe o arrumava cedo, e o conduzia pela mão até o Costa e Silva, no Siqueira Campos. A mulher só parou quando percebeu que a voz do rapaz havia mudado. Filó era um pouco diferente. O povo de Glória não gosta muito de chamego. A banca de Lúcio ficava na esquina com a Av. Hermes Fontes e Av. Barão de Maruin. O moço passava o dia inteiro ali. Retornava para o DER somente às sete da noite. Lúcio estava nessa vida há sete anos. Durante todo esse tempo ninguém apareceu em sua vida, nem uma namoradinha ou coisa assim. Seus colegas lhe diziam: “Lúcio troque o carro; compre um novo, desses da moda!” Lúcio tinha um fusca branco. Não havia nada de errado com seu carro, exceto, a idade, pois, o automóvel nunca o deixou na estrada. O jovem do DER usava óculos como seu finado pai. Tinha os cabelos claros como sua finada mãe, e o nariz e a boca eram cópias de seu bisavô descendente de holandeses que moraram nos sertões de Glória e Porto da Folha. “Lúcio é a cara de seu Zé Maria, num é Filó?” “É mesmo, a cara de um, o fussinho do outro”. Lúcio não era um homem feio, mas, não era bonito também, ele estava na metade dos dois. O que mais pegava nele era a danada da timidez. “Rapaz! Olha lá! Carla está paquerando você!” “Tá não compadre!” A história terminava aí. Essas coisas faziam muito o rapaz sofrer. Numa segunda feira, Lúcio estava em sua banca como era o costume. Por volta das nove horas da manhã entra uma moça. A menina estava um tanto apressada. Ela entrou, pediu cigarros, olhou em volta, e saiu. A visão da menina, o perfume que ela usava; a cor do vestido, a cor dos olhos e do cabelo ficaram fixadas na mente de Lúcio. O rapaz retornou em seu fusca para casa pensando em quem seria aquela moça. Ele estava tão animado com a visão daquele anjo que se esqueceu de por o carro na garagem. Aquela foi a primeira noite que o fusquinha de Lúcio dormira do lado de fora. No outro dia, pela manhã, Lúcio abre a porta para atender o leiteiro, e vê seu carro estacionado na porta de casa. Para sua surpresa, pois, isso nunca havia acontecido antes. - Seu Lúcio chegou tarde ontem! - Não seu Raimundo. Cheguei cedo, mas, num sei onde estava com a cabeça. Ocupei- me e me esqueci do carro! De fato, Lúcio ao chegar a sua casa nem banho tomou. Esquentou pão e café solúvel no micro-ondas, depois, foi direto para sala de som onde ficou até pegar no sono. Sua mente passeava por todos os ângulos possíveis que estavam armazenados na sua memória. Ele via a pequena comprando uma carteira de cigarros Hollywood mentolado. O dinheiro ele segurava na mão, de vez em quando, o levava ao nariz para sentir o perfume da moça. “Era coisa da Natura”. Pensou ele. - Seu Lúcio, mas, sua pessoa num vai assim para a banca não, num é? Perguntou Raimundo, o entregador de leite da Padaria Sagrada Família. - Como? - O carro está sem os pneus. Parece que o dono levou. Lúcio, finalmente, vê que os pneus de seu fusca sagrado haviam sido roubados. Naquele dia ele foi de ônibus para a banca. Lúcio residia no final da Rua Alagoas. Ele decidiu tomar o coletivo DER para a Praça da Matriz, e de lá seguiria a pé para a Praça da Bandeira. Lúcio tomou o ônibus no ponto próximo a sua casa. Uma esquina antes da Rua Bahia sobe uma moça. Lúcio não havia notado, pois, estava ainda pensando em sua amada, sua musa que o fez se esquecer do carro. Ele somente percebeu que ela estava no ônibus quando o vento entrou pela janela na curva para entrar na Rua Bahia. “Que perfume é esse?” “Será?” A moça estava sentada no banco dos fundos. Eles estavam separados por uma senhora forte, de meia idade, que segurava uma criança no colo. A moça estava ali, pensou o rapaz. “Eu poderia perguntar-lhe o nome!” Pensou novamente o vendedor de revistas. “Vou segui-la!” Durante o percurso seus olhos incidiam instintivamente sobre as colchas alvas da moça. Sua pele era branca como leite; o rapaz adorava vê-las embaladas pelo trepidar do carro. A menina estranha vestia um vestido branco estampado com rosinhas azuis. A roupa era curta – o que provocava a libido de Lúcio. O tempo passa rápido. A Praça da Matriz estava cheia de gente. Todo aracajuano sabe que Sergipe passa por ali todos os dias. A moça desce na Praça junto com Lúcio. Os dois estavam juntos e separados no meio da multidão que ia e vinha sem nada perceber. Ela entra em uma pequena loja de vender filmes e máquinas de fotografar. Lúcio a observa sem se preocupar com o tempo. A menina se sentou no balcão e inicia sua rotina de trabalho. Um rapaz moreno de feições de caboclo se aproxima dela e diz: - Marivone! Bom dia! Linda como sempre! - Bom dia Valdir! Onde está Setúbal? - Ele mandou dizer que você tome conta das coisas. Ele está com o cão doente. Vai levá-lo para o veterinário. - Setúbal é uma comédia! Setubal era o dono do estabelecimento. Valdir o fotógrafo e Marivone, a vendedora. Lúcio anotou o número do telefone que estava no toldo que protegia a frente da loja do sol forte de Aracaju, e se retira do lugar. “Agora, pelo menos, eu sei seu nome ‘Marivone’; mais tarde vou ligar para ela”. Dona Carmelita estava aguardando Lúcio defronte à banca fechada às oito e trinta da manhã. A mulher não falhava um dia. Era comum tê-la por perto no horário de levar rex para fazer xixi. Carmelita era uma mulher viúva aposenta. Sua idade ela não gostava de dizer, mas, todos sabiam que ela parou de contar nos sessentas. De lá para cá deve ter passado mais de uma década. Sua lucidez era plena. Falava com propriedade sobre todas as coisas que conhecia. Somente uma coisa nela irritava a Lúcio – seus pressentimentos! - Menino que cara é essa? Viu algum bicho? - Como dona Carmelita? - Se sua mãe tivesse viva ela diria a mesma coisa! Que cara é essa, rapaz? Viu algum fantasma? - Não! Mas vi a coisa mais bela de minha vida! - E foi Lúcio? Graças a Deus meu filho; já estava na hora de você arrumar alguém! Felicidades! Rex havia feito o trabalho na grama verde da Praça. Dona Carmelita se despede e caminha na direção do semáforo no cruzamento com Av. Barão de Maruin. A mulher vestia uma roupa preta; o luto de seu marido nunca saiu da cabeça de dona Carmelita. A banca de Lúcio era um ponto antigo. Segundo ele, há mais de 25 anos sua mãe e pai trabalharam ali. Fizeram fregueses e amigos que depois se tornaram fregueses e amigos de Lúcio. Era muito agradável trabalhar naquela banca que tinha dois metros e meio de largura por três metros e setenta de comprimento. A banca estava do lado da sombra pela manhã, e pela tarde, as árvores da praça ajudavam a amenizar o calor de Aracaju dando-lhe sombra. De tardinha uma brisa escapava da Rua da Frente e chegava até a Praça da Bandeira. Era a brisa do Rio Sergipe que deságua logo ali. Em Aracaju, o mar e o rio dialogam sem cessar, e o vento que corre a cidade vem de lá. - Alô! Alô! Lúcio respira fundo, cuida para que Marivone não ouça sua respiração ofegante. - Alô! Alô! A voz da moça deixa o coração do rapaz acelerado. Sua respiração se assemelha a de um corredor. Contudo, Lucio nada diz. Os pensamentos de sua cabeça ficam confusos. O rapaz tem medo de dizer besteira. - Alô! Alô! Marivone atende ao telefone novamente, mas, não encontra resposta. A moça desiste e desliga. - Valdir! Estão passando trote. Duas vezes ligaram para cá, eu atendo, ninguém diz nada. - Está famosa, hein! - Oxalá que fosse isso! Sinto-me tão só! Marivone suspirou se lembrando de Carlos Alécio, seu ex-noivo. Marivone foi deixada no altar. Seu noivo Carlos Alécio desistiu de tudo e aceitou a bolsa para estudar em Londres. “Desculpe meu amor, mas, foi um erro”. Estas foram as últimas palavras que Marivone ouviu dele. Desde então, dois anos depois do ocorrido, a moça nunca mais namorou ninguém. “Marivone minha filha! Vá passear!” É o que diz sua mãe quando a vê de cabeça baixa pensando na vida. - É brincadeira colega! Desculpe! Valdir se retirou para atender um cliente. Marivone pensa por um instante no seu ex-noivo. Seu coração se enche de saudades e mágoa. Lúcio esperou Marivone sair do trabalho às cinco. Esperou por ela na Matriz. Depois, a acompanhou pela cidade até deixá-la em casa. A rotina se repetia todo dia, depois semanas passaram e o rapaz fazia a mesma coisa. Colhia informações sobre a menina, a observava, mas, nada de uma aproximação. Todas as vezes que tentava, sua voz engasgava só de pensar, seu coração acelerava, sua mente entrava em confusão. Lúcio não conseguia abordar a moça definitivamente. Os seus planos se transformaram em devaneios. Marivone percebia que estava sendo seguida. Contudo sua dúvida era maior que sua fé. - Valdir, às vezes, sinto que um rapaz simpático me acompanha. São vários os dias que onde estou ele está. Mas, ele nem olha para mim. Ás vezes, eu sinto medo. Outras vezes, eu sinto vontade de dizer-lhe algo. Eu acho que ele tem algum problema. - Mulher, pode ser apenas uma coincidência. Relaxe! Lúcio estava lendo em sua banca certa manhã quando Marivone surge inesperadamente. A moça não tinha o hábito de comprar cigarros naquele local. Ela procurou a Lúcio por que queria ouvir dele alguma coisa. Lúcio levanta a cabeça e encontra os olhos da menina no caminho. Aquela foi a primeira vez que os dois se olharam. A ternura e o carinho irradiavam das pupilas dos olhos de Lúcio. Marivone percebia tudo, no entanto, não entendia por que ele não falava nada. - Uma carteira de cigarros, por favor! Lúcio se levanta e caminha na direção dos cigarros. Pega a carteira e a entrega à menina. Agora seus olhos estavam baixos evitando o olhar direto. Marivone tenta dizer alguma coisa, mas, para pelo meio do caminho. “Acho que Valdir tem razão!” Pensou consigo a moça. A aproximação de Marivone forçou Lúcio a mudar sua estratégia. Ele a seguia de longe como se fosse seu anjo protetor. Durante as noites Lúcio simulava diálogos com ela. Ele mandou fazer pôsteres e os pendurou nas paredes de seu quarto e escritório. Lúcio estava se transformando em um especialista sobre Marivone. As pessoas da Praça da Bandeira comentavam que Lúcio abandonara a banca, porque não ligava mais para nada. Os pedidos estavam atrasados. - Lúcio você está bem, colega? Perguntou Gileno, um colega de infância. - Sim, eu estou bem. Hoje tenho a mulher que sempre sonhei. No quarto de Lúcio havia uma boneca de criança de uns setenta centímetros. A boneca tinha os cabelos pretos como os de Marivone. Os meses passaram ninguém mais ouvia falar de Lúcio. Sua banca estava fechada. Sua casa estava trancada e seu fusca desmontado por vândalos na frente de casa. Lúcio enquanto teve saúde rondou a casa de Marivone. O rapaz não suportou a noite de sexta feira dia 27 de março. O rapaz estava sentado em um bar defronte a casa de Marivone que fica quase no cruzamento da Av. Bahia com Alagoas. Ele fazia ponto ali quando podia. Olhava tudo depois ia embora. Naquela noite Marivone demorou a voltar da loja. Lúcio ficou no bar até ela chegar. Por isso, nervoso, pediu uma cerveja. A cerveja afetou o rapaz de forma tal, como disse seu Zé, que ele se levantou descontrolado e sumiu na rua. Lúcio viu quando Marivone chegou com seu namorado. Viu quando os dois se abraçaram e se despediram. A cena de amor de Marivone adoeceu a Lúcio. Desde então ele preferia ficar em casa sem receber ninguém. O rapaz do leite estava desconfiado que houvesse algo errado. E então, certo dia, ele sentiu um cheiro de podre, e chamou os bombeiros. O corpo de Lúcio foi encontrado em adiantado estado, fazia uns cinco dias de morto. Os vizinhos não viram nada. O exame cadavérico diz que ele se envenenou com chumbinho. Deixou uma carta na mesa da cozinha. Na carta ele dizia: “Estou tirando minha vida por que te amo Marivone”. “Quem é Marivone?” Perguntaram os policiais. Marivone nunca soube da morte de Lúcio, embora morasse no mesmo bairro. Cidade grande é assim as pessoas nunca se conhecem o bastante. Marivone casou e teve um filho. E viveu sua vida como pode.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Tia Mainha e o cinzeiro

Andando pela Osvaldo Aranha, reencontrei tia mainha, uma grande figura que sempre deixa marcas em minha vida. Tia mainha andava pela Osvaldo com o intuito de sentir de forma mais real o conto trazido por Roosevelt Leite intitulado “Baratas” que foi postado no torto. Ao me ver, resolveu me fazer uma relação de um cinzeiro quadrado de vidro que ela tinha em mãos com a vida e com a idéia que ela fazia acerca do torto.
Com seu velho pente verde-cana preso aos seus cabelos assanhados, tia mainha disse:- Querido Vina, a vida quer ser quadrada igual a este cinzeiro que trago em minhas mãos.

De um momento para o outro, ela joga enfurecidamente o cinzeiro no chão e me diz: - Na verdade, a vida quer ser apenas aquele cinzeiro inteiro. Ela apenas quer, mas a vida é também esse cinzeiro despedaçado que você enxerga aí no chão.

Sentando no chão vagarosamente, tia mainha me pediu para eu sentar com ela. Sentei.

- Menino idiota, eu gostaria que você me entendesse.

- Tia, se um dia eu deixar de ser idiota, talvez eu a entenda, ou talvez seja através da minha idiotice que eu consiga entendê-la.

- Seu estúpido, veja bem: essa vidinha de merda do caralho cria a todo instante seus mecanismos de controle com o intuito de manter a ordem das coisas, e você com sua cara eqüina, sofre quando o outro se desvia daquilo que você criou como expectativa.
Depois de breves segundos de silencio, ela olha para mim e diz: -você é um panaca que se sentou no chão só para se autoafirmar.

- Tia, desculpe-me, mas foi a senhora quem me pediu para eu sentar.

- Coisinha ridícula, você sentou por que eu pedi? Você queria sentar?

- Ah, sei lá! O que eu gostaria mesmo é que a sua pessoa me explicasse sobre aquilo que antes era cinzeiro, antes da senhora espatifar tudo no chão.

- Menino quadrúpede, por que ele não é mais cinzeiro? As coisas só podem existir quando elas existem da forma como você aprendeu como elas devem existir? E se eu disser que você tá vivo? Será que to enganada?

- Não.

- Você sabe de fato o que é estar vivo?

- Nem sempre.

- Meu filho, veja o seguinte: a afirmação que você está vivo é como o cinzeiro antes de ser espatifado, no entanto, a falta de certeza acerca do que é de fato estar vivo, torna você igual a esse cinzeiro estraçalhado no chão. Mesmo admitindo não ser a completude do real que você acha que é, você deixou de ser você? Ao se ver no espelho, você sabe diferenciar eu de você não é? Então perceba que você é como um cinzeiro que mesmo sendo despedaçado não deixou de ser e de se enxergar como um cinzeiro.

- Ah, a senhora está dizendo que a verdade pode ser verdade sem necessariamente precisar provar que é seguramente uma verdade plena em si mesma, não é isso?

- Porra, claro né!

- Certo, mas qual a ligação entre o cinzeiro, a vida e o torto?

- Ei, compre uma pinga ali pra sua tia mainha.

- Explique-me primeiro e depois eu compro. Estou curioso.

- Depois um caralho! Você acha que eu vivo de futuro é seu viadinho?

Levantei e fui comprar a pinga pra tia mainha.

- Pronto tia, pode continuar.

- Veja: o seu torto pelo que eu entendo, por admitir que é resultado de um determinado tempo histórico e resultado de toda uma construção de valores ensinadas socialmente, busca caminhar de acordo com aquilo que a sociedade estabeleceu como legitimo. Portanto, o torto admira o cinzeiro e quer o cinzeiro em sua integridade.

- Isso

- Mas por outro lado, o seu torto admite que a integridade das coisas, ou seja, a verdade em sua essência, não passa de fantasias construídas por nós, e por isso mesmo, apesar de concreto, ele se dissolve diante de uma infinidade de interpretações geradas pelo olhar de cada um. Nesse sentido, o torto admira e também quer o cinzeiro estraçalhado em várias partes.

- Isso. Mesmo que eu acredite nos valores impostos socialmente, na forma “real” que a sociedade quer que eu acredite, ou seja, no cinzeiro inteiro; por eu acreditar que esses valores, por mais que sejam recorrentes para boa parte das pessoas, são compreendidos de forma diferente por cada um de nós, eles são iguais a esse cinzeiro estraçalhado aí no chão.

- Isso minha coisinha acéfala. Portanto o que eu entendo é que o seu torto acredita na verdade, mas acredita também nas armadilhas da verdade. Talvez seja por isso que ele constrói seu discurso sempre tendo como base a contradição, e por isso mesmo, ele admite que seus caminhos, antes de serem retos, entortam-se o tempo inteiro. Estou certa?

- Concordo com a sua certeza sem jogar fora a indagação que você colocou em sua afirmação.

- Não entendi.

- Caralho, deixe de ser eqüina, babaca, panaca, vadia, acéfala e ridícula sua velha escrota e filha da puta!

- Olhe, você me respeite, pois sou mais velha que você viu!

- É mesmo? E se eu disser que a hierarquia é de fundamental importância para que a gente estabeleça de forma clara a organização da sociedade, mas nem por isso significa dizer que ela seja de fato verdadeira? Afinal, o cinzeiro não deixou de ser um cinzeiro por que foi quebrado né!

- Por que ser tão grosseiro comigo Vina!

- Ah, aproveite e limpe os caquinhos do cinzeiro que ficaram espalhados pelo chão para que ninguém venha a se ferir.

- Eu limpo, mas antes arrume mais uma pinga pra sua tia mainha meu menino...

- Antes um caralho! Você acha que eu vivo de passado é sua viadinha?

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Zerstörung: o belo em um plano arquitetonico


Seria Hitler um esteta implacável? Admirador febril da arte, Hitler utilizou   seus dons artísticos para desenvolver a política do belo, imprimindo em seus discursos o totalitarismo para manobrar a massa* oprimida e devastada pela 1ª Guerra Mundial.
            A Alemanha revivia tempos de horror no final da guerra, a economia paralisada, a política desgastada e um cenário falido onde corpos moribundos transitavam desordenadamente nas ruas de Munique. Em meio dessa instabilidade política, econômica e social, utilizar palavras promissoras que almejem a ordem, o novo e o progresso soou prudente para reativar esperanças no povo alemão.
            Antes de ser uma política, o nazismo foi estético, uma arte fielmente moldada nos rígidos contornos da ordem. Como relata no documentário de Peter Cohen (1989) “ Arquitetura da destruição”, Hitler arquitetou um novo modelo de homem para Alemanha. Embora, o gosto hitleriano tenha um toque aristótélico do belo, a sua influência romântica não podia ser desprezada. Poderíamos conciliar o belo, para Hitler, como algo “ na ordem, na simetria e numa grandeza que se preste a ser facilmente abarcada” (Poet., 7, 1450 b 35 ss.; Met., XIII,3, 1078b 1 apud Abbagnano, 1961) unido a criação espontânea do artista como parte da atividade criadora do Divino (Abbagnano, 1961).
            Nesse documentário, o belo e arte parecem se conciliar para Hitler, assim como no séc. XVIII em que as noções de arte e belo mostram vinculadas, como objetos de uma única investigação, essa conexão foi fruto do conceito de gosto, entendido como faculdade de discernir o belo, tanto dentro quanto fora da arte (Abbagnano, 1961).
            Assim, como foi ressaltado no documentário, o belo na propaganda nazista era evidenciado pela sua própria natureza em si, estava impresso no gene da raça ariana. A beleza dessa raça estava explícitas nos olhos azulados, cabelos aloirados, na altivez e na juventude dos  rostos alemães. Somente eles poderiam trazer o progresso e a vitalidade para a Alemanha, os que não correspondiam com esses moldes eram considerados meros dejetos que desestabilizavam a ordem totalitarista.
            Os médicos alemães foram instrumentos diretos no projeto arquitetônico de pureza racial de Hitler, como declara Cohen (1989) “ A maquiagem do culto nazista à beleza, encontrou seu caminho na câmara de gás”. Foi tempos de “sanitarismo antropológico” em que o assassinato em massa se estabeleceu como , utiliza o autor,  melhor forma de terapia para exorcizar a espúria incômoda da Alemanha. Programas de eutanásia, uso letal do monóxido de carbono foram suficientes para esterilizar a massa degenerada, formada por judeus , deficientes e doentes mentais, a fim de “preservar o corpo do povo”.


                                                                                                                        


 
1-massa- considerei o termo para denominar o povo alemão na determinada época. Essa termo foi empregado para denominar pessoas despersonalizadas, massificada por   sistema em vigor.




 
Referencia:
 Dizionario di filosofia (1961). Em português, Dicionário de Filosofia, Martins Fontes, São Paulo.






sexta-feira, 22 de junho de 2012

Putas

A longevidade extenua, dinamita os espaços onde flutuam libertinas as singularidades, troca a concisão de um estilo rigoroso quanto à seleção de suas palavras pelo improviso malabarista e carente de beleza e, em nome do prosaísmo maratonista exigido pela dissertação desgastante, sacrifica a idiossincrasia certeira, as três ou cinco frases cheias de fidalguia, pelos ruídos nauseantes e avaros dos extensos parágrafos tautológicos.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

POSSESSÃO

SÉRIE CONTOS URBANOS - Eu nunca faria uma coisa dessas! Isso não faz o meu estilo. Entendeu? - Você pode estar certo, mas, também pode estar errado. Você tem certeza do que diz? - Meu caro doutor. Eu estava na Praça da Matriz próximo ao trem quando eu vi Lucia com Gerinaldo. Não suportei e fiz o que fiz... “Eu fui trabalhar aquele dia normalmente. Fiz as minhas obrigações cotidianas até que tudo desabou com um telefonema estranho. “Sua mulher está na praça com Gerinaldo”. Eu saí do trabalho e fui até a praça. Andei uns quatro quarteirões. De longe eu os avistei encostados no trem. Os dois estavam conversando. Aproximei-me. Eles nem perceberam minha presença. Continuaram a conversar. Lucia contava para Gerinaldo que deseja minha morte e que se soubesse de alguém ela pagaria para me matar. Gerinaldo a aconselhava que não, que entregasse tudo nas mãos de Deus. - Ah, se eu soubesse de alguém. Eu mandava matar o Anderson. Anderson é um cara muito egoísta. Eu não suporto mais esse cara mandando em mim. - Lucia, tenha fé em Deus. Existem outros caminhos. - Eu sei, mas, dói muito amigo!” Lucia era uma moça muito tímida e inibida. A menina tinha muito medo e insegurança sobre a sinceridade das pessoas para com ela. Desde nova que ela era assim: “Menina!” Deixa de ser complexada!” Era assim que Etelvina, sua finada mãe, dizia baixinho, perto de seu ouvido. Lucia amava muito seus pais. Primeiro foi Etelvina, o diabetes não perdoou. Depois foi Henry Clay, seu pai. O homem fumava muito, a doença braba nos pulmões o levou alguns anos após a morte de sua mulher. Lucia casou com Anderson aos dezessete anos. O casal foi morar na Rua Santa Catarina quase esquina com a Rua Acre. - Aqui é tão bom meu amor! - Sim, a gente tem acesso a todas as comodidades que o Siqueira oferece. Só precisamos ir ao centro em casos muito urgentes, pois, aqui, temos tudo por perto. Por um bom tempo, o casal viveu as bênçãos de Deus. Anderson parecia ser um marido muito honesto. Um homem íntegro, cumpridor de seu dever. - Mãe! Tenho que agradecer muito a Deus por Anderson, minha mãe! - Sim, minha filha! Viva Deus! Seu marido é um homem bom. O povo comenta que nos dias atuais, um casamento feliz é muito raro. As varas de família atestam a veracidade dessa suposição. As famílias estão em crise, mas, segundo Frederico, o filósofo do Siqueira: “O casamento é uma tortura necessária. Ruim com ele, pior sem ele”. Frederico tinha o costume de tomar umas, todas as noites, em um barzinho na esquina da praça mais famosa do Siqueira. - Sim, minha mãe, Anderson é um anjo de marido! - Vá por mim! Trate bem o rapaz, pois, esse rapaz é de ouro! O eco da voz de sua finada mãe a acompanhava nos momentos de crise. Uma noite, Anderson chegou tarde. O moço cheirava a álcool. - Anderson, meu amor, o que aconteceu? - Você não sabe? Os ônibus estão em greve. Tive que vir a pé do trabalho. Tudo bem, vir a pé explica o horário, mas, o cheiro de cerveja dizia que houve mais coisa. No entanto, a menina Lucia, agora com vinte e cinco, preferia por uma pedra sobre o assunto. - Vá tomar banho querido! Tem comida quente. Quer que eu ponha para você? A moça era prendada como são a maioria das fêmeas nordestinas – Lucia fora criada para o lar definitivamente. Quando ela terminou o curso de Assistente Social ela dedicou tempo integral ao lar. Embora sem filhos, Lúcia se comportava como se fosse uma mãe cheia de crianças ao redor. - Anderson você gosta de cortina rosa com babados brancos? Eu achei que a gente podia ir preparando o quarto de Alice. - Que Alice? - A nossa Alice! - Lúcia, nós não temos filhos. E eu não quero ter filhos ainda. Tenho tanta coisa para fazer primeiro. Todas as vezes que seu marido dizia: “Tanta coisa para fazer primeiro”. Lúcia entrava em crise de ansiedade e depressão. A coisa começava com uma dor nas têmperas que com o tempo subia para o chacra coronário. Quando no chacra, a dor se transformava em um peso forte, uma enxaqueca quase insuportável. - Mãe, graças a Deus que você veio, eu estou tão deprimida. Discuti com Anderson. Mãe, por que os homens não querem ter filhos? - Filha, os homens não gostam de compromissos domésticos. Eles preferem a liberdade. Eles não têm o instinto de maternidade. Lúcia tinha as crises constantemente. A casa estava acostumada com o quadro da moça. À vezes, ela se trancava no quarto e passava o dia inteiro sem fazer nada. À noite, quando seu marido voltava, a discussão explodia. Lúcia chorava e ia se deitar. O casal tinha a vida sexual reprimida em virtude dos problemas de temperamento. O tempo passou. Os pais da menina bateram as botas. Lúcia agora estava sozinha no mundo. Anderson começou a chegar cada vez mais tarde. A situação em casa piorava: - Meu amor, eu não sirvo para você não, é? -Não é nada disso Lucia! Estou fazendo hora extra no serviço! As horas extras demoraram meses para terminarem. Lúcia estava muito estranha. Certo dia, Lúcia arrumava as coisas em casa. A calça bege de Anderson estava caída, quase escondida atrás do guarda-roupas. Ela encontrou um bilhete no bolso esquerdo, o bilhete dizia assim: “Anderson, preciso falar com você em particular, pois, não suporto mais a situação”. A leitura do pequeno texto foi como uma bomba atômica para Lúcia: “Meu marido está me traindo”. Esse passou a ser o pensamento dominante na mente da jovem Lúcia. Um pensamento triste, por vezes, de agonia e muita ansiedade. O quadro da moça piorou. Agora, quando seu marido saía para o trabalho, a moça do Siqueira ia ao cemitério da Leste, e lá passava boa parte da tarde. Era assim que a moça aliviava as tensões de seu coração ferido. Lúcia passou a gostar da morte. Viu muitos enterros; viu muitas famílias chorando a perca de seus entes. Um dia, ela encontrou um rapaz amigo de Anderson no sepultamento de um moço que morrera de dengue. Seu nome era Gerinaldo. Este estivera na casa de Lúcia muitos sábados para assistir os jogos do Campeonato Brasileiro. Gerinaldo gostava muito de Anderson, era um amigo leal e sempre presente. Anderson, por vezes, mencionou seu nome para sua esposa. “Amor, eu estava com Gerinaldo”. “Querida, vou passar na casa de Gerinaldo”. - Gerinaldo! Que bom que te encontrei! - Oi, Lúcia, que satisfação, embora no cemitério! Que fazes aqui? - Vim para o sepultamento dos ossos de papai e mamãe. - Ah, meus sentimentos! - Você não foi trabalhar hoje não? Já viu Anderson? - Ele está lá trabalhando. Quanto a mim, eu pedi para dar uma saidinha rápida. - Sei. Vocês gostam muito de umas saidinhas rápidas não é? Gerinaldo riu e continuou a conversa com a amiga de seu melhor amigo. - Hoje em dia, para se resolver as coisas, precisamos muito dessas saidinhas no horário de trabalho. - Preciso de uma saidinha sua. Disse Lúcia com um tom de tristeza. O rapaz percebeu de imediato que havia problema. Anderson, por vezes, comentara com seu colega sobre a depressão de sua mulher. - Sim amiga Lúcia conte sua história. - É que preciso muito, muito mesmo conversar com alguém sobre Anderson. Gerinaldo preferiu não contar ao seu colega que estava se encontrando com Lúcia para falar dele. Os encontros se repetiram. Lúcia abriu o coração para Geri. Gerinaldo se tornara Geri – uma pessoa de casa. - Sabe meu amor, em seu aniversário vou chamar seu melhor amigo. - Quem? - Gerinaldo, ora, será que você não sabe que ele é seu amigo de verdade? - Amigo somente Deus. Tenho conhecidos apenas. - E eu? Não sou sua amiga não? - Claro, meu amor, você é muito mais que isso! Lúcia e Gerinaldo se encontraram algumas vezes no centro da cidade. A Praça da Matriz sempre foi linda e um ótimo lugar para se conversar mais a vontade. Anderson soube de tudo por meio de um telefonema anônimo, mas, não contou nada a sua esposa. O rapaz, muito desconfiado decidiu vigiar a menina. - Rapaz, bem que meu pai dizia: “Amigo é Deus!” - Procure ajuda especializada, Anderson. Você sabe que você nunca superou a cena que você viu no passado. Anderson viu sua amada genitora fazendo amor com um homem de etnia africana, que respondia pelo nome Djamal. Ele nunca esquecera os gemidos de prazer de sua santa mãe nem a situação em que ela se encontrava no momento da visão. Isso foi um trauma muito forte. - Sim, acho que preciso. Anderson sentia cala frios por todo o corpo. Suava muito e tinha dores nos ombros. De manhã ele acordava com os dentes serrados. Estava sob tensão. Não mais dialogava com Lúcia. E esta pensava que tudo era por que seu marido tinha outra mulher. - Gerinaldo! Preciso falar com você. - O que foi Lucia? - É Anderson. Ele está mais estranho! Gerinaldo atende a voz nervosa de Lúcia e marca um encontro na Praça da Igreja Matriz. Lúcia estava tensa o tempo inteiro. Ela confessou que sua revolta era grande. Implorou que seu amigo Gerinaldo lhe contasse sobre o caso de Anderson. Gerinaldo nada disse e nada sabia na verdade. Tudo não passava de um mal entendido. - Eu vou perder a cabeça Gerinaldo! Primeiro foi a falta de sexo, depois, hora extra, agora, bilhetes nos bolsos. Tá tudo muito estranho! Gerinaldo procurava amenizar as coisas. Mas, não obtinha sucesso. Foi nesse instante que Anderson chega e escuta a conversa de sua amada esposa. Ela confessa para seu amigo que desejava matar seu esposo. Ela pedia forças e apoio. Gerinaldo a abraçou para confortá-la. Seu marido, com os olhos esbugalhados via e ouvia tudo. Anderson vai para casa e espera sua mulher chegar. O relógio da cozinha bate nove horas da noite. Lúcia chega à sua casa. A moça usava uma calça jeans azul desbotado, uma tomara que caia preta e sandálias pretas de couro. Seu rosto estava sujo de areia preta, seus cabelos desarrumados. Havia em sua aparência um ar de desespero. Quando o casal se encontra na penumbra da cozinha, Anderson pergunta ironicamente: - Como vai o seu namorado Gerinaldo? Eu ouvi alguém dizer que me mataria! A voz do homem sobe muito a ponto de chamar a atenção da vizinhança. Contudo ninguém aparece. Lúcia responde a seu marido; os dois discutem por alguns segundos. Anderson empurra sua mulher contra a parede. Bate a cabeça dela na parede algumas vezes. Lúcia desfalece nos braços de seu amor. “E agora?” “Será que morreu?” “Eu ... eu ... não queria fazer isso!” “Meu Deus!” Anderson deita sua mulher no piso da cozinha e se senta ao lado de seu “corpo”. Por alguns segundos, o homem realmente pensa que Lúcia está morta. Ela respira e tosse. Isso foi um alívio para seu marido. Lúcia recobra os sentidos e passa novamente a agredir com socos a seu esposo. “Eu vou matar você!” Anderson se lembra da cena dela com Gerinaldo e de suas palavras ameaçadoras: “Eu devia matá-lo, tenho vontade de mata-lo”. Os dois iniciam uma luta corporal onde não se sabia quem seria o vencedor. Ela segura o pescoço de seu amor com as duas mãos tentando enforcá-lo. O mesmo ele faz com ela. O silêncio da casa foi quebrado com pancadas na porta. Anderson continua apertando o pescoço de sua amada. Seu rosto estava tão transfigurado quanto o dela, no entanto, Lúcia rendeu os braços esticando-os ao lado de seu corpo. Anderson deixa Lúcia no chão da cozinha e vai até a porta da frente. O vizinho ouviu a briga e veio perguntar se tudo estava bem. - Seu Anderson tudo bem? - Oh, Florivaldo, satisfação, rapaz! Como tudo bem? - Minha mulher escutou uns gritos aqui. E... - Ah, é a televisão do quarto que estava alta. Florivaldo tomou a direção do sofá e se senta. O mesmo faz Anderson. A conversa de vizinhos dura uns quinze minutos. Quando Anderson retorna a cozinha para ver sua mulher ela estava pálida e com manchas de sangramento interno no pescoço. Anderson sufocara sua mulher sem sentir. Ele entra em pânico. Pensa em chamar os vizinhos. Mas via que não podia confiar em ninguém. “Foi só um acidente”. Pensava ele. Ao mesmo tempo ele via que nunca mais teria sua mulher com ele. Lágrimas de saudade, tristeza e arrependimento caíam de seus olhos. “E agora meu Deus!” “Vou ligar para Gerinaldo!” “Não!” Ele se senta ao lado do corpo toma sua mão e a beija. Ao lado do cadáver, Anderson se lembra dos momentos juntos, no tempo em que eles eram felizes. Ele decide fazer amor com o corpo de sua mulher. Anderson tira-lhe as roupas e se serve do corpo de sua esposa morta. Com o corpo suado, Anderson se deita ao lado dela como se ela estivesse viva. Anderson pega no sono. O barulho dos carros acordou a Anderson quase oito horas da manhã. O sol estava um pouco quente. Anderson se levanta e decide o destino do corpo. Ele decidiu cortar sua mulher em pedaços e guardá-la no freezer. De noite ele levaria os pedaços para algum lugar. Ele retalhou o corpo em pedaços pequenos. Os pedaços foram colocados em sacos plásticos pretos. A cabeça foi colocada numa caixa de papelão e enterrada no quintal. A noite chegou e Anderson não levou os sacos. Mais um dia foi embora, e os sacos continuavam guardados. Anderson não saia de casa. Alguns vizinhos bateram na porta e não sentiram, ou viram nada. Anderson continuou em casa com o corpo congelado da mulher. Numa manhã de terça feira, dia de Nosso Senhor, Anderson joga os sacos de lixo no container da rua. Eram sacos pretos pequenos. Os cães latiam muito. Então, me aproximei do local após sua saída e vi um pedaço de língua humana, eu acho. Um gato cinza lambia o dedo pequeno de uma mulher. Senti uma dor no peito forte. Lembrei-me da vizinha. Ela não mais apareceu pela rua ou pela casa. A polícia fez investigações sobre o paradeiro dela. Nada encontrou que incriminasse o rapaz ou elucidasse o caso. Depois do acontecido, Gerinaldo foi embora para Belém: “Tá louco, jamais voltarei para perto daquele canibal”. Anderson foi para a academia para ver se emagrecia um pouco. Seu psiquiatra, Doutor Belenildo, tem tentado descobrir alguma coisa, mas, nada sai da cabeça de Anderson. - Doutor Belenildo! - Sim, investigador Freitas. - Anderson é louco? - Não! Na psiquiatria ele não é doido, mesmo, que as pessoas no senso comum digam que ele é. - E ele é o que então? - Ele é um homem possuído pelas suas próprias fantasias. - Então ele é um possesso? - Sim, muito provavelmente! Anderson chegou à sua casa às oito horas da noite. Comeu um pedaço de coxinha, assistiu um pouco tevê e foi para o quarto. Limpou a boneca que agora lhe fazia companhia e se deitou abraçado com ela.