Vou caminhando pela calçada, abro o jornal e tento ler a primeira linha do texto. Em meio dessa constelação de letras desordenadas, as palavras se turvam em sua própria lógica.
Os carros passam, silenciosos são os seus ruídos.
Creio que as informações estejam se repetindo semanalmente, mas elas insistem, sob letras garrafais, anunciar novas descobertas. A novidade se insurge da sua essência envelhecida..."viva a América, o mais novo continente descobre peças fundamentais para dominar o mundo", "não se sabe bem, mas possivelmente seu carro do último lançamento poderá ser roubado", "novos peitos e bundas para as mulheres modernas", "para Woody Allen, ficar velho é um mau negócio". Nessa altura o noticiário já não me interessa.
Não sei bem, mas acredito que tenho avançado uma quadra.
Minha atenção entorpecida pelos cartezes multicoloridos , dançantes sob as luzes de néons. Dior, Freddo, Schwarzkopf fazem saltar os olhos, enquanto presença heteromórficas das ilhas comerciais do prazer.
Mas meu interesse se esvai até ... um porquinho atravessar a rua, em passos ligeiramente apressados, vai em diração ao terreno abandonado, pouco distante dos encantos da Eterna Primavera. Os matinhos crescidos parecem não te incomadar e nem mesmo a falta de iluminação. Convicto de que alcançou o seu espaço, ele parou e dormiu, aparentemente em um sono tranquilo.
É, acho que deveria fazer o mesmo. Atravessei a rua, andei, em passos ligeiramente apressados, fui para casa.
Quando cheguei na porta... pus a mão no bolso. Onde foram parar as chaves?
Minha cara Maíra,
ResponderExcluirGostei muito se seu conto e me pergunto também: "Para onde foram as chaves?"
vc pagou o jornal com as chaves?
ResponderExcluirQuerida Mai,
ResponderExcluirPra começar, já curti seu texto pelo titulo. Sei lá, me deu a idéia de uma cor em especifico no sentido do corriqueiro, diante de uma realidade plural, cheia de contingências.
Depois que fui lendo seu texto, fui notando esse fluxo dinamicamente estacionário quando você diz: " A novidade se insurge da sua essência envelhecida".
Perfeito, é isso mesmo. Muitas vezes a realidade repete seu discurso com palavras diferentes umas das outras. No final das contas, temos inúmeras surpresas já esperadas.
O final tambem foi esplêndido! Depois de tantas curvas, de tantas reflexões, você vai em busca de um sentido seu, que aparentemente, parece ser bastante comum, para por fim, se questionar onde você deixou as suas chaves.
Enfim, é aquela velha sensação de que tenho mas que sinto escapar. A velha postura de perceber que temos opiniões e verdades, mesmo que efêmeras, mas que não passamos de uma icógnita de nós mesmos.
Esse fluxo contingencial rotineiro me fez ter uma boa inspiração para escrever um futuro texto para o torto.
bjs
Os perfumes, o porco e a perda das chaves. O terreno baldio, ao lado da Eterna Primavera, onde o Porco encontra o lar. Os perfumes e a primavera. Minha elucidação através do porco, que tem um lar sem possuir. A porta fechada e a frustração de possuir um lar sem ter. As chaves ausentes no bolso, possivelmente deixadas entre as letras desordenadas que turvaram a lógica, em algum ponto da calçada movimentada por carros silenciosos. Uma coisa é certa: se voltarmos a atenção para a metafísica da realidade, perdemos o caminho de volta (chaves).
ResponderExcluirBelo texto, Maíra.
ResponderExcluirparabéns.
Boas reflexões!!!! abraço a todos
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