( Artigo publicado no Cinform Online < www.cinform.com.br/blog/vinatorto > )
Existe atualmente uma tendência nas bandas alternativas que acredita que uma “boa” música é aquela que tem o artista como um agente que elabora projetos sociais para as comunidades carentes. Por outro lado, encontramos uma forte tendência de bandas alternativas trabalharem o humor, com a aparente despreocupação em abordar questões relacionadas a perfis de cunho político.
Muitos artistas das ditas músicas engajadas, utilizam-se de um discurso que preza pela obcecada necessidade em se levar sério à realidade na qual se encontram situados. Não acho que essa postura seja a mais coerente. Não é por que sabemos que a realidade se encontra em estado deplorável socialmente e politicamente, que necessariamente devemos negar a comicidade dos fatos.
Por outro lado, a maioria dos compositores de bandas que trazem o discurso descontraído sobre os problemas do mundo, passam a ter como discurso, a não-necessidade de se levar a sério esse mundo. Também não acho que essa postura seja correta. Não é por que não damos créditos à realidade presente, que necessariamente devemos negar o nosso inevitável pertencimento a essa realidade.
Por exemplo: muitas bandas alternativas sofrem pela falta de apoios governamentais, e ai vem minha pergunta: será que não há necessidade desses artistas questionarem seriamente suas condições no mercado? Por outro lado, sabemos que a nossa política cultural é tão precária que temos rir para não chorar, então por que devemos nos privar em rirmos da ridicularidade política?
Sou favorável a uma postura de preocupações sociais, porém, acredito que se estamos no mundo, também devemos fazer piadas sobre ele, afinal, se nem Deus, resolve suas pendengas, o que dirá de nós, seus filhos imperfeitos! Apesar de reconhecermos que o vazio e o supérfluo merecem muitas críticas, inevitavelmente eles existem, e cabe a nós sabermos lidar com eles da forma mais saudável possível.
Também sou favorável ao besteirol, afinal, eu acho que devemos priorizar tempo para tudo. Porém, eu acredito que se estamos no mundo, devemos problematizá-lo e requestioná-lo. Apesar de não termos muita esperança diante de um contexto volátil como o nosso, por estarmos implicados nele, inevitavelmente sofremos grandes reflexos oriundos dele, e isso deve ser levado a sério.
Rir por rir não leva a nada, assim como criticar por criticar também. Para mim, ambos levam a mesma alienação. Um por abdicar de um posicionamento atuante no mundo, e o outro por abdicar do relaxamento indispensável à vida. Enquanto o besteirol esvazia a realidade pela sua falta de sentido, o engajamento esvazia a mesma realidade pelo seu excesso de sentidos.
O lema não é brincar ou levar as coisas a sério. O lema é brincar levando as coisas a sério, assim como levar as coisas a sério brincando. Enquanto houver extremismo, o mundo não se tornará unicamente nem cômico, nem sério. Não há apenas comicidade em uma realidade decepcionante, assim como não se pode haver só seriedade diante de uma realidade cômica como a que vivemos.
O melhor é entortarmos e transitarmos entre os dois universos, afinal, nenhum engajado fala apenas coisas sérias, assim como nenhum ser descontraído vive apenas no “oba oba”. O dito engajado tem seus momentos de lazer, assim como o dito descontraído, para enfrentar a vida, necessita também de responsabilidade e de seriedade.
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ResponderExcluirMeu caro Vina,
ResponderExcluirgostei do seu texto, por vc apontar as duas possibilidades: a importância do engajamento e o risível, enquanto discurso político e social. Contudo, vejo uma preocupação em pôr algumas condições, a falta de propósito nos discursos com a realidade social, mesmo sendo através do cômico. O bacana, é que vc não utilizou radicalismos, ou melhor, um negativismo adorniano. Acredito sim, na dialética negativista de Adorno, pórem, como conversamos uma vez (mas vc comentou sobre Durkhaim), fazem o mal uso do termo, ou descontextualiza-o por completo.
Apesar de achar esse trecho muito bacana "Um por abdicar de um posicionamento atuante no mundo, e o outro por abdicar do relaxamento indispensável à vida ", não acredito q mesmo a falta de engajamento total ou de posicionamento atuante sobre o mundo impresso nas letras musicais, seja algo para ser criticado. Pq vejo que mesmo o besteirol vazio, tanto pelo excesso qnto pela falta, ele, de fato, nunca é vazio, somente não fecha significados. Ou melhor, abre continuamente para sentidos, uma produção constante de significantes, como bem colocava os pós-estruturalistas.
Mesmo nas palavras impensadas, com o "absoluto" relaxamento da realidade, não acredito, que se consegue demonstrar a total apatia. Pq se considerarmos isso, sem perceber deslocamos o indivíduo, como entidade possível a ser retirada da sociedade. Tudo é produção, defesa, mecanismo e efeito da realidade social q esse se constitui.
meu querido um grande beijo!
Vina,
ResponderExcluirEm primeiro lugar, parabéns pelo texto super bem escrito.
Mas veja, pode haver alguns outros fatores implicados aí, embora eu saiba que não seja sua intenção ser o dono da verdade ou o esclarecedor de todos os problemas.
Por exemplo, eu sei que você tem uma grande facilidade para satirizar as coisas, há outros artistas, tão bons quanto, que sabem que seriam um fiasco satirizando. Aliás, isto não só na arte. Não é porque Kant tinha uma escrita sisuda que ele não via o mesmo humor que um Voltaire via no mundo.
Eu mesmo, enquanto poeta amador, sei que me desvio muito da comicidade por não ter muita habilidade com ela. E quer um cara que ri mais do que eu?
Acho que a sátira, sobretudo, é um investimento de altíssimo risco, porque do sucesso ao ridículo há apenas uma linha tênue.
Abração!
Josua,
ResponderExcluirEu compreendo sua abordagem, no entanto, eu não quis trazer neste texto um questionamento sobre quem sabe trazer a veia satírica ou não. Minha critica diz respeito ao extremismo de um lado "sisudo" e do outro "descontraído". Pois apesar de concordar com a sua pessoa, eu sei que você pode trazer algo "sério", mas nem por isso deixar de expor sua veia satírica. Foi justamente o que eu quis trazer: não necessariamente uma coisa anula a outra.
abraços
Querida Mai,
ResponderExcluirCompreendo sua argumentação quando diz que no final das contas, tanto o descontraído, quanto o sisudo possuem mecanismos de defesa e ambos não fazem nada mais nada menos que jorrar suas crenças e suas latentes significações. É isso que eu tento mostrar, ou seja, você pode muito bem ser uma coisa e outra. A minha crítica se dirige ao extremismo encontrado entre uma perspectiva e outra, como se as duas não pudessem se encontrar, transitar, se apaixonar e se conflitar ao mesmo tempo.
bjs
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ResponderExcluir"O lema não é brincar ou levar as coisas a sério. O lema é brincar levando as coisas a sério, assim como levar as coisas a sério brincando."
ResponderExcluirPerfeito. Contudo, quero externalizar minha defesa com relação aos que só levam coisas à sério e aos que só brincam, como também meu direito de aceitá-los ou não em meu círculo social e de interesses.
Embora eu apoie a sugestão ao bom senso e ao meio termo, medida que tomo como conduta, alias, cotidianamente, em grande parte das vezes, desapontaria-me um mundo sem extremistas. Tanto gosto de me rir dos sérios como dos descontraídos quanto resignar-me igualmente de ambos, bem como rir-me quando no fundo desejo contrair-me e me por sério quando desejo rir. Além disso, há também momentos em que opto por externalizar indiferença quando, ao mesmo tempo, desejo rir-me e enrijecer-me, tal como o oposto.
Creio que não me fiz entender e fui demasiado confuso, mas é algo entre isso e outra coisa qualquer que não tive intelecto suficiente para captar no momento em que vos escrevo. De outro modo, o sucesso do ridículo é inevitável, mesmo entendendo que o meu ridículo pode ser o genial de terceiros, e vice-versa.
Lou,
ResponderExcluirTermina que por mais que você aceite o extremismo, você termina por assumir uma postura que brinca de intermédio. Enfim, você acaba transitando entre a aceitação e a repulsa entre um e outro, e é justamente isso q faço.
Quando falo a respeito do extremismo, minha postura segue uma perspectiva que não vai de encontro ao cômico OU ao sério, e sim, a uma perspectiva que critica a necessidade de querer assumir uma posição entre uma coisa ou outra como se no final das contas, nós não fossemos capazes de transitar entre os dois pólos sem deixarmos a possibilidade de sermos tendenciosos mais a veia cômica ou a veia séria.
abraços
Entendi.
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