A copa do mundo é um dos maiores, senão, o maior evento de uma das muitas modalidades esportivas existentes no mundo. Até quem não costuma ou não gosta de assistir futebol participa acompanhando noticias e aos jogos de sua seleção durante a copa. Claro, que me refiro aos países em que a população tenha um maior interesse por esse esporte. Já que esse envolve outros segmentos como cultura, economia e política.
A relação simbólica que as seleções estabelecem com a população de muitos países dos países que jogam a copa, que podem ser percebidas de diversas formas. Seja na relação direta do uniforme com as cores de um símbolo nacional, que é a bandeira, o hino nacional executado sempre que as seleções vão jogar e o respeito cobrado pelos torcedores, pelos treinadores e entre os jogadores. Esses últimos, falam como soldados ou comandantes que estão a frente de seus países em terra alheia defendendo sua pátria. Levanta-se um certo sentimento nacionalista em torno dessas seleções e que a mídia faz questão de reforçar. Junto a isso a cobrança por uma relação amistosa entre os povos.
Vou citar uma reportagem que William Waack fez para o jornal da Globo. Direto da África do Sul Waack mostra todo o seu espanto, pois os africanos não estavam torcendo para as outras seleções do continente. Na sua interpretação, aquilo significava uma desestabilização diante da idéia do continente unificado, pois era a primeira vez que uma copa do mundo de futebol acontecia no continente. Outra coisa, a representação desse argumento pode ser visto nas aberturas antes dos jogos que tem um desenho do continente africano numa bola dourada. Ou seja, o reforço geográfico e simbólico de que a África é um país unificado.
Os torcedores trazem o nome de seus heróis atuais ou antigos escrito nas costas, em faixas ou em grandes bandeiras reconstituindo, assim, uma arena de guerra, em que sua força e seus guerreiros são apresentados. O jogador carrega características especiais, o diferenciado, aquele que pode numa jogada decidir, geralmente, o mais habilidoso do time. Ou, em alguns casos, pode ser um jogador de marcação ou mesmo um goleiro, o fato é que essa relação de empatia com a torcida passa pelo que ele tem a oferecer a torcida não apenas em marcar gols ou se dedicar a equipe, mas principalmente de corresponder as expectativas emotivas da sua “Nação”. Lembrei-me agora de peculiaridades de alguns desses países e que podem ser encontrados nos escudos ou uniformes: a Costa do Marfim são chamados de elefantes, Camarões os leões africanos, a Nigéria as águias e a África do sul são os bafana bafana, que significa meninos meninos.
As camisas e as seleções passam a ser um desses símbolos que aglutinam o pais no objetivo de torcer e de ver a sua auto-estima ser elevada. Em meio a isso existe o interesse político da conquista do titulo. Isso já aconteceu com alguns países que se utilizaram para fortalecer seus discursos ditatoriais ou para desviar momentaneamente o foco de problemas sócio-econômicos. Como exemplo do primeiro caso, o titulo do Brasil em 70 foi um prato cheio para promoção do então governo militar, seguindo a mesma receita a ditadura argentina também se beneficiou com o título em casa em 78, sem esquecer a Itália fascista de Musolini que teve a seleção da casa como campeã e uma série de desistências em 34. No segundo quesito, está o caso da França em 98, que precisava vencer para arrefecer a revolta popular com as altas taxas de desemprego e recessão.
Além das questões política e cultural, os aspectos econômicos acompanham esse evento com cifras para todo o lado. São estádios que custaram no total aproximadamente 200 bilhões de reais, árbitros que recebem cada um, independente da quantidade de jogos que apitem 80 mil reais, os clubes que cedem jogadores as suas respectivas seleções recebem uma diária de cessão do jogador de 2.400 reais, além dos prêmios de 51 milhões de reais para o campeão da copa. Sendo um evento internacional, que média os ingressos custam entre 20 dólares, em jogo da primeira fase, e 900 dólares, no caso de final e jogos decisivos.
É isso aí, todo mundo se envolve mesmo com esse evento, por exemplo, eu sempre digo que só assisto aos jogos da copa, nunca acompanho os demais, mas na copa estou torcendo, vestindo camisa canarinho e tudo mais. Engraçado ver como as subjetividades vão se concretizando no comportamento dos torcedores, uns jogam a tv pela janela, como se ela fosse a culpada, outros se endividam... Essa questão política é a continuidade do famoso pão e circo, que ainda tem predominância na sociedade.
ResponderExcluirBem é isso, gostei da sua reflexão que me leva a refletir também,
bjos, Shalom,
Luciana Novais
Aly Soul,
ResponderExcluirAcredito que a midia se utiliza de qualquer fenômeno para abafar outro. Por exemplo: estávamos em uma polêmica acerca da legalização da maconha, mas bastou um pai de classe média ser suspeito de jogar sua filha de um condominio, para o assunto arrifecer e depois ser esquecido. Obviamente que se tratando do futebol, essa estratégia se torna mais eficiente, principalmente no caso do Brasil que tem uma paixão muito forte por esse esporte.
Quando as vezes digo que seria legal o Brasil não entrar em uma copa, as pessoas me olham com repulsa, mas é por que eu acredito que, assim como você bem demonstrou em seu texto,o futebol "envolve outros segmentos como cultura, economia e política", e por isso mesmo, o discurso oficial insiste em construir esteriótipos, anulando outros aspectos cruéis do nosso contexto como o desemprego, a falta de incentivo às pesquisas científicas, a falta de representatividade de nosso Estado perante a sociedade e da sociedade perante o Estado, etc. Acredito que quebrando esse mito do "Brasil, o país do futebol", o nosso fuleiro e lindo país, como qualquer indivíduo que necessite se auto-afirmar identitariamente, começe a buscar outros caminhos para demarcar seu espaço de respeito diante de outros países na economia global.
bjs
Não seria tão interessante assistir a Copa, se o Brasil não fosse eleito para participar. Além de ser um espetacúlo para nos destraírmos, nos sentirmos referência global, e por vezes, POP- ser brasileiro nesses tempos é ter status na arena mundial- é um evento que nos faz pensar em outras diretrizes. O jogo reflete muito dos nossos comportamentos do dia a dia, ansiedade, iniciativa e desapontamento quando alguem sobrepõe sobre nós, podendo ser através de uma grande competição ou até mesmo de um contraponto argumentativo.
ResponderExcluirO que não seria interessante, é alienarmos nessa miscelânia de espetaculos para nos ocultar diante dos problemas sociais vividos em nosso país.
A Copa que continuie, e outros grandes espetáculos também, tem momentos que a televisão é muito bem vinda, depois de um dia cansativo de trabalho, dos ruídos alucinantes do trânsito ou até mesmo quando não temos vontade de deslocarmos até a esquina nem que seja para comprar o jornal do dia . Se é para questionar, contestar, que seja pela velha história da porca política, gerenciada por representantes muito mais preocupados em governar o nosso dinheiro em suas generosas contas báncarias. Enquanto estamos entorpecidos pelas próximas partidas, eles estão articulando para onde vai o nosso dinheiro.
E mesmo depois da Copa, esse ritual se mantenerá na sua constante vigorosa roda viva.
Olá Lu.
ResponderExcluirEsse texto traz algumas perspectivas sobre o futebol e a copa do mundo de forma bem generalista. A intenção é a de apontar a relação que o futebol possui com alguns setores da sociedade, como a economia, política e a cultura. E apontar como eles influenciam esse mega evento e de como a mídia traz consigo um discurso que busca, por vezes, forçar o contexto.
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ResponderExcluirVocê é torto mesmo. Torcer para que o Brasil não vá a uma copa seria uma depressão nacional. Tocqueville já dizia que a democracia pode vir a sofrer dois desvios principais. Primeiro, o da sociedade de massa e o segundo, o desenvolvimento de uma tirania. Isso dependeria diretamente, na visão dele, da ação política do povo na defesa pela sua liberdade.
ResponderExcluirQuero dizer, com isso, que a mídia realmente possui um poder de manipulação junto ao povo impressionante, mas pelo fato de vivermos numa cultura política ainda transitória. Embora estejamos numa democracia, enquanto regime político institucional, ainda não aprendemos como ela funciona. Falo da democracia como pratica cultural. Vejo que essa relação do povo com os esportistas traz a reflexão para a construção dos ídolos por meio da mídia e do pouco reconhecimento do povo com sujeitos que foram referencias nacionais no campo da política, da educação, da cultura e por aí vai, pelo fato, na minha visão, de que esses são lembrados pelas camadas de baixa renda e até mesmo pela classe média como feriados ou como uma data comemorativa. Os ídolos do esporte acabam sendo os ícones, os heróis nacionais, são aqueles que impulsionam para a elevação da autoestima. Coloco como exceção Lula, por esse ter um histórico de vida próximo ao dessas camadas sociais.
Aly Soul,
ResponderExcluir"atribuem uma responsabilidade política para o mesmo".
????????
Se não pensarmos a relação do futebol também com a responsabilidade politica, nós estaremos apenas perpetuando, só que de maneira contrária, o erro de certas galerinhas que atribuem o fator econômico como algo preponderante ao simbólico, como se ambas as esferas não se intercruzassem o tempo inteiro.
Eu acho que o futebol pode ser pensado como um reflexo espontâneo de uma sociedade. Como trouxe bem Maira, ansiedades, frustrações, mas também deixar de vê-lo como tentativas politiqueiras acho que não é o caminho mais sensato.
Longe de mim achar que o futebol é apenas pão e circo, empresa, etc, mas que a Copa tem como intuito muitas vezes, abafar outras polêmicas, eu acho que isso é fato.
Maira,
ResponderExcluirVeja bem: eu não estou dizendo que a Copa é uma merda, até por que eu sou o primeiro a me sentar na poltrona para assistir aos jogos como bem mostrei no meu texto "Uruguai EGANA" publicado essa semana. O que eu chamo a atenção é que enquanto o Brasil tiver garantido o seu mito do país do futebol, nosso Brasil diante da economia política tenderá a ocultar ou pelo menos passar por cima dos outros grandes problemas pelos quais passa nossa querida Nação.
Adoro a energia dos brasileiros, os gritos, a tensão, nossa torcida, mas também sei que paralelo a isso existe uma grande merda fedorenta que termina sendo sustentada pelo fato do Brasil construir de forma simplória seus esteriótipos em outras realidades culturais, esquecendo que as outras coisas são tão importantes quanto o futebol.
Concordo com você quando afirma sobre o oportunismo que os políticos e outros setores fazem do futebol. Sendo um esporte popular se torna um prato cheio, porém vejo que atribuem uma responsabilidade na construção da cultura política, que para mim, é desnecessária.
ResponderExcluirNum país onde a população mais pobre se encolhe diante das leis, a busca de seus ídolos no esporte se torna, por vezes, uma saída de elevar a autoestima. O que aponta na direção de uma construção de referências nacionais por meio do popular, ao contrário dos ídolos nacionais oficiais que se alocam em dias esquecidos ou aguardados feriados. Sem considerar que a mídia desempenha um papel central nessa influência conduzindo os discursos e, com isso, afirmando toda essa simbologia em que está contido o discurso dos poderosos.
bjs
Rapaz, basta lembrar que Galvão Bueno disse que a Copa do Mundo na África do Sul era o momento histórico mais importante do continente africano!
ResponderExcluirA sociedade do espetáculo gosta de vender palavras ao léu!