Quando nascemos, fazemo-nos ioiôs, sendo que a linha que nos envolve é um rígido e curto cordão umbilical manipulado pelos nossos pais sem que eles ou nós mesmos possamos sabê-lo ou controlá-lo. E vivemos assim: num vai-e-vem imprevisível e impenetrável. A esta conclusão chegamos tanto eu quanto um amigo meu, Jackson Lacônico, lá de Pedantia. Aliás, devo confessar que ele alguns minutos antes de mim.
Lembro-me da primeira carta que me enviou desde que cheguei da minha única e inesquecível visita àquela cidade. Nesta carta, um pávido Jackson falava-me sobre suas crises de ansiedade, pois estaria quase certo de sua loucura, dado que ele e alguns amigos tinham a impressão de que tudo o que olhavam na cidade desparecia como que em fade-out. Tentei assegurá-lo de que esta doença é um destino comum aos que experimentaram a “droga do pensamento”, e de que se os demais indivíduos batessem às portas, às árvores, aos imóveis e aos móveis, entre outros, perceberiam que tudo está no mínimo oco. No entanto, alguns minutos depois percebi que os demais já teriam percebido isto, mas como suas cabeças também fossem ocas e como Narciso achasse belo tudo o que fosse espelho, o mundo estava ali, inteiro e oco.
Numa segunda carta, ele me relatou alguns flagrantes de atos falhos em que chamara sua namorada de mãe e alguns professores de pai. Respondi-lhe que a primeira era fácil. Qual o homem que não pretende tornar perene a existência da mãe? Até mesmo o homem mais atarefado e independente lá de Nova Iorque utiliza seu sobretudo como útero nos dias daquele inverno rigoroso. Sobretudo porque o útero está sobretudo mesmo. Deixei a segunda parte da resposta em falta, mas sei que isto agradou a quem se reconhece eterno ser faltante.
E agora passo por um figura que balança uma bandeira com toda sua força. Pergunte-lhe o porquê do esforço. Ele me responde que intenta apagar o Sol, uma vez que leu em algum lugar sobre uma tal teoria do caos em que se encaixa um exemplo clichê de que o bater de asas de uma borboleta numa ponta do mundo pode provocar um tornado noutra ponta. Eu lhe sugiro: bem, você pode estar certo, mas há uma enorme possibilidade de que mil agitos nesta sua bandeira sejam apenas mil agitos. Assim me ensinou um poeta que se esconde no sorriso triste de cada dia.
Belo texto meu caro josué Maia. Nossa percepção das coisas é muito nossa, e esse nossa é muito outro, e esse outro, é muito cultura, e essa cultura é muito relativa. No final, o que vemos?
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