quarta-feira, 6 de março de 2013

MANIFESTO A LOUCURA

O homo sapiens deixou seu habitat natural, rompeu com as amarras de sua natureza animal e criou a civilização. Este animal fascinante conseguiu uma façanha jamais realizada por outra espécie da terra – criar o mundo dos signos ou das representações neuro – psíquicas. Foi nessa realidade que ele percebeu que havia criado algo errado. O homo sapiens anela em seu intimo um contato com o mundo natural mesmo sabendo que o retorno ao seu mundo real é impossível. Vivendo com o desejo de uma volta ao estado natural e, ao mesmo tempo preso às cadeias de suas representações psíquicas o que lhe restou nesse mundo das formas foi a loucura. A loucura é, no presente momento, a condição de todos os homens. Em escalas diferentes a loucura está presente como uma hospedeira em todos nós aguardando um momento singular e significativo para se manifestar. Basta apenas que nossas representações entrem em conflito com o que a coletividade psíquica loucamente chama de sanidade. O conflito pode acontecer pela força de qualquer evento, ou impressão que recebamos do meio externo. As representações mais poderosas são aquelas que advêm do meio linguístico. A nossa fala tanto denuncia que enlouquecemos ou pode detonar, como um gatilho, o explosivo guardado por nossos ancestrais. Os conceitos de certo e errado, de ser e de ter; o medo, o sofrimento causado pelas palavras, etc. é a pólvora que aciona o dispositivo letal da loucura. Com isso não deixo de considerar as condições fisiológicas, as heranças hereditárias, os acidentes que também podem lesar a máquina mental. No entanto, considerado louco pelos demais indivíduos, o aflito não devia ser rotulado por esse adjetivo, pois, dizermos da loucura é uma loucura. Se nossa condição criada pela natureza não é essa que nós vivemos então vivemos outra realidade criada pelos homens o que nos obriga a perguntar: “Até que ponto podemos nós asseverar que a realidade criada por nós é sana?” O ser sano é uma de nossas representações psíquicas como todas as demais, portanto, está sujeita a contradição, pois, foi como tudo mais forjada pelo momento histórico. O estudo da loucura nos leva a essa conclusão. O presente manifesto chama a atenção do leitor para um repensar a sanidade e a loucura e entender que a nossa condição no mundo é de louco quer você acredite ou não.

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