segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ERA UMA VEZ A FORÇA

Nossos ancestrais um dia perceberam que a força podia muito. Por meio dela garantiram suas necessidades básicas. O tempo passou e o homon sapiens percebeu também que a força podia muito mais que lhes garantir a comida de cada dia. O homem entendeu que podia dominar os outros homens bastava-lhe ter mais força que os outros. O império da força durou muito tempo e chegou aos dias atuais. Ao longo do tempo nossa espécie desenvolveu sofisticadas formas de exercer o império sobre os outros. Do arco e flecha à espada e desta à pólvora, com certeza, não foi um salto fácil – a razão, ou racionalidade – foi desenvolvida com o propósito de lhe trazer mais conforto, e nele estava uma multidão de escravos. Não foi o medo da morte a força que domou o outro. Nos primeiros dias, quem sabe, essa premissa fosse verdadeira. Mas, foi a certeza de estar certo! A verdade foi a arma mais sofisticada de todas as criaturas. O homon sapiens é o criador da verdade! Depois de muitas lutas e guerras que ainda não cessaram, pois, a verdade dos homens está nelas, que nossa espécie, definitivamente, fundou um ‘sistema de certezas’ capaz de fazer a todos acreditarem que as coisas são como são. Pergunte-me sobre a causa das guerras e dos conflitos internacionais? A verdade sempre estará lá. Ela é a resposta implícita em todos os argumentos usados pelos homens. Foi por causa da verdade que a religião matou; em nome da verdade um continente subjugou o resto do mundo aos seus modelos e culturas. A verdade é a mulher mais sedutora da terra, uma assassina impiedosa! Vivemos meus caros, permita me dizer, no império da verdade. A verdade filosófica desmistificou o mito dos primeiros dias, destronou os deuses, e exorcizou os fantasmas que povoavam a mente do homem primitivo. A verdade o ensinou que ele era humano – um ser dotado de razão, uma criatura especial. Em nome dessa verdade, o homem destrói seu ambiente sem remorsos e sem medo de não poder viver sem ele. A natureza está sendo destruída pela força da verdade dos homens. A verdade científica nos ensinou que por meio dela podemos povoar outros orbes, construir nossas casas nas estrelas. Tudo é possível para a ciência e sua eficácia é comprovada. A verdade empírica encheu os olhos do homon sapiens, contudo, ele continua escravo de seu irmão. Ela não bastou para libertá-lo de si mesmo, para libertá-lo de sua verdade! Diga-me se estou errado: “Em todas as terras o pobre mendiga o pão”. Então, a ciência é a força verdadeira que ora ajuda os bem-aventurados, e ora, escraviza os desfavorecidos. A filha mais velha dos homens insiste em viver na terra. A técnica é a feiticeira que ajudou essa besta do campo a mudar as coisas. A pedra quebra a pedra, fere a árvore, e mata o bicho. Que luz! Que certeza! Que verdade! Que progresso! Até a almas do outro mundo exaltam o progresso – eis o filho mais novo da técnica – eis a verdade! A tecnologia insiste em dizer para todos que sem ela nós não vivemos mais. Afinal, desde os dias idos ela já existia na técnica de nossos avós. A verdade permeia todos os ditos dos homens. Da pedra ao computador a verdade sempre mostrará seu rosto. Mas o que falta, então? Por que essa criatura continua a perguntar? Quando o homon sapiens inventou a técnica ele também inventou o imaginar, o sonhar, o dialogar com as coisas, e depois consigo; ponho assim apenas para facilitar a compreensão. Pois, o imaginar, o sonhar, e até o pensar é falar primeiro consigo. É sentir o calor da pedra, ou o vento frio que desce a serra. O diálogo precede a tudo! Ele está na ideia de força, de poder, de dominação, de técnica, de ciência, de filosofia, de arte e de religião. Tudo que existe teve sua origem no diálogo do homem consigo e com os outros. Se quisermos mudar tudo precisamos voltar ao principio – o diálogo! Todas as coisas estão falando com as outras, todas as pessoas estão em constante diálogo. Se despertarmos do sono e ouvirmos a voz que nos diz que o elo está ali, certamente, o encontraremos. Somos criaturas dialogistas e por meio do diálogo construímos um mundo e por meio dele podemos refazê-lo. Cada imagem, cada forma que imprimirmos na natureza partirá de nossos sonhos, de nossas imagens interiores. Portanto, meus caros, precisamos compartilhar nossos sonhos e deles retirar a ideia de força, de dominação, de privilégios, de verdade, e nos vermos parte de um grande discurso onde tudo é necessário para a economia do planeta – principalmente, a dúvida! Essa fomenta o diálogo, destrói certezas, abre portas à imaginação. O dialogismo entende que por meio do diálogo e só por meio dele pode o homon sapiens pode criar uma realidade sustentável onde a verdade é uma dúvida pulsante sempre aberta a outras imagens do real...

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