domingo, 13 de janeiro de 2013

Era um puteiro pequenino

Era um puteiro pequenino. Havia um numero tão reduzido de funcionários que eles faziam reuniões entre eles e tudo se resolvia de forma breve.

O puteiro foi ficando adolescente e foi aumentando o número de funcionários que havia nele.

Como todos se dedicavam ao puteiro e havia um número pequeno de funcionários, todos dormiam em um compartimento que pertencia ao puteiro para no outro dia continuar a executar suas tarefas.

A questão é que o ar de juventude começava a se revelar. O que de início era apenas composto por algumas pessoas que rapidamente re-solucionavam seus interesses, passou a ter garçom, garotas e garotos de programa, caixa do bar, porteiro, cozinha, limpeza dos quartos para as trepadas, segurança, etc.

O compartimento onde todos dormiam continuava lá. Todos ainda conseguiam dormir nele, mas com o número crescente de funcionários, o que antes era integrado, passou a ter uma divisão de grupos, uma vez que os interesses iam ficando cada vez mais complexos e mais difíceis de serem conciliados.

Alguns grupos ameaçaram procurar outro lugar para dormir, mas, no entanto, desistiram ao ocorrer uma mudança na organização mais complexa entre os funcionários dentro do puteiro. Nesse instante foi se percebendo que o puteiro partia para a vida adulta.

Passaram a dividir várias funções para que os conflitos fossem evitados e não se espalhassem para além do compartimento do dormitório. Foram eleitos representantes para fiscalizarem banheiros, outros para garotas, outros para garotos de programa, cozinha, portaria, etc.

Mas o adulto ia vivendo cada vez mais com novos conflitos. Começaram a aparecer vários interesses particulares. Havia garotas mais antigas do puteiro. Estas queriam maiores regalias em relação às outras.

Uma nova decisão: os funcionários fizeram uma subdivisão de grupos para os responsáveis pelos quartos. Uns ficaram responsáveis em preservar o espaço das mais antigas e outros com as garotas mais recentes na casa e mantiveram o já escolhido representante-geral dos quartos.

Porém, posteriormente souberam que para a escolha dos sub-representantes de cada tipo de quarto, uma das candidatas á representante dos quartos jogou com uma estratégia e começou a articular alianças com o já representante geral dos quartos, e por isso mesmo, conseguiu se eleger.

Pela traição sentida pela categoria de garotas de programas, além dos demais funcionários, os conflitos que ocorriam no compartimento do quarto de dormir já não eram mais o centro das atenções naquele instante.

O grupo inteiro de funcionários se uniu com o intuito de confrontar a mais nova representante eleita para a fiscalização dos quartos e o representante-geral.

Ela e o representante-geral, sentindo-se ameaçados, começaram a deixar de negociar com os funcionários e partiram para a tática da centralização e da coerção. Não havia diálogos. O que havia era cumprimento literal das normas.

O grupo formado pela união de funcionários atacou e destruiu a representante e o representante-geral do quarto que, ao serem derrotados, mantiveram-se aliados e passaram a se decretar os maiores inimigos do grupo formado pela união dos funcionários.

Realizada a queda do Império, os conflitos entre os grupos no compartimento do dormitório voltaram.

O que era breve, fácil e resolvido com mais facilidade dado ao número pequeno de funcionários, e, portanto, de interesses, passou a se tornar uma guerra sem fim.

Ao se olhar no tempo, o puteiro viu que já andava bem velho. Fechou as portas, conviveu seus últimos momentos com o silêncio e morreu.

Era um puteiro pequenino. Era...

Um comentário:

  1. Toda tomada de poder forçosa gera outro poder tão dominador quanto o primeiro. a regra entre os homens era a força até que a palavra surgiu...

    ResponderExcluir