sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Viagem

Sem velas, quase desgovernado, segue o meu barco, encontrando pela enseada marulhos carcomidos; águas mornas e pouco ondulantes. A proa, na vanguarda, sobressai ao sol que morre no horizonte, desbravando, como um turista curioso, as peculiaridades da paisagem marinha. Um paquete, convicto em sua rota, cruza-me o caminho; imponente no seu tamanho e no seu luxo, passa estufado e indiferente, como tudo que é rico. Contemplo-o, também insubmisso, mais por sua alma do que por sua forma, pois, quem lida com a mecânica introjetada na técnica em razão da qual se tornam possíveis os duros inventos, compreende a grandiloqüência das máquinas, oculta à ousadia de um sonho, com a paixão secreta do crítico diante de um quadro belo. Navegar é estético; todo caractere alocado sobre os espaços da baía são instalações – espontâneas porque poderiam não estar ali, ao alcance de olhos que não as alcança. Eu busco à ilha de um dia, sobre a qual sobrevoavam bandos diversos, disposto a revisitar sorrisos dos quais fui desatado por maldade, o lodo das casas de que fui proscrito a contragosto. Navegação errante por um mar desapaixonado, que desfaz em seus torvelinhos o que se busca antes do encontro.

Um comentário:

  1. Obs: na semana passada, por causa de uma viagem inesperada, não pude publicar o meu texto. Fica aí a explicação da minha negligência para os colegas.

    Att,

    João Paulo

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