Ele andava cabisbaixo no que se referia a sua vida conjugal. Andava dizendo aos quatro cantos do mundo que estava vivendo uma maré baixa. Dizia em todas as rodas de amigos e em mesa de bar que não conseguia encontrar ninguém. Queixava-se da má sorte e dizia sofrer com a situação. Reclamava que não era compreendido pelas garotas, reclamava sobre os estilos de vida delas. Fazia questão de todo instante lembrar que o que ele mais queria era viver um relacionamento sério com alguém.
Segundo ele, era emergencial encontrar uma gata que estivesse predisposta a levar uma vida mais responsável, mais focada em seus objetivos profissionais, menos dada a porra-loquices. Por outro lado, dizia que, apesar de não mais se encontrar instigado com as fortes doses de boemias, ele também gostava de compartilhar idéias, gostava de participar de alguns ciclos sociais, e que por isso mesmo, queria alguém que também quisesse vez ou outra participar de eventos públicos e que gostasse de conhecer novas pessoas e de vez em quando abrir um espaço para algumas aloprações.
Certo dia quando estava se entretendo com os bate-papos virtuais, recebeu um “oi” de uma garota. Sempre ele a achou um pedaço de carne imperdível. No transcorrer da conversa, ele começou a sentir que o clima pairava para uma finalização esplêndida. De início achou que estava enganado, afinal, não seria a primeira vez que achava que um lance poderia rolar e que terminava saindo frustrado com suas expectativas. Porém, a conversa saiu do nível da ambigüidade do flerte para afirmações descaradas. A garota partiu para uma confissão clara e objetiva. Começou dizendo que tinha enormes interesses na pessoa dele, que bastava ele possibilitar uma brecha para que as coisas rolassem entre os dois.
Ao finalizar o papo, ele se levantou, andou por todos os compartimentos da casa refletindo sobre a confissão que havia ocorrido na internet. Como andava em um momento muito carente de sua vida, pensou na possibilidade de rolar uma história mais séria entre eles. Começou a selecionar certos pré-requisitos sobre ela. Lembrou que ela era uma pessoa que valeria a pena tentar algo mais firme, afinal, ele a achava muito inteligente, justa, responsável com seus projetos profissionais e trazia um ponto muito semelhante com a pessoa dele naquele momento que era uma predisposição em viver uma rotina mais ponderada, mais caseira, mais intima.
No outro dia ele resolveu tomar umas cervejas com uma amiga que nunca mais tinha visto. No transcorrer da conversa, por incrível que pareça ele começou a sentir que o papo também estava desembocando para um possível flerte. Pensou que seria algo quase impossível para quem andava solitário por tanto tempo. Porém, novamente sua intuição não estava equivocada. Logo se deu conta de que a garota passava uns olhares interessados, trazia seus discursos carregados de elogios sobre ele. A sua amiga terminou abrindo o jogo dizendo que ele era visto por ela como um homem ideal para os seus planos. Disse ainda que só não ficava com ele naquela noite pelo fato de estar envolvida com alguém, mas deixou claro que a intenção dela era terminar o seu relacionamento para viver uma história com ele.
Voltando para casa começou a pensar nas características daquela que, além de ser sua amiga, produzia nele intensos desejos sexuais. Começou a se lembrar das experiências vividas com ela e se deu conta de que, assim como a sua outra pretendente, a sua amiga trazia elementos valiosos, pois também era gatíssima, sem contar que era uma pessoa com um senso de comprometimento, de justiça e de fidelidade muito grande. Além de tudo isso, sempre soube reconhecer que a sua amiga possuía sentimentos muito valorizados por ele como graciosidades e outras meiguices a mais. O êxtase maior foi quando se recordou que ela, assim como ele, gostava de compartilhar experiências na vida pública.
Contudo, ao voltar seu pensamento para a garota que ele havia encontrado na internet, ele se lembrou que apesar de todas aquelas qualidades, ela possuía alguns pontos que mereciam ser reavaliados antes de buscar assumir uma postura mais séria. Relembrou que a garota, apesar de muito bonita e comprometida com seus projetos profissionais, era uma pessoa extremamente caseira e que não curtia vivenciar experiências socialmente. Começou a achar que seu relacionamento com ela no máximo se resumiria a tomar sorvete de morango e chocolate todo final de semana. Uma possibilidade horrível.
Ao pensar na sua amiga do bar, ele refletiu bastante acerca de uma relação mais séria, mas se recordou de alguns detalhes. Passou a se lembrar que a sua amiga, apesar de ser uma pessoa com a qual ele se identificava bastante em suas curtições noturnas, era uma garota que ainda se encontrava em um nível de intensidade bastante diferente do seu quando o assunto se tratava de foco profissional. Sabia o quanto valiosos eram os sentimentos dela, mas reconhecia que mesmo com todas essas qualidades, ela era uma porra-louca que gostava de entornar engradados e engradados de cervejas praticamente quase todos os dias. Outra possibilidade horrível.
Ao lembrar de todas as qualidades de ambas as garotas e de todos aqueles comportamentos que para ele não eram estimulantes para as suas motivações do momento, resolveu colocar todas as características em uma balança. Olhando prós e contras de todos os lados, olhando até que limite cada pró e cada contra poderia atingir sua vida e sua relação com elas de forma positiva e negativa, chegou a uma conclusão: não quis envolvimento sério com nenhuma das duas.
Semana passada eu me encontrei com um conhecido e perguntei se ele tinha noticias desse cara. Segundo ele, o cara andava cabisbaixo no que se referia a sua vida conjugal. Andava dizendo aos quatro cantos do mundo que estava vivendo uma maré baixa. Dizia em todas as rodas de amigos e em mesa de bar que não conseguia encontrar ninguém. Queixava-se da má sorte e dizia sofrer com a situação. Reclamava que não era compreendido pelas garotas, reclamava sobre os estilos de vida delas. Fazia questão de todo instante lembrar que o que ele mais queria era viver um relacionamento sério com alguém.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Orgasmo Feminino
Atualmente, muitas mulheres encontram prazer nas relações sexuais, mas muitas desconhecem o orgasmo. Embora não constitua toda resposta sexual, a ausência do orgasmo impõe um limite à realização da mulher. Quando o último grau de excitação não se faz revelado, ele deve considerar as expectativas na relação sexual.
Ainda está presente o estereotipo da mulher “frígida”, incapaz de sentir o clímax na relação tão esperada pelos seus parceiros. Mas isso não passa de desconhecimento do seu próprio corpo que esse, por muito tempo, foi visto como algo sacralizado. Sacralizar aquilo que é meio para explorar grandes sensações é criar fronteiras para descobrir algo tão peculiar na alma feminina: o uso do prazer como sendo um pouco de revelação de si mesma.
Podemos perceber que nos últimos tempos houve uma maior permissividade em discutir esse assunto através de meios midiáticos, científicos e populares. Isso proporcionou uma mudança discursiva capaz de repercutir diretamente nas práticas sociais. Essa mudança de percepção para com o uso do seu próprio corpo em busca do clímax com seu parceiro no ato sexual, foi fruto das revoluções, feminista e sexual, ocorridas na década de 60 nas grandes cidades dos países ocidentais industrializados que solapou paradigmas em que a mulher estava sob condição apenas para satisfazer o seu parceiro.
A sensação do orgasmo não cabia mais para as mulheres ousadas correspondente a uma porcentagem mínima, mas uma conquista para todas que nos últimos tempos foi motivo de uma certa preocupação. Isso porque o intenso prazer é emblemático em uma sociedade tão pueril quanto a nossa que se preocupa satisfazer seus desejos tão rapidamente. O fluxo de informação e o reconhecimento do orgasmo feminino na esfera popular caminham em duas velocidades: uma de possibilitar a mulher ter acesso a descobrir o seu corpo sem culpa, a outra traz a ela frustrações quando não conseguem realizar a tal sensação.
Como o prazer em nossa sociedade está intimamente ligado ao poder, assim afirmava Foucault, os indivíduos se reconhecem como sujeitos de uma sexualidade que abre para conhecimentos diversos e se articula num sistema de regras e coerções.
Procedimentos metodológicos
Essa pesquisa etnográfica foi realizada com finalidade de captar os pensamentos, os valores, enfim, as representações que as mulheres têm sobre sentir o orgasmo com os seus parceiros, podendo ser em uma relação casual ou estável.
Afim de conhecer um pouco mais sobre a sexualidade feminina, principalmente o orgasmo, contactei com mulheres dispostas a revelar um pouco mais sobre sua sexualidade, pois essa questão ainda se mostra pouco viabilizada, por existir uma pressão social que circula em torno dessa esfera.
As primeiras dificuldades encontradas foram na busca pelos artigos científicos publicados na internet. Visitei o site de busca, Google, e não encontrei qualquer pesquisa de teor acadêmico que me pudesse orientar não só teoricamente, mas através das idéias defendidas me possibilitar ter insights de como eu poderia proceder na minha ida a campo.
Então, para viabilizar a minha pesquisa, procurei uma estratégia que pudesse atravessar o universo consensual dessas mulheres. Dessa forma, a prática dessa pesquisa foi fundamentada na Teoria de Representações Socais de Moscovici, a qual explica que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar, guiadas por objetivos diferentes, formas que são móveis, e define duas delas nas nossas sociedades: a consensual e a científica, cada uma gerando seu próprio universo. Optei pela forma mais consensual de me comunicar com essas mulheres, ver o seu universo através de um diálogo popular que tornasse a nossa comunicação mais horizontal o possível. Eu e a pessoa entrevistada não demarcaríamos na nossa relação um status diferenciado de pesquisador-provido de saber especializado- com o entrevistado, mas duas pessoas que através de uma conversa informal poderiam refletir as suas vivências e, assim, compartilhar valores.
A minha ida ao campo não apresentaria uma entrevista, mas sim um dialogo, que no decorrer, dependendo de como elas se disponibilizaram para a conversa, eu iria apresentando tópicos com formulações momentâneas, que dependia do uso do discurso que cada uma apresentava.
Para iniciar a conversa, eu aquecia revelando qual eram os propósitos da pesquisa e falar sobre meu entusiasmo sobre a temática e explicitava interesse como elas pensavam sobre o orgasmo e quais eram as suas expectativas em relação ao parceiro. Primeiramente eu iniciava com discussões sobre o prazer sexual, pois percebia que falar de orgasmo requer uma intimidade maior na conversa, mesmo que essas falassem de uma maneira mais generalizada, como por exemplo: “as mulheres de maneira geral...” .
No primeiro momento pensei em realizar uma entrevista em grupo, mas não deu certo devido à falta de imcompatibilidade de horários entre elas. Então, fiz entrevistas individuais com 5 mulheres entre a faixa etária de 39 a 64 anos, em locais escolhidos por elas como casa ou parque. A duração da conversa girava em torno de 25min a 1h e 30min, dependendo da sua disposição.
Sendo colegas de curso de pintura, essa característica deu outra dimensão para o meu trabalho: a primeira barreira que eu iria encontrar- estabelecer um contato amigável, que poderia não vingar, caso fossem desconhecidas- não existiu. Todas elas que me direcionei para executar o meu trabalho, apresentaram uma boa receptividade e muito disponível para conversar sobre o assunto, mesmo que em graus diferentes.
A análise que pude fazer foi através de reflexões com as teorias que abordei, em especial O Relatório Hite de Shere Hite (1976) por seu uma pesquisa que mais se aproximou do que eu queria me aprofundar. E através dessa pesquisa pude tatear quais as mudanças nas representações apresentadas sobre essa temática da década de 70 até os dias atuais.
Diário de Campo
Segundo o depoimento delas, algumas se abstiveram em aprofundar muito nessa questão, a intensidade do prazer sexual é um termômetro para avaliar a possibilidade de uma mulher sentir o orgasmo. Ele é visto como uma sensação última que nem sempre é alcançado e a maioria afirmou que logo após essa sensação, precisava de um pouco de descanso para logo em seguida iniciar, quando tem tempo, uma nova transa.
Quanto à descoberta do orgasmo, a cultura como nós mulheres fomos influenciadas para construção de nossos valores implicou diretamente na sexualidade. O desconhecimento de nosso próprio corpo adiou essa sensação e que muitas vezes nos pegamos com a seguinte dúvida, a qual foi levantada em uma das entrevistas “na verdade, o como é que sente o orgasmo?”, “somente pela masturbação?”, “e na penetração é possível?”
Equiparando como se procede a cultura sexual masculina, concordamos que existem poucos diálogos entre as mulheres, pouca informação sobre essa temática nos livros, embora ultimamente tenha se difundido bastante no meio midiático e a cultura fortemente patriarcal impediu que a mulher ousasse um pouco mais na sua relação sexual. E isso produziu um certo receio de explorarmos um pouco mais na relação para ir em busca do clímax sexual. Mas mesmo assim, o tabu em torno da sensação que nos provoca êxtase não nos impediu de alimentar a nossa curiosidade indo em busca de livros, revista (como Nova , Claúdia e Marie Clarie) e filmes eróticos, não pornográficos, para logo comparar com a nossa realidade.
Na educação familiar, teve alguns contrapontos. A maioria delas, 3 especificamente, revelaram que a educação conservadora impediu muito para as suas descobertas sexuais: “estudei muitos anos no colégio religioso”, “a sensações do corpo eram algo perigoso”, “minha educação é assim, conservadora”, “meu pai era muito oculto na minha formação sexual”,“sexo era sujo”, “se prezava muito a virgindade, quando se disvirginava com seus maridos, o corpo ficava coberto”. As outras revelaram: “nunca tive problema com isso, meus pais eram bem abertos comigo”, “minha mãe me esclarecia muito quanto ao sexo, me explicava tudo direitinho”.
Quanto ao conteúdo informativo que é passado para nós é de grande importância para aprendermos um pouco mais e assim ser mais “performática” no sexo para ir ao encontro do orgasmo. Embora seja às vezes apelativo para algumas, dizendo que “não acredito nessas histórias que contam” “falam de orgasmo como se sente de maneira rápida e muito fácil”, “acho bom, mas muito exposto, tem certas coisas que só se faz em quatro paredes, não se deve revelar”. Algumas delas revelaram também que os filmes eróticos excitam muito e ajudam as mulheres a inspirar a criatividade, diferentemente dos filmes pornográficos, que altamente machistas, pois colocam a mulher como condição de “instrumento” de prazer para os homens: “filmes pornográficos nos ajuda visualmente”, “os eróticos despertam sensações mais profundas, o que é mais importante despertam fantasias”, “tem uns abestalhados que acreditam que no filme pornográfico as mulheres sentem orgasmo, como podem acreditar nisso?”, “essa cachoeira que falam é mentira, através desses filmes”, “tudo isso é mecânica e fingimento”.
Foi unânime a descoberta do orgasmo com o parceiro. A conversa que tinha com ele era muito mais aberta que entre amigas, já que elas se mostravam muito fechadas e às vezes providas de um falso moralismo: “eu descobri o orgasmo com meu parceiro, já que na minha educação não existia isso”, “as duas pessoas vão se conhecendo daí gera o prazer”, “converso tudo com meu parceiro, sobre fantasia, orgasmo meu e o dele”, “entre nós mulheres é difícil uma conversa aberta”, “acho que muitas mentem, fingem não saber muita coisa sobre isso”.
A maioria admitiu que para sentir o orgasmo, é necessária uma relação afetiva com o parceiro. Isso porque há um comprometimento maior entre os dois na relação e uma sintonização eficaz do parceiro com os seus próprios desejos. Desse modo, elas afirmaram também que o homem precisa de experiência, não somente a “mecânica”, o ato em si, mas de toque e preliminares. Houve também quem afirmasse que o orgasmo só se encontra não relação mais “selvagem”, pouco amorosa, em que envolve sussurros, leve agressão física, como “tapinhas” e “encostar na parede” e referir a mulher com termos “gostosa”. E não necessariamente envolvia uma relação afetiva e estável, poderia encontrar com um desconhecido: “para eu entrar no clima, o homem tem que ter uma pegada boa, tem que me chamar de gostosa!”, “qualquer um pode dá orgasmo a mulher, eu acredito que ele tem que ser bom de cama”, “ter cara de macho é fundamental, não precisa ser bonito”,”ele tem que me deixar ser mulher, me deixar fazer acontecer, me deixar por cima”, “o toque é fundamental, as preliminares, ele precisa ter noção disso, eu acredito que só é possível dentro de uma relação afetiva”, “o homem tem que ter sensibilidade no toque e saber esperar a mulher, não fazer dela um deposito de espermas”.
As mulheres precisam de um pouco de experiência também, afirmam elas, tendo uma noção do próprio corpo e ser bem resolvida (ter auto-estima): “pra mim o orgasmo foi uma conquista pessoal”, “a mulher precisa ter se tocado antes para conseguir chegar ao orgasmo”, “ela precisa se sentir linda e mulher para não ter vergonha de se manifestar diante do parceiro”, “a mulher tem que se dispor na relação emocionalmente e psicologicamente”, “eu não sou a favor da mulher ter várias relações ao mesmo tempo, mas ela poderia ter vários parceiros para ter experiência, para saber qual é o homem certo para ela”, “o problema é que a sociedade exige que sejamos uma lady, mas tem na verdade temos que ser puta na cama”, “a mulher não pode ter vergonha do próprio corpo”.
Isso também ira colaborar com as fantasias femininas, sendo um indicador de afinidade com seu parceiro. As fantasias são importantes, para dá dinamicidade no sexo e a partir daí ser um pré-requisito para o clímax sexual. Estando presentes imaginações com outros homens, como sendo ideal para aquele momento, ou situações de perigo e o ato em “si”. Essas constatações se mostraram presente em fala de algumas mulheres. Também foi mencionado outro ponto de vista, a fantasia como sendo perigosa, pois ponde afastar a realidade do relacionamento da mulher: “para chegar aquele instante, eu preciso pensar o ato em si, na mecânica, o encaixe dos órgãos”, “o sexo precisa de tempero, preciso pensar em uma situação picante”, “qual a mulher que não fantasia?, eu não acredito que nos vamos pensar na hora no nosso companheiro o tempo todo”, “existe sim a presença de outro homens nas nossas imaginações, como existe nas deles também”, “fantasia é muito perigoso, a mulher precisa ser forte, ela remete a uma situação virtual, se ela não conseguir realizar na prática, ela se frustrará”.
Outro tópico que mencionei foi sobre o fingimento do orgasmo na relação com seus parceiros. A maioria acredita que as mulheres fingem orgasmo para os seus parceiros, porque eles mesmos se sentem gratificados quando elas sentem o êxtase na relação. Elas dizem que isso significaria para eles como um denominador para revelar a sua potência no sexo. Outras defendiam que fingir orgasmo é ilusão para elas mesmas, pois o orgasmo não existiu para elas e sim para seus parceiros: “terrível fingir!, nunca precisei disso”” meu marido vibra muito quando eu orgasmo, mas da minha parte é verdadeiro”, “ela está se enganando e sendo submissa a ele”, “acho que ocorre sim , o fingimento, eles cobram muito, e às vezes a mulher para se livrar logo ou porque fica sem jeito acaba fingindo”, “elas fingem para enganar eles!, para ter poder!”
Finalmente, o orgasmo é importante para elas, pois revela a intimidade com o seu parceiro e a fluidez na esfera sexual. Todas que se permitiram falar sobre como sentem orgasmo afirmaram que é preciso do auxílio do parceiro ou dela mesma para se masturbar, fora isso elas acreditam que não exista orgasmo pela penetração apenas. Para isso, elas afirmaram também que precisa se sentir muito à vontade com o parceiro independente de uma relação casual ou não. Assim a sensação de ter orgasmo com o determinado parceiro revelará maturidade e experiência na relação sexual: “só consigo me masturbando, para depois sentir orgasmo na penetração”, “me masturbo simultaneamente enquanto faço sexo”, “exijo do meu parceiro o orgasmo, toda vez que transo, quero me sentir mulher”, “sentir orgasmo é encontrar satisfação e felicidade”, “me satisfaço plenamente com o meu parceiro, isso é o combustível para a minha sensação de orgasmo”.
Considerações finais
“Costumo comparar a relação sexual como uma refeição, é diferente você comer para saciar a sua fome e você comer apreciando o prato, saboreando todo o tempero da comida”
Pude perceber através desse trabalho, o quanto o orgasmo transcendia a sensação meramente física e individual. Refleti, juntamente com elas, que o orgasmo é o reflexo do bem estar feminino com o corpo, a mente e a interpessoalidade. Cada uma trouxe questionamentos, afirmações sobre suas experiências que pôde compartilhar comigo suas representações atreladas a seus valores e suas crenças.
Sentir orgasmo significa ter domínio do seu corpo e reflexo da sua libertação que por anos era uma sensação que somente cabia ao homem e que a mulher não poderia exercer esse papel, era “pura demais” para sentir algo tão pecaminoso. Isso trouxe impacto para vida sexual de todas as mulheres, abriu uma possibilidade de se posicionar diante da relação sem ter culpa, sem ter receio de ser rotulada de “vulgar”. Mesmo com todas essas conquistas, ainda sofremos preconceitos quando ousamos em falar um pouco da nossa intimidade ou nos mostrar “experientes com o parceiro”.
Concordamos no seguinte aspecto que a liberdade sexual que nos trouxe hoje parece ter trazido a mulher uma relação distorcida com o seu próprio corpo. Ao mesmo tempo que houve um afrouxamento nas pressões sociais quanto o papel feminino no sexo, dando liberdade de escolha do parceiro sexual no relacionamento, essa excessiva liberdade implicou distância de sintonia com o parceiro que implicava no adiamento constante de sentir orgasmo.
Mesmo com todas as dificuldades apresentadas, é necessário discutir mais a sexualidade feminina e a partir daí provocar mudanças nas suas representações produzindo novos significados que possam reverberar nas praticas sociais.
*Pesquisa realizada em Agosto de 2008
Ainda está presente o estereotipo da mulher “frígida”, incapaz de sentir o clímax na relação tão esperada pelos seus parceiros. Mas isso não passa de desconhecimento do seu próprio corpo que esse, por muito tempo, foi visto como algo sacralizado. Sacralizar aquilo que é meio para explorar grandes sensações é criar fronteiras para descobrir algo tão peculiar na alma feminina: o uso do prazer como sendo um pouco de revelação de si mesma.
Podemos perceber que nos últimos tempos houve uma maior permissividade em discutir esse assunto através de meios midiáticos, científicos e populares. Isso proporcionou uma mudança discursiva capaz de repercutir diretamente nas práticas sociais. Essa mudança de percepção para com o uso do seu próprio corpo em busca do clímax com seu parceiro no ato sexual, foi fruto das revoluções, feminista e sexual, ocorridas na década de 60 nas grandes cidades dos países ocidentais industrializados que solapou paradigmas em que a mulher estava sob condição apenas para satisfazer o seu parceiro.
A sensação do orgasmo não cabia mais para as mulheres ousadas correspondente a uma porcentagem mínima, mas uma conquista para todas que nos últimos tempos foi motivo de uma certa preocupação. Isso porque o intenso prazer é emblemático em uma sociedade tão pueril quanto a nossa que se preocupa satisfazer seus desejos tão rapidamente. O fluxo de informação e o reconhecimento do orgasmo feminino na esfera popular caminham em duas velocidades: uma de possibilitar a mulher ter acesso a descobrir o seu corpo sem culpa, a outra traz a ela frustrações quando não conseguem realizar a tal sensação.
Como o prazer em nossa sociedade está intimamente ligado ao poder, assim afirmava Foucault, os indivíduos se reconhecem como sujeitos de uma sexualidade que abre para conhecimentos diversos e se articula num sistema de regras e coerções.
Procedimentos metodológicos
Essa pesquisa etnográfica foi realizada com finalidade de captar os pensamentos, os valores, enfim, as representações que as mulheres têm sobre sentir o orgasmo com os seus parceiros, podendo ser em uma relação casual ou estável.
Afim de conhecer um pouco mais sobre a sexualidade feminina, principalmente o orgasmo, contactei com mulheres dispostas a revelar um pouco mais sobre sua sexualidade, pois essa questão ainda se mostra pouco viabilizada, por existir uma pressão social que circula em torno dessa esfera.
As primeiras dificuldades encontradas foram na busca pelos artigos científicos publicados na internet. Visitei o site de busca, Google, e não encontrei qualquer pesquisa de teor acadêmico que me pudesse orientar não só teoricamente, mas através das idéias defendidas me possibilitar ter insights de como eu poderia proceder na minha ida a campo.
Então, para viabilizar a minha pesquisa, procurei uma estratégia que pudesse atravessar o universo consensual dessas mulheres. Dessa forma, a prática dessa pesquisa foi fundamentada na Teoria de Representações Socais de Moscovici, a qual explica que existem formas diferentes de conhecer e de se comunicar, guiadas por objetivos diferentes, formas que são móveis, e define duas delas nas nossas sociedades: a consensual e a científica, cada uma gerando seu próprio universo. Optei pela forma mais consensual de me comunicar com essas mulheres, ver o seu universo através de um diálogo popular que tornasse a nossa comunicação mais horizontal o possível. Eu e a pessoa entrevistada não demarcaríamos na nossa relação um status diferenciado de pesquisador-provido de saber especializado- com o entrevistado, mas duas pessoas que através de uma conversa informal poderiam refletir as suas vivências e, assim, compartilhar valores.
A minha ida ao campo não apresentaria uma entrevista, mas sim um dialogo, que no decorrer, dependendo de como elas se disponibilizaram para a conversa, eu iria apresentando tópicos com formulações momentâneas, que dependia do uso do discurso que cada uma apresentava.
Para iniciar a conversa, eu aquecia revelando qual eram os propósitos da pesquisa e falar sobre meu entusiasmo sobre a temática e explicitava interesse como elas pensavam sobre o orgasmo e quais eram as suas expectativas em relação ao parceiro. Primeiramente eu iniciava com discussões sobre o prazer sexual, pois percebia que falar de orgasmo requer uma intimidade maior na conversa, mesmo que essas falassem de uma maneira mais generalizada, como por exemplo: “as mulheres de maneira geral...” .
No primeiro momento pensei em realizar uma entrevista em grupo, mas não deu certo devido à falta de imcompatibilidade de horários entre elas. Então, fiz entrevistas individuais com 5 mulheres entre a faixa etária de 39 a 64 anos, em locais escolhidos por elas como casa ou parque. A duração da conversa girava em torno de 25min a 1h e 30min, dependendo da sua disposição.
Sendo colegas de curso de pintura, essa característica deu outra dimensão para o meu trabalho: a primeira barreira que eu iria encontrar- estabelecer um contato amigável, que poderia não vingar, caso fossem desconhecidas- não existiu. Todas elas que me direcionei para executar o meu trabalho, apresentaram uma boa receptividade e muito disponível para conversar sobre o assunto, mesmo que em graus diferentes.
A análise que pude fazer foi através de reflexões com as teorias que abordei, em especial O Relatório Hite de Shere Hite (1976) por seu uma pesquisa que mais se aproximou do que eu queria me aprofundar. E através dessa pesquisa pude tatear quais as mudanças nas representações apresentadas sobre essa temática da década de 70 até os dias atuais.
Diário de Campo
Segundo o depoimento delas, algumas se abstiveram em aprofundar muito nessa questão, a intensidade do prazer sexual é um termômetro para avaliar a possibilidade de uma mulher sentir o orgasmo. Ele é visto como uma sensação última que nem sempre é alcançado e a maioria afirmou que logo após essa sensação, precisava de um pouco de descanso para logo em seguida iniciar, quando tem tempo, uma nova transa.
Quanto à descoberta do orgasmo, a cultura como nós mulheres fomos influenciadas para construção de nossos valores implicou diretamente na sexualidade. O desconhecimento de nosso próprio corpo adiou essa sensação e que muitas vezes nos pegamos com a seguinte dúvida, a qual foi levantada em uma das entrevistas “na verdade, o como é que sente o orgasmo?”, “somente pela masturbação?”, “e na penetração é possível?”
Equiparando como se procede a cultura sexual masculina, concordamos que existem poucos diálogos entre as mulheres, pouca informação sobre essa temática nos livros, embora ultimamente tenha se difundido bastante no meio midiático e a cultura fortemente patriarcal impediu que a mulher ousasse um pouco mais na sua relação sexual. E isso produziu um certo receio de explorarmos um pouco mais na relação para ir em busca do clímax sexual. Mas mesmo assim, o tabu em torno da sensação que nos provoca êxtase não nos impediu de alimentar a nossa curiosidade indo em busca de livros, revista (como Nova , Claúdia e Marie Clarie) e filmes eróticos, não pornográficos, para logo comparar com a nossa realidade.
Na educação familiar, teve alguns contrapontos. A maioria delas, 3 especificamente, revelaram que a educação conservadora impediu muito para as suas descobertas sexuais: “estudei muitos anos no colégio religioso”, “a sensações do corpo eram algo perigoso”, “minha educação é assim, conservadora”, “meu pai era muito oculto na minha formação sexual”,“sexo era sujo”, “se prezava muito a virgindade, quando se disvirginava com seus maridos, o corpo ficava coberto”. As outras revelaram: “nunca tive problema com isso, meus pais eram bem abertos comigo”, “minha mãe me esclarecia muito quanto ao sexo, me explicava tudo direitinho”.
Quanto ao conteúdo informativo que é passado para nós é de grande importância para aprendermos um pouco mais e assim ser mais “performática” no sexo para ir ao encontro do orgasmo. Embora seja às vezes apelativo para algumas, dizendo que “não acredito nessas histórias que contam” “falam de orgasmo como se sente de maneira rápida e muito fácil”, “acho bom, mas muito exposto, tem certas coisas que só se faz em quatro paredes, não se deve revelar”. Algumas delas revelaram também que os filmes eróticos excitam muito e ajudam as mulheres a inspirar a criatividade, diferentemente dos filmes pornográficos, que altamente machistas, pois colocam a mulher como condição de “instrumento” de prazer para os homens: “filmes pornográficos nos ajuda visualmente”, “os eróticos despertam sensações mais profundas, o que é mais importante despertam fantasias”, “tem uns abestalhados que acreditam que no filme pornográfico as mulheres sentem orgasmo, como podem acreditar nisso?”, “essa cachoeira que falam é mentira, através desses filmes”, “tudo isso é mecânica e fingimento”.
Foi unânime a descoberta do orgasmo com o parceiro. A conversa que tinha com ele era muito mais aberta que entre amigas, já que elas se mostravam muito fechadas e às vezes providas de um falso moralismo: “eu descobri o orgasmo com meu parceiro, já que na minha educação não existia isso”, “as duas pessoas vão se conhecendo daí gera o prazer”, “converso tudo com meu parceiro, sobre fantasia, orgasmo meu e o dele”, “entre nós mulheres é difícil uma conversa aberta”, “acho que muitas mentem, fingem não saber muita coisa sobre isso”.
A maioria admitiu que para sentir o orgasmo, é necessária uma relação afetiva com o parceiro. Isso porque há um comprometimento maior entre os dois na relação e uma sintonização eficaz do parceiro com os seus próprios desejos. Desse modo, elas afirmaram também que o homem precisa de experiência, não somente a “mecânica”, o ato em si, mas de toque e preliminares. Houve também quem afirmasse que o orgasmo só se encontra não relação mais “selvagem”, pouco amorosa, em que envolve sussurros, leve agressão física, como “tapinhas” e “encostar na parede” e referir a mulher com termos “gostosa”. E não necessariamente envolvia uma relação afetiva e estável, poderia encontrar com um desconhecido: “para eu entrar no clima, o homem tem que ter uma pegada boa, tem que me chamar de gostosa!”, “qualquer um pode dá orgasmo a mulher, eu acredito que ele tem que ser bom de cama”, “ter cara de macho é fundamental, não precisa ser bonito”,”ele tem que me deixar ser mulher, me deixar fazer acontecer, me deixar por cima”, “o toque é fundamental, as preliminares, ele precisa ter noção disso, eu acredito que só é possível dentro de uma relação afetiva”, “o homem tem que ter sensibilidade no toque e saber esperar a mulher, não fazer dela um deposito de espermas”.
As mulheres precisam de um pouco de experiência também, afirmam elas, tendo uma noção do próprio corpo e ser bem resolvida (ter auto-estima): “pra mim o orgasmo foi uma conquista pessoal”, “a mulher precisa ter se tocado antes para conseguir chegar ao orgasmo”, “ela precisa se sentir linda e mulher para não ter vergonha de se manifestar diante do parceiro”, “a mulher tem que se dispor na relação emocionalmente e psicologicamente”, “eu não sou a favor da mulher ter várias relações ao mesmo tempo, mas ela poderia ter vários parceiros para ter experiência, para saber qual é o homem certo para ela”, “o problema é que a sociedade exige que sejamos uma lady, mas tem na verdade temos que ser puta na cama”, “a mulher não pode ter vergonha do próprio corpo”.
Isso também ira colaborar com as fantasias femininas, sendo um indicador de afinidade com seu parceiro. As fantasias são importantes, para dá dinamicidade no sexo e a partir daí ser um pré-requisito para o clímax sexual. Estando presentes imaginações com outros homens, como sendo ideal para aquele momento, ou situações de perigo e o ato em “si”. Essas constatações se mostraram presente em fala de algumas mulheres. Também foi mencionado outro ponto de vista, a fantasia como sendo perigosa, pois ponde afastar a realidade do relacionamento da mulher: “para chegar aquele instante, eu preciso pensar o ato em si, na mecânica, o encaixe dos órgãos”, “o sexo precisa de tempero, preciso pensar em uma situação picante”, “qual a mulher que não fantasia?, eu não acredito que nos vamos pensar na hora no nosso companheiro o tempo todo”, “existe sim a presença de outro homens nas nossas imaginações, como existe nas deles também”, “fantasia é muito perigoso, a mulher precisa ser forte, ela remete a uma situação virtual, se ela não conseguir realizar na prática, ela se frustrará”.
Outro tópico que mencionei foi sobre o fingimento do orgasmo na relação com seus parceiros. A maioria acredita que as mulheres fingem orgasmo para os seus parceiros, porque eles mesmos se sentem gratificados quando elas sentem o êxtase na relação. Elas dizem que isso significaria para eles como um denominador para revelar a sua potência no sexo. Outras defendiam que fingir orgasmo é ilusão para elas mesmas, pois o orgasmo não existiu para elas e sim para seus parceiros: “terrível fingir!, nunca precisei disso”” meu marido vibra muito quando eu orgasmo, mas da minha parte é verdadeiro”, “ela está se enganando e sendo submissa a ele”, “acho que ocorre sim , o fingimento, eles cobram muito, e às vezes a mulher para se livrar logo ou porque fica sem jeito acaba fingindo”, “elas fingem para enganar eles!, para ter poder!”
Finalmente, o orgasmo é importante para elas, pois revela a intimidade com o seu parceiro e a fluidez na esfera sexual. Todas que se permitiram falar sobre como sentem orgasmo afirmaram que é preciso do auxílio do parceiro ou dela mesma para se masturbar, fora isso elas acreditam que não exista orgasmo pela penetração apenas. Para isso, elas afirmaram também que precisa se sentir muito à vontade com o parceiro independente de uma relação casual ou não. Assim a sensação de ter orgasmo com o determinado parceiro revelará maturidade e experiência na relação sexual: “só consigo me masturbando, para depois sentir orgasmo na penetração”, “me masturbo simultaneamente enquanto faço sexo”, “exijo do meu parceiro o orgasmo, toda vez que transo, quero me sentir mulher”, “sentir orgasmo é encontrar satisfação e felicidade”, “me satisfaço plenamente com o meu parceiro, isso é o combustível para a minha sensação de orgasmo”.
Considerações finais
“Costumo comparar a relação sexual como uma refeição, é diferente você comer para saciar a sua fome e você comer apreciando o prato, saboreando todo o tempero da comida”
Pude perceber através desse trabalho, o quanto o orgasmo transcendia a sensação meramente física e individual. Refleti, juntamente com elas, que o orgasmo é o reflexo do bem estar feminino com o corpo, a mente e a interpessoalidade. Cada uma trouxe questionamentos, afirmações sobre suas experiências que pôde compartilhar comigo suas representações atreladas a seus valores e suas crenças.
Sentir orgasmo significa ter domínio do seu corpo e reflexo da sua libertação que por anos era uma sensação que somente cabia ao homem e que a mulher não poderia exercer esse papel, era “pura demais” para sentir algo tão pecaminoso. Isso trouxe impacto para vida sexual de todas as mulheres, abriu uma possibilidade de se posicionar diante da relação sem ter culpa, sem ter receio de ser rotulada de “vulgar”. Mesmo com todas essas conquistas, ainda sofremos preconceitos quando ousamos em falar um pouco da nossa intimidade ou nos mostrar “experientes com o parceiro”.
Concordamos no seguinte aspecto que a liberdade sexual que nos trouxe hoje parece ter trazido a mulher uma relação distorcida com o seu próprio corpo. Ao mesmo tempo que houve um afrouxamento nas pressões sociais quanto o papel feminino no sexo, dando liberdade de escolha do parceiro sexual no relacionamento, essa excessiva liberdade implicou distância de sintonia com o parceiro que implicava no adiamento constante de sentir orgasmo.
Mesmo com todas as dificuldades apresentadas, é necessário discutir mais a sexualidade feminina e a partir daí provocar mudanças nas suas representações produzindo novos significados que possam reverberar nas praticas sociais.
*Pesquisa realizada em Agosto de 2008
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Viagem
Sem velas, quase desgovernado, segue o meu barco, encontrando pela enseada marulhos carcomidos; águas mornas e pouco ondulantes. A proa, na vanguarda, sobressai ao sol que morre no horizonte, desbravando, como um turista curioso, as peculiaridades da paisagem marinha. Um paquete, convicto em sua rota, cruza-me o caminho; imponente no seu tamanho e no seu luxo, passa estufado e indiferente, como tudo que é rico. Contemplo-o, também insubmisso, mais por sua alma do que por sua forma, pois, quem lida com a mecânica introjetada na técnica em razão da qual se tornam possíveis os duros inventos, compreende a grandiloqüência das máquinas, oculta à ousadia de um sonho, com a paixão secreta do crítico diante de um quadro belo. Navegar é estético; todo caractere alocado sobre os espaços da baía são instalações – espontâneas porque poderiam não estar ali, ao alcance de olhos que não as alcança. Eu busco à ilha de um dia, sobre a qual sobrevoavam bandos diversos, disposto a revisitar sorrisos dos quais fui desatado por maldade, o lodo das casas de que fui proscrito a contragosto. Navegação errante por um mar desapaixonado, que desfaz em seus torvelinhos o que se busca antes do encontro.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Talvez ela
Ele só queria tentar levá-la para um universo que ele acreditava ser encantador. Apesar de todas as suas vontades espontâneas e impulsivas, ele estava ciente de que em seu mundo poderia haver alguns jardins que não a agradariam. Mas ele tentou. Tentou muito.
Talvez por aprender a se degustar da solidão, talvez por temer acreditar nas pessoas por viver em um mundo tão impessoal, talvez por se ver cansada de guardar inúmeras notas fiscais e não mais enxergar a simplicidade das pequenas e grandiosas coisas, ela tenha entendido tudo de forma errada. Não sabia ela que a vontade que ele tinha constantemente de procurá-la, não passava de uma vontade sincera de vê-la por sentir saudades.
O mais insensato é que ela precisa de paciência, de sossego, de atenção e de força. Tudo isso faltou em seu passado e se reflete em seu sorriso fraco, cansado e tristonho. Ela disse que queria tudo isso: sinceridade, paixão, beijos, abraços e amizades. Ele tentou provocar todos os tipos de situações que permitissem a eles viverem tudo isso. Ela não quis. Ela provou temer tudo aquilo que ela dizia que o seu coração queria viver.
Talvez ela queira um novo amor, mas um amor igual aquele que ela diz hoje não mais querer. Talvez ela queira outra coisa por agora. Nesse momento, talvez ela esteja ouvindo música, talvez ela esteja rasgando as folhas do caderno para se enganar e enganar o tempo, talvez ela esteja querendo tomar refrigerante, talvez ela queira apenas dormir e ficar um pouco com sua dor.
Talvez ela o queira, talvez ela o odeie, talvez ela necessite de seus constantes surtos de saudades, talvez ela não acredite que haja uma saudade. Talvez ela queira alguma coisa que não tem. Talvez ela esteja ciente do que quer. Talvez ela não esteja ciente de nada. Talvez ele esteja muito carente.
Talvez ela goste do jogo. Não, ele acha que ela não gosta de jogar. Na verdade, ele já não acha nada. Talvez ele esteja certo. Talvez não.
Talvez por aprender a se degustar da solidão, talvez por temer acreditar nas pessoas por viver em um mundo tão impessoal, talvez por se ver cansada de guardar inúmeras notas fiscais e não mais enxergar a simplicidade das pequenas e grandiosas coisas, ela tenha entendido tudo de forma errada. Não sabia ela que a vontade que ele tinha constantemente de procurá-la, não passava de uma vontade sincera de vê-la por sentir saudades.
O mais insensato é que ela precisa de paciência, de sossego, de atenção e de força. Tudo isso faltou em seu passado e se reflete em seu sorriso fraco, cansado e tristonho. Ela disse que queria tudo isso: sinceridade, paixão, beijos, abraços e amizades. Ele tentou provocar todos os tipos de situações que permitissem a eles viverem tudo isso. Ela não quis. Ela provou temer tudo aquilo que ela dizia que o seu coração queria viver.
Talvez ela queira um novo amor, mas um amor igual aquele que ela diz hoje não mais querer. Talvez ela queira outra coisa por agora. Nesse momento, talvez ela esteja ouvindo música, talvez ela esteja rasgando as folhas do caderno para se enganar e enganar o tempo, talvez ela esteja querendo tomar refrigerante, talvez ela queira apenas dormir e ficar um pouco com sua dor.
Talvez ela o queira, talvez ela o odeie, talvez ela necessite de seus constantes surtos de saudades, talvez ela não acredite que haja uma saudade. Talvez ela queira alguma coisa que não tem. Talvez ela esteja ciente do que quer. Talvez ela não esteja ciente de nada. Talvez ele esteja muito carente.
Talvez ela goste do jogo. Não, ele acha que ela não gosta de jogar. Na verdade, ele já não acha nada. Talvez ele esteja certo. Talvez não.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Os balcas
Uma lingua quase em desuso,
apenas bem falada em sua especifica regiao.
Religiao continua desde do tempo antigo.
Modernidade sem modernismo,
fronteiras bem enrigecidas
contra a violenta fluidez das identidades indefinidas.
A globalizacao prefere usar armas para destituir
alguns resquicios de nacionalismo.
A partir dai nascem ETA, IRA...
como alternativa para afirmar
o que ja nao tem mais afirmacao.
O mundo virou-se para
os globalizados anti-nacionalista e,
na mesma poeira do tempo,
nacionalistas des-partidarios.
apenas bem falada em sua especifica regiao.
Religiao continua desde do tempo antigo.
Modernidade sem modernismo,
fronteiras bem enrigecidas
contra a violenta fluidez das identidades indefinidas.
A globalizacao prefere usar armas para destituir
alguns resquicios de nacionalismo.
A partir dai nascem ETA, IRA...
como alternativa para afirmar
o que ja nao tem mais afirmacao.
O mundo virou-se para
os globalizados anti-nacionalista e,
na mesma poeira do tempo,
nacionalistas des-partidarios.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
OUVI UM GRITO
No beco ouve-se um grito;
Ninguém conhece sua voz;
Ninguém viu.
O seu lugar não estava lá.
Os humanos andam apressados;
O tempo não tem tempo.
É tempo de escassez de tempo.
As cidades não tem lugar para as pessoas.
As coisas reinam há muito tempo.
Ouvi falar de alguém.
Seu nome não tinha crédito.
Ele estava distante.
Parece estar do outro lado onde não sei.
Onde estamos então?
No mundo dos nossos sonhos diz o poeta.
São sonhos muitos.
Sonhos que se transformam em formas.
Formas que rasgam o espaço e o tempo.
Formas deformadas pela luz de neon.
Eu quero ver o sol direito.
Quero acordar seu calor no peito.
Sentir novamente sua luz pelas manhãs.
Até que velho, converse o poeta, com suas cãs.
- Veja que os filhos dos homens construíram cidades na beira dos rios!
- Veja que os filhos dos anjos fizeram máquinas que ao negro espaço vão!
A era do aço.
A era do chip.
Contudo tem gente morrendo de frio.
Tem criança sem pão;
Tem, no nariz, secreção.
Teus velhos ainda morrem de gripe.
Os abutres confessaram: “Os homens são irmãos da morte”.
- Sofrem os filhos do barro triste sorte!
As risadas embaladas pelo vinho ou pelo ópio se calam ante ao fato: Não há tempo!
- Poucos são os dias; a vida parece ser um breve momento!
Corri de manhã cedo e plantei um jardim nas bandas do norte.
Cuidei logo com muita pressa; e fiz filhos.
Minha mulher enrugou-se como uma folha de papel descartada.
E meus ossos ficaram fracos.
- Os sofrerei até o dia de meu óbito!
O sentido faz sentido pela força das escolhas.
As escolhas são veredas que nos levam ao mesmo lugar.
O teu sepulcro falará por ultimo;
Dirá combalido o teu sepulto irmão: Veja a recompensa das minhas escolhas!
Se eu tivesse uma borracha do tamanho do mundo.
Eu apagaria tudo, tudo que foi dito dos homens.
Daria a mim uma chance de escrever novamente.
- Escrever num mundo vazio, solitário?
- Destruir o tempo e o espaço não acaba o mundo!
Foi a fé de Raimundo;
De Paulo da oficina;
De Guilherme, um funcionário;
Que me disse: O mundo é teu!
- Meu?
- Deixe-me comer todo dia!
- Deixe-me encher a barriga vazia!
- Deixe-me chamar a justiça e a misericórdia!
A primeira é a mais jovem, a derradeira é a irmã mais velha.
O mundo é teu até onde podes.
O mundo existe nas nossas pupilas.
É como massa, ou argila.
A sábia e perita mão dele zomba: Qual será tua forma no próximo verão?
Ah, se eu pudesse dar-te uma forma; poria em ti meu espírito!
Tu viverias minha sorte. Que se danem os outros!
Cada um tem sua morte.
Cada um tem seu mundo.
Eu me calo ante a ganancia presa em minhas entranhas.
De onde ela vem?
Não sei!
- Não será do mundo?
- Não será do tempo?
- Não será do barro?
- Não será da forma?
No beco ouvi um gemido.
Procurei de onde vinha.
Não encontrei o seu lugar.
Ninguém conhece sua voz;
Ninguém viu.
O seu lugar não estava lá.
Os humanos andam apressados;
O tempo não tem tempo.
É tempo de escassez de tempo.
As cidades não tem lugar para as pessoas.
As coisas reinam há muito tempo.
Ouvi falar de alguém.
Seu nome não tinha crédito.
Ele estava distante.
Parece estar do outro lado onde não sei.
Onde estamos então?
No mundo dos nossos sonhos diz o poeta.
São sonhos muitos.
Sonhos que se transformam em formas.
Formas que rasgam o espaço e o tempo.
Formas deformadas pela luz de neon.
Eu quero ver o sol direito.
Quero acordar seu calor no peito.
Sentir novamente sua luz pelas manhãs.
Até que velho, converse o poeta, com suas cãs.
- Veja que os filhos dos homens construíram cidades na beira dos rios!
- Veja que os filhos dos anjos fizeram máquinas que ao negro espaço vão!
A era do aço.
A era do chip.
Contudo tem gente morrendo de frio.
Tem criança sem pão;
Tem, no nariz, secreção.
Teus velhos ainda morrem de gripe.
Os abutres confessaram: “Os homens são irmãos da morte”.
- Sofrem os filhos do barro triste sorte!
As risadas embaladas pelo vinho ou pelo ópio se calam ante ao fato: Não há tempo!
- Poucos são os dias; a vida parece ser um breve momento!
Corri de manhã cedo e plantei um jardim nas bandas do norte.
Cuidei logo com muita pressa; e fiz filhos.
Minha mulher enrugou-se como uma folha de papel descartada.
E meus ossos ficaram fracos.
- Os sofrerei até o dia de meu óbito!
O sentido faz sentido pela força das escolhas.
As escolhas são veredas que nos levam ao mesmo lugar.
O teu sepulcro falará por ultimo;
Dirá combalido o teu sepulto irmão: Veja a recompensa das minhas escolhas!
Se eu tivesse uma borracha do tamanho do mundo.
Eu apagaria tudo, tudo que foi dito dos homens.
Daria a mim uma chance de escrever novamente.
- Escrever num mundo vazio, solitário?
- Destruir o tempo e o espaço não acaba o mundo!
Foi a fé de Raimundo;
De Paulo da oficina;
De Guilherme, um funcionário;
Que me disse: O mundo é teu!
- Meu?
- Deixe-me comer todo dia!
- Deixe-me encher a barriga vazia!
- Deixe-me chamar a justiça e a misericórdia!
A primeira é a mais jovem, a derradeira é a irmã mais velha.
O mundo é teu até onde podes.
O mundo existe nas nossas pupilas.
É como massa, ou argila.
A sábia e perita mão dele zomba: Qual será tua forma no próximo verão?
Ah, se eu pudesse dar-te uma forma; poria em ti meu espírito!
Tu viverias minha sorte. Que se danem os outros!
Cada um tem sua morte.
Cada um tem seu mundo.
Eu me calo ante a ganancia presa em minhas entranhas.
De onde ela vem?
Não sei!
- Não será do mundo?
- Não será do tempo?
- Não será do barro?
- Não será da forma?
No beco ouvi um gemido.
Procurei de onde vinha.
Não encontrei o seu lugar.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Educação sisuda
Estava me lembrando de uma situação vivida por mim enquanto docente. Eu estava na sala de professores, mas não estava suportando o papo que rolava entre eles. Como era o horário do intervalo, resolvi me sentar com um aluno no chão do pátio. Meu interesse naquele aluno se deveu ao fato dele estar tocando violão e por ele fazer parte do grêmio estudantil. Aproveitei e fiquei a dialogar com ele acerca da relação entre a produção musical no Brasil com a política cultural.
No entanto, fui chamado pelo coordenador. Pensei que me falaria sobre algum projeto, mas não. Ele me chamou atenção para o fato de eu ficar sentado com um aluno no chão, pois ficava desconfortável para a coordenação se um pai de aluno chegasse e me visse daquela forma com um aluno, além de me dizer que os alunos poderiam me desrespeitar enquanto professor pelo meu comportamento, uma vez que era importante que as relações ficassem mais definidas entre a gente.
Confesso que cheguei a questionar acerca de meu comportamento, mas logo depois aquilo tudo se tornou bastante confuso. Nossa, eu estava apenas batendo um papo! Não sabia ele que aquele papo tinha me inspirado levar um debate para a sala, visto que eu discutia com meus alunos sobre cultura popular, cultura de massa e folclore. Ora, uma discussão referente à relação do elitismo da intelectualidade com a arte seria de profunda importância para esclarecer o assunto.
Pergunto: será que se eu ficasse na sala dos professores falando sobre aumento salarial eu teria a inspiração que tive? Como eu poderia afirmar que aquela minha conduta poderia ser vista como prejudicial para o meu conteúdo que pensei em expor na sala de aula? Será que os pais não me agradeceriam? Será que eu levando aquelas problemáticas eu retiraria meu papel de professor e os alunos me desvalorizariam por aquilo simplesmente por que eu me sentei no chão com um deles?
Eu fico extremamente indignado com as colisões que eu encontro entre o discurso pedagógico e a realidade dos ambientes educacionais. Ora, no discurso as teorias pedagógicas querem ser livres, querem que a gente trate os alunos de forma igual, querem que os alunos se sintam capazes de enxergar o educador como um profissional capaz de possibilitar o diálogo. O discurso geralmente se encontra recheado de liberdades de expressão, contrário a um ambiente educacional sisudo.
Por outro lado, o que eu observo é que o ambiente educacional é sisudo. Não há como negar que apesar do discurso exigir uma mobilidade maior nas relações estabelecidas entre professores e alunos, nossa educação é caretinha pra caramba. Nossa educação se caracteriza pelo forte autoritarismo, por uma estúpida idéia de perfeição limitada a modelos de comportamento. Tudo se resume a tentativa de manter as coisas dentro de uma ordem que cheira a hierarquia.
Não achem que eu sou a favor da liberdade sem limites. Sei que a vida exige um compromisso, e inevitavelmente precisamos dos limites, ou seja, precisamos dos códigos de comportamento e de hierarquia. Contudo, existe uma grande diferença entre aceitar a organização das coisas e as funções delegadas a cada profissional e querer que as organizações e as funções se limitem a regrinhas alienadas que não questionam até que limite suas validades são necessárias ou não para o bom funcionamento do sistema.
Digo isso, pois ficou claro que para o coordenador a preocupação se limitava a forma como cada um veria a minha condição enquanto professor, isto é, a uma etiqueta. Em nenhum momento meu querido camarada se questionou em até que limite aquele regulamento moral imposto era condizente com a realidade ou não. Enfim, o que posso dizer é que havia naquela proibição apenas uma imagem preocupada com a ordem, como se ela inexistisse com o meu comportamento.
O fato de um professor se sentar com um aluno no chão do pátio não significa dizer que esse professor deixe de ter compromisso com o seu trabalho. A responsabilidade não se anula devido a uma escolha mais informal que eu estabeleci enquanto educador. Não tem nada a ver responsabilidade com excessos de formalismos. Se fosse assim nenhum camarada de terno e gravata cometeria suas improbidades administrativas na nossa defasada maquina pública como vemos comumente.
Em nenhum momento eu precisei largar minha postura profissional apenas pelo fato de eu ter me sentado com um aluno. Em muitos casos, o grande aprendizado ocorre em situações como a do tipo que vivi com meu aluno. Profissionalismo não necessariamente precisa ter ar de seriedade. A seriedade deve existir sempre, mas não necessariamente ela precisa ser enfadonha e monótona. Posso muito bem ser sério e profissional conversando informalmente com qualquer aluno.
Infelizmente vivemos em uma educação tão produtivista que em nenhum momento sabe unir seriedade com diversão. O que posso constatar em uma situação como essa vivida por mim é que a educação se limita a entender que responsabilidade se limita aquilo que consideramos como sério, monótono e cansativo. Sim, tudo aquilo que seja sinônimo de labuta, ou seja, de tudo aquilo que não abra espaço para a inovação e para uma relação mais humana entre educador e aluno.
( TEXTO PUBLICADO NO BLOG PENSANDO A EDUCAÇÃO- http://www.pensandoaeducacao10.blogspot.com NO DIA 07 DE FEVEREIRO DE 2012)
No entanto, fui chamado pelo coordenador. Pensei que me falaria sobre algum projeto, mas não. Ele me chamou atenção para o fato de eu ficar sentado com um aluno no chão, pois ficava desconfortável para a coordenação se um pai de aluno chegasse e me visse daquela forma com um aluno, além de me dizer que os alunos poderiam me desrespeitar enquanto professor pelo meu comportamento, uma vez que era importante que as relações ficassem mais definidas entre a gente.
Confesso que cheguei a questionar acerca de meu comportamento, mas logo depois aquilo tudo se tornou bastante confuso. Nossa, eu estava apenas batendo um papo! Não sabia ele que aquele papo tinha me inspirado levar um debate para a sala, visto que eu discutia com meus alunos sobre cultura popular, cultura de massa e folclore. Ora, uma discussão referente à relação do elitismo da intelectualidade com a arte seria de profunda importância para esclarecer o assunto.
Pergunto: será que se eu ficasse na sala dos professores falando sobre aumento salarial eu teria a inspiração que tive? Como eu poderia afirmar que aquela minha conduta poderia ser vista como prejudicial para o meu conteúdo que pensei em expor na sala de aula? Será que os pais não me agradeceriam? Será que eu levando aquelas problemáticas eu retiraria meu papel de professor e os alunos me desvalorizariam por aquilo simplesmente por que eu me sentei no chão com um deles?
Eu fico extremamente indignado com as colisões que eu encontro entre o discurso pedagógico e a realidade dos ambientes educacionais. Ora, no discurso as teorias pedagógicas querem ser livres, querem que a gente trate os alunos de forma igual, querem que os alunos se sintam capazes de enxergar o educador como um profissional capaz de possibilitar o diálogo. O discurso geralmente se encontra recheado de liberdades de expressão, contrário a um ambiente educacional sisudo.
Por outro lado, o que eu observo é que o ambiente educacional é sisudo. Não há como negar que apesar do discurso exigir uma mobilidade maior nas relações estabelecidas entre professores e alunos, nossa educação é caretinha pra caramba. Nossa educação se caracteriza pelo forte autoritarismo, por uma estúpida idéia de perfeição limitada a modelos de comportamento. Tudo se resume a tentativa de manter as coisas dentro de uma ordem que cheira a hierarquia.
Não achem que eu sou a favor da liberdade sem limites. Sei que a vida exige um compromisso, e inevitavelmente precisamos dos limites, ou seja, precisamos dos códigos de comportamento e de hierarquia. Contudo, existe uma grande diferença entre aceitar a organização das coisas e as funções delegadas a cada profissional e querer que as organizações e as funções se limitem a regrinhas alienadas que não questionam até que limite suas validades são necessárias ou não para o bom funcionamento do sistema.
Digo isso, pois ficou claro que para o coordenador a preocupação se limitava a forma como cada um veria a minha condição enquanto professor, isto é, a uma etiqueta. Em nenhum momento meu querido camarada se questionou em até que limite aquele regulamento moral imposto era condizente com a realidade ou não. Enfim, o que posso dizer é que havia naquela proibição apenas uma imagem preocupada com a ordem, como se ela inexistisse com o meu comportamento.
O fato de um professor se sentar com um aluno no chão do pátio não significa dizer que esse professor deixe de ter compromisso com o seu trabalho. A responsabilidade não se anula devido a uma escolha mais informal que eu estabeleci enquanto educador. Não tem nada a ver responsabilidade com excessos de formalismos. Se fosse assim nenhum camarada de terno e gravata cometeria suas improbidades administrativas na nossa defasada maquina pública como vemos comumente.
Em nenhum momento eu precisei largar minha postura profissional apenas pelo fato de eu ter me sentado com um aluno. Em muitos casos, o grande aprendizado ocorre em situações como a do tipo que vivi com meu aluno. Profissionalismo não necessariamente precisa ter ar de seriedade. A seriedade deve existir sempre, mas não necessariamente ela precisa ser enfadonha e monótona. Posso muito bem ser sério e profissional conversando informalmente com qualquer aluno.
Infelizmente vivemos em uma educação tão produtivista que em nenhum momento sabe unir seriedade com diversão. O que posso constatar em uma situação como essa vivida por mim é que a educação se limita a entender que responsabilidade se limita aquilo que consideramos como sério, monótono e cansativo. Sim, tudo aquilo que seja sinônimo de labuta, ou seja, de tudo aquilo que não abra espaço para a inovação e para uma relação mais humana entre educador e aluno.
( TEXTO PUBLICADO NO BLOG PENSANDO A EDUCAÇÃO- http://www.pensandoaeducacao10.blogspot.com NO DIA 07 DE FEVEREIRO DE 2012)
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Multipolar
A forma adequada para se expressar o desgosto, o tédio e a certeza de que faz certo quem não se cansa em caminhar, como é crível que a brisa vespertina liberta e traz ventura em quem a sente, não existe senão como idéia inexprimível, aterradora para cuja pessoa que a carrega. Como escrever o desespero que se põe em detrimento da vontade, simplificando a quem não nos entende a confusão que, entrelaçada pelos seus caracteres, é apenas um único estado de espírito? Enfatizar cada linha subjetiva costurada sobre pedaços, expondo pormenorizadamente todas elas, não explicaria nada em absoluto, pois apenas pluralmente elas fazem sentido. Não concebo, por exemplo, que sou triste, porque tal caracterização está aquém do estado objetivo e verdadeiro que me determina – isto é, triste, alegre e tantas outras coisas a um só tempo. Da mesma forma posiciono-me para o contrário, pois o que se enfatiza isoladamente prescinde da unidade onde se guarda um universo.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
o dito novamente
O DITO NOVANTE
Todos os homens são livres para dizer.
Será? Pergunta um rosto sem boca em pé em algum lugar.
Todos os homens são escravos de suas palavras.
Todos os homens sonham acordados por novos enunciados.
O lugar;
O agente;
O sintagma.
A tenebrosa dúvida.
As palavras merecem confiança?
Certamente que não;
Certamente que sim.
As palavras curam e ferem.
São belas serpentes penduradas no deserto.
Tem a palavra algum valor em si?
Sem os homens as palavras choram solitárias.
Vestem roupas de gelo.
Derretem-se ante o clarão do sol silencioso.
O espírito da palavra é a alma do homem.
O homem sozinho perdeu sua palavra.
A palavra nos fala do homem irmanado aos outros.
Toda palavra é um diálogo no mundo.
As palavras quebram o silencio do tempo.
O tempo que só passa pela força do dito.
O dito diz do tempo;
Que diz do homem;
Que diz palavras.
Que é dito em palavras:
Escritas;
Faladas;
Gritadas;
Grifadas;
Maiúsculas;
Minúsculas;
Fingidas ou verdadeiras;
Com arrogância ou amor.
O homem é livre para dizer?
Finjamos que sim!
Pois, o dito tem sua hora.
Tem sua boca.
Tem seu dono.
Todos os homens são livres para dizer.
Será? Pergunta um rosto sem boca em pé em algum lugar.
Todos os homens são escravos de suas palavras.
Todos os homens sonham acordados por novos enunciados.
O lugar;
O agente;
O sintagma.
A tenebrosa dúvida.
As palavras merecem confiança?
Certamente que não;
Certamente que sim.
As palavras curam e ferem.
São belas serpentes penduradas no deserto.
Tem a palavra algum valor em si?
Sem os homens as palavras choram solitárias.
Vestem roupas de gelo.
Derretem-se ante o clarão do sol silencioso.
O espírito da palavra é a alma do homem.
O homem sozinho perdeu sua palavra.
A palavra nos fala do homem irmanado aos outros.
Toda palavra é um diálogo no mundo.
As palavras quebram o silencio do tempo.
O tempo que só passa pela força do dito.
O dito diz do tempo;
Que diz do homem;
Que diz palavras.
Que é dito em palavras:
Escritas;
Faladas;
Gritadas;
Grifadas;
Maiúsculas;
Minúsculas;
Fingidas ou verdadeiras;
Com arrogância ou amor.
O homem é livre para dizer?
Finjamos que sim!
Pois, o dito tem sua hora.
Tem sua boca.
Tem seu dono.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
A árvore
Estava eu hoje deixando esquecer meu olhar na luz que traspassava as brechas das sombras daquela árvore. Sim, aquela árvore é o que agora quero que me pertença. Quero que me pertença, pois justamente me dou o direito que qualquer coisa a mim pertença por eu saber que a mim nada pertence.
Se lembro das saudades que soaram dentro de minha alma enquanto eu ficava a dançar sob o silêncio místico de seu olhar? Óbvio que me lembro, assim como tenho para mim que a saudade, o silêncio e o olhar foi meu. Mas por eu saber que nesse exato momento o brilho de meu olhar se encontra naquela árvore, tenho que reconhecer que o canto que eu grito às vezes não sinto ecoar em mim, pois tudo que tenho se esvai pelas minhas mãos.
Não, não é por que eu não queira esse canto! Não! Tudo isso se deve ao fato de eu querer sonhar, alimentar mais sonhos, querer mais sonhos, morrer pelos sonhos e sonhar e sonhar e não consegui me convencer de que o que se encontra envolto dessas mãos imundas e cientes não passam de vultos que circulam essa casa tão grande do além de mim.
É por isso que me lembro dessa dança, pois sinto o quanto ela percorre o meu peito, escorre em minhas mãos, circula em meu sangue e escorre em meu suor. O medo, a expectativa, a ressalva, o querer desnorteado, tudo isso foi surpreendente e marcante em meu peito e nas dolorosas representações que eu sentia me preencher naquele momento, naquela dança. Tudo está guardado em mim, mas nem tudo que eu gosto de guardar eu hesito em jogar fora.
Nesse momento, meu olhar ainda se perde naquela árvore e essa árvore cada vez mais se faz inspiração, alegria, se faz vida diante de tudo que eu tenho delimitado por entre as quatro paredes que aqui me cercam. Vejo-a e ainda fico a fitar as sombras, as brechas, as folhas. Vejo-a e sei que a sinto em mim, mas só a vejo, pois ela se encontra diante de mim apenas com o que eu quero que esteja adiante de mim e nada mais.
A árvore só está ali e eu estou aqui e entre aqui e ali está alguma coisa.
Se lembro das saudades que soaram dentro de minha alma enquanto eu ficava a dançar sob o silêncio místico de seu olhar? Óbvio que me lembro, assim como tenho para mim que a saudade, o silêncio e o olhar foi meu. Mas por eu saber que nesse exato momento o brilho de meu olhar se encontra naquela árvore, tenho que reconhecer que o canto que eu grito às vezes não sinto ecoar em mim, pois tudo que tenho se esvai pelas minhas mãos.
Não, não é por que eu não queira esse canto! Não! Tudo isso se deve ao fato de eu querer sonhar, alimentar mais sonhos, querer mais sonhos, morrer pelos sonhos e sonhar e sonhar e não consegui me convencer de que o que se encontra envolto dessas mãos imundas e cientes não passam de vultos que circulam essa casa tão grande do além de mim.
É por isso que me lembro dessa dança, pois sinto o quanto ela percorre o meu peito, escorre em minhas mãos, circula em meu sangue e escorre em meu suor. O medo, a expectativa, a ressalva, o querer desnorteado, tudo isso foi surpreendente e marcante em meu peito e nas dolorosas representações que eu sentia me preencher naquele momento, naquela dança. Tudo está guardado em mim, mas nem tudo que eu gosto de guardar eu hesito em jogar fora.
Nesse momento, meu olhar ainda se perde naquela árvore e essa árvore cada vez mais se faz inspiração, alegria, se faz vida diante de tudo que eu tenho delimitado por entre as quatro paredes que aqui me cercam. Vejo-a e ainda fico a fitar as sombras, as brechas, as folhas. Vejo-a e sei que a sinto em mim, mas só a vejo, pois ela se encontra diante de mim apenas com o que eu quero que esteja adiante de mim e nada mais.
A árvore só está ali e eu estou aqui e entre aqui e ali está alguma coisa.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
O que esta oculto e sem raizes
Preconceito. Pre-conceito. Conceito antecipado, precipitado sobre um juizo de valor. Mas ser amadurecido quanto ao juizo de valor e dificil, muito dificil se pensarmos em situacoes extremas. Indo para uma concepcao individual, Max Weber denominou o preconceito como um sentimento negativo em ralacao a um grupo que o individuo toma. Em um primeiro momento, esse atitude e superficial, estereotipada, quase que um erro.
Esse erro se torna proeminente quando se poe as lentes democraticas aos olhares revolucionario de que o individuo e livre, fraterno e igual. Importante considerar essa atitude abusiva para combater certas desordens sociais, atraves de politicas publicas. Mas antes de criar qualquer politca, faz-se necessario observar a conjuntura do preconceito na atualidade.
Vejo isso marcante nos quatro cantos do planeta, nas principais sociedades democraticas que nos conhecemos e inclusive por aqui. Claro que nao ha uma discriminacao gritante como houve nos tempos de Hitler, afinal a condicao social, economica e politica e outra. Digamos que mais global, uma condicao poliforme- disforme, onde muitas estruturas estao arraigadas em uma matriz desconhecida, sem nenhuma forma aparente. Se hoje, as emissoras televisivas anunciarem uma Terceira Guerra, ninguem sabera, inclusive os grandes cabecoes da ciencia, quem esta ao lado do Eixo ou dos Aliados, pois a rede de interesses e imensa e desterritorializada. Basta pensarmos numa identidade nacional, gastaremos horas a fio num ciclo interminavel de debates.
Apesar de toda essa dificuldade em localizar a conjuntura do preconceito, ele se materializa de acordo com alguns interesses especificos. Citei em linhas anteriores, que o preconceito se pronuncia nos momentos mais extremos ou criticos no processo historico. Vejamos nos tempos de Guerra, para ser mais especifica, na Segunda Guerra, na ascencao de Hitler. A Alemanha afundava na miserabilidade economica e para conter essa disfuncao, Hitler usou de artificios macabros e infundaveis para justificar a desordem alema. O preconceito, juntamente com o racismo, se tornava visivel.
Atualmente, nas sociedades democraticas, tentamos conte-lo atraves de uma Constituicao falivel. O capitalismo e mais forte, portanto, agregar todos e dar condicoes de equidade se torna bem dificil, ao mesmo tempo que criar estruturas engessadas nao e interessante ao capitalismo neo-moderno. A Uniao Europeia e um bloco fechado para estrangeiros e bastante flexivel para os europeus. Esses podem usufruir de alguns direitos, inatingiveis aos que estao fora da comunidade. Ao mesmo tempo que o estrangeiro se torna lucrativo ao contribuir com o Estado a partir do momento que serve a nacao atraves do trabalho, esse e excluido de algum modo do seu proprio servico. A melhor parte da fatia do bolo, cabe ao cidadao europeu. Principalmente, no momento de recessao economica.
A partir da minha pouca experiencia pratica, defino o preconceito na Europa, mais especificamente na Irlanda, como estrutural. Utilizando do eufemismo barato, o preconceito positivo, ou seja, as pessoas sao amigaveis com estrangeiros, ate porque a Irlanda e um pais inundado de pessoas de diversas nacionalidades. Mas quando se trata de aquisicao de direito assim como qualquer cidadao irlandes, sentimos uma dificuldade imensa em conseguir trabalho, equivalencia do diploma e descontos atribuidos nos impostos pelo governo. Aqui estrangeiro e util para mao-de - obra bruta, mas inutil quanto a cidadania plena. Muitas vezes incabiveis, como posso contribuir com as taxas governamentais se e dificil conseguir emprego? Massas estrangeiras sedentas aumentam para adquirir o minimo de direito o qual e minimizados em sua nacao. Se tomarmos o Brasil como exemplo, aqui se pode viver razoavelmente bem, sem ser roubado, assassinado ou importunado por altos impostos. No entanto, o estrangeiro sempre sera considerado como um `scum`- escoria, que desintegra e fragiliza o sistema nacional. De algum modo, esse estrangeiro contribui para a anomia, o disturbio social, o inchaco urbano, a violencia e o desemprego. E devido a essas dificuldades e estereotipias que novas estereotipos sao criados pelo estrangeiro como resposta a discriminacao. As pessimas experiencias, atitudes negativas sao automatizadas para individuos pertencentes a deterinadas nacoes, seja indiano, africano ou polones.
Por isso, essas condicoes sociais trazem alguns impactos individuais.Exemplificando brevemente, se um brasileiro resolver convidar um irlandes para alguns goles de cerveja, em poucos minutos eles entrarao em consenso que o polones e um estupido e que a brasileira e boa de cama. Trocas de preconceito, negativo e positivo. Quanto a mim, nao tenho como negar, concordo com eles. O preconceito nao tem cabeca, nem olhos, nem bracos e pernas. Quando estamos em situacoes limites ou nao limites que o juizo de valor antecipado nos favorecem, perdemos os nossos sentidos, dito apurados, e as nossas defesas. So nos restam as resistencias para evitar o outro, o estrangeiro.
Esse erro se torna proeminente quando se poe as lentes democraticas aos olhares revolucionario de que o individuo e livre, fraterno e igual. Importante considerar essa atitude abusiva para combater certas desordens sociais, atraves de politicas publicas. Mas antes de criar qualquer politca, faz-se necessario observar a conjuntura do preconceito na atualidade.
Vejo isso marcante nos quatro cantos do planeta, nas principais sociedades democraticas que nos conhecemos e inclusive por aqui. Claro que nao ha uma discriminacao gritante como houve nos tempos de Hitler, afinal a condicao social, economica e politica e outra. Digamos que mais global, uma condicao poliforme- disforme, onde muitas estruturas estao arraigadas em uma matriz desconhecida, sem nenhuma forma aparente. Se hoje, as emissoras televisivas anunciarem uma Terceira Guerra, ninguem sabera, inclusive os grandes cabecoes da ciencia, quem esta ao lado do Eixo ou dos Aliados, pois a rede de interesses e imensa e desterritorializada. Basta pensarmos numa identidade nacional, gastaremos horas a fio num ciclo interminavel de debates.
Apesar de toda essa dificuldade em localizar a conjuntura do preconceito, ele se materializa de acordo com alguns interesses especificos. Citei em linhas anteriores, que o preconceito se pronuncia nos momentos mais extremos ou criticos no processo historico. Vejamos nos tempos de Guerra, para ser mais especifica, na Segunda Guerra, na ascencao de Hitler. A Alemanha afundava na miserabilidade economica e para conter essa disfuncao, Hitler usou de artificios macabros e infundaveis para justificar a desordem alema. O preconceito, juntamente com o racismo, se tornava visivel.
Atualmente, nas sociedades democraticas, tentamos conte-lo atraves de uma Constituicao falivel. O capitalismo e mais forte, portanto, agregar todos e dar condicoes de equidade se torna bem dificil, ao mesmo tempo que criar estruturas engessadas nao e interessante ao capitalismo neo-moderno. A Uniao Europeia e um bloco fechado para estrangeiros e bastante flexivel para os europeus. Esses podem usufruir de alguns direitos, inatingiveis aos que estao fora da comunidade. Ao mesmo tempo que o estrangeiro se torna lucrativo ao contribuir com o Estado a partir do momento que serve a nacao atraves do trabalho, esse e excluido de algum modo do seu proprio servico. A melhor parte da fatia do bolo, cabe ao cidadao europeu. Principalmente, no momento de recessao economica.
A partir da minha pouca experiencia pratica, defino o preconceito na Europa, mais especificamente na Irlanda, como estrutural. Utilizando do eufemismo barato, o preconceito positivo, ou seja, as pessoas sao amigaveis com estrangeiros, ate porque a Irlanda e um pais inundado de pessoas de diversas nacionalidades. Mas quando se trata de aquisicao de direito assim como qualquer cidadao irlandes, sentimos uma dificuldade imensa em conseguir trabalho, equivalencia do diploma e descontos atribuidos nos impostos pelo governo. Aqui estrangeiro e util para mao-de - obra bruta, mas inutil quanto a cidadania plena. Muitas vezes incabiveis, como posso contribuir com as taxas governamentais se e dificil conseguir emprego? Massas estrangeiras sedentas aumentam para adquirir o minimo de direito o qual e minimizados em sua nacao. Se tomarmos o Brasil como exemplo, aqui se pode viver razoavelmente bem, sem ser roubado, assassinado ou importunado por altos impostos. No entanto, o estrangeiro sempre sera considerado como um `scum`- escoria, que desintegra e fragiliza o sistema nacional. De algum modo, esse estrangeiro contribui para a anomia, o disturbio social, o inchaco urbano, a violencia e o desemprego. E devido a essas dificuldades e estereotipias que novas estereotipos sao criados pelo estrangeiro como resposta a discriminacao. As pessimas experiencias, atitudes negativas sao automatizadas para individuos pertencentes a deterinadas nacoes, seja indiano, africano ou polones.
Por isso, essas condicoes sociais trazem alguns impactos individuais.Exemplificando brevemente, se um brasileiro resolver convidar um irlandes para alguns goles de cerveja, em poucos minutos eles entrarao em consenso que o polones e um estupido e que a brasileira e boa de cama. Trocas de preconceito, negativo e positivo. Quanto a mim, nao tenho como negar, concordo com eles. O preconceito nao tem cabeca, nem olhos, nem bracos e pernas. Quando estamos em situacoes limites ou nao limites que o juizo de valor antecipado nos favorecem, perdemos os nossos sentidos, dito apurados, e as nossas defesas. So nos restam as resistencias para evitar o outro, o estrangeiro.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Memória
Nem uma semana e eu, olhos cerrados sobre o esquecimento, evoco o seu rosto. Não me chega à memória sequer os detalhes do seu nariz ou qualquer imperfeição mais chamativa apregoada ao seu corpo. As cenas em que fomos, nós dois, protagonistas, revejo-as, limitado contudo à visão dos movimentos derivados de um busto sem cabeça. E o que é lembrar-se para quem não reativa as chamas do passado escrevendo versos?
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