Gostaria de dizer que este texto é um desabafo. Eu odeio o torto. É isso mesmo. Como vou gostar de algo que em sua própria definição faz questão de ser indefinível? Se me perguntam: o que é o torto, sendo muito sincero, não vou saber responder, pois o ser torto já significa não compartilhar com classificações. É devido a isso que muitas vezes me sinto desconfortável nesse movimento.
Outra coisa que me faz ter vontade de desistir dele é a idéia que ele faz acerca dos grupos. Como eu posso dizer que pertenço a algo sabendo que sequer existem grupos definidos nele? Um movimento tem que ter grupos precisos, pois é através dos grupos que nós criamos laços e definimos um caminho mais claro acerca das propostas de um movimento.
Essa coisa do torto dizer que não quer nada e ao mesmo tempo se apropriar do que nega, é coisa de gente que não quer assumir um posicionamento sobre o mundo, preferindo o jogo das indecisões. Essa ambivalência não passa de posturas infantilizadas que se negam a pagar o preço por suas decisões para ficarem acomodadas no Édipo mal resolvido do colinho da mamãe.
Novamente digo que este texto é um desabafo. Eu amo o torto. Como não vou gostar de algo que em sua indefinição aceita ser definível? Se me perguntam o que é o torto, eu digo que o torto não se define por não compartilhar de classificações precisas, mas aceita essas classificações por admitir que é com elas que ele pode ser caracterizado, e, portanto, definido.
O legal do torto é que ele não nega a existência dos grupos. O que acontece é que para ele, não precisamos necessariamente de grupos fechados para representar um movimento. Existe grupo no torto, mas seus autores vão sempre criando novos grupos, afinal, o movimento preza pelas individualidades que, pela natureza livre delas, alteram-se e formam sempre novos grupos.
De fato, eu vejo que o torto tem essa mania de afirmar o que nega e de negar o que afirma, mas quem disse que isso significa não ter posicionamentos sobre o mundo? Não levantar bandeiras não significa estar ausente de opiniões. Antes de pensá-lo como incapaz de assumir seu lugar, devemos lembrar que o torto, por não negar a sua condição de humano, aceita suas ambigüidades.
Sinto um grande amor pelo torto ao entender que ele quer mostrar que o fato de não se definir com exatidão, não significa dizer que ele não possua características que não possam defini-lo. Sinto ódio pelo torto justamente quando busco uma referência mais precisa para suprir a minha angustia pelo indecifrável e me deparo com seus argumentos imprevisíveis e fluidos.
Sinto uma repulsa pelo torto quando eu não consigo visualizar uma possibilidade de encontrar um perfil de grupo nele caracterizado pela permanente ligação entre seus membros. Porém, eu me mantenho no movimento, pois vejo nele a prática de exercitar nosso desejo, além do respeito à individualidade e, portanto, à flexibilidade e a pluralidade de seus grupos.
Irrito-me com o torto por eu achar que sua ambigüidade realmente possa ser reflexo de uma condição em não querer assumir uma postura mais decidida. Apaixono-me pelo torto, pois ele, ao aceitar a condição de se contradizer, termina por refletir uma posição madura acerca de si, além de evitar insistir em um falso moralismo se expondo aos outros como um ser infalível.
Valorizo o torto jogando os piores restos nele, assim como eu desvalorizo o torto admirando-o como um bem precioso. Nego o torto por querer o limite, aceito-o por querer a liberdade. No torto, sinto-me externamente dentro dele. Amo com vontade de odiá-lo e odeio com vontade amá-lo. Sinto uma enorme atração e uma repulsa por ele. Essa é a minha coerência torta.
Caro Vina, este texto foi imprevisivelmente previsível, hahaha! Mas entendo o simbolismo desta confusão de sentimentos induzida. Esta defesa, em que você retoma lugares comuns das críticas feitas ao Torto, foi espetacular.
ResponderExcluirAbração!
eu axo a ufs um lugar ruim , mas o esquisito e que neste lugar vejo pessoas antigas de outros lugares o que me leva a ter boas relaçoes sociais neste lugar . alem do convivio social academico para conseguir com esforço 1 diploma
ResponderExcluiralan
Brilhante definição! Utilizou classificações bastante precisas acerca do tema proposto. =P
ResponderExcluirtorto = ego de vina torto?
ResponderExcluirAnônimo
ResponderExcluirApesar de Vina ter Torto como complemento, posso lhe assegurar que torto é a forma como cada um avalia ou não-avalia o torto. Porém, posso te dizer que EU tenho um grande interesse em ficar repensando e me conflitanto com o conceito que eu venho criando acerca do que eu estabeleço para MIM do que seja torto. O grande problema é que insistimos na ideia de que de coletividade na perspectiva de ter que haver alguem que possua uma opinião que centralize e dê padrões a algo, mas aqui não é assim não. Inclusive quem achou que era e ja se meteu a autor aqui no torto, caiu fora. Num guentou.
abraços