quinta-feira, 12 de julho de 2012
O SUJEITO DIALÓGICO NASCE DA LEITURA DE MUNDO
Meu caro Mestre,
A Sociologia sempre andou apegada a pedagogia por isso nem podemos dizer da contribuição dada por essa união. Nosso velho Durkheime disse em uma de suas obras que a educação mudou muito. O pensador acreditava que a educação mudava com os homens. E que mesmo tendo o homem a ideia de educação perfeita, a ideia aplicada seria aquela que servisse ao ideal de homem produzido e crido por uma dada sociedade. Assim, falar de educação sem antes falarmos sobre o homem e quem ele é, é um erro sem perdão.
“Elas partem do postulado de que há uma educação ideal, perfeita, apropriada a todos os homens, indistintamente; é essa educação universal a única que o teorista se esforça por definir. Mas, se antes de o fazer, ele considerasse a história, não encontraria nada em que apoiasse tal hipótese. A educação tem variado infinitamente, com o tempo e o meio”.1 (Durkheime)
No curso de Pedagogia ouvi muitas coisas sobre o Pedagogo Francês. Fazemos leituras diferentes de uma mesma teoria. Isso é muito comum. Pois, vejo nas palavras dele o que muitas vezes conversamos nos bastidores. Ora, se não é o meio que determina a educação! Afinal, o que é o meio? Se considerarmos o indivíduo apenas um organismo e separar de seu encéfalo a mente dicotomizando-o, então, o meio muito será parecido com o espaço físico e todas as impressões físicas advindas dele. Mas, se tomarmos o homem em sua dinâmica de ser então consideraremos o animal um ser-sujeito, assim, seu meio será o somatório de todos os estímulos a que ele foi e é submetido. Desta forma, pensar a educação se torna algo muito interessante.
Fazer do ser-sujeito um mero animal que aprende por estímulos do mundo físico é muito pouco para o homem sapiens. Esse animal conseguiu a façanha de ser um sujeito individuado. Ele consegue ser e se ver fora do contexto do todo, e depois se torna parte dele e interage com ele com todas as suas capacidades herdadas e adquiridas.
Por essa causa a educação ideal existirá na mente dos homens, pois, ele nunca deixará de ser um ser-sujeito. Enquanto sujeito o homem se transmuta em muitas formas o que faz com que ele sempre apresente uma nova educação na esperança de ser a Educação. Estou humildemente dizendo que a educação muda com os homens assim como o meio muda as formas que estão ao nosso redor. A educação é um discurso eternamente contraditório e complementar, pois, ele dialoga com o homem - uma mutação natural e eterna.
É sábio de nossa parte dizer que não existe teoria da educação perfeita e permanente. As teorias surgem ao sabor da necessidade de se dizer do homem, e da proposta que temos de homem naquele dado momento no mundo das formas. É como se, fazer a educação fosse estarmos constantemente lendo o mundo e aprendendo com ele:
“Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “palavramundo2””. (Freire)
Freire não descarta a fé no sujeito aprendente que passa de uma visão micro de mundo para uma visão macro. O micro e o macro mundo. Educar para Freire exigia essa ruptura constante, uma vez que, espera-se do sujeito essas rupturas com o seu real. O sujeito tende naturalmente à consciência assim como na sua natureza estar a tendência à alienação.
Durkheime nos diz que não devemos nos iludir com o ideal de uma educação perfeita, pois, na sociedade existem as especificações, as instrumentalidades, as profissões. É muito óbvio que a educação de formação profissional exista e é sobre tudo necessária. Assim em uma ideia de educação podem existir várias outras educações presentes; o que dever ser sempre o motor de qualquer modelo é a ideia de homem critico e capaz de ler o seu mundo – um crítico leitor do mundo – um sábio.
Freire se via como um vermizinho se rastejando no seu micro mundo. Esse pequeno animal rastejou juntamente com as suas impressões sensoriais até conseguir fazer uma leitura de seu micro campo humano e natural: Papai, mamãe, a árvore, os pássaros, eu; até que ele conheceu a palavra oral e depois a palavra escrita. Ora, Freire me fala do homem que diz - do homem dialógico. O que é a leitura senão um diálogo silencioso que fazemos com palavra escrita ou com as linguagens que nos cercam?
Assim meu caro Mestre, se a educação é mutante como o homem, o pensar a educação não pode ser unilateral, ou estático, cristalizado num modelo só. Educar é propor alternativas, é apresentar duvidas, é cooperar no debate sobre o mundo é estar entre leituras e andar no meio delas e encontrar inevitavelmente a sua.
Citações:
1. Durkheime, Emille. Sociologia e educação. Página 27
2. Freire, Paulo. A importância do ato de ler. Página 9
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