quinta-feira, 5 de julho de 2012

HOMO LOQUENS E EDUCAÇÃO - Um breve ensaio.

HOMO LOQUENS E A EDUCAÇÃO, Um breve ensaio. No momento não me sinto muito a vontade em dizer sobre educação sem antes pensar um pouco no sujeito. Pois quando falamos em educação estamos nos referindo a educação de sujeitos e não de animais desprovidos desse tipo de epifania. A epifania do sujeito nos permite observar sua realidade objetiva na natureza. Desde os dias idos da filosofia grega que se entende que o ser se manifesta na matéria e nela deixa suas impressões. Devo dizer que a potência que move o sujeito é a vontade. Sem a vontade nenhuma pedra sairia de seu estado de inércia. Assim entendo que a vontade é a potência prima, a primeira forma de epifania do sujeito no mundo. Não é justo de minha parte se queixar inteiramente de minha vida, pois, esta tem muitas marcas de minha vontade. Ora, se a vontade é a força primeira que me arrasta no mundo, então, meu mundo, em grande parte é constituído pela epifania de minha vontade no mundo. O telos e o acidente convivem no mesmo sujeito e nele se expressam naturalmente. O segundo se constitui de falsos julgamentos que o sujeito faz de si e do mundo. Os olhos do sujeito julgam o mundo. Eles são os juízes da cidade. Nem sempre a razão a priori está em paz com a realidade objetiva. O mesmo podemos dizer da razão a posteriori, mesmo sendo sabedores que ela é responsável pela constituição do sujeito crítico e construtor de novos sonhos. Ora, se o sujeito tem a tendência de criar mitos, ele é um contador de histórias inveterado. Assim, se meus julgamentos são errados, minha vontade caminha em terra estrangeira e não o percebe. Sofro, inevitavelmente, os retornos de meus juízos – São meus acidentes. O telos nasce em minhas entranhas bem antes que haja em mim a consciência do sujeito que sou. A vontade principia no estado instintual do ser. Essa é uma vontade natural que não deveria se arrepender de existir. Depois que o ser caminha na terra, a sua vontade passa a ter um componente sociocultural determinante de sua existência – Essa é a vontade possível. Aqui o ser se epifaniza e se esconde do olhar dos outros. É sabido que houve um tempo em que o ser foi considerado um ente acabado, pronto a decidir por sua eternidade. Hoje, não é justo dizer assim. O sujeito volitivo existe enquanto experimento da natureza. O sujeito é alguma coisa em si mesmo e nada pode ser fora daquilo que é. Ele é uma eterna experiência de ser. A história contada pelos homens que viveram antes de nós nos ensina que existimos como experimentos da natureza. Aquele que é sujeito se veja como uma experiência, e aprenda no mundo. Alguém disse então, que a história, a ciência, a arte e a filosofia são epifanias do sujeito. Nenhuma delas existiria sem a vontade que move o sujeito. Todo sujeito é constituído, sobre tudo, de vontade. E esta só cessa seu trabalho no óbito do sujeito. A maior e mais digna vontade é a vontade de viver. No entanto, a vontade nascida de um juízo fosco sobre si e sobre o mundo produz a vontade de não viver. O suicídio é a vontade de autodestruição do sujeito. Ele pensou que podia implodir, que poderia, simplesmente, desaparecer do mundo das formas e ser alguma coisa viva em algum lugar. O ser sonha – O devaneio é marca explicativa do ser e atividade encefálica. No início do século XX, os homens de entendimento disseram que o sujeito é constituído pela interação cotidiana com o meio, e que essa interação era mediada pela linguagem. O termo linguagens seria muito mais valioso para nós, pois, o encéfalo percebe o mundo mesmo que o sujeito não traduza o estímulo em linguagens vernáculas. Não podemos negar que muitas são as coisas que nos deparamos no dia a dia e que não temos nomes para todas elas. Desta forma, se somos seres-sujeito no mundo, e que o mundo nos modela cotidianamente, e que essas coisas nem sempre são conhecidas por nós, então, o sujeito é, em certo sentido, um estrangeiro dentro de si. O velho oráculo délfico aparece novamente: “Homem conheça a ti mesmo”. A presença objetiva do sujeito no mundo está em função direta à expressão de sua vontade ou de suas vontades. A vontade, por sua vez, depende dos julgamentos que o sujeito faz no mundo. Somente os instintos – Formas viscerais de vontade, não precisam de julgamento para aparecer. Desta forma, a vontade se constitui um motor do sujeito, mas, ela não existe por si própria. A vontade do sujeito é constituída por duas naturezas, a primeira nos remete ao animal e suas funções orgânicas, a segunda a sua história socioeconômica e cultural. Sendo assim, a volição humana é tão animal quanto seu corpo e tão social quanto suas linguagens e representações do mundo. O outro é quem diz do sujeito. É a vontade do outro que me diz de mim mesmo e da diferença que existe entre nós. Pois somente no outro consigo ver nitidamente o que sou enquanto sujeito. “Isso eu não faço!” “Ah, comigo seria diferente!” O olhar do outro empurra meus olhos para mim mesmo. E, inevitavelmente, passo pela humilhação de ser por causa do outro que é um tão ser-sujeito, tão sujeito como eu. Assim, o lugar da vontade, seu lócus maior, caso alguém pergunte, é o lócus dialógico. O homem está, enquanto sujeito, em diálogo com o outro, assim em diálogo com o mundo. Pensar a educação sem considerar o sujeito-educando e sua condição de diálogo com o mundo é um equívoco sem precedentes. Pois, o ser-diálogo é, também, e não poderia deixar de ser, um ser político. Fazemos políticas o tempo inteiro, uma vez que o diálogo carrega nossa vontade até o outro. A vontade imperiosa, que rege sobre o outro e cria possibilidades e restrições é política. Ela nos fala do domínio do homem sobre o homem. A sociedade poderia ser descrita como a vontade da maioria sobre a vontade da unidade. O indivíduo que ousar fazer algo contra a vontade coletiva será fatalmente esmagado pelo todo. Pensando assim, não podemos fazer educação sem considerar que o real e seus discursos são expressões de vontades humanas que ora tendem ao domínio e a hegemonia, e ora falam de rupturas e mudanças na estrutura matriz das coisas postas no mundo. Pensar educação sem ensinar o sujeito que a melhor via é o diálogo, a negociação, pois, a natureza íntima da linguagem sinaliza o jogo, a escolha, a melhor expressão, é se prender às formas e não à luz inaudita do conhecimento que liberta. Pensar educação sem considerar a formação semiótica do sujeito social e que seu psiquismo é constituído por discursos hibridizados cheios de verdades e mentiras, de mitos e ciências, e de objetividades e quimeras, é voltar à era do silêncio quando os homens enterraram Deus com seus dogmas escabrosos. Ressuscitemos Deus, e com Ele o sujeito que fala; que diz de si, e de seu mundo, que pode dizer além dos ditos que estão na ordem do dia. Alguém um dia disse: “Deixe seu filho longe da escola o máximo de tempo possível, pois, a escola deforma”. Eu, no entanto, digo: Não há nada dentro da escola que não haja na sociedade. Não há lugar para se colocar a criança. Exceto, no seu lócus dialógico – Seu habitat natural. Põe teu rebento para dialogar com o mundo e dele terás um sábio! Assim como o ser infantil não pediu licença para aprender a falar, o ser adulto não deveria pedir licença para se tornar um sábio, aprender a pensar. Sim meu caro Mestre em Sociologia, este humilde cavalo dos Orixás preferiu mostrar por meio desse breve ensaio que assim como o ser nasce de uma relação dialógica com o mundo, o sujeito epistêmico, também, brota pela via dialógica. Se quiseres pensar o ensinar, o educar, comecemos pela estrutura dialógica do sujeito, pela antropologia da alma humana – O homo loquem.

3 comentários:

  1. Roosevelt,

    Muito interessante a sua observação acerca das relações políticas que estabelecemos com os outros através da nossa vontade, assim como a pertinente colocação sobre o nosso eu vinculado ao nosso-eu-nos-outros. Concordo plenamente que a relação indivíduo/meio é estabelecida constantemente através da linguagem, mas preciso provocar alguns pontos.

    Senti falta em seu texto sobre uma possível proposta para que esse diálogo seja posto em prática na sala de aula. Seria interessante a sua pessoa lançar algumas luzes, algumas idéias que poderíamos ver como possíveis no plano concreto.

    Outra coisa: como um ambiente escolar pode realizar tal intento? Se olharmos a realidade em sua abrangência mais complexa, veremos que estamos em meio a um contexto ainda marcado por fortes dosagens de autoritarismo. Vale lembrar que esse autoritarismo se reflete inclusive dentro da instituição escolar. Os professores não se dialogam, os conteúdos terminam sendo recortados em fragmentos soltos e esquizóides.

    Pergunto: quais estratégias seriam possíveis para o rompimento com essa unilateralidade e quais atividades postas em salas de aula seriam capazes de provocar um resultado que venha a mostrar de forma clara ao aluno a importância desse diálogo tão bem exposto por sua pessoa?

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  2. "Os professores não se dialogam, os conteúdos terminam sendo recortados em fragmentos soltos e esquizóides".

    O meu apelo no ensaio em apreço foi para conhecermos a natureza dialógica do educando. É um contra-senso educarmos quem não conhecemos. Sua colocação na citação acima foi muito pertinente, pois, reflete a veracidade daquilo que tentei humildemente colocar no ensaio: Ora, se o homem é diálogo, então, por que fragmentar tanto os discursos (conteúdo)? O termo esquizóide foi muito bem colocado, pois, nossa prática tem muito a ver com os delírios esquizofrenicos - não existe um nexo causal entre os conteúdos.

    O aluno, cetamente se pergunta: "Para que estudar isso, se nada disso diz de mim?

    O aluno continua seu questionamento, e pasme, pois tenho aluno de quarta série que já me fez essa pergunta. Então, o aluno, ilhada, alienado no processo pergunta: Se me é obrigado estudar tanta coisa, então, em que devo usar tudo isso e por que os professores não criam condições de ensino em que o aluno é objeto maior?

    O aluno percebe nitidamente que seus mestres estão em competição e que eles não são o objeto maior do processo.

    Para responder a sua pergunta que nos remete a pragmática devo usar o nosso Mestre Freire.

    O educador consciente das deficiencias da instituiçâo escolar e de sua natureza reprodutiza de valoes e conhecimentos deve usar o método dialogico de ensino.

    Deve partir como sugeriu Freire da realidade do aluno.

    a) Pesquisar o locus de seu alunado com o objetivo de fazer um diagnostico;
    b) não apresentar conceitos prontos em sua pratica. permitir que o aluno crie conceitos que devem depois serem analisados pelo grupo;
    c) Coletar temas que depois serão objetos de estudos pelo grupo;
    d) levantar o lexico do aluno e partindo de suas palavras mundo dá continuidade aos estudos;
    e) Criar a biblioteca do povo onde estarão as produções, pesquisas, e memória dos alunos;
    f) Apresentar aos alunos a maior quantidade possível de discursos e generos de discursos que deverão ser analisados pelo grupo de estudo;
    g) Abolir de vez o conceito de sala de aula e de aula implantando o conceito de grupo de estudos e pesquisa.
    h) Uma vez feito isso deixar-se ser avaliado pelos alunos e insistir na avaliação continuada dos educandos;
    i) Abrir mão de sua dimensão professor e encarnar o ser instigador de discussões;
    j) dialogar com o corpo docente na inteção de fazer ações conjuntas - trabalhar com projetos;

    Como o colega deve ter visto, existem coisas que saem de nosso poder. A última sugestão depende do forum íntimo dos educadores.

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    1. Roosevelt

      Veja bem: as propostas elencadas por sua pessoa foram bastante pertinentes, mas eu não consegui visualizar a possibilidade do diálogo entre as várias áreas de conhecimento. O que pude constar, e que foi muito bem colocado, foi o reflexo do conhecimento cotidiano do aluno com o conteúdo exposto em sala de aula. Contudo para mim, esses pontos não dão conta de como resolver a questão da interdisciplinaridade entre os alunos.

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