terça-feira, 10 de julho de 2012

Arte de vanguarda na educação: obstáculos e alternativas

Como professor, sinto que os alunos possuem uma relação bastante acomodada com a arte massiva. Infelizmente o que eu posso verificar é que a cultura de massa se encontra diretamente associada ao mero entretenimento, ou seja, a uma evasão, uma fuga, ao invés de uma ferramenta capaz de proporcionar uma maior emancipação do sujeito com o mundo.

No entanto, eu insisto em acreditar que, mesmo o consumidor se usufruindo de forma passiva, ele possui subjetividades. Não há como anularmos a capacidade que cada sujeito tem de criar. Mas daí me surge a indagação: como possibilitar isso? Acredito que a aplicação da arte de vanguarda tem muito a contribuir para uma leitura mais crítica do discente acerca do produto massivo.

Antes de dar início à discussão, eu faço a seguinte questão: qual o papel da instituição educacional? Ora, gerar uma educação emancipatória que faça com que o discente tenha autonomia em desvendar o mundo de forma crítica. Contudo, essa crítica só surge no instante em que o aluno se depara com as contradições. Sem elas, o discente não é capaz de questionar a realidade a sua volta.

Por isso que acho importante se pensar a aplicação da arte de vanguarda na educação, uma vez que essa estética tem o objetivo de provocar no sujeito um contato com novas formas discursivas que fogem dos modelos convencionais, revelando a esse sujeito que o discurso oficial não está livre em ser questionado, e que dentro do aparente caos, existe a possibilidade da produção de novos sentidos.

Porém, antes de articular a arte de vanguarda na educação, tentarei responder a seguinte questão: como os indivíduos têm se apropriado da arte? Vivemos em meio a um contexto que tem como característica a otimização do tempo, a reprodutividade. Por se interessar pelo lucro, submete o sujeito a uma produtividade exagerada fazendo com que ele perca a dimensão de sua vivência com o mundo.

Isso termina por comprometer a forma como o sujeito se apropria da arte. Em um contexto marcado pela produtividade, a fruição com a arte, antes de se manifestar enquanto estranhamento e compreensão do sujeito com o mundo, passa a ser apenas um intervalo para que ele dê continuidade à sua labuta, fazendo da arte um mero entretenimento, isto é, um lazer alienado.

Eu noto que os alunos estabelecem com a cultura massiva esse lazer alienado e reduzido ao entretenimento por serem reflexos de um contexto produtivista, rotineiro, mecanizado e previsível. Infelizmente a maioria dos alunos revela uma acomodação por esperar apenas o mais do mesmo. É nítida a falta de curiosidade deles no que diz respeito à busca por novas linguagens estéticas.

É devido a isso que eu acredito que a arte de vanguarda receberá inúmeras resistências por parte do alunado. Como sua proposta é provocar novas construções discursivas, o discente, por se ver viciado no rotineiro discurso massivo, repudiará a linguagem da vanguarda, mas como eu atentei no inicio do texto, o uso dela é muito interessante para uma nova forma de olhar a cultura de massa.

Gostaria de mostrar o porquê a arte de vanguarda se torna interessante enquanto prática no cotidiano escolar. Vejamos: a arte de vanguarda com o intuito de questionar os modelos discursivos ditos tradicionais, estimula o receptor a potencializar sua subjetividade através de novas combinações sígnicas. Para isso, a arte de vanguarda expõe a esse receptor uma estrutura semântica diferente.

Ou seja, a arte de vanguarda objetiva estimular a criatividade do leitor da arte fazendo com que ele mesmo assuma uma posição atuante, construindo sua própria interpretação. A necessidade de fazer o leitor produzir seu próprio sentido decorre da necessidade que a arte de vanguarda tem de fazer o sujeito explorar ao máximo possível a sua subjetividade.

Percebemos com isso que a arte de vanguarda, diferente da arte massiva, não tem como interesse a redundância discursiva, muito menos a utilização recorrente de signos já desgastados. Essa estética não se interessa em fazer da arte uma mera repetição das formas. Ao contrário. O que ela se propõe é provocar rupturas e gerar uma abundância de significações construídas pelo leitor.

Portanto, para que a arte de vanguarda possa estabelecer um diálogo com a arte massiva na educação, primeiramente se faz necessário que o educador traga o discurso massivo geralmente consumido pelo discente, provoque debates sobre esse discurso, faça com que o aluno reconheça a sua capacidade de produzir sentidos a essa arte ao invés de se limitar ao mero entretenimento.

Fazendo o aluno reconhecer a sua capacidade subjetiva, o educador deve mostrar ao alunado que o discurso, diferente do que se revela na arte massiva, não se encontra cristalizado, e que ele inevitavelmente é alterado devido a subjetividade do receptor. Ou seja, um discurso pode ser construído sob diversas formas, não se limitando a repetitividade como se expressa o discurso da arte massiva.

Acredito que seja importante que na sala de aula o educador recorte as palavras do discurso massivo apresentado ao aluno e pegue aleatoriamente algumas palavras que foram recortadas e proponha uma nova produção textual. O aluno perceberá que até mesmo o discurso considerado por ele como "certo" e "normal" pode ser desmembrado e que ele pode passar por um novo processo de construção.

A arte de vanguarda ao dialogar com a arte massiva, pode mostrar ao aluno que os discursos podem ser reformulados através de suas subjetividades gerando novos sentidos. Isso é válido para que o aluno, tanto possa perceber o quanto o discurso não se limita ao óbvio como se expressa o discurso na arte massiva, como abre espaços para que o discente questione acerca dos prós e contras contidos no discurso massivo.

Além disso, a grande valia do uso da arte de vanguarda na educação está no fato dela permitir com que o aluno se reconheça como parte de uma subjetividade e capacitado em construir seus próprios sentidos, para que com isso ele tente romper com a ideia da arte vinculada a modismos, deixando de se guiar pelo consenso e pela necessidade de consumir o que a maioria consome.

Conclui-se, portanto, que a proposta da arte de vanguarda, mesmo tendo características que vão de encontro a mesmice da arte massiva, pode muito bem se adentrar em uma realidade do discurso da cultura de massa. Para isso, cabe colocarmos a arte de vanguarda em uma função pedagógica emancipatória, sem que passemos a reduzi-la a uma mera alegoria esvaziada de sentidos.

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