Por esses dias eu assisti a um filme francês de 2008 dirigido por Laurent Cantet chamado “Entre os muros da escola”. Nesse filme, o que pude notar é que muitas questões penosas pelas quais passam os professores no sistema educacional brasileiro não se diferem muito da realidade da educação francesa. O filme vai abordar acerca de um professor que tenta estimular seus alunos em sala de aula, mas sofre com vários problemas dentro do ambiente escolar como a falta de interesses desses discentes em querer aprender.
Neste texto vou tentar abrir algumas questões. Uma dessas questões diz respeito à precariedade da estrutura física da escola. O elitismo nos conteúdos expostos em sala de aula pelos professores é outra discussão que pretendo instigar nessa análise que vou fazer acerca das idéias que tive ao assistir ao filme. Outra questão se refere à baixa estima dos alunos. Gostaria de também chamar atenção acerca da intolerância das regras institucionais encontrada nos ambientes escolares.
Além de tentar mostrar o quanto a realidade na educação francesa se assemelha em muitos aspectos à realidade brasileira, minha intenção está em mostrar o quanto à imposição de conteúdos muitas vezes não surte efeitos no estímulo do aluno, assim como a intolerância das regras encontradas nos ambientes escolares ao invés de promoverem uma relação de entendimento e respeito entre os alunos e os professores, só tende a gerar mais colisões entre eles.
Ouço de muitos educadores, inclusive eu mesmo já repeti algumas vezes esse discurso, que a educação na Europa, principalmente na França, pode ser considerada como modelo para todo o mundo. Temos a mania de achar que países como a França possuem um nível de intelectualidade muito acima do nosso. Na verdade, muitas vezes confundimos países desenvolvidos com países ideais. Porém, temos que convir que não necessariamente o fator econômico esteja diretamente proporcional ao aperfeiçoamento intelectual e crítico de uma sociedade.
Ao assistir ao filme, o que pude notar é que inclusive a estrutura física da escola francesa possuía um aspecto tão decadente quanto à estrutura física dos sistemas educacionais brasileiros. Na verdade, eu até achei que no caso do Brasil, com sua mania de construir ginásios de esporte nas escolas, faz com que ao menos os alunos possam encontrar dentro desses ginásios uma possibilidade de encontrar um espaço de convívio entre eles. O que o filme mostra é uma escola sem estrutura capaz de sequer dar um espaço para os alunos transitarem, jogarem futebol, etc.
O filme vai mostrar também o distanciamento dos alunos com relação aos conteúdos expostos pelos professores. Apesar do professor de Francês se demonstrar bastante interessado em ouvir seus alunos, o que podemos notar é que os discentes se encontravam sem qualquer motivação que viesse a gerar um maior estímulo das suas práticas em relação ao conteúdo dado em sala de aula. Os alunos classificavam os livros discutidos pelos docentes como livros sem qualquer utilidade na vida deles.
Falamos bastante sobre a realidade precária dos alunos brasileiros, o que não deixa de ser pertinente tal crítica, no entanto, ao assistir ao filme, notei claramente que os alunos inseridos naquela escola eram assim como os alunos brasileiros, bastante carentes de capital escolar e cultural. Assim como os nossos discentes, aqueles meninos e meninas traziam uma falta de perspectiva assustadora em relação aos seus futuros. Ao final do filme, depois do professor perguntar o que os alunos haviam aprendido ao longo do ano, aparece uma aluna que chama atenção de que não foi perguntado a ela o que ela havia aprendido. Ela mesma responde que não aprendeu nada, como também não tinha interesse algum em fazer um curso profissionalizante.
Uma coisa que também me chamou bastante atenção no filme foi a forma como as regras institucionais eram passadas e interpretadas pelos alunos. Apesar da escola exposta pelo filme possibilitar aos alunos o direito de possuir seus representantes de classe durante as reuniões dos professores, podemos notar o quanto a leitura que esses alunos faziam dos chamados Conselhos Escolares era tão intolerante quanto à postura dos professores em relação a eles.
O que havia era uma necessidade de oposições recheadas de mágoas, de vingança, de ódio dos alunos em relação a essas regras. Ou seja, se o sistema criado por vocês me pune, eu também quero e tenho o direito de puni-los a todo custo. Não conseguimos enxergar uma relação dialógica como nos traz muito bem nosso querido torto Roosevelt Vieira em seus textos sobre educação. Ao contrário. O que podemos verificar é que as regras comportamentais, ao invés de trazerem uma maior horizontalidade na relação aluno-professor, trazem um jogo de crises e de disputas entre eles.
Enfim: o que pude constatar é novamente a velha relação verticalizada que encontramos nos ambientes escolares. É a velha postura elitista preparada apenas para atender aos interesses dos grupos dominantes representados pelos professores e pelos setores administrativos inseridos nos mecanismos da escola. Em outras palavras, ou o aluno se cala ou ele é punido, ou o aluno aceita ou ele é punido. Não tem saída.
Enquanto houver essa maldita verticalização, essa imposição de conteúdos alheios aos interesses reais dos alunos, o resultado será sempre o desestímulo, a baixa estima entre eles. Se nós queremos de fato construir um aluno crítico, capaz de se emancipar por conta própria, devemos também rever as regras impostas nos ambientes escolares. Por falar em ambiente, devemos também lembrar que um aprendizado não se faz presente apenas nas salas de aula. Portanto, cabe a escola possibilitar aos alunos um espaço físico mais agradável e propício para as relações desses alunos com os outros colegas.
(TEXTO PUBLICADO NO DIA 13 DE OUTUBRO DE 2011 NO SITE: www.pensandoaeducacao10.blogspot.com )
O texto de nosso amigo Vina torto chegou em um momento bem oportuno. estamos discutindo o dialogismo em Educação. O dialogismo é uma proposta de promover nas relações pertinentes ao processo ensino aprendizagem uma interação maior entre as partes com o intuito de diminuir este "gap" entre elas. Sem o dialogo nos perdemos no processo e nos tornamos alienados e alienadores em vez de educadores. A escola ideal, como bem colocou o colega existe no plano imaginário. Podemos ter escolas em melhores condições, no entanto, o ideal só existiria se houvesse de fato uma profunda discursão sobre o que é educação no âmbito de um mundo multicultural e globalizado onde as referências se misturam e se separam numa volaticidade inimaginável. Educar agora, exige um dialogo cuidadoso com outros saberes para que possamos nos aproximar mais do que seria o homem contemporâneo. Quando a aparte institucional, parece que as elites se assemelham do lado de cá e do lado de lá do Atlântico.
ResponderExcluirRoosevelt,
ResponderExcluirMuito bem observada a sua colocação acerca do saber partindo de várias leituras sobre o mundo. Acredito que insistir no discurso de acreditar que a educação deve se encontrar diretamente vinculada as experiencias sócio-culturais do aluno, apesar de pertinente, ainda é muito pouco, pois qual seria a realidade desse aluno? Qual a delimitação viável q eu poderia estabelecer entre as fronteiras vividas pelos alunos para que com isso eu passe a entender a sua realidade? Mais o aluno não é produto e produtor de uma teia muito mais complexa que faz com que uma imensa miscelanea de valores oriundos de todas as partes do planeta que terminam por afetar seus valores? Qual é a realidade que vive o aluno? Qual o saber que devo aplicar? São peguntas e perguntas
realmente Vina, compreender a realidade socio- cultural do aluno e pouco, porem na situacao atual da infraestrutura na educacao brasileira eu penso que este seria o caminho mais pertinente, claro ao menos que de uma hora para outra nao estoure a revolucao, o fato e, ganhamos pouco, nao infraestrutura adequada, existe capitais que ate pouco tempo nao disponibilizavam nem meia passagem a classe estudantil, em funcao dos conchavos ordinarios entre os parasitas empresariais do transporte publico com as prefeituras... Cara eu penso ser realmente sensato, tentar me inteirar da realidade socio-cultural da comunidade a qual estou imbuido a trocar saberes, pois quem sabe com alguma sorte daqui a 10, 15, 20 anos isso nao vira fazer alguma diferenca, quica a revolucao, assim como existem muitas perguntas existem alguns caminhos que podem ocupar a frustante revolta cotidiana da vida do docente... jah faz algum tempo que assisti esse filme, mas realmente ele da a pensar, contudo esse interesse do conhecimento socio-cultural de onde o outro esta inserido e reciproco, pois existe o interesse tanto do professor de querer saber quais os saberes que formam as subjetividades ali inseridas e o que na franca me parece um tanto mais complexo do que no brasil, pois retrata a realidade de uma nacao que outrora teve a pretensao de imperio e como todos os pretensos imperios modernos tendem agora depois de ter "enriquecido" a custa dos outros tem que lidar com aglomerados extrangeiros em seus territorios, o que aparentemente torna a multicuturalidade mais ampla, na mesma sala tem um oriental cdf, a argelina locona, bom e dessas duas personagens que me lembro de forma mais aguda agora e, em relacao a estas duas personagens existe toda uma tentativa de compreensao socio-cultural, assim como da parte dos alunos existe a curiosidade de investigar acerca da sexualidade do professor....
ResponderExcluire por ai vai... existem perguntas, existem caminhos e, ao meu ver nao ha mais como ter retrocesso pois as ferramentas digitais sao amplamente subversivas...
Meu caro torto,
ResponderExcluirAcredito muito bem que o dialogo é a melhor via mesmo sabendo que o conhecimento ddas realidades dos alunos possuem influências com a macro estrutura. Contudo, nosso grande Freire prevendo esse desencanto em conhecer o que não se pode abarcar viu que o realidade subjacente ao meu quintal traz marcas irrefutáveis do quintal do vizinho.
Meu caro anônimo já postei um comentário no outro texto sobre aquela pergunta passe lá.
ResponderExcluirAnônimo
ResponderExcluirVeja bem: eu tambem compactuo com você. Acredito que a possibilidade do dialogo ainda é o meio mais pertinente para aplicarmos diante de toda uma conjuntura educacional falida no Brasil.
Entretanto, e eu não estou me referindo ao seu comentário, eu também acho que a gente nao pode se limitar em acreditar que apenas o diálogo dê conta do estimulo que o aluno venha a ter acerca do conhecimento que está sendo aplicado.
Temos que também compreender que o habito na leitura e na escrita é algo que muitas vezes não se resolve apenas com a questão do diálogo. Não. Podemos trazer a realidade sócio-cultural que for para a sala de aula, no entanto, é muito dificil provocaros nos alunos a curiosidade em destrinchar um livro por conta própria, pois os valores que em gral foram inseminados não condizem com a prática da leitura e nós somos educados a acomodação da pedagogia midiática que nos transfere conhecimento de forma muitas vezes rasa e prática. Somos a cultura da oralidade. Escrever e ler é algo que não compete com o habitos construido em nossa cultura.
Portanto, eu pergunto: como fazermos, a partir da realidade sócio-cultural que trazemos do aluno, fazer com que eles alunos passem a gostar de ler e de escrever e de reconhecer a importância de se ter o conhecimento formalizado pelos sistemas educacionais?
Acredito que só o fato de conhecermos as experiencias dos alunos não nos dá conta do estimulo em se buscar conhecimento.
Roosevelt,
ResponderExcluirPerfeita a sua análise! Se pensando o diálogo em algo associado ao exercicio da conscientização do outro ator social, ou seja, a possibilidade de um ator transferir para o outro um discurso capaz de emancipá-lo politicamente em seu dia a dia, para mim e de todo aceitável. Se aplicarmos o dialogismo tendo como finalidade a possibiliade de não pensarmos nele diante de uma relação espontanea do conhecimento formalizado nas escolas, acredito que ele dê certo, porém, assim como eu disse no comentáio que fiz para anônimo, temos uma história marcada pelo distanciamento com a prática da leitura e da escrita, e por isso, mesmo que nós passemos a levar o conhecimento cotidiano do aluno para a sala de aula, esse conhecimento pode até ser melhor compreendido, mas nçao desejado, pois o brasileiro tem asco a tudo que se refira a produção textual e ao consumo de livros. Digo isso não só em relação aos alunos, ams em relação aos próprios professores também!
vina,
ResponderExcluirInfelizmente nao tive oportunidade de ver esse filme por inteiro, apenas partes dispersas. O que soube e que o proprio professor frances utilizou a sua vida para por no cinema. Foi um bom recurso, pois numa sociedade visual em q estamos, o cinema atingi uma maior amplitude do que em tetos ou artigos de desabafo demonstrando essa tal realidade. Hoje mesmo, antes de ler o seu texto, parei para pensar sobre a educacao brasileira e automaticamente comparei com a educacao irlandesa. Claro que a francesa e diferente, mas faco essa comparacao a nivel de desenvolvimento catalogado entre primeiro mundo e terceiro mundo. Sinceramente, estou aqui faz pouco tempo e nao tive oportunidade para entender a fundo sobre a educacao irlandesa. Farei comentarerios breves sobre a minha percepcao. Um fato que me chamou muito a atencao enquanto estava estudando numa escola para curso de ingles, foi o que a coordenadora comentou` o estrangeiro fala e escreve gramaticalmente mais correto que o proprio irlandes` isso pq os cidadaos daqui despende todo tempo na escola sem estudar a gramatica. O ingles seria a literatura que consideramos no Brasil. No geral, devido a poucas conversas que tive com eles, falando um pouco sobre as grades curriculares nas escolas, estudamos demais e cada disciplina e consideravelmente mais aprofundada. Em geral, somos mais preparados. Em termos de metodo e estrutura educacional, vejo que aqui, como pais desenvolvido, tido como ideal por fazer parte do Primeiro Mundo, nao interfere em muita coisa. Posso afirmar que ha uma diferenca abrupta em termos de condicoes, aqui o ensino fundamental e gratuito e de qualidade similar a escola privada brasileira.Mas em questao de genealidade do sistema nao posso garantir, pois ha muitos e muitos estudantes aborrecidos com a estrutura tradicional. Sinceramente, nao vejo que o dito Primeiro Mundo traga algo de novo, afinal Primeiro Mundo europeu trazem sombras da velharia do Velho mundo. Estruturas rigidamentes incrustradas nos ditames tradicionais. Na Irlanda, o tradicional, principalmente quanto a questao da educacao, soa como ideal.
Bom texto, bjos
Mai
ResponderExcluirMuito interessante a sua analise. Eu só sei que eu só posso responder pela realidade educacional brasileira, mesmo assim tendo muito cuidado, afinal, o brasil é um continente e as experiências que trago do magistério são experiências limitadas a sergipe e atualmente alagoas.
Entretanto, eu acredito aqyi de longe que essa ideia de associar a europa como a represetnante do ensino de qualidade é tão mitico quanto a ideia que concebemos como realidade ao associarem as mulheres brasileiras como devassas e fogosas.
Penso eu que tanto aqui como em qualquer lugar, a existência do poder entre o magistério é fato, afinal, a própria condição possibilita ao profissional exercer esse poder; a dificuldade e a preguiça em lidar com as contradições também devem ser um tanto gerais.
Por enquanto, vá mandando mais opiniões acerca da educação daí, os prós e os contras para que seu amigo possa ir fazendo uma comparação com a taba de um indio onde ele mora e tente com isso, cria estratégias que sejam capazes de ao menos abrir novos caminhos para a nossa falida conjuntura educacional brasileira
bjs
ola Vina!
ResponderExcluirvc melhor do q eu tem mais percepcao e experiencia sobre a educacao. E devido a isso, contemplo tudo o q vc argumentou, ate pq parece ser bem critico e sensato. Idealizacoes estao fartas de pretensas realidades. Sim, sim, sempre farei pontuacoes sobre a Irlanda porque acredito que viver no pais exterior, principalmente por ser tao diferente ao nosso pais, e enriquecedor e antes de tudo muito hilariante.
bjos, bjos