quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fantasmas da Noite

Homenagem aos Lêmures nesta terra de ímpares...

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Vivo saltitando de lado
Ocupando pouco espaço
A vizinhaça se incomoda
Pois bem, não fique muito inculcado
O esporte deles é o fracasso
E a vingança mesmo que a galope
Sempre vem
Olhos vigilantes
A contingência é constante
E a confiança é a falsa antagonista do romance
Pérolas aos porcos
Não as jogue
Deixe que eles façam com o que têm
Só me restam os outros primatas
E os moais da Ilha de Páscoa
Vivo sem par e sem pátria pra cantar!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

As escolas e as bibliotecas

Esta semana li um livro intitulado “Ordenar para desordenar” de Luiz Milanesi que vai fazer uma análise acerca dos professores, dos bibliotecários, da comunidade e dos alunos em relação à biblioteca. Resolvi trazer uma resenha breve acerca dessa obra, principalmente por que me lembrei de uma vez (apenas uma!) que fui à biblioteca pública aqui em Aracaju com meu amigo torto Josué Maia e saí decepcionado por ela não ter provocado qualquer motivação que me fizesse voltar lá outra vez.

Segundo o autor, diferente da Europa, onde a história da escrita e da leitura teve tempo suficiente para amadurecer e pertencer a um hábito mais cotidiano da população, no Brasil, a prática com a leitura, antes mesmo de conseguir atingir uma totalidade do território brasileiro, perdeu lugar para os meios de comunicação de massa. Em outras palavras, antes da população se alfabetizar e passar por um processo de educação voltada à prática da leitura, ela passou a ser educada por esses meios massivos.

Para complicar ainda mais a situação, no Brasil foi se criando uma idéia de acesso à leitura como algo reservado aos ditos intelectuais. Portanto, a biblioteca passou a significar inacessibilidade. Já os meios de comunicação, com o intuito de gerar consumo em suas emissoras, passaram a se utilizar de discursos populares. Como o país era marcado por alto índice de analfabetismo, as bibliotecas se tornaram lugares chatos, enquanto os meios de comunicação de massa passaram a ser consumidos.

Juntando o fato da leitura não ter tido tempo de se alastrar entre os brasileiros, além de se criar a idéia de uma biblioteca serviente apenas aos interesses de uma categoria letrada, somou-se ainda a forma como os professores passaram a utilizar a biblioteca. Ao invés de pensá-la como algo capaz de produzir questionamentos, esse espaço passou a representar formas de obrigação, uma vez que ele significa o meio pelo qual os alunos se utilizam apenas para adquirirem suas notas.

O uso da biblioteca passou apenas a cumprir uma obrigação exigida pelo professor. Os docentes, ao proporem essas pesquisas, colocam essa atividade como algo voltado a uma utilidade prática. A biblioteca, ao invés de abrir a possibilidade de inúmeras formas de leituras, provocando o reconhecimento das contradições, passou a servir apenas para a reprodução de um conhecimento exposto em sala de aula, o qual passou a se caracterizar pela necessidade da praticidade acrítica, fazendo da informação apenas uma cópia.

Entretanto, mesmo reconhecendo características perpetuadoras do sistema nas instituições educacionais, Milanesi admite que o espaço da escola, por reproduzir o discurso da ordem vigente, inevitavelmente cria possibilidades de resistências, servindo como brechas dentro das instituições de ensino, fazendo com que o conhecimento não se resuma apenas à memorização dos conteúdos, e sim, a algo capaz de provocar nos alunos o reconhecimento das contradições e alternativas de como superá-las.

Outra crítica se referiu à condição dos bibliotecários no Brasil. Estes se preparam para serem técnicos e atuam no espaço apenas com a função de catalogar e de classificar. Sem contar que muitos que assumem esse posto são indivíduos sem nenhum preparo e que foram removidos de seus cargos anteriores. Isso gera desestímulos nos usuários, visto que os bibliotecários não se preocupam em conhecer as reais necessidades do alunado, tornando a biblioteca um espaço descontextualizado.

Apesar do autor reconhecer que as bibliotecas são descontextualizadas das reais necessidades dos usuários, e de não fornecer serviços de qualidade, ele também entende a biblioteca como um espaço de transformação da sociedade, uma vez que para ele, a biblioteca dentro de sua ordenação nas prateleiras, apresenta ao leitor a possibilidade de se adentrar em uma pluralidade de pontos vista e com isso, promover o encontro desse público com as contradições expostas diante da diversidade textual.

No entanto, a biblioteca não deve se restringir a um espaço voltado unicamente ao contato do público leitor, mas deve também se preocupar com o público majoritário analfabeto que representa a parcela mais alheia a ela. Para isso, essas instituições têm o papel de não reduzir sua função apenas à prática da leitura textual, mas deve trazer possibilidades de outros tipos de atividades dentro delas como debates, amostra de filmes, utilização de áudios, dentre outras coisas.

Essa perspectiva decorre pelo fato do autor conceber a capacidade dos setores iletrados em produzir conhecimentos, obter e expor informações da mesma forma que o público preparado para lidar com a leitura. Para ele, deve-se compreender que as linguagens imagéticas ou de qualquer outra ordem, podem propiciar o contato do público com novas questões, com a possibilidade de re-elaboração de sentidos, de novas formas de compreensão acerca do mundo também através desses meios.

A idéia é formular uma biblioteca que não se resuma ao apático cotidiano monótono e mecanicista que mais parece um funcionalismo público. O olhar de Milanesi se encontra voltado a uma biblioteca que, através da ordem colocada em sua organização, seja capaz de provocar desordens a partir do instante em que possibilita o usuário a ler o mundo de forma mais crítica pelo fato desse conhecimento se encontrar diretamente vinculado ao seu cotidiano cultural.

Milanesi mostra a possibilidade das bibliotecas exporem as histórias dos setores excluídos, fazendo-os se sentirem pertencidos e atuantes na história. O autor salienta que a apresentação de produções ditas eruditas para esse setor é também de profunda importância, pois é através delas que esse público, ao se estranhar com uma prática não-recorrente em seu meio cultural, questiona os valores, possibilitando a re-significação de uma ordem, produzindo assim, uma desordem e gerando uma nova ordem.

Para Milanesi, deve se haver um diálogo entre bibliotecários e professores. Ao bibliotecário é dada a função não só da sua técnica enquanto catalogação das obras, como o papel de buscar compreender, mesmo que de forma superficial, conteúdos das obras, assim como os reais interesses dos usuários. Já com relação aos professores, cabe a eles provocarem questões em salas de aula, propor aos alunos pesquisas que façam com que eles detectem contradições para que essas contradições sejam posteriormente superadas.

Para finalizar, gostaria de deixar uma observação acerca de uma lacuna percebida por mim ao ler o livro. Antes preciso dizer que achei formidável a análise do autor sobre a biblioteca no Brasil, como fiquei bastante satisfeito com o esclarecimento que ele me proporcionou sobre o papel do bibliotecário. Posso dizer também que a proposta de articular o diálogo entre professores-bibliotecários-alunos foi muito pertinente, além de admitir que a visão acerca da biblioteca pela ótica de Milanesi foi extasiante.

Entretanto, apesar dessa análise crítica em tornar a biblioteca um lugar mais agradável, eu fiquei a me questionar sobre como a partir dessa proposta, atingir o objetivo de fazer o aluno também se usufruir do consumo de livros na biblioteca. Não acredito que é apenas disponibilizando livros mais vinculados aos reais interesses do público que uma biblioteca possibilitará o consumo do livro em uma cultura marcada pelo analfabetismo e pela falta de hábito com a leitura.

Investir em outros recursos é de fato um caminho bastante pertinente, mas como estimular a partir disso um interesse pela leitura? As bibliotecas podem abrir possibilidades de outras atividades, mas ao sair delas, ou os alunos vão se deparar geralmente com a falta de habito de leitura dos pais e da sociedade em geral, ou a comunidade, em particular os analfabetos continuarão sem ler justamente pela carência de ferramentas provocadas pela sua falta de contato com a alfabetização.

Como a partir da utilização de outros recursos disponibilizados pelas bibliotecas, o público em geral vai passar a ter interesse em tornar a leitura um hábito, levando-se em conta que ele pode se deparar com esses entraves em seu cotidiano? Como fazer com que os meios de comunicação, mesmo passando a produzir novas formas de conhecimento, sejam ao menos mais distribuídos entre as prioridades do público para que com isso a leitura também faça parte de suas vidas?

REFERÊNCIA

MILANESI, Luiz. Ordenar para desordenar. 2 edição: São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sebos

Ao mítico Fúria

Eldorado à vista! O pirata solitário atraca na costa deste país encantado após ter rasgado mares turbulentos e enfrentado feras marinhas. O seu paquete é resistente e feroz como um Davi que carrega nas mãos uma pequena arma cuja função é atirar pedras e que se tornara pretensioso o suficiente para desfraldar um peito guerreiro e humano nos combates. ainda que mais frágil e menos veloz que os grandes veleiros projetados com compartimentos generosos e portanto capazes de carregar tripulações maciças, como qualquer embarcação pilotada por um aventureiro destemido pode levar quem a conduz aos lugares mais fantásticos onde se encontram valiosos tesouros. A paisagem suntuosa segreda no seu âmago peças raríssimas, empoleiradas por camadas opacas de pó e teias de aranha em quase toda a sua superfície. Atônito com as novidades, as quais projetou em sonho ao ser provocado à busca por quem falou sobre elas, quando o corajoso pirata as toma em suas mãos fazendo caso de modo a não degenerá-las, passa a destinar aplicações àquela quantidade de riquezas que encontrara alocadas em estantes muito velhas, depois do esforço despendido ao transpassar ondas enormes e correntes marítimas brutais. Policia, calmo e feliz, cada objeto. Senta-se, por fim, com um deles sobre o colo e descansa admirando-o.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

IFAL na rádio

(RESULTADOS ACERCA DAS DECISÕES TOMADAS NA REUNIÃO REALIZADA NO DIA 17 DE NOVEMBRO NA RÁDIO INDEPEDENTE 98.1 LOCALIZADA EM PIRANHAS-ALAGOAS).

Como eu fiz questão de observar na semana passada, acredito que o projeto “O velho Chico em ação” com o programa “A voz da juventude” que está sendo realizado conjuntamente por mim e pelos alunos do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) na Rádio Independente 98.1, deve se preocupar com a idéia de extensão. Para isso, fiz algumas observações sobre o cuidado que devemos ter ao julgarmos determinados formatos de programas como bons apenas para os nossos critérios, para que o projeto de extensão não se reduza a julgamentos elitistas.

No entanto, na reunião que foi realizada nessa quinta-feira (17/11), um dos primeiros discursos que ouvi de um dos alunos que não puderam comparecer a reunião passada foi acerca da não-inclusão de músicas que não viessem a trazer nada de formativo para os ouvintes. Volto a dizer: acho importante respeitarmos o gosto estético geralmente mais consumido pela comunidade, não só para praticarmos a tal diversidade cultural tão aclamada, como também para trazermos esse público para consumir o programa e ao mesmo tempo, expor outros formatos de programação para ele.

Sou da opinião de que o papel de uma instituição educacional é abrir a possibilidade de construir uma programação que possa provocar reflexões e conscientização nos ouvintes. Para isso, foi colocada no nosso encontro a possibilidade de convidarmos algum professor capacitado em discorrer acerca de algumas problemáticas que geralmente são encontradas em determinadas músicas como a condição da mulher, um debate sobre os ganhos e os perigos acerca da abertura do sexo na sociedade, etc, apresentando ao mesmo tempo na programação, músicas referentes a essas temáticas.

Acho que dessa forma, não só respeitaremos as diversas tendências musicais nas grades da programação, aceitando por conseqüência, o habito estético e musical da comunidade, motivando-a a consumir o programa, assim como traremos novas indagações que talvez não possam ter sido refletidas por ela. Mesmo assim, buscamos ter um cuidado acerca das afirmações sobre a capacidade interpretativa da comunidade. Para isso, optamos em formar algumas equipes para a partir dessa semana, aplicar um questionário para sabermos quais são as reais necessidades e opiniões do ouvinte.

Optamos primeiramente aplicar os questionários dentro das escolas para sabermos a opinião dos alunos e dos demais servidores acerca de qual programação seria mais interessante para eles, assim como a programação que não condiz com seus interesses, quais estilos musicais eles gostam de ouvir, quais estilos musicais eles não se identificam, etc. As escolas foram as escolhidas em primeiro plano, pois aproveitamos que alguns alunos envolvidos nos grêmios estudantis que também fazem parte do projeto já estão passando pelas escolas divulgando suas pautas políticas.

A idéia do projeto é também abrir a possibilidade do aluno participar dos programas. Acredito que colocando os alunos como locutores e responsáveis pela construção das pautas a serem discutidas no programa, possibilitaremos não só que eles passem a se interessar em angariar notícias referentes à educação, e por conseqüência, regulamentos que dizem respeito aos seus direitos e deveres, como também fazer com que eles observem através das suas práticas na rádio, a importância da comunicação como uma ferramenta capaz de possibilitar uma possível troca de informações, e, portanto, de novas reivindicações entre eles.

Como sabemos que os alunos não possuem experiências em apresentações de rádio, formamos equipes para serem treinadas por Claudevânia Freitas, que além de ter experiências como apresentadora de rádio, também é aluna do curso de agroindústria do IFAL. Ficou decidido que as equipes começaram a ter cursos de manuseio com os equipamentos disponíveis na rádio no sábado (19/11). Acredito que a instrumentalização desses alunos estimulará um aumento positivo em sua auto-estima, uma vez que se sentirão úteis à sociedade.

Como forma de incentivar os alunos e de institucionalizar o programa no IFAL, apresentei na reunião o projeto de extensão elaborado por mim durante a semana. Enviei o projeto para a reitoria do Instituto pedindo ajuda de custos para a contratação de dois bolsistas. Como forma de motivar os alunos que não receberão bolsas, propus no projeto a possibilidade de entregas de certificados para que eles possam angariar títulos importantes em seus currículos, favorecendo uma maior possibilidade de inclusão no mercado depois que tiverem finalizado seus cursos no IFAL.

Houve uma discussão referente à possibilidade da criação de uma rádio-novela. Como a idéia foi gerada por Daniel, professor de artes do IFAL, decidimos convocá-lo para participar da elaboração da trama e para organizar os ensaios. Falamos também acerca da elaboração de um documento referente à autorização dos pais em liberar seus filhos para participar do projeto, já que alguns alunos dos cursos técnicos, por serem menor de idade, têm sofrido empecilhos em comparecer aos nossos encontros. Esse documento será apresentado em uma reunião que acontecerá na próxima quarta-feira (23/11).

Gostaria de pedir aos leitores que se possível, provocassem novas questões acerca do projeto, tentando ao máximo possível, contribuir com novas sugestões, críticas, etc, pois acredito que quanto maior for o numero de observações sobre este projeto, maior a nossa possibilidade de enriquecê-lo, uma vez que eu acredito que é através de novas contribuições que o projeto poderá se aperfeiçoar cada vez mais. Por enquanto, eu fico à espera da próxima reunião que será realizada na próxima quinta-feira (24/11) para trazer de forma atualizada novas realizações do projeto.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

carne apodrecida

os corpos amontoados nas ruas
denunciam a acefalia do sistema
apodrecido.

os dedos nao se movem
os olhos nao assimilam
o sangue escorrem nas valas
podre das avenidas.

os carros estao parados
em posicoes desgovernadas
nao a vida pulsante

a cidade esta morta.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dois apontamentos literários

Bons romances: As primeiras frases ilustram o argumento. Quando elas são ruins, não se pode cobrar atenção às verdades nele depositadas. Um livro de Ken Kesey, cujo título é Um Estranho No Ninho, há um tempo atrás, quando o li, me convenceu disso: fundado com imagens chamativas, o impacto causado pela forma como são descritas impulsiona o leitor, arrematado por elas, às páginas seguintes, em que se percebem, não obstante haja a ressalva da tradução, uma queda visível no estilo como é levada adiante a narrativa. A esperança de que o final faça justiça ao começo idiossincrático, sujeita o interlocutor a não abandonar o livro, a perseverar no apanhado de páginas mal contadas que sucedem àquelas frases iniciais que prometiam muito. E o final, a contragosto, por vezes não guarda nada que não pudesse ter sido premeditado. Isso posto, agora entendo o personagem do romance A Peste, um dos melhores de Camus, que não consegue transpor as primeiras linhas do conto que está querendo narrar, reelaborando as primeiras frases infinitas vezes.


A arte de narrar: O tema abordado pelo narrador não pode vir a ser interceptado por interpretações que fujam àquelas pensadas por si enquanto elaborava a obra. O processo, opus magnum de Kafka, caracteriza a rigor a presente tese: determinada pela experiência do escritor como advogado em um escritório, as desagradáveis burocracias encontradas no decorrer da narrativa podem se estender, apenas, a uma dimensão metafísica em que o leitor, interrogativo, dilui-se nas páginas do romance, fazendo do mundo jurídico a própria vida, e vê-se como um condenado que cometera um delito cuja natureza desconhece, sentenciado a remediar seu crime com a própria vida, e isso depois de já ter assumido a pele de Josef K – isto é, de ter-se tornado consciencioso para com o seu destino. Se o sucedâneo do enredo pensado pelo autor é a livre interpretação de seus leitores, o testemunho filosófico da obra, ainda que se trate de um trabalho literário magnífico, tende a se estagnar em virtude da mediocridade interpretativa dos incautos: embora mereça ser entronizado por ter deixado a questão da traição em aberto, Machado, com o seu belíssimo Dom Casmurro, foi vítima disso, sobretudo quando se constata a confusão que fazem entre ceticismo e achismo tendencioso. A menos que a confusão dos incautos tenha sido uma possibilidade calculada friamente por si – o que, devido a sua genialidade como contador de histórias, é o mais provável -, cabe a ele, se não, esta única ressalva: o brasileiro só entende as coisas quando lhas desenhamos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

UM BEIJO PARA VOCÊ MEU BEM

UM BEIJO PARA VOCÊ MEU BEM
Um beijo para você meu bem.
Tudo de bom para você querido.
Vamos.
Vamos.
Eles foram juntos.
Nem imaginavam a quilometragem da estrada.
É relativo.
Pode demorar um dia.
Pode demorar uma vida.
Sabe-se que o chão é duro.
Às vezes cheio de lama.
Outras, uma estrada vazia, solitária.
O sol nasceu e morreu centenas de vezes.
Um beijo para você meu bem.
Tudo de bom para você querido.
É difícil, mas ainda existe...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ser Alguém na Capital das Ruas sem Sal?

É difícil. O que há por trás das ruas cujos prédios tendem a envelhecer no modo rápido e eterno é aquele velho refrão de se priorizar, enquanto critério de legitimação, a senilidade em detrimento do mérito.

Não que eu esteja aqui propondo a destruição massiva do que se afirmou por sua velhice. Mas já cabe, instantaneamente, uma proposta: a de não se contentar com o mero fato da sobrevivência de algo há séculos, e sim perquirir a maneira por que tal coisa continua a se afirmar. Sua existência barra a chegada de novas concepções mais efetivas? O fato de ainda existir não acaba sendo contraproducente, quando vamos além do politicamente correto? O feijão com arroz de sempre não enjoa, sei, mas não me impede de ver a esquina, a gasolina, a Carolina etc.?

Sim, em todo o mundo a senilidade traz consigo o fator legitimador da tradição. Porém, há lugares em que isto não se dá em prejuízo da eficiência de outras e novas coisas. É tanto que, em tais lugares, vemos um peso um pouco menor da tradição. E aí não interessa, de forma decisiva ao menos, se professor X lecionou trinta anos em Harvard, se uma banda de apenas três meses ganhou um festival de música frente a uma de quarenta anos, se o ator que foi indicado quinhentas vezes ao Oscar tenha que por isto necessariamente ganhá-lo etc.

E esta é uma proposta que eu faço a minha cidade, para que não vivamos de alguns ídolos que ninguém conhece, de alguns magos que não tiram sequer um camundongo da cartola, da felicidade do casamento de cinquenta anos etc. Priorize-se o fogo, não importa o quanto a chama deva durar; apenas que ela queime.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um diálogo entre a educação e a comunidade

O Instituto Federal de Alagoas (IFAL) do Campus de Piranhas, conjuntamente com seus alunos e demais servidores, tem discutido a possibilidade de concretizar um programa de rádio chamado “A voz da juventude” que será transmitido pela Rádio Independente 98.1. Acredita-se que esse programa terá a sua primeira execução prevista para o dia 10 de dezembro deste ano. Apesar do nítido esforço para a concretização deste projeto, como professor de sociologia do IFAL e membro envolvido neste projeto, pretendo a partir deste texto, abordar acerca de alguns pontos que acredito serem de grande relevância.

De forma freqüente encontramos discursos referentes ao tripé ensino-pesquisa-extensão. Obviamente que eu sou extremamente a favor desse tripé, até por que eu não posso produzir um bom conhecimento se eu não estimulo os alunos a uma prática com a pesquisa para constantemente buscar renovar esse conhecimento, assim como eu não consigo visualizar uma importante função social produzida pelo conhecimento se eu não consigo realizar profundas alterações na realidade, e é por isso que acredito ser de grande importância dialogar com a comunidade.

Entretanto, eu acredito que devemos antes de tudo, refletir um pouco sobre o que estamos falando de extensão. O que muitas vezes eu percebo é que quando o assunto se trata de extensão, a idéia que temos é apenas de uma responsabilidade da instituição educacional elaborar e desenvolver projetos para a comunidade. Acredito que essa ótica guarda alguns perigos. O IFAL não vai estabelecer um contato com a comunidade se a comunidade não se vê pertencida no projeto elaborado por ele. Tanto a comunidade quanto o IFAL precisam dialogar.

Devemos entender que extensão significa diálogo, e não existe diálogo se não houver trocas de informações entre as várias partes que compõem esse diálogo. Por que atento para isso? Ora, não devemos cair no erro de achar que o fato de pensarmos estar criando um programa para a comunidade, signifique que de fato estamos falando para a comunidade. Antes de se realizar um programa com esse perfil, faz-se necessário buscarmos compreender e estarmos cientes acerca de quais são os interesses dessa comunidade para que com isso possamos também inserir suas expectativas culturais na grade do programa.

Muitas vezes as instituições educacionais constroem projetos sociais para dialogar com a comunidade, mas sem dialogar com essa comunidade. Antes de pôr em prática os projetos desenvolvidos, as instituições não podem determinar apenas por elas mesmas quais são os objetivos dos projetos, sem antes partir para uma exploração de campo para verificar quais são as reais necessidades das pessoas da comunidade. Ou seja, faz-se necessário procurar entender quais tipos de programas de rádios preferidos por elas, saber quais críticas que elas possuem acerca da programação das rádios, etc.

Gostaria de dizer que não é meu intuito tentar propor uma mera reprodução dos programas de rádio que a comunidade costuma ouvir, até por que a intenção deste projeto navega também na possibilidade de trazer à comunidade um acesso a outros tipos de informação e não apenas aos que estão sendo comumente transmitidos nas mídias massivas. Além disso, eu compactuo com a idéia de que o papel de uma instituição voltada à educação seja a de promover novos leques de informação, novas linguagens musicais, novos olhares acerca da realidade, ou seja, uma educação que busque estimular a diversidade social.

No entanto, para um programa de rádio estabelecer de fato um diálogo com a comunidade temos que nos preocupar em organizar uma programação que atenda aos interesses culturais da comunidade, assim como inserirmos nessa programação, formatos de atrações diferenciadas, para com isso, mostrarmos que a realidade cultural não se resume apenas as cartilhas impostas pelas mídias comerciais. Acredito que o projeto do programa trará bons frutos se soubermos aceitar os hábitos cotidianos da comunidade, acrescentando ao mesmo tempo, outras formas de conteúdo.

Se colocarmos na programação apenas debates referentes às problemáticas trazidas dentro do contexto educacional, temos que estar cientes de que esse tipo de discurso não é o discurso que o público geralmente tem o interesse de conhecer por não fazer parte do cotidiano deles. Por outro lado, se abrirmos um espaço para que as pessoas da comunidade também sejam entrevistadas e tenham direito a voz, trazendo paralelamente entrevistas vinculadas às problemáticas mais acadêmicas, teremos a chance de atrair o público ao programa, e “por tabela” traremos novas propostas.

Agregando uma programação que produza identificação com a comunidade, motivaremos esse público a consumir o programa. Por outro lado, inserindo novas propostas no programa, estamos fazendo com que essa comunidade passe a ter um contato com produções que comumente ela não tem acesso. Com isso, seremos capazes de unir o interesse da comunidade com o interesse do IFAL, pois possibilitaremos uma identificação dessa comunidade com o programa, além de apresentarmos outras propostas. Enfim, haverá um diálogo entre as duas partes, e, portanto, uma extensão.

(ARTIGO PRODUZIDO PARA A REUNIÃO QUE FOI REALIZADA NO DIA 12 DE NOVEMBRO NA RÁDIO INDEPENDENTE 98.1 EM PIRANHAS-ALAGOAS)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Se o dinheiro não traz felicidade, as fezes podem ser uma solução

Pra que reciclar se o lixo não produz matéria?
Talvez esteja enganada, assim como o lixo, as fezes produzem mais que
um instrumento útil, elas nos d`a um prazer imenso de felicidade
por evacuar um resíduo pastoso, inoperante e nos fazer que por poucos minutos
podemos fazer muito com o nada.
O coc^o traz felicidade assim como o dinheiro. Depois do ato, podemos v^e-los boiando no pequeno lago do vaso sanit’ario.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Aviso

Caros amigos e leitores,

Por motivo de saúde (incluindo-se visita a uma urgência de hospital) não tive condições de preparar texto para esta semana. Já estou bem melhor e escrevendo o da próxima semana.

Desculpem-me o transtorno!

Prosa para uma tarde fria

Réquiem: Sou eu que, sozinho, desbravo a terra, com um cachimbo mediano preso aos lábios, duas garrafas de vinho doce tumultuando os pensamentos. O céu, como se triste, deságua calmo lá fora, e as gotas ralas dessa chuva primaveril, cortando furtivamente telhas e janela, grudam-se aos pêlos dos meus braços, deixando úmida também a capa do livro que nem mais leio, as roupas que, por displicência, esqueci abandonadas na cama. Morreram os vizinhos, os seus cães morreram, os parelhos ligados sempre no volume mais alto, a reunião semanal da família em torno da churrasqueira também morreu. O desconsolo cinza desta tarde levara o mundo a óbito, permitindo aos tristes uma hora mais íntima com o silêncio, do que puderam supor, uma rara vez na vida, que o mundo havia sido feito conforme o seu gosto e necessidade, tão fácil lhes pareceu se aclimatar a esta digressão da tristeza no tempo, em que o frio rompeu, por 24 horas seguidas, o absoluto calor.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ANIMAL

Sopra o vento na janela.
A paisagem encanta o viajante.
A estrada é longa.
Rasga o espaço com borracha e aço –
O homem de carne e osso;
Um vidente; na muralha sentinela.

Diz para si que seu destino é ela.
A menina da mocidade.
Uma lembrança doce do amargo de sua vida.
Um menino que cresceu espremido entre os prédios e o asfalto.

Olha para o alto!

No céu a lua se esconde entre nuvens cinza.
Poluição e poeira de mentes racionais.
Animais!
Canibais.
Armas letais.

Seus corações também amam.
Quem entende isso?

Ela estava em pé no terminal.
Ele correu e beijou-lhe os pés.
Perdão!
Ela o levou consigo.
Não o vejo mais.
Sumiu no meio do povo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Semelhanças entre a educação brasileira e a educação francesa

Por esses dias eu assisti a um filme francês de 2008 dirigido por Laurent Cantet chamado “Entre os muros da escola”. Nesse filme, o que pude notar é que muitas questões penosas pelas quais passam os professores no sistema educacional brasileiro não se diferem muito da realidade da educação francesa. O filme vai abordar acerca de um professor que tenta estimular seus alunos em sala de aula, mas sofre com vários problemas dentro do ambiente escolar como a falta de interesses desses discentes em querer aprender.

Neste texto vou tentar abrir algumas questões. Uma dessas questões diz respeito à precariedade da estrutura física da escola. O elitismo nos conteúdos expostos em sala de aula pelos professores é outra discussão que pretendo instigar nessa análise que vou fazer acerca das idéias que tive ao assistir ao filme. Outra questão se refere à baixa estima dos alunos. Gostaria de também chamar atenção acerca da intolerância das regras institucionais encontrada nos ambientes escolares.

Além de tentar mostrar o quanto a realidade na educação francesa se assemelha em muitos aspectos à realidade brasileira, minha intenção está em mostrar o quanto à imposição de conteúdos muitas vezes não surte efeitos no estímulo do aluno, assim como a intolerância das regras encontradas nos ambientes escolares ao invés de promoverem uma relação de entendimento e respeito entre os alunos e os professores, só tende a gerar mais colisões entre eles.

Ouço de muitos educadores, inclusive eu mesmo já repeti algumas vezes esse discurso, que a educação na Europa, principalmente na França, pode ser considerada como modelo para todo o mundo. Temos a mania de achar que países como a França possuem um nível de intelectualidade muito acima do nosso. Na verdade, muitas vezes confundimos países desenvolvidos com países ideais. Porém, temos que convir que não necessariamente o fator econômico esteja diretamente proporcional ao aperfeiçoamento intelectual e crítico de uma sociedade.

Ao assistir ao filme, o que pude notar é que inclusive a estrutura física da escola francesa possuía um aspecto tão decadente quanto à estrutura física dos sistemas educacionais brasileiros. Na verdade, eu até achei que no caso do Brasil, com sua mania de construir ginásios de esporte nas escolas, faz com que ao menos os alunos possam encontrar dentro desses ginásios uma possibilidade de encontrar um espaço de convívio entre eles. O que o filme mostra é uma escola sem estrutura capaz de sequer dar um espaço para os alunos transitarem, jogarem futebol, etc.

O filme vai mostrar também o distanciamento dos alunos com relação aos conteúdos expostos pelos professores. Apesar do professor de Francês se demonstrar bastante interessado em ouvir seus alunos, o que podemos notar é que os discentes se encontravam sem qualquer motivação que viesse a gerar um maior estímulo das suas práticas em relação ao conteúdo dado em sala de aula. Os alunos classificavam os livros discutidos pelos docentes como livros sem qualquer utilidade na vida deles.

Falamos bastante sobre a realidade precária dos alunos brasileiros, o que não deixa de ser pertinente tal crítica, no entanto, ao assistir ao filme, notei claramente que os alunos inseridos naquela escola eram assim como os alunos brasileiros, bastante carentes de capital escolar e cultural. Assim como os nossos discentes, aqueles meninos e meninas traziam uma falta de perspectiva assustadora em relação aos seus futuros. Ao final do filme, depois do professor perguntar o que os alunos haviam aprendido ao longo do ano, aparece uma aluna que chama atenção de que não foi perguntado a ela o que ela havia aprendido. Ela mesma responde que não aprendeu nada, como também não tinha interesse algum em fazer um curso profissionalizante.

Uma coisa que também me chamou bastante atenção no filme foi a forma como as regras institucionais eram passadas e interpretadas pelos alunos. Apesar da escola exposta pelo filme possibilitar aos alunos o direito de possuir seus representantes de classe durante as reuniões dos professores, podemos notar o quanto a leitura que esses alunos faziam dos chamados Conselhos Escolares era tão intolerante quanto à postura dos professores em relação a eles.

O que havia era uma necessidade de oposições recheadas de mágoas, de vingança, de ódio dos alunos em relação a essas regras. Ou seja, se o sistema criado por vocês me pune, eu também quero e tenho o direito de puni-los a todo custo. Não conseguimos enxergar uma relação dialógica como nos traz muito bem nosso querido torto Roosevelt Vieira em seus textos sobre educação. Ao contrário. O que podemos verificar é que as regras comportamentais, ao invés de trazerem uma maior horizontalidade na relação aluno-professor, trazem um jogo de crises e de disputas entre eles.

Enfim: o que pude constatar é novamente a velha relação verticalizada que encontramos nos ambientes escolares. É a velha postura elitista preparada apenas para atender aos interesses dos grupos dominantes representados pelos professores e pelos setores administrativos inseridos nos mecanismos da escola. Em outras palavras, ou o aluno se cala ou ele é punido, ou o aluno aceita ou ele é punido. Não tem saída.

Enquanto houver essa maldita verticalização, essa imposição de conteúdos alheios aos interesses reais dos alunos, o resultado será sempre o desestímulo, a baixa estima entre eles. Se nós queremos de fato construir um aluno crítico, capaz de se emancipar por conta própria, devemos também rever as regras impostas nos ambientes escolares. Por falar em ambiente, devemos também lembrar que um aprendizado não se faz presente apenas nas salas de aula. Portanto, cabe a escola possibilitar aos alunos um espaço físico mais agradável e propício para as relações desses alunos com os outros colegas.

(TEXTO PUBLICADO NO DIA 13 DE OUTUBRO DE 2011 NO SITE: www.pensandoaeducacao10.blogspot.com )

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O declinio do nao poeta

A minha pior falta, e não saber me expressar dentro das minhas coerências sentimentais, dos pontos e das linhas devidamente precisas para que tal poema ou poesia seja feito. A minha falta de não saber ser poeta, muito menos clássico.
O único erro que não poderei cometer e de declinar, pois me falta substancialidade para ser o poeta. Talvez serei poeta, um poeta vulgar que risca os dedos sujos no retrovisor, colocando palavras livres da linearidade do cotidiano.
Sem qualquer disposição e vencida pelo cansaco de pensar e repensar o que melhor me expressar a fim de impressionar uma quantidade misera de leitores, jogo os rascunhos e a caneta no lixo.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O declínio do poeta clássico

Não há sonhador que resista àquelas saias bem curtas, muito mais belas e reais que qualquer teoria. A provisão de insumos necessária ao bom desempenho dos sonhos há muito rompeu com a fantasia dos livros, ao passo que a substância responsável pela combustão das quimeras alojadas no coração, não podendo mais ser extraída em romances e poesias, pois aí ela se tornou escassa em virtude do experimentalismo e do realismo em voga, só pode ser encontrada hoje na dura realidade, na dura paisagem imediata da vida. Todavia é interessante a ascensão e a queda do sonhador, o fenômeno literário-teórico vanguardista, porque parecem ligados à redução no tamanho da saia e à sua justeza cada vez mais sufocante e chamativa: apesar de expor curvas e volume ao passeio público, como uma espécie de vitrina ambulante para ele, a mulher e seu corpo se tornaram quase inacessíveis ao homem sensível, uma vez que para possuir aos dois, emotiva e sexualmente, é necessário que ele disponha de recursos que equivalham ao segredo revelado naquela semi-nudez. Ora, falamos de recursos poéticos, de galanteios camonianos em dois quartetos e dois tercetos – estes que por serem movidos fundamentalmente pelo sonho não podem oferecer tantas garantias reais e imediatas ao ser que se expõe como querendo angariar melhores ofertas que enriqueçam sua vida afetiva? Não, meus senhores, e vocês sabem disso perfeitamente: os recursos de que falamos não são do âmbito literário-artístico. A arte, depois de ter se tornado assunto sindical, entrou em queda. Falamos de recursos concretos, materiais, tangíveis e palpáveis: ouro, moeda, cédula, diamante. O sonhador deixou que caísse sobre o chão a sua áurea e, ao se abaixar para juntar os cacos, encontrou na superfície uma poeira atraente, uma sujeira específica que viria a conclamar o seu declínio: apegado às impurezas do chão, viu daí – verticalmente – as minúcias das saias, compreendendo o nível de ascensão a que deveria chegar para poder possuir os seres que se escondem por trás delas. Assim, das metamorfoses ocorridas no tamanho da saia portanto, deu-se início a uma nova poética, em que se inaugurou um tipo novo de trovador: o materialista.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DIALOGISMO E CASTRAÇÃO

Dialogismo e Castração

Não se pode emancipar a Educação de uma de suas funções: A castração. Este termo, sobre tudo freudiano, é também empregado por criadores de animais. Eles castram seus cães e gatos para que estes se tornem mais dóceis, portanto, mais fácil de manejo. Quando um pai usa uma expressão facial de reprovação para seu filho, este logo entende por esta linguagem que é um “não”. Neste caso, a criança foi castrada de seu prazer imediato pelo comando facial de seu pai, ou, pela percepção da linguagem simbólica facial do operador do comando. Neste momento, a questão não é atribuir à castração valor moral. O fato é: “Educar é castrar, ou se o termo freudiano choca, podemos dizer que Educar é impor uma norma de conduta”. Isso é bem comum no processo informal de educação. A linguagem, aqui, tem papel fundamental. Contudo, embora a “norma” também venha pelo sistema educacional, a Educação em si, é muito mais do que normas de conduta moral.

Neste presente ensaio, recorri ao termo freudiano “castração” porque acredito que o homem enquanto animal humanizado é dotado de instintos que necessitam ser “domados” por um processo que Freud chamou de civilizatório. Educar, em um primeiro momento, principalmente, nos primeiros anos de vida é um processo informal e formal de castração de instintos residentes na Ide. O animal humano impelido por duas grandes potências que ainda estão, mesmo, de forma latente e submersa presentes em sua psique manifesta de diversas formas, sobre tudo, nas expressões culturais, e ou, nas manifestações artísticas, como o cinema, a literatura, etc., que os instintos são reais. Essas potências são: A sexualidade (A busca do prazer), e a violência ou agressividade. Elas nos acompanham desde os primeiros anos de vida. Precisamente, desde a fase oral. Nessa fase, o prazer está na sucção do leite; na relação da mucosa bucal da criança e o seio da mãe; e a violência encontra-se, já, mais adiante, nos dentes que ferem o dito mamilo. Toda essa abstração psicanalítica nos remete aos mitos.

Os arquétipos influenciam o comportamento humano. A estrutura interior do arquétipo é mitológica. Assim, dizemos que o mito influencia o comportamento das pessoas, Nas primeiras horas da humanidade, os homens contaram histórias que falavam do mundo – o mito. Um arquétipo pode agregar mais de um mito em seu interior. Assim, como não existe explicação final para o mito, também, não existe para os arquétipos. No entanto, não se pode negar que os personagens da mitologia, que falam aos homens e dos homens, são manifestações dos arquétipos. A mitologia teve caráter educativo. Ela veio para explicar, e inspirar condutas. Por gerações a mitologia foi a única filosofia e ciência do homem. A mitologia tentava castrar o homem de seu ser escuro e trevoso que morava nas cavernas do Mediterrâneo. Ela era a forma de ensinar o animal humano sobre a necessidade de uma humanidade.

Não se sabe como, mas, o mito e os arquétipos encheram a terra. Eles estão em todas as culturas e constituem, não apenas, as primeiras explicações do real, mas, os modelos nos quais a humanidade se inspira. O estudo das neuroses ou das psicoses exige a compreensão sobre os arquétipos e sobre os mitos. Parece que os primeiros signos e símbolos nos remetem a essa linguagem. A estrutura do mito se assemelha a do sonho. O mito enquanto realidade simbólica existe “para”. Ele “está para”. A relação do mito com o homem é uma relação dialógica. O homem dialoga com o mito. E desse diálogo o homem constrói sua realidade. Assim, existe, evidentemente, nessa relação homem/mito a relação política. O mito por esta causa também serve de instrumento de regulação das relações entre os homens, e elas são relações de poder, ou, políticas. Os que falam pelos mitos, os senhores e manipuladores de seus possíveis enunciados e discursos, controlam o mundo. Portanto, vemos que desde os dias antigos, dos gregos, dos romanos, dos Iorubas africanos, até os dias atuais, que o mito (instrumento de castração e emancipação do homo sapiens) está em relação dialógica conosco. E se os sedimentos embrionários do psiquismo humano possuem mitos que estruturam arquétipos, que, possivelmente, explicam a personalidade, então, a castração e o dialogo são partes integrais e inseparáveis da humanidade. A educação dialógica cria, além, da castração civilizatória como está implícito no pensamento de Freud em O mal da civilização, uma malha gigantesca de possibilidades discursivas – os diversos sentidos que o humano pode escolher.

Freire (1987), em A pedagogia do Oprimido, viu que a educação está a serviço do dominador, e a serviço da libertação do dominado. Isto é, a educação que oprime (castra), pode de outra forma, a forma dialógica, trabalhar para a libertação do oprimido. Pensamos que a castração ocorre somente em um pólo – o dominado. Mas, a ilusão se desfaz quando percebemos que o dominador é tão vítima (castrado) de seus sentidos quanto o dominado. A proposta de Freire é o diálogo para a superação dessa condição. Freire entende que nas relações humanas haverá de alguma forma, ou, de todas as formas, seres humanos lutando pelo poder. O poder de sujeitar o outro ao jugo de seus interesses (castrá-los). Isso é marcantemente humano, embora primitivo e selvagem. Freire não vê a educação de forma ingênua, acreditando que ela é, em si, um processo transformador. São os homens que pensam a educação; sem eles, ela não existe. Como todas as produções do homem, a educação é um discurso. São sentidos que damos ao um termo criado por nós, são direções que damos a estes sentidos. São as políticas implícitas no jogo de interesses entre as classes que constituem o tecido social. Entretanto, embora, sendo sentido, como os demais sentidos presentes em nossa realidade humanizada, a educação é também um fenômeno de transformação social. O homem pode se reconstruir por meio desse fenômeno. O homem, como diz Freire (1987), não é como os outros animais. Ele não continua apenas ligado ao mundo natural. A humanidade construiu uma realidade simbólica. Temos uma história, modificamos a matéria pela força do trabalho, ou seja, pela a ação conjugada ao pensamento, portanto, ao nosso componente simbólico capaz de dialogar com o mundo. A pedagogia de Freire é dialogista, pois, entende ser o dialogo, o início e o fim do processo. Início por que inevitavelmente dialogamos com as coisas; entre nós e elas existe a palavra. Estamos em permanente relação dialógica com o mundo. São as idéias (semas) que recriam constantemente a face da terra. No fim por que, uma vez iluminado pela compreensão de mundo percebemos, que esse mundo apresentado em nossas leituras, continua tão misterioso como antes – o mundo é eternamente um objeto de questões, portanto, de releituras, de novas leituras, e novas aprendizagens. A necessidade, ou realidade antropológica do dialogo, persiste até que o ser dialógico feneça.

Freire (1989), ao pensar sobre a leitura e a escrita, em A Importância do Ato de ler retornou aos dias de seus primeiros sentidos. Freire recordou dos dias da infância. Ele chamou aquelas impressões de seu pequeno mundo (o seu quintal) de leitura do mundo. Esta é, sem dúvida, uma psicologia analítica do inconsciente. O sabiá, o sanhaçu, o bem – te - vi são imagens e sons que deram a Freire as primeiras leituras de mundo. E essa leitura é anterior a da palavra:

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”.
(Freire, 1989, p.9)


A leitura da palavra só tem sentido no social, portanto, é preciso uma leitura de mundo (realidade presente de minha sociedade) para entender o sentido da palavra. Pois, para Freire, a realidade é constituída de sentidos criados pelo homem. Assim, realidade e linguagem não se separam, não tem como dicotomizá-las. A leitura só tem sentido se estiver “para” um contexto, ou seja, tenha relações com um sistema maior de sentidos. O estar “para” no lugar de “em”, se deve ao caráter dialógico da linguagem. Tanto no texto escrito como no oral a palavra está amarrada em um contexto. A leitura de mundo está antes e depois da leitura da palavra. No estar depois, entende-se que a pessoa continua lendo o mundo pela palavra. A palavra se torna um meio de leitura do mundo.


Para Freire (1989), só é possível ler o mundo pela palavra se esta for a palavramundo - a palavra de sua professora de infância. Isto soa um tanto romântico, no entanto, segundo ele, a palavra dela o conectava ao seu mundo existencial, o contexto onde o texto de sua vida era escrito. Eram palavras com nomes de pássaros, ou nomes de frutos, ou objetos do dia a dia. Isso me faz lembrar as estórias de minha mãe, as piadas de meu pai; os mais variados estímulos semióticos do meu meio bio - social. Não resta dúvida de que para Freire o sujeito se relaciona com a matéria como um bichinho sobre a terra e é por esta relação que ele se constitui sujeito no mundo – um sujeito histórico.

“Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da palavramundo”. (Freire, 1989, p.9)

O sujeito histórico se desencadeia através de suas relações neuro – sensórias com o meio. Não existe percepção e posterior codificação, como diz Freire, sem a experiência neuro – sensorial.


“Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim como mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo, como o mundo de minhas primeiras leituras”. (Freire, 1989, p.9)


O organismo tende ao diálogo. O dialogo com o meio, com, ou sem palavras. A natureza criou uma maneira de dialogar com o organismo inteligente, portanto, a linguagem do dialogo é natural assim como a produção de cultura é natural, pois, o homem é natureza – natural. Insisto nessa redundância para lembrar que a certeza de nossa humanidade esconde a realidade de nossa natureza animal – agora, animal dialógico. O que se concluiu aqui é que o animal dialógico é educado por uma educação dialógica como bem diz Freire. Os textos citados se referem ao processo de leitura e escrita. Eles nos dizem da visão dialógica de Freire.

Dialogar e castrar são instantes que se complementam no grande processo chamado educação. O próprio ato de sair de casa e passar horas com pessoas que você não conhece, no inicio, é uma castração também. As implicações do processo, a disciplina que aparece como conseqüência do processo e dos compromissos que precisam ser honrados. A realidade simbólica criou a necessidade de castrar o animal de suas possibilidades de expressão fora dos padrões. A realidade simbólica impõe à necessidade de adequação as novas normas de existência no mundo. O nosso trabalho não é um “fazer”, na visão de Freire. Para ele o animal/homem rompeu com o fazer e criou o “quefazer”. Este pressupõe a participação do pensamento, desta maneira, a criação de novas técnicas de produção. O dialogo do fazer é instintual, não precisa de aprendizado. Mas o do quefazer precisa da educação, então de castração.

Conclusão:

O dialogismo não nega a necessidade de castração. O termo foi empregado dentro e fora do sentido freudiano. Existe a castração enquanto educação e repressão de instintos não aceitáveis na sociedade, e existe a castração imposta pelo modelo de vida, então, é a perda do prazer pelo sentido do dever. Contudo, o ensaio tentou mostrar que no dialogismo não polarizamos as coisas. Castrar é dialogo, assim como dialogo é castrar. No meio termo não há monólogo, pois, o olhar atento diz que tudo está em relação a. A educação deve castrar. A educação deve dialogar. A educação deve castrar no dialogo e dialogar no castrar. Num outro trabalho tentarei sem mais claro.


REFERÊNCIAS
As referências de Jung e Freud não foram citadas na bibliografia porque achei não ser o foco.

Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
Freire, Paulo. A importância do ato de ler: Três ensaios que se completam. São Paulo, Cortez, 1989.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lemon Tastin' Life

Letra de uma música que fiz pra o tio Bukowski...

Eu desejo a cada asfalto
A diversão do acidental
Que a desordem vire rima
E brotem versos no quintal

Desse pesadelo em Vós
Nos sirvamos com arroz

Now I see the Old Dirty Man
Then, He grabs another beer can
Hey, good boy, just take a seat near…
May I ask a little question?
DO YOU LOVE YOUR LEMON TASTIN’ LIFE?

Que a sarjeta vire teta
Que em teu colo eu tenha paz
Que eu durma vinte horas
Como um gato em vis jornais

Que vivamos nós
Sem a espera de um depois

Now I see the Old Dirty Man
Then, He grabs another beer can
Hey, good boy, just take a seat near…
May I ask a little question?
DO YOU LOVE YOUR LEMON TASTIN’ LIFE?

Sem manhãs e sem razões
Sem o brilho da palavra encantada

Meu amor caiu no chão
E o que me sobra é uma velha risada

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Uma viagem inesquecível

Núbia passou a trabalhar fora de seu estado. No dia em que foi pegar a pista para seguir viagem, despediu-se de seus familiares e foi embora. No meio do caminho percebeu que havia esquecido o seu celular em sua casa, mas como já se encontrava na metade do caminho, não deu para voltar.

Durante a semana, não pôde se comunicar com ninguém.

Ao término da semana, resolveu voltar para a sua cidade para pegar o seu celular que havia esquecido, como também para aproveitar e ir a um casamento de sua melhor amiga.

Já na BR próxima a entrada de sua cidade, ela percebeu que havia um carro do SAMU atrás dela, soltando aqueles alarmes alarmantes e pedindo espaço para a ultrapassagem.

- Porra nenhuma! Vá se fuder caralho! Muitas vezes essas porras não tem nada e fazem esse escândalo todo só pra ultrapassar de forma mais rápida os outros carros e chegar mais rápido em seu lugar de destino.

Já dentro da cidade ela se deparou com um aglomerado de pessoas em volta de um corpo que já se encontrava encoberto.

Chegou em casa e não encontrou ninguém. Foi até o celular, pôs pra carregar e notou que havia recebido uma mensagem. A mensagem dizia: "Aconteceu um desastre com seu namorado.

Atormentada, viu que o numero da mensagem era de sua mãe e de forma afoita perguntou: - Mãe, o que foi que aconteceu?

Sua mãe numa voz que parecia um misto de tristeza e de indignação respondeu: - Minha filha, seu namorado morreu. Por questões de minutos ele sobreviveria, mas o SAMU, com a preguiça de seus funcionários, pra variar,atrasou.

`Acredite na beleza`

Sem duvida a beleza e sinonimo de poder. Pensei logo apos rever uma das propagadas genais do Boticario cujo nome e Repressao. `Nao seria bom viver em um mundo sem vaidade, um mundo onde a imagem nao tivesse importancia...`,nesse caso a vaidade ganha contornos polifonicos da distincao em que cada um e visto pela sua particularidade da diferenca.
A sociedade dos iguais nao tem base de sustentacao massiva, pois a pluralidade e mais forte. Com essa afirmativa nao acredito que a sociedade tenha atingido a esfera mais nobre da democracia dos viventes desiguais. Acredito que a diferenca tenha assimilado, assim como a modelo da propaganda, o vermelho ruborizado das tintas ditatorias da repressao. O poder se coverte em outras formas, nao exercendo mais a anatomia engessada de uma disciplina unidirecional. Ele e multiforme, e positivo. Vivemos em era de delicias, na qual abrimos a geladeira e nao sabemos ao certo qual a sobremesa mais saborosa do dia. Para mim, essa e a uma das terriveis ditadura, a da escolha em uma amplitude quase inalcancavel. E terrivel viver em formas homegeneas, como pretendia Hitler nas suas mirabolantes ideias arquitetonicas de pureza inquestionavel.Mas terrivel ainda e viver em uma sociedade que potencializa a todo instante o poder de liberdade de escolha, sendo que suas cartas sao manejadas por um outro truque, um padrao e imposto e todos nao sao coagidos a seguir, mas sao obsessivamente seduzidos para segui-los.
A propaganda e um dispositivo infalivel para a decisao do consumidor. Essa e a palavra, consumidor, utilizada para melhor definir quem e angariado pelas barbas desse poder midiatico.Nao abuso nas qualificacoes pacificadoras do consumidor, mas confesso que e muito dificil imaginar nos sem qualquer influencia dessa cultura mandatoria da diferenca indiferente. Todos nos temos uma particularidade, e a ferramenta da propaganda usa essa particularidade para incluirmos numa esfera homogenica da diferenca. Do polo negativo, em que todos eram coagidos a viver numa estrita norma totalitaria dos anos entre guerras,ao positivo ha uma conversao brusca de que todos podem decidir em viver numa ilusoria sociedade do livre arbitrio.

* Caros leitores e autores, peco- lhes desculpas por nao ter postado no dia anterior por problemas tecnicos. Abracos.
* Referencia da propaganda referida no texto: http://www.youtube.com/watch?v=VSufIPIEF4M&noredirect=1