sábado, 25 de junho de 2016

Entortando a ideia de grupos sociais

O problema que eu vejo na ideia que as pessoas fazem do que seja um grupo social, refere-se à insistência em confundir coletividade com padronização coletiva. Infelizmente, em nossa cultura, acredito que às vezes devido ao conformismo, e em boa parte devido à covardia, o fato de você pertencer a um grupo implica em ter que obrigatoriamente anular a sua subjetividade para ter que atender as expectativas desse grupo.

Acredito que pensar em grupos sociais, significa aceitar a inevitável relação de afinidades que os membros possuem com relação aos demais. Contudo, em nenhum instante significa dizer que essas afinidades tenham que se submeter a uma homogeneização, ou seja, a uma padronização imposta. O que eu percebo é que, para pertencer a um grupo, temos que manter com este uma relação de dívida e de prestação de contas.

Porém, o fato de admitirmos afinidades entre os membros, não nos dá o direito de amputarmos as particularidades deles. O fato de eu encontrar em certo espaço social expectativas com as quais eu me identifique, não faz com que eu tenha a todo o instante a motivação e a aceitação acerca do ponto de vista do outro membro que, assim como eu, faz parte de um determinado grupo social.

Não posso deixar de reconhecer que cada indivíduo comporta um universo infinito de possibilidades e de crenças e que estas se alteram a todo instante a partir das experiências que esse indivíduo passa a vivenciar com os outros, sejam esses outros pertencentes a um grupo do qual esse indivíduo faz parte ou não. Os indivíduos mudam suas próprias convicções o tempo inteiro, e o que eles acreditam hoje podem não acreditar amanhã.

O que a nossa cultura não percebe, é que em cada circunstância, o indivíduo possui intencionalidades diferentes. Mesmo com os membros inseridos em um dos grupos sociais dos quais ele faz parte, ele procura alguém de acordo com o seu estado de espírito existente em cada ocasião. Em outras palavras, ele vai procurar estabelecer um diálogo diferenciado com cada pessoa para conversar assuntos dos mais diversificados.

Por exemplo, eu posso encontrar em certa pessoa um estímulo em debater temas de teores mais partidários, como posso encontrar em outra um maior prazer em falar sobre religião, ou música, ou filosofia, ou questões mais corriqueiras. E mais: para algumas pessoas eu me sinto a vontade para expor assuntos de maiores intimidades, isto é, para expor acerca de meus afetos, segredos, já para outros eu busco dialogar questões mais “impessoais”.

E mesmo eu buscando em cada pessoa um propósito diferente, em nenhum instante significa dizer que eu vou ter que compartilhar a todo instante com essa pessoa dos mesmos ideais. Em outras palavras, eu posso gostar de me interagir com alguém para conversar questões acerca da política atual, mas em muitas das ocasiões eu vou ter com essa pessoa minhas divergências e posso encontrar pontos em comum com outras sobre o mesmo assunto.

O que eu quero salientar é que um grupo social, como dito mais acima, apesar de ser estruturado a partir de afinidades e pontos de vista em comum entre os diversos membros que o compõe, termina por passar por variações dentro dele, afinal, essas afinidades, apesar de se verem dispostas a se assimilarem com a opinião do outro, não estão livres de entrarem em dissidência e carência de consenso.

Portanto, antes de pensar o grupo social como algo submetido às diretrizes, é necessário pensa-lo como uma integração momentânea; falo momentânea, pois essa integração está constantemente se alterando, se refazendo, afinal, apesar das identificações sentidas pelos membros de um grupo, estes, por estarem se interagindo com outros, aprendem, ensinam e reelaboram suas opiniões a todo instante.

Se pensarmos que essas alterações acontecem dentro de um mesmo grupo, imagine que os membros desse grupo, por também conviverem com outros grupos, terminam sendo contaminados por novas ideias, e que essas ideias contaminam também outros grupos! Querer impor opiniões dentro de um grupo como se estas fossem homogêneas, é negar o mais óbvio da convivência social que é a troca com a diversidade.

É por isso que para mim, antes de um grupo ter como característica preponderante a linearidade, ele se entorta. As ideias que povoam dentro dele mudam de percurso a todo instante, e antes de serem acabadas e fechadas em si mesmas, são fluidas, e tem como traço bastante marcante o imprevisto, isto é, o incessante reelaborar de convicções dos seus membros. Enfim, é uma incansável construção.

Para mim, a coisa mais absurda que pode haver é o fato de um indivíduo sofrer repreensões dos membros que frequentam o mesmo grupo que ele só por que suas ideias contrariaram as ideias “do grupo”; uso aspas por que me questiono bastante acerca dessa afirmação, afinal, eu pergunto: a ideia do grupo? De qual grupo se este é formado por vários indivíduos? Quem define essa ideia, o grupo de quais indivíduos?

E mais: o fato de minha pessoa não se encontrar em determinado instante no grupo do qual ela faz parte significa que ela traiu o grupo? Por quê? O fato dela não compactuar do discurso do grupo significa que ela não possa mais se sentir pertencida a esse grupo? O fato de minha pessoa também transitar em outros ambientes significa que ela não quer mais conviver com determinado grupo social?

Eu acho que as pessoas têm que reconhecer de uma vez por todas que elas, antes de serem objetos encaixotados em departamentos isolados, são construtoras de novas visões de mundo, ou seja, elas estão constantemente se atualizando, pois elas se interagem com infinitos universos. Acredito que as pessoas precisam abdicar dessa busca amedrontada por um porto seguro e admitir que a vida é fluxo, é mudança.

Mais importante do que encontrar meios autoritários para se conquistar uma suposta harmonia e integração de um grupo social, as pessoas precisam entender que quanto mais elas entenderem e se permitirem experenciar novas realidades além das do seu grupo social, mais elas farão com que esse grupo se enriqueça e se torne de fato humanamente viável, além de saudável para o exercício do convívio com a diferença.

No final das contas, ninguém está preso e submetido a ninguém por mais que a nossa insegurança assim queira. O pertencimento encontrado em um grupo social não se revela pela imposição de diretrizes, mas sim, pela contribuição de novos valores que se inserem nele. Em nenhum instante eu posso entender que o pertencimento a um grupo deixa de existir por que eu agreguei mais valores a minha pessoa com outros grupos.

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