quinta-feira, 4 de julho de 2013

Eu sou anarquista? É mesmo?

Não tenho bipolaridade. Na verdade, às vezes me pergunto se eu não seria mais feliz tendo essa simples dicotomia para resolver minhas fraudulentas e traiçoeiras opiniões que faço sobre mim e sobre tudo que se encontra a minha volta. Eu sou mesmo é transpolar. Eu extrapolo os limites de mim mesmo o tempo inteiro. Vivo em meio a uma contradição que de tão comum em minha vida, torna-se lógica.

Não me vejo capaz de me impor um tipo de pensamento. Tipos são coisas muito reduzidas por serem delimitados demais para uma pessoa como eu que se acorda em alta, dorme em baixa; que afirma o que nega, que nega o que afirma. Assumir um tipo significa me obrigar em aceitar um número exato de determinadas características para a minha pessoa. Não posso. Sou um mapa sem bússola, um barco sem porto e sem destino certo.

Apesar de saber que muitas das opiniões que recebo são resultantes da ignorância das pessoas; sei também que muitas afirmações “corretas” que ditam sobre minhas posturas éticas, estéticas e políticas, são acomodações e simplismos que beiram descaradamente a irresponsabilidade. As pessoas tentam me sufocar, me castrar, como se quisessem colher contradições de mim, como se para mim, contradições fossem pecados. Ai ai de mim (logo eu!), colocar a contradição como pecado!

Vejamos: vez ou outra eu posto no facebook algumas imagens, opiniões ou pensamentos de indivíduos vinculados ao que se denomina anarquismo. Uma das tais afirmações que recebo é a seguinte: como é que você como um anarquista, é um professor concursado em um serviço público submetido a todas as normas e regras institucionais? Da pergunta, recebo a opinião: isso é o cúmulo da incoerência. Você não é anarquista.

Quem disse que eu sou ou não sou anarquista? Quem disse que eu sou ou não sou qualquer coisa? Eu peço com toda a angústia de um ser que tem que ser submetido a um rótulo, que eu sou alguma coisa por não ter conseguido ser porra nenhuma. Eu sou o processo, eu sou o vento que levanta a saia da gostosa na beira do mar e vai embora sem pedir desculpas, e o máximo que eu consegui até hoje, foi simplesmente reconhecer a ilusão de todas as minhas “verdades”.

Eu penso ser a construção de mim o tempo inteiro. Às vezes quando penso que estou reencontrando por definitivo a minha certeza e meu lugar no mundo, enfim, quando eu penso ter a capacidade de realizar todas as minhas angústias e meus sonhos em um projeto, tenho me deparado e concluído que eu não passo de um borrão de mim mesmo. Sou a tentativa, sou a busca, jamais o ponto final, afinal, minhas ideias não param de percorrer a imensa e embaralhada trama que sou eu.

Prefiro dizer que sou simpatizante do anarquismo. Não posso dizer que sou isso ou aquilo quando sei que ser isso ou aquilo implica em ser tantas coisas! Anarquista? O que denominam de anarquismo possui tantas vertentes... Mesmo se eu disser que tenho imensa simpatia por Proudhon, Max Stirner
, assim como pelo que chamam de anarco-comunismo e de anarquismo-mutualista, essas classificações escondem tantos sonhos, tantas contradições jamais resolvidas dentro delas mesmas que prefiro ficar na minha.

Quanto à questão de “ser anarquista” e estar submetido às regras institucionais, vou explicar: quando o anarquismo faz duras críticas acerca da exploração do trabalho capitalista e sua obsessão pela produtividade, ele não nega a necessidade do trabalho. As pessoas têm que acabar com essa idéia de que o anarquismo prega o fim do trabalho. O fato de eu simpatizar com o anarquismo, não me obriga a ter que viver no meio do nada longe de tudo e de todos.

O que o anarquismo vai questionar e confrontar é a forma como a sociedade tem se organizado sob as bases do capitalismo. A sua crítica recai é em uma hierarquia que, antes de ter como objetivo unicamente a organização dos papéis entre os indivíduos, termina por explorá-los e massacrá-los em prol da acumulação do capital. O anarquismo vai negar é a dominação injusta do homem sobre o outro homem. Além disso, vai de encontro a toda forma de poder que sufoque a individualidade de outrem.

O anarquismo vai gritar a favor de um meio de subsistência através do trabalho que dê aos indivíduos o direito a se usufruírem do tempo livre; que faça com que esses indivíduos se humanizem através do trabalho para que eles possam reconhecer a importância e o prazer desse trabalho, e não vê-lo apenas como uma labuta massacrante como é visto no capitalismo por esse sistema econômico torná-lo impessoal, impositivo e produtivista.

O anarquismo vai propor formas de trabalho que não alienem os homens, que esses homens sejam livres e tenham suas individualidades garantidas para que eles reconheçam a marca de sua identidade em seu trabalho, que vejam esse trabalho como um resultado de sua subjetividade. O anarquismo propõe que os homens reconheçam a importância do trabalho enquanto necessidade social, e não enquanto uma competitividade que só tem retirado do homem toda a consciência de sua importância enquanto ser coletivo.

Volto a dizer: o anarquismo não significa negação de toda e qualquer vida humana; como também não nega o trabalho, nem muito menos as regras sociais. Portanto, para finalizar, gostaria de dizer que eu posso muito bem assumir minha função na sociedade, me encontrar em meio a uma instituição, ter minha renda e simpatizar com as propostas anarquistas. Simpatizar, afinal, como dito, por ter tantos eus de mim, acho muito simplista me reduzirem a uma classificação.
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Um comentário:

  1. Eu costumo dizer que o maior representante anarquista é o pensamento, pois ele é tão livre que vai e vem para onde bem de deseja.

    Rodrigo Gnomo

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