Meu caro Roosevelt, infelizmente eu não consigo visualizar em meio ao contexto educacional um espaço propício para a germinação do ambiente escolar. Obviamente que existem poucos profissionais que buscam quebrar a mesmice que ronda o cotidiano na educação, mas realmente eu detecto essa vontade de alteração por parte de um número bastante restrito de pessoas responsáveis pelo exercício educacional.
O que eu percebo claramente é que as instituições educacionais têm refletido a pequeneza que ronda a sociedade em geral. Não existem muitos professores implicados em buscar estratégias que venham a visualizar pelo menos um possível caminho para que as enfermarias existentes em nossa realidade sejam alteradas. É muito fácil exigir melhoras nas estruturas, melhores salários e não propor soluções.
Na verdade nos deparamos com professores mórbidos que se contentam com suas covardias e vitimizações como forma de amenizar um problema do qual eles fazem parte. Às vezes penso que boa parte deles sequer escolheu a profissão de professor por espontânea vontade. Eu chego a pensar que muitos nem chegaram a pensar no que fazer, e como acabaram os cursos de licenciatura, foram “licenciar”.
Acredito que quem tem o interesse profundo e crítico acerca da educação, deve pensar o espaço educacional como um ambiente educacional e acabar de vez com a ideia de reduzi-lo a um sistema educacional. Digo isso, pois acredito que quando penso em ambiente, eu vejo na educação a possibilidade do borbulhar de idéias, das trocas de informações, enfim, como um lugar marcado pela construção das subjetividades.
Se eu insistir em não refletir acerca da cruel realidade que ronda a nossa educação, infelizmente eu terei que perpetuar um modelo meramente institucional o qual submete toda a amplidão da construção do conhecimento e da intervenção da liberdade e da criatividade, em apenas uma institucionalidade amargamente reduzida ao mero caráter normativo, formal e regimental.
Como dito, ao pensarmos na possibilidade de construirmos um ambiente escolar, traremos ao menos o direito de podermos sonhar com uma escola mercada pela intervenção da subjetividade, pelo convívio com a diferença, pela construção do exercício com a alteridade, e, portanto, como um lugar aberto ao diálogo, às experiências, às trocas, às constantes reformulações do conhecimento, enfim, a cidadania.
Aceitar o ambiente escolar é aceitar a convivência inevitável com as contradições, e por isso mesmo, é construir projetos mais humanos. Negar o ambiente e substituí-lo pelo sistema, apenas conceberemos as normatizações institucionais o direito de fazer parte do dia a dia. Para mim, manter-me no sistema, implica em subtrair todas as coisas apenas a procedimentos formais e imposições de regras.
Aceitar a escola como um lugar de trocas de conhecimentos, de informações e de contatos recorrentes com a riqueza que implica a pluralidade subjetiva de todos que estão envolvidos nesse lugar, significa aceitar o conhecimento através do prisma performático, estético, semiótico com a liberdade de poder re-combinar, re-criar, desfazer e re-fazer o conhecimento através da emancipação do homem.
A partir do instante em que eu retiro o caráter plenamente normativo da educação, eu retiro também a perspectiva limitada de conceber o conhecimento como um modelo acabado. Por outro lado, no momento em que eu me submeto aos critérios meramente regimentais de uma instituição escolar, eu concebo a idéia de associar o conhecimento como uma mera transmissão docente de saberes.
Aceitar a escola enquanto ambiente, significa pensá-la como um lugar no qual o conhecimento, antes de ser regulado pelas regras formalizadas, é pensado enquanto infinitas possibilidades de construção de sentidos, construção de óticas, de pontos de vistas, enfim, um conhecimento vinculado ao caráter coletivo, isto é, resultante das interações e sociabilidades entre os agentes que estão inseridos nele.
Reconhecendo a escola enquanto práticas de subjetividades, consequentemente poderemos visualizá-la como um constante processo de aprendizado e jamais como um aprendizado pronto. Valorizando o olhar de cada um, poderemos tornar o conhecimento um instrumento de revelação, de superação, de conscientização e não como algo amedrontador capaz de hierarquizar o “melhor” e o “pior” aluno.
O sistema escolar apenas obriga o cumprimento das normas institucionais. Por outro lado, o ambiente escolar aceita e precisa do acaso, do acidente, do deslize, do equívoco, uma vez que, como dito mais acima, pensar o ambiente escolar, é pensá-lo enquanto constante e interminável construção do conhecimento, e nenhum conhecimento se constrói sem refutações, sem questionamentos acerca de sua validade.
Querer o ambiente escolar implica em querer o estético, ou seja, a expressividade de cada um. Enfim, implica em reconhecer a importância de se valorizar o conhecimento como variável, relativo e jamais pronto, acabado, eternizado. No ambiente escolar estimulamos a motivação dos alunos e professores encontrarem estratégias para a resolução dos possíveis obstáculos encontrados ao longo do conhecimento.
Acredito que além de não temer esses obstáculos, olhar a escola como um ambiente ao invés de um sistema, também passo a não me culpabilizar por não ter superado esses problemas, até por que, a partir do instante em que eu penso na idéia do conhecimento como um constante construir-se, eu deixo de lado a perspectiva de entendê-lo como “certo” ou “errado”, mas sim, como um processo constante de aprendizagem.
Reconhecendo o conhecimento e a escola enquanto um contínuo processo de reformulações do conhecimento, a relação professor/aluno será colocada sob um aspecto dialógico, altero, interativo e enriquecedor, visto que ambos os universos aprenderão e ensinarão ao mesmo tempo. Nem o professor se sentirá no dever de obrigar o aluno a “aprender”; nem o aluno se penalizará por não ter correspondido às expectativas do professor.
Pensar o ambiente é aceitar o construir. É acreditar na condição ativa do sujeito e na importância da formulação do conhecimento através das práticas coletivas estabelecidas entre os atores a partir do re-questionamento inevitável no instante em que se deparam com a necessidade de repensar certezas e valores ao conviverem com a diferença. Enfim, é aceitar as regras como organização e não como imposição e domesticação do ser.
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