O
Jardins foi lançado como terra prometida, onde se poderia encontrar,
finalmente, um shopping numa região mais centralizada na cidade. Sim, a
construção do Shopping que leva o nome do bairro impulsionou seu
desenvolvimento predominantemente vertical. Nada melhor no coração de um bairro
nobre que um colosso do consumo, em que a força das luzes fariam pouco importar
se lá fora se tratava de dia ou noite, em que a força dos ares-condicionados
fariam pouco importar se lá fora fazia calor ou frio – more e consuma, nós
garantimos a luz de um sol e um clima ameno para a efetivação de qualquer uma
de suas compras!
Os
peões que ali trabalham não podem, em sua esmagadora maioria, morar por perto.
O dinheiro concentrado através das compras é volumoso, mas o distribuído é
rarefeito.
Em
frente ao shopping há um terreno infestado de outdoors. Estes são os preferidos
de algumas escolas particulares que movimentam a tão inescrupulosa quanto
bem-sucedida indústria do vestibular. São anúncios que estimulam o ingresso nas
profissões legitimadas, as que permitirão ao indivíduo morar por ali. As
rentáveis, e por isso até moralmente mais admiráveis. Nas fotos, os primeiros
colocados nestes cursos abrem um sorriso amarelo, muito embora o conhecimento
adquirido a fim de conseguir tamanho êxito no vestibular algumas vezes não lhes
permita enxergar o quão instrumentalizados são, enquanto “alunos de ponta”.
É
preciso tornar o desejo cada vez mais mimético. Sabe-se, de fato, que o
individualismo é cada vez mais estimulado. Mas há padrões que devem nortear as
particularidades. Para ser um indivíduo bem-sucedido, por exemplo, você deve
escolher alguma das profissões socialmente bem consideradas. A partir daí você
pode exercer fortemente seu individualismo comprando um carro socialmente
cobiçado e um apartamento no bairro Jardins, coisas que todo mundo quer. Depois
é só cuidar de reproduzir, tanto os seus genes quanto as estruturas sociais (e
o ponto deve ser final).
Quando
se encerra o expediente, às vinte e duas horas, os Severinos lotam os caducos
ônibus em direção aos outros lados da cidade, onde moram, enquanto os reis saem
em seus veículos particulares em direção a aglomerados de diversão não tão
remotos.
E essa é a sociedade de direitos iguais? E essa é a Educação que cidadaniza? E essa é a realidade defendida pelos bispos, padres e pastores? E esse e o que chamamos de Estado de Direito? Puxa! Que coisa estranha!
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